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CAPÍTULO IV- NATUREZA E ABORDAGEM DA PESQUISA

5.6 Concepções de currículo e as correlações

5.6.8 Sinais de currículo crítico

As últimas correlações construídas a partir do software Mathematica® geraram G1.1 {G1, F6, C5, B4), respectivamente: G1 concepção de Currículo como Processos educacionais; F6 Ser bom professor com Mediador no processo do conhecimento; C5 Aprendizagem com Capacidade de reflexão e B4 Ensino com Formação para a libertação, com uma média de coocorrência de 2.0.

Figura 29 - Grafo total sinais de currículo crítico

Fonte: A autora (2018).

A primeira correlação apresenta uma concepção de currículo como processos educacionais que se acredita ser um entendimento mais voltado para a interpretação de modelo de currículo inserido na criticidade. Diz-se isso porque, conforme Goodson (2013b), as instituições educacionais são os locais responsáveis secularmente pelas mudanças históricas que se produzem na sociedade. Para o autor, ainda que a realidade contemporânea da educação esteja voltada para certa capitalização e mercantilização, isto tudo “é, provavelmente, apenas uma fase temporária”. (GOODSON, 2013b, p. 68).

Sobre esta questão de entender o currículo pelo viés da história, Goodson (2013a, 2013b) mantém sua defesa na questão das conquistas produzidas pelo conhecimento dizendo que “a compreensão mais histórica da teoria da mudança é um projeto profundamente pragmático”. (GOODSON, 2013b, p. 69). Neste sentido, se houve certo exagero na desvalorização do profissional professor e como consequência do currículo, do ensino e da aprendizagem, boa parte desta história está relacionada às ondas de reformas educacionais.

Entretanto, não se trata de encontrar o que ou quem é culpado ou não pelas divergências de entendimentos sobre o processo educacional que se tem na atualidade, mas, sim, de entender que, entre os participantes licenciandos desta pesquisa, concebeu-se que o currículo também, entre outras concepções, é um veículo de processos educacionais. Grosso modo, as afirmações de Goodson (2013a; 2013b) de que o currículo é uma construção histórica que precisa ser

pesquisado sinalizam que há necessidade de, cada vez mais, o conhecimento se validar do passado, se legitimar no presente e se fortalecer para o futuro.

Desta forma, essa resposta sobre currículo pode ser inserida no modelo reconstrucionista de McNeil (2016c), já que a cooperação é o eixo central para esse formato de currículo. Diz o autor que a ciência poderia ser levada para as comunidades nos períodos de recessos das instituições educacionais, pois os processos educacionais teriam sua continuidade e seriam integrados a outras áreas do conhecimento. E com essa reconstrução ocorreriam as definições por áreas de atuação para os sujeitos que se adequariam a suas necessidades. O currículo seria um instrumento de processo em que o sujeito se encontraria enquanto profissional e ajudaria a comunidade com as diversas possibilidades de soluções que pudessem ser produzidas de acordo com os interesses da coletividade.

Nesta mesma perspectiva, Freire (2000, p. 152) diz que “Ensinar exige reconhecer disponibilidade para o diálogo” e o diálogo como o caminho para o esclarecimento é como entender, com o auxílio da linguagem, a convergência da ciência com a arte. (ADORNO; HORKHEIMER, 1985). Assim, a categoria ensino como a formação para a libertação aparece nesta expressão, combinada ao currículo e traz traços de entendimento de currículo inserido na perspectiva da teoria crítica.

A formação para a libertação do sujeito indubitavelmente está relacionada ao esclarecimento, entretanto os interesses forjados por meio da linguagem e dos signos linguísticos nem sempre permitem que o esclarecimento veicule livremente sem o processo da dominação. Neste segmento, analisar esta porcentagem de sujeitos que acreditam que o ato de ensinar possibilita a libertação do ser humano pode querer dizer que “O esclarecimento se consuma e se supera quando os fins práticos mais próximos se revelam como o objetivo mais distante finalmente atingido”. (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 46). Estes participantes acreditam que ensinar pode prover os sujeitos de esclarecimentos outros, que não sejam os que estão inseridos nas estruturas sociais.

• QL5 - É o caminho de uma conquista de si mesmo sobre tudo que está em sua volta. É o caminho da libertação humana.

• QL89 - Ensinar é possibilitar ao outro sua real inserção no meio em que vive. É dar ao outro vez e voz na sociedade.

QL168 - Ensino significa formar um aluno para refletir acerca do contexto social em que está inserido.

As respostas acima são significativas e legitimam a concepção de currículo como processo já que os licenciandos manifestam que o ensino, entre outras definições, liberta o ser humano. Trazendo as concepções de Goodson (2013a; 2013b) sobre a validação de um

currículo ocorrer com a consideração processual histórica da educação, percebe-se que existem concepções que fortalecem uma possibilidade de educação crítica e reflexiva.

Os licenciandos que apresentaram as respostas de currículo como processos educacionais, ensino como a formação para a libertação também disseram que o professor é quem faz a mediação no processo de ensino e aprendizagem e apontaram a aprendizagem como a capacidade de reflexão do sujeito. Estas respostas precisam ser consideradas porque, neste quesito, os licenciandos demonstram um amadurecimento sobre o processo de aprendizagem e entendem que a educação não apenas reproduz, mas também produz o conhecimento.

• QL3 - Aprendizagem é de grande importância em nossas vidas, pois ela só tem a acrescentar

nos fazendo conhecer diferentes coisas, nos ajudando a entender o que não entendemos, acrescenta também para melhor formação profissional.

• QL153 - O processo de ensino e aprendizagem é concebido para formar sujeitos autônomos, e

que atuem na sociedade de forma crítica e reflexiva.

• QL158 - Aprendizagem compreende-se como ampliação do saber crítico para o

desenvolvimento sócio/cultural.

Quanto à categoria ser bom professor aparecer como o mediador do processo de ensino e aprendizagem, Tadeu da Silva (2001; 2004) faz uma leitura do ser bom professor como alguém que está sendo utilizado como mais um sujeito que hegemoniza as identidades e otimiza o mercado para o consumo dentro ou fora das escolas. E, segundo o autor, são nestes tempos que o ser bom professor precisa se recriar e “[...] fazer perguntas cruciais, vitais, sobre o nosso oficio e nosso papel, sobre o nosso trabalho e nossa responsabilidade”. (TADEU DA SILVA, 2001, p. 8).

Entendendo que são tempos de questionamentos e interpretação dos eventos que se perdem nas perspectivas de “[...] disseminação do processo de significação e de produção de sentido”. Como professores, pode-se e se deve expandir a polissemia educacional, procurando dar sentido político e social à profissão do professor com uma atuação mais intensa na parte didática, pedagógica e administrativa na educação.

Não é possível a omissão enquanto sujeitos da ação, é preciso dar significado aos estudos sobre o currículo, por exemplo, já que este é um tema tão necessário de ser pesquisado na educação, pois, por meio dele, são mantidas as políticas dominantes, é por ele que estabelecemos identidades. Enfim, o currículo permite/omite manifestar e participar bem mais efetivamente das ações nas escolas, mas para isso é preciso disposição para o envolvimento com as causas políticas da educação e este parece o recado dado por estes licenciandos sobre o ser bom professor, nesta correlação denominada sinais de currículo crítico.