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CAPÍTULO IV- NATUREZA E ABORDAGEM DA PESQUISA

5.6 Concepções de currículo e as correlações

5.6.5 Currículo como possibilidades e professor que ama o que faz

A primeira correlação para esta categoria e com maior média de coocorrência (3.83333) foi D1.1 {D1, C5, D6, A4}, em que a concepção de D1 de Currículo como Possibilidade de caminhos e metas aparece correlacionado com: C5 - Aprendizagem como Capacidade de reflexão; D6 - Ser bom professor como Amar o que faz; e A4 - Ensino como Transmitir conhecimentos. No grafo da Figura 26 estão todas as combinações formadas a partir de currículo como possibilidade de caminhos e metas, assim, o foco na discussão destes dados está concentrado na concepção de currículo e sobre ser bom professor.

Figura 26 - Grafo currículo como possibilidades e professor que ama o que faz

Fonte: A autora (2018).

A aresta mais forte no grafo da Figura acima é D1 com C5 (= 6 ocorrências), seguida de D1 com F6 (= 5 ocorrências), D1 com D4 (= 5 ocorrências) e D1 com A4 (= 5 ocorrências). Nestas combinações, o currículo se assemelha ao modelo de currículo defendido por Goodson (2013a), no sentido de pensar as possibilidades que um currículo pode abrir para a educação se este for pensado na coletividade, desde uma validação histórica em que se considere a diversidade.

Outro autor que abarca os entendimentos sobre currículo como possibilidades é Tadeu da Silva (2004) ao descrever o currículo como um processo de construção que envolve a sociedade como um todo, pois são necessários múltiplos olhares no sentido de questionar um posicionamento unilateral em currículo.

O currículo como possibilidade de caminhos e metas ainda pode ser percebido em McNeil (2016b), dentro de uma das definições sobre o currículo humanista. Segundo o autor, alguns educadores denominados críticos radicais entendem o sujeito em uma totalidade em que as diferentes possibilidades podem ser exploradas como uma capacidade inata e não artificial, frente à desumanização da sociedade. Um exemplo dessa leitura de currículo humanista, neste sentido, é observado na resposta do participante L5 quando este fala sobre o currículo, na entrevista. Em uma das frases trazidas pelo licenciando sobre o currículo destaca que “Serve

para nos nortear dentro do processo todo, seja no processo político, histórico e social”, podemos observar que há essa inclinação de definição de currículo como algo que indica possibilidades. Assim, caberá aos sujeitos envolvidos com o currículo transformar os caminhos e as metas de forma que estes possam percorrê-las com menos artificialidade.

Ao se analisar a concepção sobre ser bom professor como alguém que ama o que faz, foram selecionadas algumas respostas como:

• QL5 - Ser um bom professor é gostar do que faz, dedicar-se profundamente sobre sua disciplina,

ensinar o aluno a pescar e não dar o peixe.

• QL129 - Ser um bom professor é gostar de sua profissão e principalmente dar aula com muito

amor.

• QL161 - Um bom professor é aquele que ensina com dedicação, que não separa os alunos e

principalmente ama o que faz.

Inicialmente, as respostas parecem apresentar certo romantismo, talvez, devido à presença da palavra ‘amar’. Entretanto, a questão de o sujeito ter afinidade, gostar e amar o que faz também nos permite inferir sobre questões de humanização na sua profissão. Neste sentido, a resposta sobre ser bom professor também se aproxima do modelo de currículo humanista de McNeil (2016b), uma vez que os humanistas entendem que o currículo pode proporcionar experiências positivas tanto para professores como para os sujeitos aprendizes. Assim, as contribuições para o desenvolvimento pessoal e social são características que abalizam a questão do sujeito satisfeito com o que faz, pois, para os humanistas, a realização coletiva no processo do conhecimento pode gerar autonomia e integridade.

As palavras que aparecem nas respostas trazidas, como exemplo, ‘gostar, amar, dedicação’ para confirmar a categoria ser bom professor, destacam essa característica humanista e não necessitam de comentários quanto a sua carga semântica. Em Tardif (2014), a práxis do professor é algo em constante construção e essa construção em Davini (2010) é a construção das experiências profissionais que ocorre entre jogos de relações estabelecidos na sociedade e, por consequência, na escola. Em Cunha (2015), a práxis docente é complexa e depende de regulações burocráticas e científicas.

A correlação de currículo como possibilidades com professor que ama o que faz engloba ainda a questão da aprendizagem como a capacidade de reflexão, que é outro tópico que pode ser inserido no modelo de currículo humanista, pois, para McNeil (2016b), os professores humanistas proporcionam aos sujeitos aprendizes o encorajamento para irem em busca de estratégias que melhor lhes capacitem para a aprendizagem.

Nestes termos, esta análise somente não transita dentro do modelo de currículo humanista de McNeil (2116b) na categoria sobre ensino que abarca mais uma classificação de

currículo acadêmico (MCNEIL, 2016a), pois englobou as respostas de ensino como a transmissão de conhecimento. Dessa maneira, o que se pode concluir sobre a correlação 5.6.5 é que há uma tendência por parte destes sujeitos para uma definição de currículo, de aprendizagem e de ser bom professor para uma percepção mais crítica de teoria de currículo e educação, ao passo que, ao se pensar em ensino, estes mesmos sujeitos responderam que ensinar é transmitir conhecimento. Aqui se percebe a influência da questão da homogeneização do sujeito conforme trazido pelos integrantes da EF por Pucci (1994), é o que se percebe em Goodson (2013a; 2013b), em Tadeu da Silva (2004) e Sacristán (2000) quando estes apontam o currículo como um mecanismo de reprodução da cultura dominante.

A questão do esclarecimento é entendida parcialmente e o mesmo sujeito que acredita que o currículo, a aprendizagem e o ser bom professor podem ser veículos de autonomia também se encontra permeado por um ensino que mantém características de um sistema reprodutivista na educação. Assim, a denominação do tópico de currículo como possibilidade e professor que ama o que faz está fechado entre o currículo e postura do ser bom professor.