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DIVERSIDADE E INCLUSÃO A PARTIR DOS LIVROS MULTIFORMATO

Diversidade: Design Universal na leitura acessível à todos/as

DIVERSIDADE E INCLUSÃO A PARTIR DOS LIVROS MULTIFORMATO

Consideramos que o ato de ler faz parte do processo de comunicação e que este torna-se vital para o desenvolvimento das pessoas, pois ocorre entre os sujeitos de forma cotidiana, envolvendo as inte- rações sociais e trocas que são fomentadas por diversas situações, seja as expressadas pela memória, cultura, tradições e resultantes dos diferentes contextos sociais.

Assim como a comunicação, a inclusão é

[...] um processo que se desenrola ao longo da vida de um indivíduo, que tem como

6 [...] a visão transdisciplinar é resolutamente aberta na medida que ultrapas¬sa o campo das ciências exatas devido ao seu diálogo e sua reconciliação, não apenas com as ciências humanas, mas também com a arte, a litera¬tura, a poesia e a experiência espiritual (Carta da Transdisciplinaridade, Artigo 5, 1994).

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objetivo a melhoria da sua qualidade de vida, o uso da tecnologia deve proporcio- nar-lhe uma melhoria das condições de participação e envolvimento apresentando- -se como recursos e serviços que visam facilitar o desenvolvimento de atividades da vida diária das pessoas com deficiência. (SOUSA, 2012, p.167)

Ao analisar as questões relativas à literatura infantil como parte do universo formativo, compreen- demos que as obras literárias se constituem artefatos culturais, os quais estão presentes em diversos contextos educativos e sociais, sejam escolares ou não escolares. A linguagem literária por se cons- tituir um campo discursivo, estrutura-se em mecanismos que nos permitem visualizar e analisar quais são os modelos de sociedade ou representações que são apresentados pelos textos narrativos. (CASTELINI, QUARESMA DA SILVA, HEIDRICH, 2018)

É possível perceber no campo literário infantil, o caráter pedagógico dos textos literários infantis, que para Castelini e Quaresma da Silva (2018) sugerem em seus discursos padrões comportamentais, a impo- sição de regras sociais e morais as quais são amplamente valorizadas pela sociedade. A partir da utili- zação desse repertório de textos e imagens – seja pela qualidade dos livros dispostos no seu material gráfico, nas imagens e até mesmo nos sons e recursos inclusivos que tornam possível uma maior

interação com os leitores, possibilitando a prática da inclusão social7, entendida como um processo

que visa acolher a diversidade e harmonizar as diferenças no espaço coletivo.

Analisando as implicações provenientes do modelo inclusivo de educação, é pertinente ressaltar que

“A inclusão, na escola regular, de alunos com necessidades educativas especiais, impli- ca, da parte do sistema educativo, da escola, e especificamente do professor, estratégias diversificadas e inovadoras na procura de respostas adequadas às necessidades desses alunos.” (SOUSA, 2012, p.73)

Nesse sentido, ao referir-se à diferentes estratégias de aprendizagem, torna-se pertinente dar vi- sibilidade à necessária discussão sobre diversidade étnico-racial nas práticas inclusivas a partir do design universal de aprendizagem – DUA os quais estão presentes em livros multiformato/multis-

sensoriais8, que se apresentam enquanto artefatos culturais e necessitam de ampla divulgação no

contexto acadêmico científico, nas formações de docentes, no debate educacional e interdisciplinar e nas ações governamentais ou das organizações que são extensivas à comunidade e que compreen- dem e almejam ser cada vez mais acessíveis à todos.

Os livros multiformato/multissensoriais fazem parte do projeto intitulado “SENSeBOOKS – livros multissensoriais” – a partir do convênio estabelecido com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -CAPES, a Universidade Feevale/RS ambos no Brasil e o Instituto Politéc- nico de Leiria – IPL - em Portugal.

Das ações elaboradas no âmbito do Projeto SENSeBOOKS - Brasil e Portugal, as atividades de pes- quisa, estudos, criação, testes, reprodução e difusão de materiais inclusivos em diferentes contextos são desenvolvidas no território brasileiro junto ao Laboratório de Inclusão e Ergonomia – LABIE na Universidade Feevale/RS.

Das ações desenvolvidas em Portugal – pesquisa, estudos, criação, testes, reprodução e difusão dos materiais adaptados e atendimento à comunidade com projetos de inclusão digital e apoio pedagógi- co, estão reunidas no Centro de Recursos para a Inclusão Digital – CRID, situado na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais – ESECS no Instituto Politécnico de Leiria – IPL, sob a coordenação da Prof. Dra. Célia Sousa, o qual atuam junto da comunidade oferecendo projetos que envolvem a sociedade civil tornando acessíveis a todos, oportunizando ações com o objetivo de tornar possível ações inclusivas e digitais em diferentes espaços de atuação, promovendo ações educativas, minimi- zando dessa forma situações de exclusão social e negação do direito à comunicação acessível. Por compreender o mundo cada vez mais inclusivo e digital, faz-se pertinente discutir que não há como pensar em inclusão digital de forma dissociada da inclusão social, visto que qualquer esforço de inclusão segundo Liberato (2009) requer o uso e a apropriação de elementos tecnológicos, conhe- cimento da realidade local, adaptação de conteúdos e linguagens, criação de metodologias específi- cas, acompanhadas de um processo contínuo de avaliação.

7 Utilizamos o conceito de inclusão social como um tema que tem sido amplamente discutido na atualidade e como refere Bartalotti (2006), é entendido como um direito.

8 Segundo SOLER (1999. p.45) é um método pedagógico de interesse para o ensino e aprendizagem que utiliza todos os sentidos humanos possíveis para captar informações do meio que nos rodeia e inter-relaciona estes dados a fim de formar conhecimentos multissensoriais completos e significativos.

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É nesse contexto que as ações desenvolvidas em ambos os laboratórios nas instituições de ensino superior, buscam por meio de projetos de pesquisa e extensionistas em prol da sociedade, propôr estudos e produtos de design inclusivo que favoreçam a ampla participação das pessoas e o acesso ao mundo digital, seja por meio de adaptações, metodologias específicas e atendimento individualizado com o intuíto de atender tais demandas em benefício da construção e apropriação do conhecimento, os quais segundo Freire (1989) tornam-se uma ação libertadora e autônoma, pois as pessoas envol- vidas sentem-se de fato inseridas e valorizadas.

Assim, tratar da importância dos livros multiformato na formação de docentes (CASTELINI, QUA- RESMA DA SILVA E HEIDRICH, 2018) e em espaços de discussões acadêmico-científicas sugere à relevância do tema, pois pressupõe que as instituições educativas de ensino superior ao propor a criação e difusão de materiais inclusivos literários, constituem-se como espaços privilegiados de socialização e saberes, os quais são representados no modo como os sujeitos nas suas relações sociais recebem ou não a interferência de diferentes símbolos, discursos e práticas que corroboram para a

reconstrução dos seus papéis sociais bem como suas disposições, aspectos culturais9 e formas de ser

e estar no mundo.

Tais práticas sociais e culturais de mediação da leitura, tornam possíveis que diferentes públicos te- nham acesso à comunicação acessível de forma eficaz, constituindo-se de um ato libertador e eman- cipatório, pois o ato de ler advém de diferentes motivos e conforme Yunes (1995, p.188) o que mais deve aguçar o interesse do leitor é o “desejo de ler o que a ele interessa, de modo a gerar desejo no conhecimento obtido”, afinal ler é, pois, interrogar as palavras, duvidar delas, ampliá-las. Desse con- tato, desta troca, “nasce o prazer de conhecer, de imaginar, de inventar a vida.”

Para compreender os livros multiformato desenvolvidos pela equipe do CRID/IPL

São livros impressos, que reúnem num único exemplar, texto aumentado, braille, imagens em relevo (para crianças cegas ou com baixa visão), pictogramas (para crianças com incapacidade intelectual ou limitações de outra natureza), com um código Quick Response (QR) que remete para um site onde os livros estão disponí- veis nas versões audiolivro e videolivro - Língua Gestual Portuguesa – para crianças surdas. (SOUSA, 2018, p.17)

Essas criações projetadas à partir do DUA, despontam como projetos tecnológicos, baseados no con- texto social e cultural apresentado, posteriormente são transformados em um material específico à estrutura estudada e compatível às necessidades inclusivas de diferentes públicos em um único material, tornando acessível à todos/as.

Das obras já publicadas em parceria com o CRID/IPL podemos citar: Piu Caganita10, A rainha das

Rosas11, O menino que tinha medo do escuro12, Todos diferentes, todos animais13, que apresentam

base no conceito de livros para todos, possibilitam a percepção por meio de imagens com relevo, braille, letra aumentada para pessoas com baixa visão, pictogramas para indivíduos que ainda não dominam os códigos da escrita ou que apresentam alguma incapacidade intelectual ou outra caracte- rística que os impeça de compreender o texto escrito comtemplando diferentes públicos, disponibi- lização apartir de um Q R code – como uma função tecnológica inovadora que permite aos usuários escanear o código e ser direcionados ao conteúdo digital – vídeo, áudio ou atividades lúdico-pe- dagógicas, propiciando a interação mais efetiva e que compreende diferentes públicos e ilimitados acessos. Outro recurso utilizado por esses códigos digitais são o acesso à conteúdos que contemplam a Língua Gestual Portuguesa – LGP, permitindo uma utilização versátil com recursos à diferentes formatos de leitura.

Recentemente no estudo de Calvário, Gil & Sousa (2018) intitulado “Livro adaptado com recurso à tecnologia Digital – Uma aplicação com crianças com NEE” foi apresentado uma pesquisa realizada

9 Conceituamos a cultura na perspectiva de Hall (1997) como um dos elementos mais dinâmicos e mais imprevisí- veis da mudança histórica do novo milênio;

10 Disponível em: http://akademicos.ipleiria.pt/2016/06/23/um-livro-para-todos-tudo-num-so-livro/>Acesso em fevereiro/2019.

11 Disponível em: rid.esecs.ipleiria.pt/2018/06/21/livro-inclusivo-a-rainha-das-rosas-distinguido-com-premio- -acesso-cultura/>Acesso em fevereiro/2019

12 Disponível em: http://crid.esecs.ipleiria.pt/2014/10/16/convite-para-apresentacao-do-livro-o-menino-que-tinha- -medo-do-escuro/>Acesso em fevereiro/2019

13 Disponível em: https://www.ipleiria.pt/sdoc/exposicao-do-livro-multiformato-todos-diferentes-todos-ani- mais/>Acesso em fevereiro/2019

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em Portugal centrada na construção de recursos pedagógicos incluindo livros adaptados e sua apli- cação junto à crianças com necessidades especiais. Após tratamento dos dados e entrevistas com os docentes que atendem à educação especial foi constatado que

[...] os livros adaptados foram estruturadores e facilitadores da comunicação e que a leitura de histórias adaptdas são atividades potencialmente ricas para o desenvol- vimento do vocabulário, melhorando a capacidade de compreensão e de expressão verbal dos alunos. Na perspetiva dos docentes, a utilização de histórias com sím- bolos SPC facilita a inclusão de crianças em atividades de leitura quando estão em conjunto com os seus colegas/turma. (CALVÁRIO, GIL & SOUSA, 2018, p.8)

Portanto, discutir a potencialidade desses materiais na perspectiva do DUA, aliados às tecnologias digitais na educação inclusiva e diversidade, a desmistificação desses temas são imprescindíveis na formação de docentes, visto que a acessibilidade a tais materiais, são (re)significadas como um ins- trumento para o desenvolvimento da linguagem e da comunicação ao ser facilitadas pela sua ampla divulgação e na redução de barreiras que impedem o acesso à diferentes aprendizagens. Logo, os materiais aqui discutidos estão disponibilizados em sites para consulta e há exemplares na versão impressa com apoio de instituições, tornando as obras mais inclusivas, acessíveis à diferentes públi- cos, atingindo assim um número máximo de leitores.