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CAPÍTULO IV- NATUREZA E ABORDAGEM DA PESQUISA

5.6 Concepções de currículo e as correlações

5.6.7 Documenta, informa e forma

Apresentamos agora a análise da concepção de currículo como documento. A correlação foi chamada de F1.1 {F1, D4, F6, D5} e aparece com 2.33333 de média de coocorrência, em que F1 é a concepção de Currículo como Documento; D4 Ensino como Troca de conhecimento; F6 Ser bom professor como Mediador no processo do conhecimento e D5 Aprendizagem como Fixação/assimilação de conhecimentos.

Figura 28 - Grafo total documenta, informa e forma

Fonte: A autora (2018).

O grafo 28 apresenta muitas correlações, entretanto com poucos registros de ocorrências entre elas. Entre as arestas mais significativas está a F1 com D4 (= 4 ocorrências) que une o currículo como documento e o ensino como troca de conhecimento. O currículo como documento pode ser enquadrado nos quatro modelos de McNeil (2016a; 2016b; 2016c; 2016d), já que dizer que o currículo é um documento é uma definição um pouco vazia de informações. O currículo como documento, conforme algumas respostas dadas pelos participantes, pode ser:

• QL85 - Documento que reúne dados relativos a algo.

QL88 - Um documento que um certo indivíduo ou serviço abrange.

Os exemplos de respostas apresentadas no questionário mostram que o significado de documento também se apresenta de forma esvaziada. Não há uma referência mais específica sobre o que seria o currículo como documento entre as respostas elencadas. No entanto, não se pode dizer que currículo como documento não seja algo, pois a definição de documento na

sociedade remete para algo importante, que organiza, sistematiza, rege, entre outras definições, mas a questão que se faz é: um documento que organiza o que, por exemplo? Essa questão é difícil de ser respondida, pois as respostas dos licenciandos não indicam exatamente para que será o currículo como documento.

Assim, a combinação F1+D4 talvez possa ser entendida, neste contexto, como o currículo sendo um documento que possibilita a troca de conhecimentos entre os sujeitos. Diz- se isso, porque entre as respostas sobre o ensino como troca de conhecimentos estão:

• QL98 - Ensino é a troca de conhecimentos entre professores e alunos.

• QL126 - Troca de experiências, no sentido de aprender e ensinar ao mesmo tempo.

• QL155 - Ensino é um trajeto em que o aluno e o professor percorrem juntos, onde positivamente

acrescenta no que se entende por educação.

As respostas sobre o ensino trazem a questão dialógica do processo de troca de conhecimentos entre professores e alunos. Essa questão vai ser amparada por Freire (2000), já que este autor explora a questão do ensino como um caso de autoconhecimento entre professor e aluno. A dialogicidade durante o processo do ensino entre os sujeitos envolvidos com o conhecimento é movida pela curiosidade. Para Freire (2000), é importante que o professor estimule ou provoque a vontade de aprender no sujeito aprendiz e, para que isso ocorra, uma forma interessante é que o aluno perceba que aquilo que o professor ensina também lhe é significante.

Outro viés importante de ser considerado sobre a dialogicidade no ensino é a questão do respeito entre os sujeitos professor e aluno, pois, enquanto “seres históricos-sociais, nos tornamos capazes de comparar, de valorar, de intervir, de escolher, de decidir, de romper, por tudo isso, nos fazemos seres éticos”. (FREIRE, 2000, p. 36). Assim, a questão de entendimento sobre o ensino como troca de conhecimentos é uma forma de o licenciando manifestar que acredita que o ensino pode-lhe ser uma forma de manifestar sua autonomia, pois a ética, neste caso, permeia a convivência e o respeito entre os sujeitos.

Quando a combinação se dá entre F1+F6, forma-se currículo como documento e professor mediador no processo de conhecimento. Esta combinação acompanha a anterior, pois as concepções estão aproximadas. Se em D4 o ensino aparece como troca de conhecimentos e em F6 o professor é visto como o mediador desse processo, percebe-se que ambas as interpretações caminham juntas, afinal, para que ocorra o ensino são necessários os dois sujeitos. Assim, o licenciando deixa claro que, em sua concepção sobre ser bom professor, é importante que este se perceba como a outra parte no processo de construção do conhecimento.

Então, novamente traz-se Freire (2000), que diz que o ensino não é transferência do conhecimento e, sim, o envolvimento dos alunos no processo de construção deste. “Uma das tarefas fundamentais do educador progressista é, sensível à leitura e à releitura do grupo, provocá-lo bem como estimular a generalização da nova forma de compreensão do contexto”. (FREIRE, 2000, p. 92). A concepção sobre o professor como um sujeito mediador no processo do conhecimento vem dar um sentido para o currículo como documento, pois, se o mesmo sujeito acredita que o currículo é um documento e que o professor é alguém que transcende qualquer possibilidade de encerramento dessa concepção, a combinação F1+F6 infere documento, informação e formação.

Mas as concepções e combinações para esta questão ainda demandam a análise de D5 Aprendizagem (Fixação/assimilação de conhecimentos), considerando que, quando se aprende, entende-se que a aprendizagem está para o ensino como está para o conhecimento e para a educação.

Por vezes, as concepções sobre ser bom professor, ensino, aprendizagem e currículo não se apresentam combinadas e com significados muito aproximados. Mas, nesta correlação, o que se percebe é que há legitimidade entre ensino como troca de conhecimento, aprendizagem como assimilação de conhecimento e ser bom professor como o sujeito que faz a mediação do conhecimento. O ato de ensinar e aprender é, neste sentido, uma forma de esclarecer e de abrir possibilidades para a atuação do sujeito no mundo. O ensinar e o aprender aguçam a curiosidade e podem tornar esse processo mais humano e construtivo. Um professor que ensine com a disponibilidade de aprender não se portará como um sujeito coercivo o que permitirá a promoção da criticidade no outro com a finalidade de construção do conhecimento coletivo e construtivo.