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OS ESPAÇOS DE INTEGRAÇÃO COMO SOLUÇÕES DE COMÉRCIO LIVRE

7. A INTEGRAÇÃO EUROPEIA E A GLOBALIZAÇÃO DE MERCADOS

7.3 OS ESPAÇOS DE INTEGRAÇÃO COMO SOLUÇÕES DE COMÉRCIO LIVRE

Há mais de cem anos, é criada a SACU138 - a primeira união aduaneira da África Austral. Teve como objectivo promover o desenvolvimento económico da União Sul-Africana, tornando-se na mais antiga união aduaneira do mundo - fruto de longos anos de negociações e pós Segunda Guerra Anglo Boer139.

Os espaços de integração classificam-se, entretanto, em quatro grupos: Zonas de Comércio Livre, a forma de integração que remove as barreiras no comércio entre seus membros, mantendo cada um dos países as suas próprias barreiras no comércio com outros países externos à zona de comércio livre; Uniões Aduaneiras, resume-se à eliminação ou redução das tarifas aduaneiras e de outros regulamentos comerciais, relativos aos produtos de cada um dos países componentes da união140. Mercados Comuns, a forma de integração económica que vai para além de uma união aduaneira, na medida em que permite também a livre movimentação de pessoas e bens entre as nações participantes. Por outras palavras, os Estados-membros estabelecem a eliminação das quaisquer restrições sobre produtos, bem como a livre circulação dos demais fatores produtivos, como pessoas, serviços e capital. A UE constitui-se como o melhor exemplo desse modelo de integração atingindo o estatuto de mercado comum no início de 1993. Mais tarde, empenhou-se no processo de transformação para uma união económica e monetária, alcançado com a adopção do Euro; Uniões Económicas e Monetárias - a forma mais avançada de integração141. Básica e esquematicamente um processo de integração pode assumir a seguinte sequência: mercado fechado» acordos comerciais preferenciais» área de comércio livre» união aduaneira» mercado comum» união económica e monetária» globalização.

A autonomia económica e comercial dos países leva a que as relações estabelecidas inicialmente entre eles - no que diz respeito às transacções internacionais de bens e serviços - sejam sujeitas a regras específicas que podem variar de acordo com diversos aspectos. Em

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concreto existem dois factores basilares, que caracterizam e dominam as transacções comerciais entre os diferentes países do mundo: a existência de barreiras aduaneiras à entrada de determinados bens provenientes de outros países; a Associação ou cooperação, entre dois ou mais países, no sentido de estruturarem políticas - tanto no que se refere às relações entre si, como no que se refere às relações que estabelecem com outros.

Assim, as políticas de adopção de barreiras alfandegárias e de outro tipo dependem de cada país. Mas, são cada vez mais frequentes acordos de cooperação à escala internacional no que se refere a regras e barreiras de cariz alfandegário. Usualmente aponta-se como potencial vantagem de uma união o progresso da actividade económica interna dos países aderentes, com dimensão e estrutura distinta e de acordo com as próprias características de cada um dos países. Por outro lado, é normalmente apontado como um problema potencial a eventual retaliação dos países externos que possam sentir-se prejudicados pela sua criação. Algumas vezes, as uniões aduaneiras assumem-se como fases iniciais de processos de integração económica mais intensos, nomeadamente de uniões económicas e monetárias com uma harmonia de políticas mais alargada, sobretudo a nível da política económica e monetária. O caso da União Europeia é o exemplo mais conhecido e paradigmático, um novo modelo de benchmark da sociedade internacional e um campo de ensaio para as futuras comunidades.

7.3.1 A explicação das Uniões Aduaneiras por via da promoção dos termos do comércio

Alterar favoravelmente os termos do comércio não está obviamente nas mãos de Estados, que pouco pesam nesses mercados, o que já não acontece com uniões aduaneiras maduras com políticas comerciais comuns que representem partes importantes do comércio mundial. Variações de procura agregada em uniões aduaneiras levam, em princípio, como muito bem diz Porto (Porto, 2009) a descidas ou aumentos dos preços mundiais. Num mercado onde a rigidez da procura é elevada, dada a fraca substituibilidade, a perspectiva do bem - estar geral parece estar sequestrada pelo lado da oferta, sendo que o forçar da procura por parte do espaço com peso na procura através de qualquer tipo de restrição (como a alfandegária), funcionará melhor em mercados onde a rigidez da procura não seja regra. É interessante também de verificar como das intervenções nos termos do comércio como é exemplo o caso

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da PAC, promovendo benefícios à custa dos outros (Porto, 2009, p. 247), acabam por prejudicar quase todos: os países externos às uniões aduaneiras e alguns dos países integradores das próprias uniões.

7.3.2 Confirmação/infirmação da explicação da promoção dos termos do comércio na UE no caso concreto do mercado energético

É indubitável que os espaços de integração são espaços vantajosos com soluções internas de comércio livre - embora sejam soluções de segundo óptimo na perspectiva da análise de Pareto - sendo as de primeiro óptimo, o espaço do comércio livre mundial. O peso do conjunto comunitário na procura mundial de recursos energéticos, alicerçada numa política energética comum, faz pensar que uma diminuição da sua procura levaria a uma descida dos preços mundiais. Possibilidade, como diz Porto, não ao alcance de países pequenos, dado a alteração da sua procura não ir influenciar os mercados mundiais. Confirmamos, assim, com base no argumento dos termos do comércio, que o peso cumulativo das soberanias agregadas em espaços de integração (e no espaço UE em concreto) tendo peso no comércio internacional poderiam ser capazes (através de uma redução significativa da procura) de alterar os termos do comércio de modo favorável. Num mercado imperfeito, cartelizado, como é o do petróleo e o do gás, esses ganhos de escala não permite deduzir senão pequenos ganhos, por efeito integração, para os países tomados na sua condição de Estados Membros.

7.3.3 Conclusão

Vimos que a União Europeia, como espaço económico integrado, sofre de grave dependência externa de recursos energéticos, nomeadamente gás e petróleo, sob a forma de volatilidade de preços e incerteza de aprovisionamentos142. A menos que haja uma alteração do paradigma da energia fóssil para energias alternativas, a integração num espaço regional como o da UE (desprovido de recursos convencionais fósseis) terá de se socorrer de políticas comuns anti – concertação, anti – cartelização e de políticas que afirmem a eficiência energética, a separação

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do fornecimento da produção (políticas de afirmação e reforço da concorrência nos sectores energéticos) evitando posições dominantes e incentivando a utilização das energias renováveis.

O quadro actual do mercado mundial dos combustíveis fósseis, com procura excedentária relativamente à oferta (crescimento exponencial a Oriente e consequente diminuição do peso específico da UE no consumo mundial) restringido pelo limite natural das reservas mundiais conhecidas (para além das questões de cartelização), acentua a cada vez menor influência do espaço UE na formação dos preços mundiais, justificando uma integração cada vez maior de políticas energéticas comuns (das competências partilhadas às exclusivas). Externamente a uma só voz, internamente promovendo, maior concorrência, eficiência, procurando a criação de um verdadeiro mercado interno de energia (possivelmente num novo paradigma de recursos energéticos), de energias limpas renováveis, menos dependentes de qualquer cartel mundial que restrinja os ganhos de integração em mercado concorrencial. Os acordos de comércio da UE com outros países e espaços (como foi a recentemente noticiada negociação com o Japão sobre o afastamento das restrições Nipónicas ao comércio) demonstram a tomada de consciência da superioridade e consequente construção de um espaço de comércio livre mundial, como afirmação do primeiro óptimo de Pareto.

7.4 O QUE APRENDEU A UE SOBRE COMO LIDAR COM