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Página | 58 “Não há solução enquanto não se exigir nos emergentes alguma paridade nas condições sociais, em nome da sustentabilidade Europeia… as televisões mostram cenas inimagináveis, gente na China a polinizar pomares em substituição de abelhas”.

Anónimo de nome Manuel

Seria caso para responder ao Manuel que a mudança no mundo se está a operar em nome das obreiras170. Mas a situação não é tão simples assim, já que as peculiaridades da China revelam um país a várias velocidades, regimes e sistemas.

Através do paciente Grego, a União Monetária parece estar a proceder a experimentalismos perigosos que mais parecem electrochoques no sentido de extirpar a assimetria demente que se apoderou das finanças Gregas versus o mercado. A lobotomia171 aparentemente ainda está posta de lado, mas a pressão para a sua utilização parece a prazo curto ou médio, inevitável.

“O que estás a fazer? Paga o que deves! Não gosto nada!”172

Nilton

Desde o Verão de 2011 que o plano A para a Grécia parece exigir a transição rápida para os vários planos B, C e o mais que se verá. A pressão sobre a Grécia é intensa e a fragmentação de quem se vê arrastado por um mínimo divisor comum é perigosa para a unidade na primeira grande prova do Euro. Depois de uma resposta Keynesiana e de uma mudança quase integral da Europa política, as intervenções parecem ao estilo de Nilton173. O “O que estás a fazer?” de injectar dinheiro na economia, rapidamente transmutou no “não gosto nada!” do excesso de despesa e no “paga o que deves!”174 do ajustamento à bruta replicador da recessão. Domina, assim, o impasse nas negociações e soluções na zona Euro - parecendo que a Europa se reduziu à União Monetária. O risco de default Grego continua a subir, o contágio já chegou a Espanha e Itália. MoU, o memorando de entendimento da Troika com Atenas é literalmente um fracasso, arrastando a economia Grega para um círculo vicioso de recuo do produto e de agravamento da dívida175.

A necessidade de um segundo pacote de ajuda financeira à Grécia é entretanto pensada com o envolvimento dos privados. O plano B e o envolvimento dos privados traduzir-se-ia pela troca

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de títulos gregos vencidos que estivessem na mão de bancos, fundos de pensões e/ou seguradoras, por novos títulos com novo prazo de mais sete anos.

Ao reescalonar os prazos da dívida nesse “soi disant, re – profiling”176, os privados ajudariam a Grécia - e este plano seria confundido como doutrina oficial de “reestruturação da dívida suave”177. Para os credores através da voz das agências de rating o “expediente” teria, no entanto, a sua oposição e notação de classificação de evento de crédito selectivo, um hair cut avaliado em 50 a 70% do valor nominal dos investimentos dos privados - BCE, Comissão Europeia e França, assumiram a posição contrária à Alemanha, Holanda e Áustria que defendiam este reescalonamento dos prazos da dívida com a envolvente dos investidores privados178.

O terceiro plano, ou plano C, aparece como uma solução tipo “Iniciativa de Viena”179 a que Mário Draghi180 e o comissário Olli Rehn181 se inclinam. O acordo na base da iniciativa de Viena pressupõe que os bancos prolonguem a duração dos seus empréstimos à Grécia de maneira voluntária182. Parece mais ou menos pacífico que este “chove, não molha” vai deixando os mercados e os credores cada vez mais nervosos, o que a agrava o risco de novos empréstimos. Como não há dois sem três, nem três sem quatro, o plano D seguinte é apresentado por Kapor183. Dado que Kapor184 pensa a reestruturação como inevitável e menos dolorosa se arrastada185, algumas condições de diferenciação e tratamento preferencial são colocadas, sendo o fardo mais concentrado nos credores privados externos – nomeadamente bancos Franceses e Alemães186.

O quinto plano é o da emissão de e - bonds ou eurobonds, novo instrumento de dívida legítimo187, na opinião de Mário Draghi, logo “que haja uma união mais estreita” - o pré- requisito da dívida partilhada188. A proposta foi, entretanto, rejeitada por Merkel e Sakorzy, mas aparenta voltar dentro do tempo.

O último plano, ou plano F, foi titulado pelo geoscópio189 de “Simulação de um Jubileu da dívida soberana na Europa”. Anthony Evans e al.190 lançaram um simulador para os seus estudantes que prevê um processo de liquidação mútua, bilateral ou tripartido, das dívidas entre os membros da União Europeia. A simulação estima que a “dívida soberana dos 8 países estudados - Alemanha, Irlanda, Itália, Espanha, França, Grécia, Portugal e Reino Unido - poderia ser reduzida em 64% através do cancelamento cruzado das dívidas, baixando a dívida

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total em relação ao PIB de 40,47% para 14,58%. Seis países – Alemanha, Irlanda, Itália, Espanha, França e Reino Unido – poderiam eliminar 50% da dívida existente191. Permitindo este jubileu fazer troar as fanfarras192, mal a festa estava no adro já Christophe Donay, estratega - chefe da Pictet & Cie, lançava: redução da dívida é missão impossível!193

Para além dos planos anteriores, o mês de Setembro de 2011 assistiu a uma conjugação diária e inaudita de acontecimentos – para além de mais planos e conselhos194. O ministro das finanças alemão, Wolfgang Schauble, não se inibiu de dizer, numa quase réplica a Tim Geithner, o secretário do Tesouro norte-americano, que o plano Americano para salvar o euro era estúpido. Geithner aconselhou o reforço do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) dos actuais 440 mil milhões de euros até aos 2 biliões de euros, por via de uma operação de alavancagem de dinheiro do Banco Central Europeu. A resposta pouco simpática do sr. Schauble, depois de Barack Obama ter repreendido os líderes europeus por não fomentarem a recapitalização dos bancos europeus estendeu-se, entretanto, à Comissão Europeia: “Não percebo como alguém na Comissão Europeia pode ter uma ideia tão estúpida" referiu, justificando que isso "seria um perigo para os ratings "AAA" da dívida soberana de outros Estados-membros”. Para o “homem de rua” Europeu, dos estados mais frágeis, a posição de Schauble é incompreensível: “A Alemanha financia-se195 a 1.75% com um rating AAA+ para emprestar aos países Europeus em dificuldades a 10% ou mais. A Taxa de juro do BCE está nos 1.50%, a taxa de Juro do FED nos 0,50% até 2013”.

A dimensão da crise Europeia e a sua aparente incapacidade de resolução atemoriza até o resto do mundo. Estupefacção por um espaço geográfico até aqui sempre invejado e visto como o espaço número um qualidade de vida, segurança e desenvolvimento196. Até, Audley Shaw, ministro das Finanças da Jamaica, em entrevista à agência de notícias Bloomberg, recomendou à Grécia fazer o mesmo que o seu país e optar pela reestruturação da sua dívida nacional. Um programa de troca de dívida, isto é, a troca de títulos de dívida actuais por novas emissões com maturidades mais largas e taxas de cupão mais baixas. A Bloomberg refere que o plano Jamaicano levou a agência de notação financeira Moody's a subir o ‘rating' da Jamaica e o Fundo Monetário Internacional a aprovar um empréstimo de quase mil milhões de euros com maturidade de 27 meses. Para Shaw "A dívida estava a ameaçar a persistente falta de crescimento e o défice orçamental que estávamos a enfrentar. Adicionalmente a isso, fomos afectados pela crise económica global".

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Para outros economistas, nomeadamente economistas Americanos197, a diferença fundamental entre a moeda única e a União Europeia é que a primeira é o resultado de uma política de direita, a segunda resulta de um projecto profundamente solidário. De um lado a solidariedade europeia, os padrões comuns de direitos humanos e inclusão social, o controlo dos nacionalismos de extrema - direita, a integração económica e política. De outro lado o projecto de direita da união monetária: a punição às economias mais fracas com ajuda do FMI, a demissão de correcção através de estímulos fiscais ou monetários, os ajustamentos como formas agressivas recessivas. Às feridas dos custos sociais, aquilo que este economista americano classifica como insultos de uma agenda de direita das autoridades europeias: as privatizações na Grécia e em Portugal (desvalorização soberana); as reformas dos mercados de trabalho198; os efeitos regressivos na distribuição do rendimento; o princípio do fim do estado – social; o desvio – resgate forçado da banca com o dinheiro dos contribuintes; as regras dos PEC restritivos - em alturas de crise e de desemprego (pró - cíclicas e não contra - cíclicas); a preocupação quase exclusiva do BCE com a inflação199; o esquecimento do desemprego. Mesmo a união fiscal através de uma maior coordenação das políticas orçamentais é para este Americano um elemento que não justifica o mérito da salvação do Euro: “A integração económica europeia anterior à zona euro era de uma natureza diferente. A União Europeia esforçava-se para puxar para cima as economias mais fracas e proteger as vulneráveis. Mas as autoridades europeias provaram ser impiedosas na união monetária…200”. As grandes diferenças de produtividade são uma equação de difícil resolução no quadro da união monetária.

Para dar uma machadada no clima de racionalidade, a fraude declarativa fantasista de um senhor chamado Alessio Rastani à BBC, que parece ter-se feito passar por corrector independente da bolsa, dando razão a Adriano Moreira sobre os perigos da informação global e da sua simultaneidade de difusão: "Tenho uma confissão a fazer: há três anos que sonhava todas as noites com uma recessão como esta para poder fazer mais dinheiro… os governos não mandam no mundo, o Goldman Sachs é que manda no mundo".

Para terminar um artigo recente201 do Handelsblatt, intitulado “A verdade” refere-se à Alemanha como tendo uma dívida escondida que atiraria o seu déficit para cerca de 185% do PIB e faria da financeira - puritana Alemanha sujeito de célebre e pedagógica frase: “façam o que eu digo (e mando) e não o que eu faço (e escondo)”.

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DA “PESTE” CHINESA AO PESTEL MUNDIAL: A REVOLUÇÃO