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Um diagnóstico da formação de treinadores brasileiros que atuam na Ginástica para Todos  

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Faculdade de Educação Física

MARIA LETÍCIA ABUD SCARABELIM

UM DIAGNÓSTICO DA FORMAÇÃO DE TREINADORES BRASILEIROS QUE ATUAM NA GINÁSTICA PARA TODOS

CAMPINAS 2019

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MARIA LETÍCIA ABUD SCARABELIM

UM DIAGNÓSTICO DA FORMAÇÃO DE TREINADORES BRASILEIROS QUE ATUAM NA GINÁSTICA PARA TODOS

Dissertação apresentada à Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestra em Educação Física, na área de Educação Física e Sociedade.

Orientadora: Profa. Dra. Eliana de Toledo Ishibashi

ESTE TRABALHO CORRESPONDE À

VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO

DEFENDIDA PELA ALUNA MARIA

LETÍCIA ABUD SCARABELIM, E

ORIENTADA PELA PROFA. DRA. ELIANA DE TOLEDO ISHIBASHI.

CAMPINAS 2019

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COMISSÃO EXAMINADORA

Profa. Dra. Eliana de Toledo Ishibashi

Universidade Estadual de Campinas Orientadora

Profa. Dra. Laurita Marconi Schiavon

Universidade Estadual de Campinas Membro da banca

Profa. Dra. Ieda Parra Barbosa Rinaldi

Universidade Estadual de Maringá Membro da banca

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no SIGA/Sistema de Fluxo de Dissertação/Tese e na Secretaria do Programa da Unidade.

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AGRADECIMENTOS

À minha querida orientadora Eliana de Toledo, que, com muito carinho, paciência e amor pela docência e pela Ginástica, sempre me apoiou e me incentivou ao longo desses anos. Obrigada pela parceria e amizade, pelas oportunidades concedidas, pela fé depositada em mim, pelos conselhos e por tudo o que conquistamos juntas.

A todos os professores e professoras com os quais tive o prazer e a honra de aprender sempre mais, especialmente ao Prof. Dr. Alcides Scaglia que, desde o início do meu curso de graduação em Ciências do Esporte na FCA/UNICAMP, é uma das minhas maiores referências como docente e inspiração para a minha vida profissional.

Aos membros da banca, pela colaboração com este trabalho: Profa. Dra. Laurita Marconi Schiavon (titular), Profa. Dra. Ieda Parra Barbosa-Rinaldi (titular), Prof. Dr. Marco Antonio Coelho Bortoleto (suplente) e Profa. Dra. Eliana Ayoub (suplente).

Aos membros do LAPEGI – Laboratório de Pesquisas e Experiências em Ginástica (FCA/UNICAMP), pela amizade, parceria e incentivo. Obrigada por todas as experiências compartilhadas ao longo desses anos e por todos os trabalhos que realizamos. Sem dúvida vale nosso slogan: Juntos somos mais! Também agradeço aos membros do GPG – Grupo de Pesquisas em Ginástica, da FEF/UNICAMP, pela acolhida e pelos saberes compartilhados.

Às minhas amigas mestras Amanda Nascimento e Bianca Assumpção, por viverem e dividirem comigo experiências e sentimentos durante esse processo. Vocês foram e são fundamentais.

Às minhas alunas e alunos, por serem a razão da minha alegria diária e fonte de inspiração para a realização deste trabalho.

À Lilian Ferret, minha chefe, amiga, mãe e irmã, pelo seu apoio, confiança e parceria. Obrigada por ter cruzado o meu caminho.

Aos meus amigos de vida Patrícia, Raíssa, Thassiani, Isabela, Ana Paula e Rafael, por estarem sempre comigo, por compreenderem minhas ausências e acreditarem em mim.

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À Silvia, pessoa fundamental na minha vida para que eu conseguisse chegar até aqui. Obrigada pela empatia, pelo apoio, por me apresentar caminhos que eu jamais imaginei existir e por me mostrar que eu sou capaz de seguir todos eles.

À Edna Lopes, minha segunda mãe e meu anjo da guarda. Por todo o seu cuidado, carinho e amor. Por me mostrar que a vida é simples e é feliz. Eu te amo.

Aos meus irmãos Luciano Marcelo, Carlos Daniel, Luiz Octávio e João Victor, pelo incentivo, pela força e pelo amor.

À minha tia Telma Franco Diniz, não somente pelas traduções deste trabalho, mas também por ser meu exemplo de ser humano e por me empoderar em vários momentos.

À minha madrasta Larissa Scarabelim, por ter sido meu ponto de apoio em todos os momentos vividos ao longo deste processo. Por me acalmar, por vibrar comigo, por me mostrar que eu sou capaz e que tudo valeria a pena. E valeu! Muito obrigada.

Às minhas matriarcas Enide, Nádia e Aurora, que olham por mim de outros planos, e que eu sei que continuam me amando e torcendo por mim.

Por fim, meu maior e mais sincero agradecimento: ao meu pai, Hamilton Luiz Scarabelim, por ser meu melhor amigo, por me apoiar incondicionalmente em todos os meus projetos de vida, por sempre me incentivar a ir em busca dos meus sonhos e por ser meu maior exemplo de honestidade e justiça. Você é o meu herói. Te amo é muito pouco.

Agradeço a cada um que esteve minimamente ou de forma totalmente presente em todo o período da pós-graduação. Por cada mínimo gesto ou palavra de conforto, pela torcida verdadeira e pelo incentivo. Gratidão por tornarem esta jornada muito mais leve...

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RESUMO

A Ginástica para Todos (GPT) é uma área de estudo relativamente recente no Brasil. Apesar de um aparente crescimento nos últimos anos, percebe-se, ainda, que há pouca divulgação e incentivo à prática em alguns setores sociais. Estudos indicam que há lacunas na formação inicial dos profissionais da área, possivelmente em razão de falhas na estruturação curricular (NUNOMURA, 2001; NUNOMURA; NISTA PICCOLO, 2003; BARBOSA-RINALDI, 2005; SILVA, 2015), e que a formação continuada específica parece ainda incipiente e assistemática. Assim, este estudo buscou diagnosticar e analisar como os(as) treinadores(as) que atuam na GPT têm trilhado a sua formação com o objetivo de trazer subsídios para o planejamento de programas e projetos que venham a colaborar com esse processo. Trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo, que utiliza o método exploratório (de campo), e tem como ferramenta o questionário. O universo da pesquisa envolveu todos(as) os(as) profissionais que publicaram trabalhos sobre grupos de GPT e/ou que foram responsáveis por grupos que se apresentaram nos festivais do Fórum Internacional de Ginástica Geral/Ginástica para Todos – FIGPT (2001 a 2018), e a amostra constitui-se de vinte e um(a) treinadores(as). Os dados advindos das questões fechadas foram tabulados e apresentados em forma de narrativas, quadros e gráficos; os das questões abertas foram analisados segundo a Análise de Conteúdo de Bardin (2011). Identificou-se que a formação inicial e continuada dos(as) treinadores(as) ainda parece ser insuficiente, com algumas lacunas nos currículos dos cursos de graduação e pouca oferta de cursos específicos por parte de órgãos responsáveis pelo fomento da Ginástica, sendo que o FIGPT parece ter um grande papel em sua formação continuada. Em relação à capacitação profissional, eles se valem majoritariamente de livros, vídeos e materiais disponibilizados na Internet, assim como de artigos científicos, dado que já era esperado, uma vez que o perfil de formação dos profissionais entrevistados na pesquisa está ancorado no ensino superior (incluindo a pós-graduação). Outro dado interessante é que se confirmou a pouca experiência da maioria dos(as) entrevistados(as) em outras modalidades ginásticas e uma maior experiência na área da Dança, o que ratifica, então, a relação entre a GPT e o universo artístico. A construção coletiva de coreografias ganhou destaque como a metodologia mais utilizada pelos(as) treinadores(as) em seus trabalhos e reafirmou-se a importância dos festivais ginásticos para a prática e fomento da GPT. O desenvolvimento de programas de formação continuada para treinadores(as) de GPT é um caminho desejável para uma melhor capacitação desses profissionais, e a pesquisa fornece indicadores importantes para a estruturação de planos e projetos para o alcance desse fim, por diferentes organizações que possuem tal missão.

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ABSTRACT

Gymnastics for All (GfA) is a relatively recent field of research in Brazil. Although GfA has lately experienced a substantial growth, it still resents the lack of publicity and incentive and it goes unnoticed in some social segments. Studies have shown that there are gaps in coaches' education due to possible inadequacies in the undergraduate syllabus (NUNOMURA, 2001; NUNOMURA; NISTA PICCOLO, 2003; BARBOSA-RINALDI, 2005; SILVA, 2015), as well as in the continuing education programs, which seem underdeveloped and unsystematic. Thus, in order to provide elements and resources for the better planning of programs and projects that may collaborate with the process of coaches' education, this study has sought to investigate how GfA coaches have been carrying on both their initial as well as their continuing education. Grounded on a qualitative approach, this study employed exploratory (field research) methodology, making use of a questionnaire with closed and open-ended questions. The research encompassed all professional coaches that have published some work about GfA groups, as well as those who were in charge of groups that participated in the International Forum of General Gymnastics/ Gymnastics for All - IFGFA (2001 to 2018), amounting to twenty one coaches. Data from closed questions were tabulated and placed in charts and graphs, or presented as narratives, while answers from open-ended questions were analyzed according to Bardin Content Analysis (2011). Results showed that GfA coaches' education is insufficient: there are gaps in the undergraduate courses' syllabus, and the official organs in charge of promoting Gymnastics in Brazil do not provide enough continuing education options for those interested in GfA, and IFGFA appears as having a major role in the continuing education of GfA coaches. As for their professional qualification, they resort to books, scientific journals, videos, and material found on the Internet, such as scientific articles, a fact already expected, given their high education profile (including postgraduate studies). Another interesting fact is that it was observed that the majority of the interviewees had little experience in other kinds of gymnastics but Dance, which proved the connection between GfA and the artistic field. The collective creation of choreographies gained prominence as the methodology most often used by the coaches and confirmed the importance of gymnastics festivals for the practicing and promoting of GfA. The development of continuing education programs is a desirable way to promote an appropriate qualification for GfA coaches, and research can surely provide important indicators for the structuring of plans and projects to achieve that end.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Realização do primeiro Slet (1882) ... 22 Figura 2 - Deutsches Turnfest (2017) ... 24 Figura 3 - Apresentação de grande área na World Gymnaestrada (Áustria, 2019) .. 26 Figura 4 - Pirâmide executada por integrantes do batalhão (1951) ... 29 Figura 5 - Apresentação no evento World Gym For Life Challenge (2013) ... 33 Figura 6 - Composição coreográfica apresentada na World Gymnaestrada (2019) . 35 Figura 7 - Competências do treinador ... 43 Figura 8 - O Coaching Model ... 44

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Dados referentes às edições das World Gymnaestradas ... 25

Quadro 2 - Projetos de extensão relacionados à Ginástica em universidades ... 52

Quadro 3 - Grupos de pesquisa em Ginástica cadastrados no CNPq ... 53

Quadro 4 - Seções do questionário ... 67

Quadro 5 - Perfil dos(as) treinadores(as) ... 69

Quadro 6 - Dados do grupo ginástico atualmente coordenado pelo(a) treinador(a) . 75 Quadro 7 - Unidades de Registro (UR) da questão 15 ... 80

Quadro 8 - Histórico da trajetória do grupo... 82

Quadro 9 - Formação Inicial / Ensino Formal ... 84

Quadro 10 - A Ginástica no Ensino Superior ... 90

Quadro 11 - Participação em grupos de pesquisa e extensão ... 94

Quadro 12 - Formação continuada em Ginástica para Todos ... 96

Quadro 13 - Capacitação em Ginástica para Todos – utilização de materiais ... 99

Quadro 14 - Unidades de Registro (UR) da questão 45 ... 102

Quadro 15 - Capacitação em Ginástica para Todos – sugestões de iniciativas ... 103

Quadro 16 - Atuação como treinador(a) em grupos de Ginástica para Todos ... 104

Quadro 17 - Composição coreográfica na atuação profissional ... 106

Quadro 18 - Unidades de Registro (UR) da questão 53 ... 108

Quadro 19 - Metodologias de construção coreográfica ... 110

Quadro 20 - Unidades de Registro (UR) da questão 55 ... 112

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Experiências dos(as) treinadores(as) de GPT em Ginástica e Dança .... 74

Gráfico 2 - Perfil dos(as) participantes dos grupos de GPT ... 76

Gráfico 3 - Tempo de existência dos grupos de GPT ... 79

Gráfico 4 - Tipo de formação dos(as) treinadores(as) dos grupos de GPT ... 88

Gráfico 5 - Cursos de pós-graduação realizados pelos(as) treinadores(as) de GPT ... 89

Gráfico 6 - Modalidades gímnicas mais abordadas nas disciplinas nas IES ... 92

Gráfico 7 - Carga horária total dos cursos realizados pelos(as) treinadores(as) ... 97

Gráfico 8 - Eventos/cursos mais frequentados pelos(as) treinadores(as) ... 98

Gráfico 9 - Materiais impressos de capacitação ... 100

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Participação dos membros da União Pan-Americana de Ginástica na

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABT Academia Brasileira de Treinadores CBD Confederação Brasileira de Desporto CBG Confederação Brasileira de Ginástica CC Composição Coreográfica

CFE Conselho Federal de Educação COB Comitê Olímpico Brasileiro

CONFEF Conselho Federal de Educação Física CREF Conselho Regional de Educação Física

EEFPM Escola de Educação Física da Polícia Militar do Estado de São Paulo

FCA Faculdade de Ciências Aplicadas FEF Faculdade de Educação Física

FIG Federação Internacional de Ginástica FIGG Fórum Internacional de Ginástica Geral FIGPT Fórum Internacional de Ginástica Para Todos FNG Federações Nacionais de Ginástica

GACRO Ginástica Acrobática

GAE Ginástica Aeróbica Esportiva GAF Ginástica Artística Feminina GAM Ginástica Artística Masculina GG Ginástica Geral

GGU Grupo Ginástico Unicamp

GPG Grupo de Pesquisa em Ginástica GPT Ginástica Para Todos

GR Ginástica Rítmica GTRA Ginástica de Trampolim GUG Grupo Unido de Ginastas IES Instituição de Ensino Superior

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IFAL Instituto Federal de Alagoas IOA Instituto de Orientação Artística

LAPEGI Laboratório de Pesquisas e Experiências em Ginástica SESC Serviço Social do Comércio

SIGARC Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UEG Universidade Estadual de Goiás

UEM Universidade Estadual de Maringá UFES Universidade Federal do Espírito Santo UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

UFVJM Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri UFPEL Universidade Federal de Pelotas

USP Universidade de São Paulo

UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

UNIVASF Universidade Federal do Vale do São Francisco UNOPAR Universidade Norte do Paraná

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SUMÁRIO

1 PRIMEIROS ENSAIOS ... 17

2 A GINÁSTICA PARA TODOS ... 21

2.1 O cenário de uma Ginástica recentemente institucionalizada no mundo ... 21

2.2 A Ginástica para Todos no Brasil ... 27

2.3 Conceitos ... 31

2.4 As composições coreográficas na Ginástica para Todos ... 34

2.5 Contextos de prática ... 39

3 A FORMAÇÃO DE TREINADORES(AS) EM GINÁSTICA ... 41

3.1 Notas sobre a formação de treinadores(as) ... 41

3.2 A formação de treinadores(as) em Ginástica ... 48

3.2.1 Aprendizagem na esfera formal ... 49

3.2.2 Aprendizagem na esfera não-formal ... 54

3.2.3 Aprendizagem na esfera informal ... 58

3.3 Olhares para a formação de treinadores(as) de Ginástica para Todos ... 59

4 MÉTODO ... 63

4.1 Obtenção da amostra ... 63

4.2 A pesquisa de campo ... 65

4.3 Aplicação do questionário ... 66

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ... 69

5.1 SEÇÃO 1 – Dados e experiências pessoais (questões de 01 a 11) ... 69

5.2 SEÇÃO 2 – Dados do grupo ginástico (questões de 12 a 15) ... 75

5.3 SEÇÃO 3 – Formação profissional (questões 16 a 45) ... 84

5.4 SEÇÃO 4 – Atuação em Ginástica para Todos (questões de 46 a 55) ... 104

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 116

ANEXOS ... 140

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1 PRIMEIROS ENSAIOS

“[…] enfim, mais do que nunca, é preciso praticar a Educação Física como tempo e lugar de afirmar e reafirmar a vida como ato de resistência e de criação”. (VAGO, 1999, p.44)

Abordar a Ginástica Para Todos (GPT) como tema desta pesquisa é, inicialmente, falar sobre uma grata descoberta, pois, até o meu ingresso no Ensino Superior, confesso que não conhecia tal prática (pelo menos não com esse nome), muito embora sempre estivesse imersa neste universo das práticas corporais e artísticas.

Desde muito pequena, era fascinada por coreografias de Dança, especialmente as peças de ballet clássico de repertório, influenciada principalmente pela minha avó. Iniciei minha vivência em ballet clássico aos três anos, e, mais tarde, aos onze, conheci outros tipos de Dança, como o Jazz Dance e a Dança Contemporânea, e novas possibilidades se abriram para mim. Atuei por muitos anos como bailarina do Instituto de Orientação Artística (IOA), em Jundiaí/SP, e já possuía, no ensino médio, o desejo de ser professora e continuar atuando como bailarina, seguindo os passos daquelas mulheres e homens que me inspiraram.

Iniciei meus estudos no Ensino Superior em 2008, cursando Educação Física na Escola Superior de Educação Física de Jundiaí (ESEF), e, posteriormente, em 2010, Ciências do Esporte na Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas (FCA/UNICAMP). Lá, durante a disciplina de Fundamentos da Ginástica, tive contato com a GPT e, contagiada por ela, logo participei como membro e fundadora do LAPEGI (Laboratório de Pesquisas e Experiências em Ginástica) e de suas ações e projetos (do Grupo Ginástico LAPEGI/UNICAMP e do Grupo de Pesquisa em Ginástica).

Participar do Grupo Ginástico do LAPEGI não trouxe somente aprendizados técnicos da ginástica (uma prática que sempre tive vontade de vivenciar na infância), mas também outros sobre as relações humanas, a autonomia e o respeito. Aprendizados que somente foram possíveis graças ao perfil de seus integrantes e de sua coordenação, e ao alicerce teórico que fundamenta sua

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proposta metodológica, baseado no projeto do Grupo Ginástico Unicamp (GGU) (PAOLIELLO et al., 2014) e na Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire (FREIRE, 2011).

Ao final da graduação, em 2014, não poderia ser diferente, abordei, em meu Trabalho de Conclusão de Curso, as composições coreográficas (CC) na GPT a partir de um conjunto de oito fichas analíticas (SCARABELIM, 2014; SCARABELIM; TOLEDO, 2015; SCAREBELIM; TOLEDO, 2016). O objetivo era de poder auxiliar treinadores(as) e professores(as) a conduzir e analisar seus trabalhos coreográficos, assim como melhor registrá-los (sob a perspectiva histórica e memorística). Essas fichas têm sido aplicadas, inclusive, em alguns grupos de GPT para além do próprio LAPEGI, como é o caso do grupo Emperia (EACH – USP), segundo estudo publicado por Campos et al. (2017).

Como consequência desta pesquisa, e posterior proposta sobre as fichas e estudos nesta área, houve uma aproximação com a realidade dos(as) profissionais que atuam com a GPT, especialmente acerca de suas facilidades e dificuldades em relação às CC. Assim, houve também a percepção de uma lacuna na formação dos(as) treinadores(as) nesse aspecto, fato que me motivou a estudar mais sobre a formação de treinadores(as) de GPT no Brasil e que impulsionou esta pesquisa em nível de pós-graduação, com um olhar mais adensado na formação para a elaboração e mediação de composições coreográficas.

O campo de pesquisa da formação de treinadores(as) parece estar em franca ascensão nas últimas décadas. As discussões acadêmico-científicas tornam-se cada vez mais frequentes por meio de estudos e debates realizados nas principais universidades do Brasil e do mundo e evidenciam a importância do papel desses(as) profissionais na sociedade contemporânea atual.

Na área da Ginástica, alguns estudos também têm demonstrado o quanto esse tema é emergente. Especificamente em relação à Ginástica Artística (GA), Nunomura (2001) traz uma proposta para a formação profissional de treinadores(as) dessa modalidade; mais recentemente, Schiavon e colaboradoras (2014) discutem a formação, atualização e as experiências de treinadores(as) relacionadas às suas atuações profissionais. De fato, a GA parece ser a modalidade gímnica mais abordada no campo da formação de treinadores(as), e podemos encontrar outros estudos como os de Barros (2016), Barros et al. (2017) e Brasil et al. (2018).

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Em relação à Ginástica Rítmica, Belão, Machado e Mori (2009) dedicaram-se a diagnosticar a formação profissional de treinadoras dessa modalidade, e Sampaio (2017), de maneira similar, analisou o processo formativo de treinadores(as) de GR sob a perspectiva de aprendizagem ao longo da vida.

Na área da GPT, notadamente, podemos destacar alguns estudos que tratam sobre a formação inicial de treinadores(as), como os de Barbosa-Rinaldi e Paoliello (2008) e Bahu e Carbinatto (2016). Bento-Soares (2019), recentemente, examinou programas de formação de treinadores(as) de GPT oferecidos pelas Federações Nacionais de Ginástica (FNG) de vários países do mundo com o objetivo de trazer subsídios para o Brasil. Também encontramos outras produções nos Anais do Fórum Internacional de Ginástica Geral (FIGG – 2001 a 2014) e do Fórum Internacional de Ginástica Para Todos (FIGPT – 2016 e 2018), em sua maioria relatos de experiência.

Diante desse cenário, o objetivo de nosso estudo é analisar como os(as) treinadores(as) brasileiros(as) de GPT realizaram a sua educação inicial e continuada com vistas a fornecer subsídios para avanços no processo de formação de profissionais da área. Mais especificamente, buscamos:

- identificar aspectos da formação inicial de treinadores(as) de GPT e a abordagem deste tipo de ginástica nos cursos de Ensino Superior em Educação Física e Esporte;

- conhecer os mecanismos utilizados pelos(as) treinadores(as) para constituir a sua formação continuada;

- diagnosticar indicadores relacionados ao processo de formação para a atuação com as composições coreográficas;

- apontar possíveis caminhos para os órgãos competentes, a partir de suas missões institucionais, buscando o aperfeiçoamento dos processos de formação de treinadores (as), como, por exemplo, as universidades, CBG, Federações Estaduais etc.

A justificativa desta pesquisa se dá pela necessidade de compreensão dos processos educativos de formação de treinadores(as) que atuam na área da GPT. Sabe-se que, no Brasil, esses processos diferem dos de outros países do mundo por conta de suas diferentes instituições promotoras e programas de

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formação. É importante, pois, reconhecer essas diferenças e realizar um diagnóstico de nossa realidade para a percepção da abrangência, da diversidade e das possíveis lacunas que essas formações podem apresentar.

A GPT é uma área de estudo relativamente nova no Brasil (PAOLIELLO et al., 2014) e parece crescer em diferentes contextos sociais, o que é possível identificar pelo volume e diversidade de autores e temas encontrados nos Anais do FIGPT, em artigos publicados em periódicos, livros e em outras publicações de caráter científico. Assim, a formação dos profissionais que atuam nessa área merece não somente um maior número de estudos, como também propostas subsidiadas por eles.

Portanto, este estudo pretende colaborar não somente com a produção científica no campo da Pedagogia do Esporte aplicada à GPT, seguindo uma tendência mundial dos estudos nessa área, como contribuir com reflexões tanto na esfera da formação inicial de treinadores(as), como com órgãos e instituições que desejem ofertar cursos de formação continuada em GPT no Brasil.

Destarte, o primeiro capítulo abordará a GPT em uma perspectiva tanto nacional, como internacional, buscando contextualizar tal prática no cenário atual. O segundo dissertará sobre a formação de treinadores(as) em Ginástica, trazendo notas de publicações científicas da área da Pedagogia do Esporte e evidenciando os aspectos da formação inicial e continuada desses(as) profissionais. O terceiro capítulo trará a metodologia utilizada e, na sequência, a apresentação e análise dos resultados. Por fim, faremos as considerações finais e conclusões desta pesquisa.

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2 A GINÁSTICA PARA TODOS

Neste capítulo serão apresentados os aspectos históricos da Ginástica para Todos (GPT), numa perspectiva nacional e internacional. Buscaremos contextualizá-la no cenário atual, bem como trazer os eventos mais expressivos e tradicionais da área. Depois, enfocaremos as composições coreográficas, forma de expressão mais comum dos trabalhos de GPTe, por fim, abordaremos os contextos de prática nos quais essa manifestação pode ser desenvolvida.

2.1 O cenário de uma Ginástica recentemente institucionalizada no mundo

Os dados históricos acerca da GPT, vistos sob uma perspectiva mundial, parecem ser marcados, de fato, por uma certa imprecisão. Eles sugerem que essa prática tenha surgido na década 1950, em países da Europa (AYOUB, 1998). Sem dúvida, ela foi influenciada pelo processo de sistematização pelo qual a Ginástica passou no século XIX, o Movimento Ginástico Europeu (SOARES, 2002; TOLEDO; SCHIAVON, 2008) e, provavelmente, está relacionada à Ginástica Moderna (TOLEDO, 1995), especialmente por seu caráter educativo, artístico e de saúde.

O surgimento e a consolidação dessa prática estão intimamente ligados à realização da primeira edição do evento World Gymnaestrada (WG), em 1953. Contudo, a sua institucionalização pela Federação Internacional de Ginástica (FIG) só ocorreu em 1984, num congresso em Los Angeles (EUA), com a criação do Comitê Técnico de Ginástica Geral (FIG, 2019).

Segundo a FIG (2019), o próprio fundador dessa entidade, Nicolas Cupérus, via a Ginástica como uma atividade essencialmente não-competitiva. Apesar de ser compartilhada por um pequeno número de pessoas e do evidente crescimento dos eventos ginásticos competitivos, ela continuou a ser cultivada como um “facilitador da coesão social durante um século XIX repleto de transformações sociais” (ibidem). Tal perspectiva possibilitou e influenciou a idealização e criação da WG, em 1951, por Johannes Heinrich François Sommer.

De acordo com Wichmann (2014), a criação desse evento está ligada aos festivais ginásticos nacionais e regionais que emergiram na Europa no século XIX. O

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primeiro festival de que se tem registro ocorreu em 1832, em Aarau (Suíça) e, a partir do início do século XX, surgiram, em outras localidades, novos festivais nacionais, como os da Noruega, Áustria, Alemanha e Suíça (MECHBACH; WANEBERG, 2011).

Com a realização desses festivais, outros, de caráter internacional, foram inaugurados. Um dos primeiros foi a Lingíada, cuja primeira edição ocorreu em 1939, na Suécia, organizada pela Federação Sueca de Ginástica (TOLEDO, 2017). Tal evento foi um marco nas apresentações ginásticas, pois reuniu cerca de 7.400 ginastas de 20 países diferentes (LANGLADE, A.; LANGLADE, N., 1970) com o objetivo de realizar uma homenagem ao criador da Educação Física na Suécia e do Método Ginástico Sueco, Per Henrik Ling (1776-1839). Já a sua segunda edição, realizada dez anos depois, reuniu praticamente o dobro de participantes, o quais eram provenientes de aproximadamente 62 países diferentes, mostrando um notável crescimento do evento e da Ginástica a nível mundial (ibidem).

O movimento ginástico Sokols, surgido na República Tcheca no meio do século XIX (1862), também teve fortes influências na criação da WG. Segundo Gajdoṧ e colaboradores (2012), o Sokols surgiu com o objetivo de conceber uma nação saudável, que poderia ser mais produtiva e auto defensiva. Deste modo, com a proposta de se criar uma prática de exercícios em massa para a população, foi idealizado o Slet.

Esse evento foi organizado pela primeira vez em 1882 (SOKOL SLET, 2018), pela Czech Sokol Society e pela Czechoslovak Sokol Union (GAJDOṦ et al., 2012). O movimento se tornou uma grande tradição, reunindo milhares de ginastas e espectadores de todas as partes do mundo.

Figura 1 - Realização do primeiro Slet (1882)

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Desde então, foram realizados cerca de dezesseis Slets, com algumas pausas nos períodos das duas Guerras Mundiais. Todas as edições incluíram a “cerimônia de boas-vindas na estação de trem, demonstrações em massa, competições de Ginástica, discursos e eventos teatrais” (SOKOL SLET, 2018). A última edição do Slet ocorreu em 2018, na cidade de Praga, na República Tcheca.

Segundo Patrício, Bortoleto e Carbinatto (2016), o festival, desde a sua primeira edição, sempre foi marcado por uma característica internacional, fato que teria influenciado diretamente a FIG na organização e promoção da primeira WG, segundo Gajdoṧ et al. (2012).

Outro evento expressivo e que merece destaque é o Internacional Deutsches Turnfest, criado e organizado pela Confederação Alemã de Ginástica (DTB). Sua primeira edição foi realizada em 1860, por consequência da ampliação da prática ginástica no país, e, desde então, acontece quadrienalmente (PATRÍCIO; BORTOLETO; CARBINATTO, 2016).

A DTB é a segunda maior confederação esportiva da Alemanha, com mais de cinco milhões de associados atualmente, 18.000 clubes e 22 associações regionais de ginástica (DTB, 2019). Segundo Brehm e Hartmann (2017), a DTB não representa apenas uma modalidade esportiva, mas, sim, muitas atividades, dentre elas as ginásticas competitivas (Artística, Rítmica e de Trampolim), a ginástica infantil e a Ginástica Geral, esta, sem dúvida, a de maior expressão dentro da organização, sendo praticada por cerca de 70% dos associados (ibidem).

Ainda segundo os autores,

[...] a posição de destaque da Ginástica Geral no trabalho associativo da DTB é perceptível nessa tradição de mais de 200 anos de ginástica, mesmo na passagem do século XIX para o XX, quando ela precisou ser discutida, em razão do avanço da cultura esportiva anglo-saxônica e, consequentemente, do desenvolvimento de uma ginástica de orientação competitiva. (ibidem, p. 21)

A ginástica demonstrativa, pois, sempre teve um grande espaço dentro da DTB, o que também pode ser observado desde a primeira realização do referido festival. Segundo a DTB (2019), “o Deutsches Turnfest combina esportes de ponta e de competição, esportes de lazer e saúde, além de shows.”.

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Diferentemente dos Slets, o Deutsches Turnfest sempre se configurou como um evento nacional, mas, a partir de 2005, passou a permitir a participação de ginastas de outros países (PATRÍCIO; BORTOLETO; CARBINATTO, 2016). Apesar de seu cunho originalmente nacionalista, o Deutsches Turnfest é um marco na história da Ginástica, visto, portanto, como um grande festival Europeu que valoriza desde sempre as demonstrações ginásticas.

Figura 2 - Deutsches Turnfest (2017)

Fonte: <www.dtb.de>.

A criação e a consolidação dos festivais mencionados acima certamente influenciaram a criação da WG. Desde a sua primeira edição, em 1953 (FIG, 2019), ela é considerada o maior evento oficial de GPT organizado pela FIG, que acontece quadrienalmente e que reúne um número muito grande de participantes, ultrapassando até mesmo o número de participantes de uma Olimpíada (FIG, 2019; SOUZA, 1997; RINALDI, 2005).

O programa desse evento, estabelecido pela FIG (2019), inclui uma cerimônia de abertura da qual participam todos os ginastas das federações filiadas à FIG; apresentações dos grupos, que são realizadas em diferentes locais; apresentações de grande área, com mais de 200 ginastas cada uma; apresentações nacionais, exclusivas para ginastas de cada país/conjunto de países; a FIG Gala, apresentação composta por grupos selecionados pela FIG; e, finalmente, a cerimônia de encerramento, que ocorre sempre na última tarde do evento, para além das atividades paralelas e de lazer.

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Com base nos dados disponibilizados por Patrício, Bortoleto e Carbinatto (2016) e de outros disponíveis no site da FIG (2019), e a fim de mostrar a magnitude do evento, foi possível estabelecer o quadro abaixo:

Quadro 1 - Dados referentes às edições das World Gymnaestradas

Ano Localização Número de

países Participantes 1953 Rotterdam (NED) 14 5.000 1957 Zagreb (YUG) 17 6.000 1961 Stuttgart (GER) 16 10.000 1965 Vienne (AUT) 26 15.600 1969 Bãle (SUI) 28 9.600 1975 Berlin (GER) 19 10.500 1982 Zurich (SUI) 22 14.200 1987 Herning (DEN) 26 17.300 1991 Amsterdam (NED) 30 18.400 1995 Berlin (GER) 34 19.200 1999 Gothenburg (SWE) 37 20.800 2003 Lisbon (POR) 45 21.600 2007 Dornbirn (AUT) 53 22.000 2011 Lausanne (SUI) 55 19.087 2015 Helsinki (FIN) 53 20.473 2019 Dornbirn (AUT) 65 18.200

Fonte: Elaborado pela autora.

Por meio desses números, podemos perceber que este foi o evento que mais reuniu federações nacionais até hoje, dado que revela a abrangência da GPT no mundo. Paoliello et al. (2016, p. 73) apontam que o número de participantes ao longo dos anos aumentou aproximadamente 400%, o que, segundo os autores, pode ser explicado pelo “grande incentivo da FIG à prática da GPT e pelas melhorias na organização das uniões continentais, federações nacionais e comitês”. De fato, há um número crescente de praticantes de GPT e de participantes da WG, principalmente na Ásia, na África e nas Américas (RUSSEL, 2014).

Segundo a FIG (2019, p. 08), os objetivos da WG são:

[…] promoting the value and diversity of Gymnastics; encouraging the growth of Gymnastics for All worldwide; providing incentives for meaningful work within FIG Member Federations; inspiring enjoyment in exercise and encouraging personal activity; demonstrating the unlimited possibilities of different ideas of Gymnastics for All; presenting the most recent findings and developments; bringing together gymnasts from all over the world as a contribution towards the friendship of nations; presenting the diversity of Gymnastics to a wider public.

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[…] promover o valor e a diversidade da Ginástica; incentivar o crescimento da Ginástica para Todos em todo o mundo; fornecer incentivos para um trabalho significativo dentro das Federações filiadas à FIG; inspirar prazer no exercício e incentivar a atividade pessoal; demonstrar as possibilidades ilimitadas de diferentes ideias de Ginástica para Todos; apresentar as mais recentes descobertas e desenvolvimentos; reunir ginastas de todo o mundo como uma contribuição para a amizade das nações; apresentar a diversidade da Ginástica para um público mais amplo. (tradução nossa)

Figura 3 - Apresentação de grande área na World Gymnaestrada (Áustria, 2019)

Fonte: <www.wg2019.at>.

A participação brasileira na WG parece ser significativa. Ao lado do Canadá, o Brasil compareceu a 13 edições do evento (PAOLIELLO et al., 2016), liderando o ranking dos países participantes da União Pan-Americana de Ginástica, como mostra a tabela abaixo:

Tabela 1 - Participação dos membros da União Pan-Americana de Ginástica na World Gymnaestrada Ano 1957 1961 1965 1969 1975 1982 1987 1991 1995 1999 2003 2007 2011 2015 2019 País/ Edição 2ª. 3ª. 4ª. 5ª. 6ª. 7ª. 8ª. 9ª. 10ª. 11ª. 12ª. 13ª. 14ª. 15ª. 16ª. Argentina X X X X X Brasil X X X X X X X X X X X X X X X Canadá X X X X X X X X X X X X X X X Chile X X X X X X Cuba X Equador X Estados Unidos X X X X X X X Guatemala X X Honduras X X X X X México X X X X X X

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27 Trindade e Tobago X X X X X X Uruguai X Venezuela X X X

Fonte: Adaptado de Paoliello et al., 2016.

Esse evento, influenciado por outros festivais, parece ter sido um marco para a GPT, não só em nível mundial, mas também nacional. Foi a partir da participação da professora Ilona Peuker na primeira edição do festival, aliás, que a GPT, doravante denominada de Ginástica Geral, se disseminou no Brasil.

2.2 A Ginástica para Todos no Brasil

As primeiras manifestações ginásticas das quais temos registro se deram em solo brasileiro com a chegada dos imigrantes alemães no início do século XIX. Eles trouxeram, além de sua força de trabalho e saberes nesse campo, aspectos da vida cultural (SOARES, 2002; MINCIOTTI, 2006; QUITZAU, 2016), como o Turnen, “prática corporal que envolvia exercícios e jogos gímnicos” (MAZO; LYRA, 2010, p. 970).

Tais práticas ocorriam, sobretudo, nas regiões Sudeste (Rio de Janeiro e São Paulo) e Sul (Rio Grande do Sul), nas quais a maioria dos imigrantes se estabeleceu. Portanto, podemos inferir que essa região é o “berço” da Ginástica brasileira. Nesse contexto é que surgem os primeiros festivais ginásticos, então promovendo “encontros de formação de instrutores de Ginástica e, principalmente, festas estaduais e regionais” (QUITZAU, 2016, p. 63).

Merece destaque, nesse cenário, a SOGIPA (Sociedade de Ginástica de Porto Alegre), a primeira associação clubística do Brasil especializada em Ginástica. Ela foi fundada, em 1867, por um grupo de imigrantes alemães, como Deutscher Turnverein (Sociedade Alemã de Ginástica). Segundo o site dessa instituição,

[...] em suas primeiras décadas de existência, a SOGIPA tinha como atividades principais a ginástica, o tiro ao alvo, o teatro e a realização de reuniões dançantes. Nesse período, a ginástica era praticada apenas por homens. Com o passar do tempo e o desenvolvimento dessa modalidade, surgiram grupos de ginástica de todas as idades. Também a natação e a esgrima começaram a fazer parte do leque de atividades do clube. (SOGIPA, 2019).

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Com o passar do tempo, mais atividades foram incluídas na grade do clube, o que colaborou com o seu crescimento e consolidação e com o aumento do número de associados, de participações em eventos esportivos etc. Até hoje, portanto, a SOGIPA é um clube esportivo de referência no Brasil (SOGIPA, 2019).

No final do século XIX, quando foram adotadas pela Escola Militar Nacional, as práticas ginásticas no Brasil ganharam outra roupagem, seguindo a vertente do Método Alemão de Ginástica (MARINHO, s.d.). Aos poucos, influenciada pelos fatos históricos vividos no Brasil e no mundo, a Ginástica passou a ser vista sob uma ótica pedagógica, recebendo a influência de outros métodos, como o sueco e o francês (SOARES, 2002), em todo o território nacional.

A ginástica francesa, sobretudo, teve grande influência na criação e oficialização da primeira escola de Educação Física do Brasil, a Escola de Educação Física da Polícia Militar do Estado de São Paulo (EEFPM), em 1910, a partir da contratação da primeira missão francesa de instrução militar no país, em 1906 (BARSOTTINI, 2011; TOLEDO et al., 2015; RICCI, 2016). Estudos realizados por meio da consulta ao acervo da EEFPM (TOLEDO et al., 2016b) evidenciam o caráter demonstrativo das apresentações ginásticas realizadas dentro da própria escola e também fora dela, as quais eram feitas por pequenos grupos com a utilização de aparelhos de grande porte típicos da Ginástica Artística Masculina. Essas fontes mostram inúmeras apresentações desempenhadas em datas festivas e cívicas, principalmente entre 1935 e 1960 (TOLEDO et al., 2015). A foto abaixo retrata uma dessas demonstrações públicas.

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Figura 4 - Pirâmide executada por integrantes do batalhão (1951)

Fonte: REVISTA MILITIA, 1951c. (apud TOLEDO et al., 2016b)

Segundo Toledo (2017), apesar de essas apresentações terem como objetivo principal mostrar aspectos como força, performance, destreza, rigidez, entre outros (o que é compreensível, pois tratava-se de uma instituição militar), elas também possuíam um papel mediador, isto é, aproximava, por meio de uma prática nova e empática, com caráter demonstrativo, a Ginástica, os militares da população em geral.

Em 1953, de acordo com os registros existentes, a GG1 é trazida ao Brasil pela professora Ilona Peuker (SANTOS, J. C. E.; SANTOS, N., 1999). Inspirada, após a sua participação individual na 1ª World Gymnaestrada (Roterdã – 1953) como convidada, fundou o Grupo Unido de Ginastas (GUG) e iniciou um trabalho, até então inédito no Brasil, com as participantes de seu grupo, utilizando materiais alternativos inerentes à cultura brasileira, como cocos, pandeiros, agogôs e reco-recos (ibidem). Logo seu trabalho foi reconhecido pela qualidade e originalidade (BERNARDES, 2010).

O trabalho da professora Ilona foi fundamentado na Ginástica Moderna; inclusive, foi a partir de um convite do Ministério da Educação e da Cultura para ministrar um curso nessa perspectiva que tal modalidade começou a se difundir no

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Nesta seção, por uma questão de respeito à nomenclatura utilizada na época em que estamos situando a prática, utilizaremos, com frequência, o termo Ginástica Geral (GG) em lugar de Ginástica para Todos (GPT).

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país (SANTOS, J. C. E.; SANTOS, N., 1999). Esse fato também foi confirmado através do estudo realizado por Toledo, Dias e Pereira (2018) ao entrevistarem a professora Geny Curcio, de 102 anos, que vivenciou os cursos ministrados pela professora e declarou se lembrar com detalhes, principalmente, das abordagens aos aspectos rítmicos, do manejo dos aparelhos (da ginástica e outros alternativos) e de aspectos relacionados à composição coreográfica, típicos dessa modalidade.

Apesar dessa inserção da GG no Brasil ter ocorrido na década de 1950, somente em 1984, sob a gestão do professor Fernando Augusto Brochado, ela foi reconhecida como modalidade gímnica oficial pela CBG (CBG, 2019), quando foi criado seu comitê próprio, o Comitê Técnico de Ginástica Geral (AYOUB, 1998), consolidando-se, assim, a sua institucionalização.

Como aponta Patrício (2016), tal consolidação se deu por meio da realização de festivais a partir da década de 1980. Dentre eles, podemos destacar o FEGIN (Festival de Ginástica e Dança), considerado o primeiro evento nacional de GPT, que foi assumido pela CBG, pois já era organizado em Ouro Preto pelo Professor Carlos Roberto Alcântara de Rezende. Em 1992, o FEGIN foi substituído pelo “Torneio GymBrasil”, hoje chamado de “Festival GymBrasil”, único evento oficial de GPT reconhecido pela CBG (CBG, 2019).

Como objeto de estudo acadêmico, a GG começa a se desenvolver em meados de 1990 (PAOLIELLO et al., 2014; PATRÍCIO, 2016), impulsionada pela participação do Grupo Ginástico Unicamp (GGU), criado em 1989, em dois eventos internacionais: a VI Giminasiada Americana (em Buenos Aires – Argentina - 1990) e a WG de Amsterdã (1991).

Nessa época, surgem os primeiros eventos de caráter mais científico a seu respeito:

- A realização de dois cursos na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP - Campus Rio Claro). Eles foram organizados pela CBG, nos anos de 1988 e 1989, e contaram com a participação de professores estrangeiros, entre eles: Georgio Garufi (Itália), Inger Holte (Noruega) e Jean Wilesegger (Suíça) (SOUZA, 1997);

- Os I e II “Encontros de Ginástica Geral” (AYOUB, 1998), realizados pelo Grupo de Pesquisa em Ginástica Geral, na Faculdade de Educação Física da UNICAMP, em 1995 e 1996, que marcaram, assim, as primeiras

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discussões e debates sobre o tema por pesquisadores da própria UNICAMP e por outros profissionais que tinham uma participação efetiva na prática.

Essas discussões buscavam (e ainda buscam) trazer reflexões a respeito de parâmetros conceituais para a prática, o que, até hoje, não é consensual. A seguir, buscamos trazer algumas reflexões sobre possíveis conceituações.

2.3 Conceitos

A Ginástica para Todos é uma prática orientada para o lazer (FIORIN-FUGLSANG; PAOLIELLO, 2008; FERNANDES; EHRENBERG, 2012), marcada pela criatividade, pluralidade e diversidade (SOUZA; GALLARDO, 1997; TOLEDO; SCHIAVON, 2008; TOLEDO et al., 2016a), aspectos que a caracterizam como uma prática livre. Promove a vivência de várias modalidades gímnicas, aliadas a outros tipos de expressão corporal e artística (SOUZA, 1997; AYOUB, 2013; ASSUMPÇÃO, 2018).

Autores como Souza (1997), Barbosa-Rinaldi e Paoliello (2008), Toledo e Schiavon (2008) e Toledo et al. (2016a), entre outros(as), são consonantes ao expressar a dificuldade na busca de um conceito único e satisfatório para a GPT e que a abarque em sua totalidade.

Essa dificuldade aparece, sobretudo, em relação às diferentes formas de se nomear a prática. Encontramos publicações nas quais a GPT é denominada como manifestação da cultura corporal (SOUZA; GALLARDO, 1997), prática corporal (AYOUB, 2013), campo da Ginástica (SOUZA, 1997; SANTOS, 2009) e modalidade ginástica (SANTOS, 2009).

Para este estudo, consideraremos a definição de Souza e Gallardo (1997, p. 35):

A GG é entendida como uma manifestação da cultura corporal que reúne as diferentes interpretações da ginástica (natural, construída, artística, rítmica desportiva, aeróbica, etc.), integrando-as com outras formas de expressão corporal (dança, folclore, jogos, teatro, mímica, etc.), de forma livre e criativa, de acordo com as características do grupo social e contribuindo para o aumento da interação social entre os participantes.

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Apresentamos também a definição dada pela FIG (2019, p. 05), órgão máximo regulador da prática:

Gymnastics for All offers a veriety of activities suitable for all genders, age groups, abilities, and cultural backgrounds. Gymnastics for All activities contribute to personal health, fitness and well being – physical, social, intellectual and psychological.

A Ginástica para Todos oferece uma variedade de atividades adequadas para todos os gêneros, grupos etários, habilidades e experiências culturais. As atividades da Ginástica para Todos contribuem para a saúde pessoal, condicionamento e bem-estar – físico, social, intelectual e psicológico. (tradução nossa)

De acordo com Paoliello et al. (2016, p. 72),

One of the most appealing features of GfA is to encourage a playful, educational and socially enriching practice that can contribute to health promotion and fitness. It is a practice that allows highlighting cultural and identity aspects of each group, region or country in a free and creative way. Uma das características mais atraentes da GPT é encorajar uma prática lúdica, educacional e socialmente enriquecedora que pode contribuir para a promoção da saúde e fitness. É uma prática que permite destacar os aspectos culturais e identitários de cada grupo, região ou país de forma livre e criativa. (tradução nossa)

O trecho acima nos recorda um aspecto interessante da GPT também apontado pela FIG (2019, p. 09), que é “inspirar prazer no exercício e incentivar a atividade pessoal”, o que, por sua vez, nos remete à “filosofia” da GPT também proposta por esta instituição, relacionada ao chamado 4F: Fun, Fitness, Fundmentals and Friendship (diversão, atividade física, fundamentos e amizade).

Esses preceitos são explicados pelos mesmos autores acima citados, baseados em um manual impresso da FIG (2010). Segundo eles,

the FIG principles that govern the practice of GfA and, consequently, of the WG are, namely: fun, associated with the pleasure of the physical practice and with the playful aspects of gymnastics; fitness, related to the impact on the gymnast’s physical health; fundamentals, represented by the basic gymnastics skills; friendship, as a means to promote social interaction and interchange of experiences in the context of gymnastics (2016, p.72)

os princípios da FIG que governam a prática da GPT são: Fun, associado ao prazer da prática física e com os aspectos lúdicos da ginástica; Fitness, relacionado ao impacto na saúde física do ginasta; Fundamentals, representado pelas habilidades básicas de ginástica; Friendship, como meio

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de promover interação e intercâmbio de experiências no contexto da ginástica (tradução nossa)

Os 4Fs estão presentes, a partir de uma escrita diferenciada, no objetivo e na orientação de seu maior evento mundial, a já citada WG. Apesar de haver toda uma abordagem para a sua perspectiva de prática num contexto essencialmente demonstrativo, a própria FIG aponta que ela pode ser vivenciada, também, num contexto competitivo, trazendo, como exemplo, o World Gym For Life Challenge, um evento por ela criado.

Segundo a FIG (2011), os objetivos desse evento incluem (1) promover um segundo evento para grupos de Ginástica Para Todos, (2) oferecer a oportunidade para que grupos de ginástica participem de uma competição e para que tenham as suas performances avaliadas, (3) criar um interessante e excitante evento em ginástica para os participantes e para o público e, enfim, (4) oferecer workshops interessantes para ginastas e treinadores(as).

A criação desse evento e sua manutenção acabaram por impactar o próprio conceito da GPT, a qual, anteriormente, era considerada somente uma prática demonstrativa, e, a partir de 2007, passou a ser também competitiva. Nesse sentido, Bento-Soares (2019) discute a possibilidade de caracterização da GPT como uma prática “híbrida”, ou seja, que permite essa aproximação de ambos os contextos esportivos (competitivo e participativo).

Figura 5 - Apresentação no evento World Gym For Life Challenge (2013)

Fonte: <www.fig-gymnastics.com>.

Em função de seu caráter primordialmente demonstrativo (SOUZA, 1997), não há regras rígidas na GPT; há uma maior liberdade criativa, com possibilidades

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de muitas combinações, sem um número pré-estabelecido de participantes. Desta maneira, as possibilidades de manifestação da prática são infinitas, trabalhando com a criatividade dos envolvidos e o esforço em conjunto para se construir um trabalho harmônico, na grande maioria das vezes, por meio de composições coreográficas.

2.4 As composições coreográficas na Ginástica para Todos

As composições coreográficas (CC) fazem parte de um grande universo, que engloba tanto manifestações esportivas gímnicas (em modalidades Ginásticas como a GA, GR, GPT, GAF, GAE, GACRO, Ginástica Estética, Ginásticas de Condicionamento), quanto esportivas (patinação no gelo e nado sincronizado), além de manifestações artísticas relacionadas às Artes circenses, Artes cênicas e à Dança (SCARABELIM; TOLEDO, 2016).

Elas conferem a essas manifestações uma conotação artística, fato já observado por autores como Dantas (1999), Roble, Nunomura e Oliveira (2013) Scarabelim e Toledo (2015; 2016), Toledo, Tsukamoto e Carbinatto (2016), Toledo e Antualpa (2016) e Gerling (2017).

Especificamente em relação à GPT, Gerling (2017) aborda os elementos artísticos inerentes a uma coreografia da prática e dá sugestões de como desenvolvê-los, como, por exemplo, a relação do movimento com a música, o espaço e os cenários, os efeitos dos figurinos, dos adereços e luzes, a dramaturgia etc. Toledo et al. (2016a) e Sborquia (2008) também ressaltam esse viés artístico quando apontam a necessidade de se contemplar uma coreografia por meio do contexto estético que ela exige.

Quando vistas sob a ótica da GPT e da Dança, as composições coreográficas são livres, uma vez que permitem mais possibilidades de criação e não necessitam da estruturação segundo regras de Códigos de Pontuação, como é o caso da GA e da GR, por exemplo (FIG, 2018).

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Figura 6 - Composição coreográfica apresentada na World Gymnaestrada (2019)

Fonte: <www.wg2019.at>.

Assim, as CC podem se configurar como obras de arte. Dantas (1999) sustenta essa premissa ao mencionar que “os movimentos e gestos [...] possibilitam a elaboração de impressões, de concepções; a representação de experiências; a projeção de valores, sentidos e significados; e a revelação de sentimentos, sensações e emoções”.

Para Marcassa (2004, p. 180),

[...] a coreografia é como um texto. E se para um texto escrito é necessário ter conteúdo, narrativa, coerência interna, situalização, intencionalidade, coesão, contextualização, intertextualidade, etc, na linguagem corporal gímnica alguns desses elementos também estão presentes. O conteúdo é o tema a ser problematizado; a narrativa possui uma lógica e se manifesta por meio de movimentos, gestos, ações motoras, posturas, expressões que, por sua vez, são como as palavras, signos de linguagem; pela investigação temática e pesquisa de movimentos buscamos a coerência interna, que também se traduz pela harmonia e sincronização na execução das formações e figuras.

Para Santos (2009, p. 43), na GPT a coreografia se configura como

[...] composições de uma apresentação da modalidade, valendo-se fundamentalmente de elementos corporais, predominantemente os ginásticos, interligados entre si, de forma lógica, harmoniosa, com início, meio e final, utilizando ou não grande e/ou pequenos aparelhos.

Alguns autores afirmam que elas não são fundamentais à prática da GPT e que não há necessidade de sua elaboração; outros, por outro lado, reforçam a sua

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importância devido ao seu caráter pedagógico e motivacional para o grupo (TOLEDO, 2005).

Silva (2013, p. 98) ainda destaca que as CC são “a síntese do processo de aprendizagem da GPT e engloba os conteúdos abordados nas aulas e a forma como cada participante assimilou os conhecimentos tratados”. Nessa perspectiva, podemos pensar a coreografia como um produto final e a sua construção como o processo de ensino.

Porém, segundo Ayoub (2013, p. 94)

[...] ao considerarmos a Ginástica Geral como algo a ser demonstrado, devemos estar atentos para que ela não seja vista apenas como um “produto”, desconectada de um processo. Ao contrário, essa perspectiva de demonstração da Ginástica Gera; precisa ser tratada como parte integrante do processo educativo da GG [...] no processo de elaboração de uma composição coreográfica, devem ser privilegiadas as experiências e interesses dos alunos e o trabalho em grupo, estimulando a cooperação, a capacidade de ação e a autonomia dos educandos como sujeito do processo educativo, para que possam compor em coautoria com outros sujeitos, buscando novas interpretações, novas leituras, novas significações antes desconhecidas.

Logo, enfatizamos que o processo de construção coreográfica é tão importante quanto o “produto final”, ou seja, tudo que é vivido no processo é tão importante quanto a experiência da apresentação. Isso, segundo Toledo, Tsukamoto e Carbinatto (2016), é o que distingue a GPT das demais práticas gímnicas, principalmente as competitivas, nas quais as CC são avaliadas somente no momento da apresentação. A aprendizagem antes, durante e após o processo de montagem coreográfica é muito relevante, dado que ela se alicerça não somente em construções técnicas e artísticas, mas, também, e principalmente, em um processo de construção e formação humanas.

O processo de construção de uma coreografia ocorre a partir da perspectiva de que o sujeito, agindo sobre a natureza, vai construindo outros mundos, diferentes do seu (SBORQUIA, 2008). Ele possibilita ao sujeito a expressão de seus sentimentos e emoções, em torno de uma temática, através do gesto.

Apesar de ser uma criação artística relativamente livre, chamamos a atenção para a importância da coerência temática de uma coreografia, isto é, o alinhamento entre o tema, as vestimentas, a música e os aparelhos utilizados (SCARABELIM; TOLEDO, 2016; TOLEDO; SCARABELIM, 2019). Essa coerência dá

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significado àquela coreografia e permite uma interpretação mais precisa por parte da plateia que a aprecia.

A expressão corporal do ginasta durante a apresentação de uma coreografia se configura como parte importante no processo de transmissão de sentimentos e emoções e de apreciação do público. Ela pode ser entendida como uma “capacidade de síntese que agrupa todas as outras capacidades no relacionamento com o ambiente” (PEREZ-GALLARDO, 1997).

Para além dos elementos estéticos de uma coreografia, há também os elementos técnicos, como as formações, transições, poses, elementos ginásticos e acrobáticos etc. Há, do mesmo modo, a técnica particular de cada ginasta que compõe aquela coreografia. Segundo Bortoleto (2008, p. 175), essa técnica pode ser entendida como “os modelos de execução dos elementos gímnicos” e, no caso específico da GPT, deve permitir total exploração de possibilidades gestuais e deve ser pautada, sobretudo, na criatividade.

Sugere-se, pois, que as CC tenham uma variedade grande desses elementos, com combinações criativas e inovadoras, que possam surpreender o público e gerar, assim, uma emoção coletiva na plateia.

Todos esses elementos, tanto estéticos como técnicos, foram descritos e estudados por meio da proposição de um conjunto de fichas analíticas de composições coreográficas elaborado por Scarabelim e Toledo (2015; 2016). Nessas fichas, podemos identificar e registrar os componentes de uma CC, além de espaços específicos para os desenhos das formações.

Alguns autores(as) têm se debruçado no estudo das CC na GPT nos últimos anos. Alguns deles merecem destaque, como, por exemplo, Rocha (2002), que sugere uma diagramação das composições coreográficas do GGU; Bortoleto e Pinto (2007, 2010), que propõem uma representação gráfica e descrevem processos de criação coreográfica do GGU; Toledo (2005), que trata especificamente de formações coreográficas, suas nomeações e significados; e Gerling (2017), que aborda os elementos da coreografia em GPT. De maneira geral, esses(as) autores(as) colaboram com o desenvolvimento e divulgação de informações a respeito do tema, o qual parece não receber muito destaque em publicações científicas da área.

Outros estudos relevantes são encontrados em Santos (2009), em seu livro “Ginástica Para Todos: elaboração de coreografias e organização de festivais”,

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que traz reflexões gerais a respeito das CC, Silva (2013) e Moura e Carvalho e Cruz (2016), que tratam de propostas coreográficas com crianças.

As CC devem ser construídas a partir de características únicas de cada grupo, como, por exemplo, a faixa etária, o grau de experiência motora, as características pessoais, o nível de condicionamento físico, a cultura na qual o grupo está inserido etc. Como a GPT possibilita a participação de todos(as) e respeita a individualidade de cada um, é possível que em um mesmo grupo existam pessoas com níveis, idades e experiências diferentes. Cabe aos participantes do grupo (por meio da mediação do(a) treinador(a)), criar uma coreografia original que enalteça essas características pessoais e que torne o processo e o resultado final prazeroso e satisfatório para todos.

Nessa conjuntura, as CC, dentro da proposta da GPT que temos como referência, pautada na metodologia desenvolvida pelo Grupo Ginástico Unicamp (GGU), pelo Grupo de Pesquisa em Ginástica (GPG/UNICAMP) e utilizada pelo Grupo LAPEGI/UNICAMP, têm seu processo centrado no esforço comunitário, ou seja, todos os participantes são, ao mesmo tempo, ginastas e coreógrafos; constroem a coreografia coletivamente e, portanto, os desejos de todos e as singularidades de cada um são sempre respeitados.

A respeito disso, Santos (2009, p. 34) salienta que,

[...] ao elaborar coreografias, os responsáveis pelos grupos não podem esquecer que os objetivos destes trabalhos devem estar centrados nos seres humanos envolvidos, que têm sentimentos e objetivos próprios, que são influenciados por elementos culturais variados e que, principalmente, desejam alegria e prazer no convívio social através da Ginástica Para Todos, em busca da felicidade, objetivo maior de todos nós.

Percebe-se que as CC abrangem muitos aspectos, tanto técnicos, como artísticos, que devem ser trabalhados de maneira integrada, tarefa certamente desafiadora para ginastas e treinadores(as). Aliás, essa foi, sem dúvida, uma inquietação que me surgiu ao longo dos anos vivenciados na GPT, e foi, destarte, um dos fatores que motivou e contribuiu para o desenvolvimento deste estudo.

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2.5 Contextos de prática

Apesar de ser uma prática relativamente recente, a GPT está cada vez mais inserida em diferentes contextos sociais. Hoje ela é desenvolvida por professores(as) e treinadores(as) em escolas, Organizações Não-Governamentais (ONGs), clubes, universidades etc. e pode ter um sentido de prática diferente em cada um desses espaços.

No contexto escolar, a GPT é percebida como um caminho que pode ressignificar a prática da Ginástica, também na perspectiva de rompimento entre as tradicionais e as novas formas de exercitação (AYOUB, 1998), em um viés “lúdico, criativo e participativo” (AYOUB, 2013, p. 86). Barbosa-Rinaldi (1999) chama a atenção para a necessidade de uma Ginástica escolar que possibilite a participação de todos(as), que respeite limites individuais e que privilegie potencialidades, o que vai exatamente ao encontro da essência da GPT.

As ONGs também se constituem como um espaço de atuação do profissional de Educação Física e Esporte que tem aumentado consideravelmente ao longo dos anos (ASSUMPÇÃO, 2018). Nesse cenário, a GPT pode ser “trabalhada e inserida como uma possibilidade para a transformação da realidade social e construção da cidadania de jovens e crianças [...]” (ibidem, p. 180).

Sabe-se que a GPT também é praticada no âmbito clubístico, geralmente inserida dentro de outras práticas ginásticas como a GA e a GR (ASSUMPÇÃO, 2018). Toledo (2001) observa que a prática da GPT dentro dos clubes é, decerto, uma garantia de sucesso, pois traz uma proposta de integração, socialização, criatividade, aplicação e desenvolvimento de conteúdos gímnicos e artísticos etc. Para a autora, esse trabalho pode ser bem desenvolvido nos clubes, uma vez que

[...] a GG vêm preencher uma grande lacuna existente na prática das modalidades gímnicas competitivas nos clubes, pois forma-se um grande contingente de ginastas que são apaixonadas por Ginástica e que acabam frustradas devido ao processo de seleção para a competição, chegando muitas vezes a parar de praticá-la. Parte deste contingente também são aquelas que possuem idade superior a 15 anos, que gradativamente encerram sua “carreira” em competições, mas que gostariam de continuar praticando a Ginástica, devido ao prazer e alegria que esta prática lhes proporciona (TOLEDO, p. 133)

Em relação ao âmbito universitário, é notável a importância desse espaço para o fomento e desenvolvimento da GPT, pois promove a capacitação de

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futuros(as) treinadores(as), incentiva o desenvolvimento de pesquisas em nível de graduação e pós-graduação e a formação de grupos de prática por meio de extensões universitárias (TOLEDO, 2005; SOUZA, 1997; SARGI et al., 2015).

Barbosa-Rinaldi e Pizani (2013) ressaltam, ainda, a importância da universidade para a formação dos(as) futuros(as) treinadores(as) numa perspectiva de democratização dos saberes gímnicos, rompendo com a ideia de uma ginástica centrada apenas na racionalidade técnico-instrumental.

Dentro dos contextos acima expostos, a GPT, de fato, apresentou um crescimento significativo ao longo dos anos justificado pela formação de novos grupos e de suas participações em eventos, congressos e festivais ginásticos e pelo aumento do número de eventos científicos e publicações em periódicos e revistas por estudiosos da área. Dada a abrangência da prática, percebemos a necessidade de se analisar como os(as) treinadores(as) estão se capacitando para atuar na área, o que apresentaremos nos capítulos subsequentes.

Referências

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