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1 PROGRAMAS CLDS: PROJECTOS-PILOTO DIRECCIONADOS PARA TESTAR SOLU ÇÕES / RESPOSTAS A PROBLEMAS SOCIAIS COMPLEXOS.

Desafios Sociais e Medidas de Governança: redefinição das

1 PROGRAMAS CLDS: PROJECTOS-PILOTO DIRECCIONADOS PARA TESTAR SOLU ÇÕES / RESPOSTAS A PROBLEMAS SOCIAIS COMPLEXOS.

Nas Cimeiras de Nice e de Lisboa, em 2000, foram evidentes as preocupações em torno do galopan- te aumento do desemprego (tema central na agenda política), com consequências gravíssimas nas dinâmicas familiares, sociais, profissionais, no Mercado e no Estado de Providência (Hespanha et al, 2007). Tornou-se necessário dotar os cidadãos de ferramentas e competências – capacitação da comunidade –, intervir no contexto e territórios a nível local, envolver a comunidade e as entidades locais na resolução de problemas socias, por forma a minimizar e superar as consequências das crises supra.

Os CLDS foram instituídos pela Portaria n.º 396/2007, de 2 de Abril, como estratégia de combate ao desemprego, pobreza e exclusão social, por força do nefasto impacto decorrente das crises eco- nómicas que, à data, assolavam o panorama internacional – instrumento de política social de proxi- midade.

Decorrente de uma avaliação de impacto que conclui que estes programas constituem uma extraor- dinária ferramenta de intervenção social, potenciadora de transformações sociais e desenvolvimento comunitário, em 2013 deu-se continuidade aos programas CLDS (Cf. Portaria n.º 135-C/2013, de 28 de Março), edificando-se uma geração melhorada, designada CLDS +.

No âmbito da Estratégia Europa 2020, foi criado o Programa Operacional de Inclusão Social e Em- prego (POISE), com o foco no combate ao desemprego, pobreza e exclusão social, promoção da com- petitividade e crescimento económico e social. Em 2015 deu-se continuidade à 3.ª geração de progra- mas CLDS, com o objetivo de «promover a inclusão social dos cidadãos, de forma multissectorial e integrada, através de ações a executar em parceria, para combater a pobreza persistente e a exclusão social» (Cf. Portaria n.º179-B/2015, de 17 de Junho).

Os programas CLDS-3G, implementados no território nacional (cobrindo grande parte do território - concelhos) e financiados por fundos comunitários, são poderosas ferramentas de resposta social, complementares ao trabalho realizado pelo Estado, Poder Local (Municípios e Freguesias), Socie- dade de Providência Formal e Informal, com o foco na promoção do bem-estar e mudança social na vida das populações mais vulneráveis. O trabalho em parceria e de proximidade possibilita o conhe- cimento profundo da comunidade e do território, permitindo delinear programas de intervenção ajustados às necessidades e expectativas dos beneficiários.

O envelhecimento (biológico e geográfico) e o aumento da esperança média de vida, a baixa taxa de natalidade, a desertificação dos territórios mais rurais e do interior do país, colocam o Estado de Providência em crise, sobretudo por força do desemprego e a diminuição da população ativa (com vínculo laboral). Porém, como se salienta no Relatório de Desenvolvimento & Coesão (2018), a vo- latilidade das economias e a globalização dos mercados e dos padrões de consumo colocam desafios sem precedentes aos Estados democráticos: invoca a sua capacidade de adaptação a novos desafios e a problemas progressivamente mais complexos.

Na perspetiva de responder a estes desafios, os programas CLDS + e 3G surgem para colmatar as di- ficuldades do Estado em conseguir dar resposta às solicitações / necessidades da população, propor- cionando um acompanhamento de proximidade, continuo e ajustado a cada caso. Deste modo, o Es- tado articula, financia e delega na Economia Social funções da sua competência, designadamente de execução de políticas sociais e prestação de bem-estar e proteção social aos grupos mais vulneráveis. Para fazer face aos constantes desafios torna-se fundamental recorrer a novas formas de Governação. Para além das regras ditadas pela União Europeu e diretrizes do Estado Português, a implementação dos Programas CLDS-3G, pressupõe parcerias (formais e informais), onde os parceiros envolvidos poderão ter uma participação mais ou menos relevante e ativa. O convite para a execução do pro- grama ao nível local é endereçado aos Municípios que, acedendo, propõem uma Entidade Coorde- nadora Local da Parceria (ECLP). A monitorização e acompanhamento ficam a cargo do Instituto da Segurança Social (ISS,I.P.), sendo assinado um protocolo de parceria (obrigatório) com o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). Surgem as entidades Executoras Locais da Parceria

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(EELP) e estabelecem-se parcerias fundamentais à execução dos planos de ação aprovados. Todas as alterações à candidatura inicial terão de ser, obrigatoriamente, apresentadas e sujeitas a sufrágio em sede de reunião de Conselho Local e Ação Social – CLAS (Cf. Guião de Apoio à Execução da Tipologia de Operações 3.10 – CLDS).

Como salienta Matos (2013), estamos perante um Modelo de Governança (gestão e descentralização de competências), no qual se verifica a reformulação do papel do Estado no quadro das suas relações. 2 - PROGRAMA CLDS-3G COIMBRA – CONCELHO SOLIDÁRIO E SAUDÁVEL: ESPECIFI- CIDADES DA INTERVENÇÃO TERRITORIAL

O concelho de Coimbra, caracterizado como um território envelhecido e fortemente afetado pelo desemprego, recebeu e executou a 2.ª geração do programa CLDS, designado de CLDS+ e, em 2016, a 3.ª geração, o CLDS-3G –, com período de execução entre Janeiro de 2016 e Dezembro de 2018 (36meses) e, na possibilidade de uma prorrogação (Cf. Portaria n.º 235/2018, de 23 de Agosto), prolongou a sua intervenção até dia 31 de Agosto de 2019.

No seguimento dos acordos a nível supra nacional, são delineadas estratégias nacionais, dando início ao processo no território Português, cujo «funcionamento depende de mecanismos de poder intermédios

constituídos por diferentes tipos de intervenientes locais» (Almeida e Almeida, 2018, p.118).

ESTABELECIMENTO DE PARCERIAS

Após convite dirigido ao Município de Coimbra e posterior proposta / aprovação da ECLP – Obra de Promoção Social do Distrito de Coimbra (OPSDC) em reunião de CLAS/C, estabeleceram-se contac- tos a fim de alocar EELP (máximo de 3 entidades) e outros parceiros fundamentais na implementa- ção do Plano de Ação – PA (Cf. Guião de Apoio à Execução da Tipologia de Operações 3.10 – CLDS). A candidatura inicial previa a existência de uma EELP, o Centro de Formação Profissional para o Artesanato e Património (CEARTE), no eixo 1, e vários parceiros – entidades que compõem o Núcleo Executivo (NE) do CLAS/C, da Rede Social e outras.

O controlo e avaliação da execução física, os pedidos de reembolso e pedidos de alteração ao PA, ficam a cargo da Autoridade de Gestão (AG) do Programa Operacional para a Inclusão Social e Em- prego (POISE). Por sua vez, a AG delega no ISS,I.P. – Centros Distritais –, o acompanhamento e a monitorização do programa CLDS-3G, o que possibilita um acompanhamento mais próximo e eficaz, respostas céleres, bem como, a análise regular dos dados alcançados (e.g., metas, n.º de destinatários envolvidos, etc.), a (re)estruturação de estratégias de intervenção / comunicação com as instituições locais e com a comunidade e a realização de uma análise SWOT (Strengths, Weaknesses, Oportuni- ties e Threats).

O PA delineado pela ECLP, Município de Coimbra – Divisão de Educação e Ação Social e entidades do NE do CLAS/C, encontra-se estruturado em torno de 3 eixos de intervenção – Eixo 1: Emprego, Formação e Qualificação; Eixo 2: Intervenção familiar e parental, preventiva da pobreza infantil; e Eixo 3:Capacitação da Comunidade e das Instituições. Estabeleceram-se parcerias (formais e infor- mais) coma Câmara Municipal de Coimbra e as 18 Uniões ou Juntas de Freguesia do Concelho de Coimbra, Comissões Sociais de Freguesia, Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ), ISS, I.P. - Serviço de Assessoria Técnica aos Tribunais (SATT), Estabelecimentos de Ensino, Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), outras. Foram ainda estabelecidas parcerias com os pro- jetos sociais implementados no território, o Programa Escolhas 6.ª Geração – Trampolim E6G – e a RLIS, por forma a complementar o trabalho concretizado pelas equipas (união de esforços, de técnicos e de intervenções) em prol da transformação social dos territórios e das comunidades in- tervencionadas – trabalho em REDE e de proximidade. Semestralmente, realiza-se uma reunião do CLAS/C, na qual o Coordenador do CLDS-3G Coimbra apresenta os resultados alcançados até então. Tais parcerias visam a prossecução de políticas públicas sociais e da prestação de proteção social, através da concretização do PA do CLDS-3G Coimbra, prestando-se, desta forma, uma resposta aos problemas sociais, que é mais célere, menos burocrática e de proximidade (descentralização de ser- viços). Todas as ações inerentes aos 3 eixos de intervenção foram minuciosamente delineadas com base no Diagnóstico Social 2010 (Cf. documento Diagnóstico Social, 2010) e no Plano de Desenvol- vimento Social, bem como, na experiência e conhecimento da realidade social das entidades que elaboraram o PA.

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INTERVENÇÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL E COMUNITÁRIO, SOB O PRISMA DO PARADIGMA DA GOVERNANÇA

As ações inerentes ao PA visam o desenvolvimento local e comunitário, numa lógica de trabalho em rede e de proximidade, nas quais é envolvida a comunidade e se articula com as instituições locais e equipas sociais (agentes promotores de desenvolvimento), com a pretensão de se promover um desenvolvimento integral e equilibrado, refletindo no potencial de mudança (curto, médio e longo prazo) com implicações nas gerações atuais e futuras.

As intervenções do CLDS-3G Coimbra tomam em consideração as características e as relações que caracterizam os territórios e as comunidades, por forma a delinear intervenções ajustadas às necessi- dades e expectativas dos beneficiários e, desta forma, adequar estratégias e ferramentas às dinâmicas da comunidade.

Falamos de famílias e territórios em situação de vulnerabilidade social, em risco de pobreza e ex- clusão social. Em muitas situações, os técnicos da equipa CLDS-3G Coimbra despoletam processos de acompanhamento de agregados desfavorecidos, em situação de carência económica grave, acres- cendo o facto de um ou mais elementos do agregado se encontrar em situação de desemprego (curta ou longa duração), com menores a seu encargo, que não beneficiem de qualquer resposta ou apoio social.

Sem forma de fazer face às despesas fixas mensais, são as equipas de primeira linha (de resposta mais célere) que, a posteriori, articulam com serviços sociais e de ação social, IPSS, etc., com o objetivo de, numa primeira fase satisfazer as necessidades mais básicas e urgentes e, numa segunda fase, dotar as pessoas de condições e competências necessárias para a sua autonomização e contribuição / par- ticipação ativa na vida em sociedade.

EIXOS E AÇÕES DESENVOLVIDAS PELA EQUIPA DO PROGRAMA

Vejamos, em síntese (Tabela 1), algumas das ações promovidas e executadas pela equipa do progra- ma CLDS-3G Coimbra nos 3 eixos de intervenção: 1 - Emprego, Formação e Qualificação; 2 - Inter- venção Familiar e Parental, preventiva de Pobreza Infantil; 3 - Capacitação da Comunidade e das Instituições.

Eixos Ações Promovidas

Eixo 1 de Intervenção

Emprego, Formação e Qualificação

«Capacitar Coimbra»

«Feira de Emprego e Formação Profissional»

Eixo 2 de Intervenção

Intervenção Familiar e Parental, preventiva de Pobreza Infantil

Projecto «Rugby no Bairro»

«Treino de Competências»

Eixo 3 de Intervenção

Capacitação da Comunidade e das Instituições

«Comemoração dos Dias Festivos na Comunidade» «Feira das Associações»

Tabela 1. Síntese das ações integradas no programa CLDS-3G Coimbra

O programa integra as seguintes ações concebidas em função do público-alvo e dos objetivos visados (candidatura submetida em 2015 na Plataforma Balcão 2020).

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Eixo 1 de Intervenção – Emprego, Formação e Qualificação

Ação «Capacitar Coimbra»

Estabeleceram-se parcerias com o ISS,I.P., IEFP, IPSS, Centros de Formação, unindo-se esforços para a constituição de grupos heterogéneos e, desse modo, promover o capital humano, a socializa- ção, a qualificação profissional necessária à (re)inserção no mercado laboral e/ou criação do próprio negócio (empreendedorismo por necessidade).

Esta ação pretende dar uma nova oportunidade aos grupos mais vulneráveis (pessoas com baixas competências profissionais, com baixa escolaridade, mais velhas, desempregados de longa duração, jovens à procura do primeiro emprego, etc.) que, devido a fatores de vulnerabilidade intrínsecos (e.g., características físicas, motivações, crenças, nacionalidade, género, entre outros) são social- mente excluídos ou, por exemplo, no que ao acesso ao emprego e/ou formação diz respeito, são preteridos em relação a outras pessoas;

Ação «Feira de Emprego e Formação Profissional»

Esta atividade visa possibilitar o contacto com o mercado laboral e diferentes profissões, bem como, dotar os jovens, que se encontram a concluir os seus estudos, de competências sociais e profissionais, de ferramentas de procura ativa de emprego. Por outro lado, o evento permite desenvolver sessões informativas: i.) Medidas ativas de emprego vigentes: acesso e processo de candidatura / recruta- mento; e ii) de empreendedorismo, nas quais se proporciona o debate e a reflexão em torno da temá- tica, estimulando-se as competências empreendedoras e o espírito empreendedor (na vida, na escola e no percurso profissional). São ainda apresentados e explorados negócios empreendedores, a partir de casos reais e testemunhos de empreendedores de sucesso.

Na execução desta ação são estabelecidas parcerias com Estabelecimentos de Ensino, Núcleo de Empresários do Centro (NERC), entidades empregadoras, entidades formadoras, IEFP, agentes de proteção civil, Associação Jovens Associados para o Desenvolvimento Regional do Centro (JADRC), entre outros.

Eixo 2 de Intervenção – Intervenção Familiar e Parental, preventiva de Pobre- za Infantil

Projeto «Rugby no Bairro»

Trata-se de um projeto social de inclusão através do desporto, destinado a crianças residentes em Bairros Sociais e Municipais do Planalto do Ingote.

A fim de intervir de forma eficaz e eficiente, fidelizando jovens atletas e respetivas famílias, foi es- tabelecida a parceria com o Projeto Trampolim E6G, a Associação de Estudantes da Escola Agrária de Coimbra – Núcleo de Rugby (Rugby Agrária) e o Comité Regional de Rugby do Centro (CRRC). Semanalmente, à terça-feira, entre as 18h30 e as 19h30, no campo de jogos do Bairro da Rosa, são dinamizadas sessões de rugby (treinos). Para além das competências desportivas, pessoais e sociais, são veiculados valores e regras, quebrados preconceitos e estigmas. Constitui, ainda, uma ferramen- ta de combate ao absentismo e abandono escolar.

O grupo de atletas foi, ainda, federado através do clube Rugby Agrária, numa lógica de inclusão, proporcionando-lhes a participação nos treinos, socializando e confraternizando com os restantes atletas, do mesmo escalão, no relvado da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC) e a sua parti- cipação em torneios e convívios regionais, nacionais e internacionais.

Ação «Treino de Competências»

Esta ação visa capacitar os agregados familiares de competências pessoais, sociais, profissionais, domésticas e parentais, num trabalho contínuo e de proximidade, na qual as equipas, sempre que necessário, se deslocam ao domicilio e articulam com estruturas sociais, estabelecimentos de en- sino e/ou de formação, serviços públicos e privados, entre outros. Na generalidade, os agregados familiares são encaminhados pela CPCJ, ISS,I.P. – SATT, 18 Comissões Sociais de Freguesia (CSF) do concelho e Rede Social. Para além das competências supra indicadas são elaborados projetos de intervenção individuais, nos quais são delineadas estratégias e estabelecidas as metodologias mais indicadas, por forma a suprir as necessidades e potenciar a criação de um projeto de vida a curto, médio e a longo prazo.

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Eixo 3 de Intervenção – Capacitação da Comunidade e das Instituições

Ação «Comemoração dos Dias Festivos na Comunidade»

Com esta ação pretende-se combater o isolamento e a exclusão social, bem como, favorecer a con- fraternização e auto-organização da comunidade (e.g., Comemoração do Dia do Vizinho, Marchas Populares Seniores, ações de rastreio e envelhecimento ativo – Comemoração do Dia Mundial da Saúde e da Alimentação –, entre outros). Para a concretização das atividades supra indicadas, foram estabelecidas parcerias com as Uniões ou Juntas de Freguesia, Município, entidades locais – associa- ções de moradores, recreativas ou desportivas, IPSS, empresários locais, entre outras.

«Feira das Associações»

As entidades locais têm um papel preponderante na dinâmica social dos territórios e das comunida- des, pelo que, anualmente é promovida uma «Feira das Associações» através da qual as entidades do concelho são convidadas a expor e difundir o trabalho realizado e apresentar as respostas sociais (valências, meios e apoios) de que dispõem em prol do bem-estar e qualidade de vida da população e desenvolvimento local e comunitário.