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Pedra, papel, tesoura: articulação criativa entre as ciências e as artes

APRESENTAÇÃO DE ALGUNS RESULTADOS

Dada a dimensão dos dados do estudo, optou-se por apresentaram alguns resultados decorrentes da análise de conteúdo da entrevista efetuada às crianças, sendo que apenas na questão: “qual foi a te- mática preferida?” e tendo em conta os 21 resultados, constata-se que algumas crianças escolheram mais do que uma temática, tendo algumas optado por duas. Para além dos resultados da entrevista efetuada às crianças será apresentado o registo fotográfico e a intervenção das crianças nas ativida- des nas atividades da tabela 1.

Quanto à entrevista efetuada, apresenta-se abaixo os desenhos das crianças C2, C10 e C14 relativa- mente ao registo da atividade/momento que mais gostaram.

Figura 1. Alguns registos da atividade/momento que mais gostaram.

Relativamente à questão “o que mais gostaram de aprender?”, as atividades que despertaram maior interesse por parte das crianças, foram “arco-íris “e “pequeno azul e o pequeno amarelo”. Estas são duas atividades que têm por base uma situação ou fenómeno, que apelam ao espírito de descoberta e desejo de aprender. Neste sentido, a vontade de encontrar uma resposta a um problema, surge como impulsionadora do processo criativo, pois a criança envolve-se de modo a compreender e dar respos- ta à problemática. Tratando-se de atividades práticas deve considerar-se o “antes”, o “durante” e o “depois”. Só realizam o seu potencial se forem implementadas, de forma integrada e na sua globali- dade. Naturalmente, as crianças tendem a valorizar mais os momentos da manipulação. Conclui-se então, que possivelmente estas foram atividade que lhes cativaram maior interesse, pelo motivo da vertente mágica e prática associada. Relativamente à questão “qual foi o momento mais divertido?” as crianças referenciaram a atividade do “Paraquedas” inserido na temática do Leonardo Da Vinci. Na escolha dos momentos mais divertidos, muitas crianças mencionaram com enfase o registo espa- cial em que os mesmos foram realizados. Quanto à última questão da entrevista “qual foi a temática preferida?” as crianças C4 e C5 escolheram duas opções, e os restantes apenas uma, como se pode constatar no gráfico 1.

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Gráfico1. Escolha da temática preferida

Verificou-se que a temática do Leonardo Da Vinci destaca-se pela preferência dos participantes (48%), sucedendo-se a temática misturar as cores (22%), os dinossauros (17%) e por fim os girassóis de Van Gogh (13%). As crianças C4 e C5 escolheram mais do que uma opção, ou seja, consideraram duas temáticas como preferência, ainda que opções distintas. Esta temática englobou os procedi- mentos e criação de algumas invenções recorrendo a diversas técnicas artísticas, resultando nas ex- perimentações em diferentes contextos. Considerou-se que o efeito surpresa e o carácter lúdico das atividades emergem como razões das escolhas positivas das crianças.

Relativamente aos registos fotográficos, o discurso das crianças realça-se a temática dos Dinos- sauros. Esta temática surgiu tendo em conta os interesses do grupo, demonstrando recetividade e procurando sempre dar reposta aos desafios propostos. Num dos momentos de grupo colocou-se a questão: como é que poderíamos fazer sombras? de imediato a criança C18 responde “já sei, com a luz do sol”. Seguem-se alguns registos fotográficos das atividades enquadradas na temática dos dinossauros (figura 2).

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O ponto de partida para abordar a temática dos Girassóis de Van Gogh foi a arte e através dela foram fomentados procedimentos científicos, como a cromatografia, a sementeira e a germinação, o ciclo do girassol e as diferentes espécies de girassóis. Ao analisar a obra de arte “doze girassóis numa jarra” surgiram alguns comentários: “tem outros tipos de plantas de girassóis e dentro da jarra deve ter água, porque as plantas têm que ter água” retorquiu a criança C4. Já num momento aliada à sementeira as crianças foram questionadas acerca: mas afinal, o que se pode fazer com as sementes? A criança C4 explicou: “primeiro temos que por uma coisa que é a terra, depois cavamos um pouco, depois colocamos a semente e depois regamos”, revelando já algum saber sobre o procedimento. No que concerne à temática misturar as cores, as aprendizagens desenrolaram-se em torno de alguns conceitos das ciências destacando-se a mistura das cores, a decomposição da luz branca, as cores do arco-íris e foram criados brinquedos com ciência: bola mistura cores e o disco das cores. Uma das atividades desta temática envolveu a família, ou seja, as crianças levaram para casa num saquinho, duas bolas de plasticina para recontar a história dinamizada “O pequeno azul e o pequeno amarelo”. Relativamente à experiência do arco-íris, ainda em fase de procedimentos a criança C18 salientou: “Professora, estou muito curiosa”, evidenciando o seu interesse pela atividade. A pintura com tinta gelada suscitou o interesse do grupo, divertiram-se e, aplicaram as aprendizagens de misturar cores. A criança C6 demonstrou o seu interesse “é muito divertido, quero fazer outra pintura com isto”. Na figura 3 verificam-se algumas evidências fotográficas das atividades.

Figura 3. Atividades dinamizadas no âmbito da temática misturar as cores

Apresentam-se ainda outras evidências fotográficas decorrentes dos registos escritos dos diálogos

das crianças na última temática abordada intitulada “à descoberta de Leonardo da Vinci”. Esta temá-à descoberta de Leonardo da Vinci”. Esta temá-”. Esta temá-á-

tica compilou o encerramento das propostas de atividades para o projeto que se propôs desenvolver. Assim sendo, foram explorados conceitos das ciências, recriando as invenções do Leonardo da Vinci e articulando as suas obras nomeadamente a Mona Lisa. As crianças participaram fazendo veicula- ção das aprendizagens com objetos que tinham em casa nomeadamente livros. A criança C18 e C2 evidenciaram o seu interesse manifestando-se: “trouxe o livro de Leonardo da Vinci, eu disse-vos que tinha e vou deixar ficar na biblioteca uns dias”; “a avó Lena já leu o livro do Leonardo da Vinci, comprei-o na avenida”. Na figura 4 apresentam-se as evidências fotográficas de algumas atividades desenvolvidas em torno da temática.

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Figura 4. Atividades desenvolvidas no âmbito da temática de Leonardo da Vinci

O desafio de articular, de forma criativa e em contexto pré-escolar, as ciências com as artes visuais e de que forma pode a arte contribuir para a aprendizagem de conceitos das ciências, foi conduzido a seu termo obtendo resultados consideráveis, quer pela análise da entrevista diretiva realizada às crianças quer também pelos registos audiovisuais e pela observação participante.

CONCLUSÕES

O estudo revelou a existência de situações educativas em que o grupo foi distribuído conforme as atividades, salientando os momentos de pequeno grupo e grande grupo, e em algumas circunstâncias individuais, tendo um carácter flexível, no entanto nos momentos de grande grupo considerou se que as crianças têm mais oportunidades de desenvolver a criatividade, e de comunicarem de forma espontânea sobre o que experienciam. Foram evidentes novas aprendizagens por parte das crian- ças, mas também foram salientados e evidenciados os saberes das crianças, indo os resultados deste estudo ao encontro do que refere Peixoto (2008), quando evidencia que as crianças apresentam um leque de conhecimentos e que compete ao educador partir desses conhecimentos para sustentar as atividades que realiza com as crianças. Os resultados apontam também para a prevalência de uma gestão de tempo flexível ajustada à dinâmica do grupo, respeitando os ritmos de cada criança como um ser único. O percurso traçado e vivenciado permitiu arrojar-se num processo reflexivo conscien- cializando para a ação que determina a atividade da criança e consequentemente a sua aprendiza- gem e desenvolvimento, daí a importância de primar com atitudes criativas e diversificadas. Neste sentido, a criança foi convidada de forma prazerosa e intencional a pensar e a participar na sua aprendizagem, desabrochando as suas capacidades criativas. A criança em idade pré-escolar recorre a múltiplas linguagens para se expressar e comunicar e possui uma vontade natural de conhecer e explorar o mundo que a rodeia. De salientar que algumas crianças do grupo possuíam um vasto leque cultural, quando se falou acerca de Leonardo da Vinci, algumas crianças afirmaram que já conhe- ciam e falavam sobre as suas obras. Os resultados do estudo apontam também para a importância de se estabelecer pontes entre as várias áreas de conteúdo, os domínios e subdomínios referidos nas Orientações Curriculares da Educação Pré-Escolar (Silva, Marques, Mata, & Rosa, 2016) como ponto de partida para a articulação das ciências com as artes visuais, mas tendo em conta as áreas de interesse mais privilegiadas pelo grupo de crianças. Os resultados também apontam para o facto de a temática de Leonardo da Vinci ter sido a que as crianças preferiram, salientando o facto de en- volver atividades lúdicas intencionais, como os paraquedas, os helicópteros e o conhecimento de ou- tras invenções. Incentivou-se as crianças para estimularem o pensamento crítico e tomarem as suas decisões refletindo sobre elas. Fomentou-se ainda a capacidade criativa da criança, visível nas suas representações e atitudes perante o mundo que a rodeia, mantendo um olhar crítico e argumentado de forma sustentada nas aprendizagens. Os resultados apontam para a forma compensadora quando se tem a perceção de que o que é abordado se torna numa aprendizagem por parte crianças fazendo parte do seu novo leque de conhecimentos. As temáticas escolhidas permitiram captar a atenção do grupo proporcionando dinâmicas diversificadas e momentos de aprendizagem no exterior foram fruto de boa disposição. Sair do contexto rotineiro de sala para o parque, devidamente protegidos, proporcionou aprendizagens ricas e estimulantes.

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