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O QUE APRENDEU A UE SOBRE COMO LIDAR COM OPORTUNIDADES, OBSTÁCULOS E QUAIS AS POSSÍVEIS

7. A INTEGRAÇÃO EUROPEIA E A GLOBALIZAÇÃO DE MERCADOS

7.4 O QUE APRENDEU A UE SOBRE COMO LIDAR COM OPORTUNIDADES, OBSTÁCULOS E QUAIS AS POSSÍVEIS

ABORDAGENS PERANTE DESAFIOS FUTUROS?

Primeira potência comercial do mundo, a União Europeia representa 20% do volume total das importações e das exportações a nível mundial. O comércio livre entre os seus Estados- Membros lançou as bases para o êxito da criação da U.E. há quase 50 anos. Por conseguinte, a União assume hoje um papel de liderança nas iniciativas de liberalização do comércio mundial, no interesse mútuo dos países ricos e dos países pobres.

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O processo de globalização e a evolução tecnológica paralela em curso, impõe ao velho Continente um vasto conjunto de desafios. A juntar aos desafios da rápida mudança tecnológica e da globalização acelerada, a Europa está em face de outro futuro desafio “mortífero”, que é a do envelhecimento da sua população. Logo, a nova ordem económica mundial que paulatinamente tem vindo a emergir e que parece emergir como um submergível com a crise das dívidas soberanas, impõe à Europa143 novos desafios que terá de ultrapassar.

Perante a globalização e a mudança de paradigma de competitividade e de desenvolvimento, a União Europeia faz face a desafios de vária ordem. Desde os ligados ao aumento da produtividade, até aos de conhecimento, passando pelo desenvolvimento da inovação, de novas tecnologias, de pesquisa e desenvolvimento, entre outros. Mas perante esses desafios, as opiniões divergem quanto ao caminho que a UE deve tomar: umas defendem que se deve sacrificar a competitividade para salvar o trabalho e o modelo social europeu; outras defendem que se sacrifique o emprego para reforçar a competitividade; e ainda outras defendem que a Europa pode competir e “santificar-se” na base de conhecimento, inovação, trabalho mais qualificado, homens e mulheres mais activas - com acesso a bons sistemas de protecção social e de cuidados familiares. A Europa precisa, assim, de atingir maior competitividade reforçando em simultâneo o seu modelo social – algo aparentemente irreconciliável e que leva à estupefacção de David Cameron144 perante o que pensava seria um caminho sem espinhos. Para tal, são necessárias grandes reformas, nomeadamente, energizar o modelo social europeu, criando mais e maiores rede de inovação para interligar empresas e universidades, mais formação e qualificação dos trabalhadores, melhores serviços e cuidados familiares e um maior equilíbrio na balança entre os benefícios e contribuições dos sistemas de segurança social. Tudo “substâncias” difíceis de encontrar em anos cegos de cortes de despesa e de recuo do estado Social.

7.4.2 As oportunidades colocadas à Europa pela globalização

«O homem é levado por uma mão invisível a apoiar um objectivo que não fazia parte da sua intenção”

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As empresas europeias devem avaliar o papel de grupos competitivos que possuem um posicionamento potenciador de oportunidades, como são o caso de muitas empresas da Europa Central. Existe aqui um duplo desafio: por um lado a consolidação de posições domésticas e no seio da UE, onde as empresas daqueles países tenderão a ficar melhor posicionadas e, por outro lado, o desenvolvimento de novos mercados dentro da Europa ou em África, como está a fazer a China, quando estabelece parcerias de troca de produtos por matérias-primas (ex: o petróleo). À semelhança dos países que aprenderam a colaborar entre si através de blocos económicos, também as empresas na Europa devem ser capazes de desenvolver vantagens cooperativas. Podem, por exemplo, partilhar custos de produção, marcas de referência, produzidas ou de distribuição, desenvolver novos produtos em conjunto (I&D) ou criar estruturas comuns de apoio aos seus projectos de internacionalização. Individualmente ou em conjunto, as empresas devem criar sistemas de informação que lhes permitam não só acompanhar, mas também implementar políticas e estratégias competitivas internacionais, apostando na sustentabilidade, criando e produzindo produtos inovadores e com real valor acrescentado. Veja-se o exemplo da Alemanha e França, com a produção de automóveis e aviões, mas nunca em caso algum prescindindo do know-how.

7.4.3 O que aprendeu a UE sobre como lidar com as oportunidades/ obstáculos

A globalização está a acelerar mudanças nas estruturas de poder e a revelar a existência de diferenças de valores. As economias desenvolvidas foram abaladas pela recente turbulência financeira, como o foram também as economias em desenvolvimento. Por outro lado, as grandes artérias da nossa sociedade – como os sistemas de informação e o abastecimento de energia tornaram-se mais vulneráveis. Dispondo de uma gama singular de instrumentos a que pode recorrer, a UE tem contribuído para criar “segurança humana”, reduzindo os níveis de pobreza e as desigualdades, promovendo a boa governação e os direitos humanos, prestando ajuda ao desenvolvimento e atacando as causas profundas dos conflitos e da insegurança - sendo ela o maior doador dos países necessitados.

As economias modernas são largamente dependentes de infra-estruturas críticas, nomeadamente de transportes, de comunicações e de fornecimento de energia, mas também

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da Internet. No entanto, os atentados contra sistemas informáticos tanto privados como governamentais que ocorreram nos Estados-Membros, vieram conferir a este tipo de criminalidade uma nova dimensão, revelando o seu potencial como nova arma económica, política e militar. Nos últimos cinco anos, a dependência energética tem-se tornado cada vez mais motivo de preocupação. O declínio da produção europeia implica que até quase 75% do petróleo e do gás que consumimos terá de ser importado145. Essas importações serão provenientes de um reduzido número de países cuja estabilidade, em numerosos casos, se encontra ameaçada. Estamos pois perante, uma série de desafios ao nível da segurança que exigem que todos os Estados-Membros assumam responsabilidade e sejam solidários.

7.4.4 A alteração de agenda da UE

Com a globalização, a UE teve a necessidade de se adaptar e de criar meios que permitam um desenvolvimento sustentável da Europa. No sentido de uma Globalização Sustentável no plano Social, a União Europeia está politicamente empenhada nesta dimensão social da globalização, na qual pretende desenvolver mais esforços - quer a nível europeu quer a nível internacional. Para além da criação da Estratégia de Lisboa146, capaz de garantir um crescimento económico sustentável com maior coesão social e respeito pelo ambiente e da Agenda 2020, foi criado o Fundo Europeu de Ajustamento à Globalização (FEG). O FEG tem por objectivo ajudar os trabalhadores, que perdem o emprego devido à evolução da economia mundial, a encontrar o mais rápido possível um novo trabalho147.

7.4.5 As abordagens possíveis perante os desafios futuros

Encontrando-se a Europa e o mundo numa encruzilhada ditada pela crise monetária mundial e depois de termos verificado como a alteração das relações económicas mundiais, fruto da globalização, obrigou à reformatação do modelo Europeu e a um nova agenciação para o próximo futuro, urge entender as possíveis alternativas que se colocam à Europa. Interessa perceber o projecto Europeu como projecto não independente do posicionamento ideológico dos seus sistemas, agentes políticos e/ou da própria pendência das opiniões públicas. Um

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documento sobre medidas de combate à crise, elaborado pela comissão política de um partido Português (BE, 2010), afirma a actual política da UE como recessiva pela natureza da sua relação económica, alertando para o risco de estagflação e enunciando as possíveis estratégias em confronto: o Euro como instrumento de preservação da financeirização, a sua desagregação ou a luta social como enfrentamento do mecanismo de transferência para o capital financeiro. As questões do foro ideológico não são, assim, despiciendas na moldagem das abordagens e caminhos possíveis do Euro e do processo Europeu - hoje muito refém da lógica de Directório imposta no Conselho e da ideologia dos seus monopolizadores detentores148.

Lógica, fruto da crise, impulsionada menos por uma clara representatividade e mais por opiniões públicas e publicadas amedrontadas, com aparente minimização do Parlamento Europeu e da própria Comissão149.

Com esta crise monetária, em pleno processo de sedimentação da globalização, confluindo as políticas no sentido da flexibilização do modelo social, do reganho de competitividade através da desregulação do emprego, da cooperação cada vez mais reforçada, da comunitarização de mais competências, da simplificação de decisões, da integração de políticas económicas (até orçamentais!), as abordagens possíveis vão no sentido da integração mundial deste espaço económico e político e no rearranjo do peso das componentes emprego, modelo social, competitividade150. Através da abertura à liberdade do comércio mundial, diluindo fronteiras, federando internamente (mais Europa!) excluindo até membros relapsos/incumpridores do “clube” do Euro.

A não integração no espaço global, através do neo-proteccionismo e/ou outras formas de fechamento, aceleraria a decadência dos povos Europeus já martirizados pela perda natal. Sendo o desafio aparentemente simples, na sua definição, a complexidade do novo quadro de relações saído da globalização, obriga a compromissos impostos e a políticas à vista. Não há, pois, para uma Europa no actual paradigma de recursos energéticos, de circulação de ideias e informação, de capitais sem fronteiras e no quadro de alargamento do espaço de comércio livre mundial, abordagem realista alternativa muito diferente à plasmada na agenda 2020151. A abordagem posta pela adaptação e integração de um espaço regional no espaço global, exige crescimento inteligente através da promoção do conhecimento, da inovação, da educação, da sociedade digital, da sustentabilidade e eficiência, dos recursos com reforço da

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competitividade, da inclusividade das qualificações, da luta contra a pobreza e da empregabilidade. A abordagem é, assim, de abertura ao global mesmo se, no curto prazo, a soma mais dessa abertura pode implicar menos para alguns e esforço de normalização para todos.152

7.4.6 Conclusão

Num mundo cada vez mais globalizado, a Europa vai ter de assumir um papel determinante na produção, difusão, utilização de conhecimento e competitividade, tirando maior partido da globalização de modo a dar respostas a esses novos desafios. Neste sentido, para que a Europa atinja o seu objectivo de ocupar o lugar de liderança neste moderno quadro de competitividade e de desenvolvimento, terá de proceder a algumas reformas, nomeadamente, desenvolver um sistema de educação e de formação de modo a capacitar os cidadãos, criar e/ou estimular um ambiente propício para o desenvolvimento de novas tecnologias, sobretudo as de informação e de comunicação, estimular um crescimento mais rápido e efectivo da inovação tecnológica e melhorar a sua difusão e aprendizagem. A Europa aprendeu que a crescente concorrência internacional exige colocar-se em linha com a competitividade de modo a poder suportar o seu modelo social Europeu e capitalizar as oportunidades colocadas pelo alargamento dos mercados.