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CAPÍTULO II- FORMAÇÃO DE PROFESSORES, ENSINO, APRENDIZAGEM E SER BOM PROFESSOR

2.3 Aprendizagem

Os apontamentos aqui discorridos se vertem sobre algumas teorias que abrangem questões relacionadas à aprendizagem na educação, pois, em referência semântica, Aulete (2008) traz o termo aprendizagem remetido para aprendizado que aparece definido como processo, ação ou o resultado de aprender. Já aprender é entendido como a obtenção do conhecimento, de compreensão ou do domínio de uma informação, um assunto, uma matéria, etc. Ou seja, os entendimentos sobre as palavras aprendizagem, aprendizado e aprender parecem estar direcionadas para a educação.

Procurou-se um autor que tratara especificamente sobre a aprendizagem em educação. O que se observou é que a melhor abordagem sobre o tema se daria discorrendo em relação a alguns pontos mais aproximados do que se possa conceituar sobre o que seja a aprendizagem de forma mais abrangente. Considerando que o movimento concreto do mundo interfere no mundo das ideias fazendo com que as experiências de aprendizagem sejam diferentes em cada sujeito, ainda que muitas das experiências de aprendizagem ocorram na coletividade e que cada sujeito aprenda a sua maneira, as deferências sobre a temática dar-se-ão por meio do

7 O significado para cognição humana nesta tese é apreendido de Santos (2009, p.67): “Do ponto de vista psicológico, a atribuição de intenção à comunicação é uma característica da cognição e das interações dos seres humanos, em um contexto”.

entendimento de aprendizagem para Davini (2010) e serão complementadas com García (2014), além do entendimento semântico embasado no dicionário Aulete (2008).

Desta feita, a aprendizagem está associada ao ensino e à formação de professores, podendo ser entendida como uma forma de refletir pedagogicamente sobre os mecanismos que são utilizados para aprender algo, como os conteúdos programáticos da educação. Davini (2010) traz algumas considerações sobre a aprendizagem dizendo que esta é o processo em que o sujeito faz suas reflexões sobre o conhecimento com que tem contato. Para a autora, neste movimento de aprender existem alguns dispositivos cognitivos que vão sendo acionados de acordo com o assunto que o sujeito for contatando. Cabe destacar que não se trata de apresentar novas formas de aprendizagens e, sim, de discorrer sobre um tema que precisa ser considerado dentro do movimento mais amplo que é a formação de professores. O que se abordará neste tópico não traz novidade sobre o processo de aprendizagem e, sim, pode ser uma forma de reflexão sobre como este movimento ocorre no cognitivo de um sujeito, considerando, sobretudo, a complexidade que envolve o conhecimento.

Dessa forma, um primeiro item a ser tratado quando o tema é aprendizagem de um novo assunto ou tema com conceitos e de uma informação atualizada sobre o que se vai aprender seria a teorização. Essa parte de teorização sobre um aprendizado é importante porque vai proporcionar certa referência para o que se vai aprender, é como se o cérebro disparasse os códigos para uma nova pesquisa com a intenção de captar conhecimentos acumulados pelo sujeito para entender as informações. Assim, alguns pressupostos servirão para preparar a aprendizagem sobre o novo elemento e a partir das hipóteses os sujeitos vão elaborar estratégias para entender se o novo conhecimento pode ser inédito ou não.

Para Davini (2010), o próximo passo para um aprendiz é a identificação ou não da informação que está recebendo. O sujeito irá testar o conhecimento por meio de comparações entre a informação recebida e as que estão guardadas em seu cognitivo, identificando ou não um novo elemento e analisando as estratégias necessárias para realizar uma reflexão sobre o tema a ser aprendido. “Nesta situação é importante manter o equilíbrio entre o estudo da situação e o acesso às teorias e informações, a fim de que estas permitam efetivar uma leitura dos fatos8”. (DAVINI, 2010, p. 145).

Em seguida, a autora comenta sobre a continuidade que é a análise da aprendizagem efetiva, quando esta existir. O sujeito utiliza o conhecimento prévio sobre a nova informação,

8 Tradução da autora. “En esta combinación, es importante guardar un equilibrio entre el estudio de situaciones y el acceso a teorías e informaciones que permitan efectuar una lectura de ellas.”

escolhe as estratégias que poderão ser utilizadas e as aplica sobre a informação que está chegando, este momento é descrito como a análise da prática. Por fim, segundo Davini (2010), de forma sequencial, o sujeito irá agir ou testar a informação nova ou acrescentar alguma informação, se for o caso de um conhecimento já presente no seu cognitivo.

O conhecimento, por vezes, precisa estabelecer uma rede de condições para a efetivação da aprendizagem, e uma característica apontada por Davini (2010) é a relação da aprendizagem com o contexto sociocultural em que o sujeito está inserido. Para a autora, o conhecimento está relacionado à história da educação e propor reflexões sobre a aprendizagem seria uma maneira de reestruturar as subjetividades educacionais apreendidas pelos sujeitos. Neste caso, não se trata de apontar modelos e exemplos de aprendizagens como um sendo mais correto que o outro e, sim, de considerar que os dispositivos de aprendizagem podem ser processados como forma de aperfeiçoamento do sujeito.

A partir de Davini (2010), foram apresentados alguns dispositivos de aprendizagem identificados como uma sequência. Inicialmente se tem um conceito, por exemplo, em seguida se identifica do que se trata, para que será utilizado o conceito e a partir daí o sujeito busca no cognitivo as alternativas para tratar o conhecimento. A partir das hipóteses levantadas sobre o tema, o sujeito testa o conhecimento analisando-o de forma prática e pondo em ação aquilo que aprendeu, ou seja, de uma tese para uma antítese.

Assim, considerando que esta pesquisa teve como participantes licenciandos do curso de Letras em formação inicial na docência, na continuidade apresentam-se alguns mecanismos ou estratégias utilizadas com a formação docente relacionada à aprendizagem do sujeito professor.

A aprendizagem do sujeito tem origem em suas experiências e na cognição humana, que está fundamentada na Psicologia. Esta, por sua vez, fundamenta o desenvolvimento dos conceitos utilizados na educação e um deles, o behaviorista, se explica com o desenvolvimento de experiências. De certa forma, a aprendizagem está relacionada às investigações empiristas da Psicologia ao se considerar que o conhecimento tem origem na experiência. Entretanto, segundo García (2014, p. 57), os processos de desenvolvimento cognitivo de professores “centram-se nos aspectos cognitivos e emocionais que distinguem cada etapa do desenvolvimento”. E estas etapas são apresentadas pelo autor como o processo de aprendizagem de um sujeito adulto. Isso indica mudanças no formato de entender a aprendizagem de adultos pela Psicologia, ou seja, esta aprendizagem não estaria fundamentada estritamente em bases behavioristas.

Dessa forma, García (2014) sinaliza que a aprendizagem de professores adquire certa concepção de aperfeiçoamento, o que diferiria da aprendizagem de uma criança. “É, pois, necessário considerar que os professores são sujeitos cuja atividade profissional os leva a implicar-se em situações formais e não formais de aprendizagem”. (GARCÍA, 2014, p. 50). Por isso, o estilo de aprender de um professor em formação, por exemplo, apresenta as características de um sujeito adulto aprendendo. A aprendizagem de professores, neste viés, é apresentada por García (2014) como estilos de aprender. Assim, o autor se fundamenta em outras pesquisas e destaca alguns desses estilos, chamando a atenção para que os itens levantados, como estilo, não sejam considerados fechados e, sim, possam funcionar como norteadores de características de aprendizagem de um professor.

Um dos apontamentos sobre os estilos de aprendizagem citados por García (2014) é a aprendizagem convergente, que apresenta a característica centrada em uma conceituação abstrata juntamente com a experiência ativa. Nesse estilo, há uma tendência para a aplicação de ideias que apresente o desempenho do sujeito e esteja centrada na característica de utilização do raciocínio hipotético. Trata-se de um estilo que parece atrair mais as profissões que lidam com as ciências físicas.

O estilo divergente parte da experiência concreta reunida à observação reflexiva, opera com a capacidade de produzir ideias e analisar os fatos por perspectivas diferentes entre os seres humanos. Esse estilo está voltado para a lida entre sujeitos e pode ser mais observado nas ciências humanas e artes.

Em seguida, entra o estilo assimilativo de aprendizagem, que está voltado para a conceituação abstrata junto com a observação reflexiva. Neste estilo, há a predominância do raciocínio indutivo em que o interesse desse sujeito está focado mais em conceitos abstratos e menos em seres humanos. Este sujeito tende a buscar a aprendizagem nas ciências e matemáticas básicas.

O quarto e último estilo de aprendizagem apresentado por García (2014) é o acomodativo. Este grupo de sujeitos gosta de desafios e de correr riscos, além disso, são de fácil adaptação para desempenhar uma função e tendem a gostar de lidar com as experiências concretas e com a experiência ativa, por isso optam por trabalhos que exigem ação como vendas e marketing.

As considerações sobre a diversidade de estilos observados na formação de professores podem ser utilizadas para subjetivar as intenções de um sujeito que decida optar pela profissão de professor. García (2014) apresenta estes estilos de aprendizagem principalmente

considerando que a formação de professores pode ser mais bem desempenhada a partir da conscientização sobre as atividades que cada sujeito vá desempenhar em sua ação.

Aparentemente, este tipo de formação, que, em atividades de formação de professores pode adotar a modalidade de curso de aperfeiçoamento, tem subjacente a ideia de que a aprendizagem do adulto e a mudança das teorias implícitas ocorrem como consequência do fato de se tornar o professor consciente da debilidade ou deficiência de alguns componentes da sua teoria subjetiva. (GARCÍA, 2014, p. 51).

Estas observações sobre o aperfeiçoamento da profissão do professor para entender as debilidades referentes à sua atuação e em conformidade com a aprendizagem do sujeito adulto estão relacionadas à capacidade de autonomia que cada sujeito utiliza na aprendizagem. As estratégias escolhidas para a ação podem auxiliar o sujeito a se identificar com determinado estilo de aprendizagem.

Além disso, García (2014) integra a questão do estilo da aprendizagem de professores com a prática curricular, com a participação da escola como um todo amplo, com a inovação, com o ensino em que “os professores sejam inovadores e façam adaptações curriculares, [...] as classes sejam locais de experimentação, colaboração e aprendizagem, [...] os alunos aprendam e se formem como cidadãos críticos”. (GARCÍA, 2014, p. 139).

Por tudo isso, abranger e apresentar uma teoria sobre aprendizagem, a partir de Davini (2010) e García (2014), desvela em sentido amplo, que aprender e ensinar podem ser entendidos como ação e reação a um conhecimento novo ou a um conhecimento que não seja tão novo como um processo contínuo de aprendizagem. Na sequência foram organizados alguns tópicos relevantes sobre aprendizagem para os autores aqui trazidos.

Quadro 2 - Aprendizagem

AUTOR POSSÍVEIS CONCEITUAÇÕES

Davini (2010) • A aprendizagem é o processo em que o

sujeito faz suas reflexões sobre o conhecimento com que tem contato; • Aprendizagem é saber identificar ou não

a informação que se está recebendo; • A aprendizagem proporciona que o

conhecimento prévio seja utilizado sobre a nova informação;

• A aprendizagem possibilita a testagem da informação nova ou acrescenta alguma informação a um conhecimento já presente no seu cognitivo.

García (2014) • A aprendizagem está centrada nos

aspectos cognitivos e emocionais que distinguem cada etapa do desenvolvimento;

• A aprendizagem convergente apresenta a característica centrada em uma conceituação abstrata juntamente com a experiência ativa, mais presentes na física e nas ciências;

• A aprendizagem divergente parte da experiência concreta reunida à observação reflexiva que opera com a capacidade de produzir ideias e analisar os fatos por perspectivas diferentes entre os seres humanos. Esse estilo está voltado para a lida entre sujeitos e pode ser mais observado nas ciências humanas e artes; • Aprendizagem assimilativa está voltada

para a conceituação abstrata junto com a observação reflexiva. Neste estilo há a predominância do raciocínio indutivo em que o interesse desse sujeito está focado mais em conceitos abstratos e menos em seres humanos. Este sujeito tende a buscar a aprendizagem nas ciências e matemáticas básicas;

• Aprendizagem acomodativa reúne sujeitos que gostam de desafios e de correrem riscos, além disso, são de fácil adaptação para desempenhar uma função e tendem a gostar de lidar com as experiências concretas e com a experiência ativa, por isso optam por trabalhos que exigem ação como vendas e marketing.

Fonte: A autora (2018), com base em Davini (2010) e García (2014)

Ainda, pode-se dizer que o ato de aprender não se distancia do ensinar para os professores, que é importante os sujeitos se perceberem dentro de sua aprendizagem e que o aprendizado lhes servirá para partilhar, negociar, reconhecer, rever a aprendizagem a partir de cada situação vivenciada desde o início de sua formação e durante o tempo em que estiverem desenvolvendo-a. Então, na continuação, a abordagem será sobre o ser bom professor.