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3 A FORMAÇÃO DE TREINADORES(AS) EM GINÁSTICA

3.2 A formação de treinadores(as) em Ginástica

3.2.2 Aprendizagem na esfera não-formal

Para além da educação formal, os(as) treinadores(as) esportivos(as) parecem buscar outras formas de capacitação. A educação não-formal mostra-se eficiente nesse aspecto e é procurada por muitos deles(as) durante e depois da graduação, pois geralmente abrange cursos de curta duração, em uma área específica do conhecimento, eleito pelo profissional em busca de especialização.

Em nível internacional, a FIG possui um programa de treinamento chamado “FIG ACADEMY”, denominado no Brasil de “Academia de Treinadores”. Segundo a FIG (2019),

the Academy Programme has the goal to provide lesser developed as well as highly developed Gymnastics countries with a common knowledge base for the development of high performance gymnasts [...] The FIG Academy Programme has also been supplemented with a pre-Academy "Foundations of Gymnastics" curriculum developed cooperatively with the Gymnastics for All Committee.

o programa da Academia de Treinadores tem como objetivo fornecer aos países de Ginástica menos desenvolvida e mais desenvolvida uma base de conhecimento comum para o desenvolvimento de ginastas de alto desempenho [...] O programa Academia de Treinadores da FIG também foi complementado com um currículo de “Fundamentos da Ginástica” pré- Academia, desenvolvido em cooperação com o Comitê de Ginástica Para Todos. (tradução nossa)

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Nessa proposta, parece que apenas modalidades competitivas (NUNOMURA, 2016) estão no rol dos cursos propostos pela FIG: a Ginástica Artística Masculina (GAM), Ginástica Artística Feminina (GAF), Ginástica Rítmica (GR), Ginástica de Trampolim (GT), Ginástica Aeróbica Esportiva (GAE) e Ginástica Acrobática (GACRO) (FIG, 2018).

A FIG não certifica ou licencia treinadores; essa tarefa fica a cargo das federações nacionais. Ela apenas envia os resultados dos exames para a federação de cada treinador participante do curso e, então, a própria federação decide o status que conferirá a ele (FIG, 2019).

Em relação à GPT, há uma proposta da FIG, o curso “Foundations of Gymnastics”, o qual denominamos, no Brasil, de “Fundamentos da Ginástica”, mas que se difere dos outros cursos de formação de treinadores. Esse curso é procurado por treinadores(as) brasileiros(as) como uma forma de aprendizagem na esfera não- formal.

Em nível nacional, não há nenhum curso específico de formação de treinadores(as) oferecido pela CBG ou pelas federações estaduais. O que ocorre são cursos assistemáticos de curta duração, com professores nacionais e internacionais, promovidos por algumas federações.

Segundo o Estatuto da CBG, ela “é uma associação de caráter desportivo sem fins lucrativos ou econômicos [...] e tem como fim desenvolver a prática da Ginástica em todo o território nacional” (CBG, 2019). De acordo com o Artigo 8 desse estatuto,

à Confederação Brasileira de Ginástica compete dirigir, difundir, promover, organizar e aperfeiçoar a Ginástica Artística, a Ginástica Rítmica, Ginástica Para Todos, Ginástica Aeróbica, Ginástica de Trampolim e Ginástica Acrobática, portanto deve:

a) promover e/ou autorizar a realização de campeonatos, festivais,

cursos, pesquisa, intercâmbio ou qualquer ato que objetive o desenvolvimento e fomento da Ginástica Brasileira. (CBG, 2019)

Contudo, ao consultar os eventos de GPT no site da instituição, percebemos que existem apenas os festivais ginásticos GymBrasil e a WG (que, inclusive, configura-se como internacional), dado que mostra a carência de cursos e outros eventos na área. Dessa maneira, toda a responsabilidade de formação (inclusive continuada), fica a cargo das universidades brasileiras e de outras instituições que fomentam o esporte.

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O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) oferece também, desde 2012, a “Academia Brasileira de Treinadores” (ABT), com cursos voltados para o alto rendimento esportivo. Segundo o COB (2019),

a ABT é um programa de formação e certificação de profissionais para a atuação como treinador de alto rendimento, conduzindo um programa de atividades, com vistas à melhoria do sistema de preparação e ao aprimoramento técnico das diferentes modalidades.

Ela oferece um total de três (3) cursos:

(1) Curso de Esporte de Alto Rendimento (CEAR), que é dividido em: desenvolvimento esportivo (voltado para treinadores(as) que trabalham com iniciação esportiva), aperfeiçoamento esportivo (voltado para treinadores(as) que já atuam em competições de nível mundial e olímpico) e excelência esportiva (voltado para treinadores(as) das equipes nacionais que trabalham com atletas de alto potencial de medalhas no atual ciclo olímpico). Esse curso possui uma carga horária de 110 horas e é oferecido apenas uma vez ao ano.

(2) Curso Básico de Gestão para Treinadores: o objetivo desse curso é desenvolver habilidades e competências no que se refere ao planejamento, gestão de pessoas, gestão financeira, além de outras habilidades como negociação, gestão de conflitos etc. Esse curso é realizado à distância e o conteúdo é exposto em videoaulas interativas e em mídias impressas. Ele é oferecido duas vezes ao ano, com carga horária de 120 horas.

(3) Curso de Iniciação Esportiva e Valores Olímpicos (CIEVO): tem o objetivo de orientar profissionais de Educação Física a trabalhar a iniciação esportiva com crianças de 5 a 10 anos de idade de forma adequada e prazerosa, contribuindo para o desenvolvimento de jovens talentos e promovendo valores olímpicos no ambiente educacional. Ele é oferecido à distância, com carga horária de 70 horas.

Há também cursos de especialização em Ginástica ofertados por algumas universidades, como, por exemplo, o curso de Especialização em Ginástica Rítmica,

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oferecido pela Universidade do Norte do Paraná (UNOPAR), que visa contribuir para a melhoria na formação dos profissionais que atuam com a GR desde a iniciação até o alto rendimento, além de qualificar profissionais para o exercício do magistério em nível de graduação (UNOPAR, 2019). O centro universitário FMU também oferece um curso de pós-graduação específico em Ginástica Rítmica, com diferentes componentes curriculares, assim como o de Educação Física escolar, com módulo de Ginástica.

A UNICAMP, por sua vez, oferece o “Curso de Especialização em Ginástica”, o qual apresenta um núcleo comum composto por disciplinas específicas da área e possibilita o aprofundamento em uma área específica (Ginástica Artística, Ginástica Rítmica ou Ginástica para Todos) (UNICAMP, 2019).

As clínicas de Ginástica Rítmica também promovem a capacitação tanto de ginastas, como de treinadores(as) da modalidade. São oferecidas por federações estaduais e universidades e recebem especialistas tanto nacionais, como estrangeiros.

De fato, esses cursos podem colaborar com a formação de treinadores(as) esportivos(as). Apesar de enfatizarem mais o esporte de alto rendimento, alguns aspectos abordados são válidos em todas as esferas do Esporte, principalmente aqueles em relação à iniciação e gestão esportiva. Quanto à Ginástica, a GA parece ser a única modalidade gímnica, ofertada em uma turma do CIEVO, contemplada nesses programas do COB (COB, 2019).

Também há a oferta de cursos em eventos de maior caráter científico, como o já citado SIGARC, que reúne estudantes de graduação e pós-graduação, treinadores(as), gestores(as) e pesquisadores(as) nacionais e internacionais, cujo tema central de debate é a ginástica competitiva (CARBINATTO; NUNOMURA, 2016). Esse evento acontece desde 2007 e em 2017 foi realizada a sua quinta edição.

Outro evento de grande importância na área da Ginástica é FIGPT, uma oportunidade para os(as) treinadores(as) realizarem cursos, workshops, participarem de mesas redondas, assistirem a palestras, festivais e adquirirem mais conhecimento sobre a prática da GPT. O objetivo desse evento é “ser um espaço de

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troca de experiências e de conhecimentos acadêmicos acerca da GPT, almejando melhor desenvolvê-la” (FIGPT, 2018).4

De fato, muitos estudiosos da área da Ginástica e grupos de GPT participaram desse evento desde a sua primeira edição. O levantamento de dados feito para esta pesquisa, assim, apontou a menção de mais de 210 grupos de GPT que participaram com publicações de trabalhos científicos e/ou apresentações nos festivais do Fórum (SCARABELIM; TOLEDO, 2018). Isso sem contar outros profissionais da área, nacionais e internacionais, que também contribuíram com a sua participação.

Outros eventos têm sido promovidos em outras regiões do Brasil, a exemplo do Congresso de Ginástica para Todos e Dança no Centro-Oeste, atualmente denominado de Congresso Brasileiro de Ginástica para Todos (CIGNUS, 2019), realizado pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e que, neste ano, completará a sua sétima edição. Ele contempla “discussões pertinentes aos saberes e conhecimentos científicos relacionados à Ginástica Para Todos e Dança, abarcando elementos sociais, com oficinas e apresentações culturais” (ESEFFEGO, 2019).

Nota-se que, diante desse panorama de cursos, eventos e festivais específicos da área da Ginástica realizados no Brasil, as oportunidades de aprendizagem não-formal para treinadores(as) parece ser diminuta em relação a outras modalidades esportivas com maior destaque no país.