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Apresentação, análise e discussões dos dados

No documento XVI SEMANA DE MATEMÁTICA (páginas 128-135)

do IX Seminário de Pesquisa em Educação da Região Sul – ANPED SUL Universidade

CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS UTILIZADOS POR MARCENEIROS NA CONSTRUÇÃO DE MÓVEIS NA CIDADE DE OURO PRETO DO OESTE-RO

4. Apresentação, análise e discussões dos dados

Apresentamos aqui, nesse primeiro momento, a resposta para cada pergunta feita na entrevista com uma análise conjunta. Cabe destacar que os entrevistados serão identificados pelos nomes fictícios “Luiz” e “Otávio”.

P1. Qual a sua idade e o tempo de profissão na área da marcenaria?

Quadro 1: Idade e tempo de profissão Fonte: Elaborada pelo autor.

O quadro 1, mostra a idade dos marceneiros e os respectivos tempo de serviço, dessa forma foi possível identificar a relação (tempo de serviço X idade), o que permite concluir que ambos os trabalhadores iniciaram essa atividade profissional ainda bem jovens. Luiz é um profissional mais experiente em relação a Otávio se levarmos em conta somente o tempo de exercício na profissão, pois aquele conta com 50 anos de atividade, já este, conta com 10 anos de experiência.

P2. Qual a sua escolaridade?

Marc. Idade (anos) Tempo de serviço (anos)

Luiz 65 50

Quadro 2: Escolaridade dos marceneiros Fonte: Elaborada pelo autor.

A escolaridade dos marceneiros entrevistados é apresentada no quadro 2, na qual podemos observar que existe uma nítida diferença de escolaridade entre eles, Otávio possui ensino médio completo, já Luiz apenas 6º ano do ensino fundamental, antiga 5º série, mesmo com a baixa escolaridade Luiz desenvolve cálculos de maneira empírica tão bem quanto Otávio. Acreditamos que a profissão de marceneiro está inerentemente relacionada à pessoa, de tal forma, a abordar suas qualificações independente de qualquer formação, seja no ensino

fundamental seja até mesmo no ensino superior. Segundo Luiz, que em suas falas disse: “a

marcenaria hoje para mim é questão de subsistência”. Pode-se caracterizar como sendo uma profissão de necessidade e sobrevivência.

Conforme D’ Ambrósio (2001), sobrevivência e transcendência são caracterizadas como a essência do ser humano. O homem, como qualquer espécie viva busca sua sobrevivência, o que constitui a diferenciação das outras é a vontade de transcender. Nesse intuito o conhecimento desempenha um papel de alta relevância como manifestação do conhecimento que orientará para que tudo isso aconteça.

P3. Quais conteúdos de matemática você usa para exercer sua atividade?

Marc. Resposta

Luiz Aritmética: As quatro operações, Unidade de Medida, Porcentagem, Geometria.

Otávio ações, Unidade de Medida, Porcentagem, Geometria, Escala.

Quadro 3: Conteúdos matemáticos utilizados Fonte: Elaborada pelo autor.

Luiz reconheceu a utilização de diferentes conteúdos da matemática, ele citou as quatro operações, unidade de medias como metro, centímetro e milímetro, o uso de porcentagem e geometria, já as repostas de Otávio apenas se diferenciam no momento em que ele diz fazer também o uso de escalas, foi dito por ele que os desenhos feitos por Luiz são

Marc. Nunca Frequentou a escola Até a 6° ano do Ensino Fundamental (antiga 5º série) Ensino Fundamental completo Ensino Médio incompleto Ensino Médio completo Ensino Superior Luiz X Otávio X

traduzidos por ele, Otávio, e que na hora de confeccionar o objeto transfere as medidas do desenho em tamanho real. É notório observar nas respostas dos entrevistados que boa parte dos conteúdos mencionados pelo marceneiro é desenvolvida na escola, contudo acredita-se que os entrevistados se sentem um pouco constrangidos de não saberem relacionar mais conteúdos da matemática com os utilizados por ele no seu trabalho.

P4. Alguns desses conhecimentos você aprendeu na escola?

Marc. Resposta

Luiz As quatro operações e unidades de medida.

Otávio As quatro operações e unidades de medida, porcentagem, e a geometria.

Quadro 4: Conhecimentos matemáticos apreendidos na escola Fonte: Elaborada pelo autor.

Como observa-se no quadro acima o marceneiro Luiz reconhece ter aprendido na escola as operações básicas como somar, subtrair, dividir e multiplicar, como também unidades de medidas básicas. O marceneiro Otávio além dos conteúdos citados pelo companheiro de trabalho atribuiu aos ensinos escolares a aprendizagem de porcentagem e geometria.

Foi observado na colocação dos marceneiros que eles se lembram de alguns ensinamentos matemáticos que aprenderam na escola, houve o esquecimento de alguns conteúdos, estes esquecimentos podem ser pelo fato do nome cientifico do conteúdo ou por

não saber que existe o elo entre a prática e a teoria. Segundo D’ Ambrósio

(2001), Contextualizar a matemática é essencial para todos. Afinal não se pode deixar de relacionar os elementos da matemática com os mecanismos utilizados na cultura de um grupo sociocultural. A Matemática é indispensável para a formação cultural aos indivíduos, pois tem aplicações diretas no oficio deste grupo social, embora isso não seja notado a todo momento. Conforme D’ Ambrósio (2001), a proposta pedagógica da Etnomatemática é fazer da matemática algo vivo, lidando com situações reais. E na critica questionar o aqui e o agora, assim estariam todos reconhecendo na educação a importância das diversificadas culturas e tradições na formação de cada civilização, com isso a Etnomatemática se torna uma direção para uma educação renovada, eficaz para preparar uma civilização mais feliz.

P5. Você acha que teria a mesma eficiência na profissão sem esses conhecimentos matemáticos?

Marc. Respostas

Luiz Não

Otávio Não

Quadro 5: Eficiência da profissão relacionada a matemática Fonte: Elaborada pelo autor.

Os dois reconhecem que a matemática é muito importante para suas profissões. No quadro cinco pode ser notada a unanimidade nas respostas, estes profissionais da marcenaria reconhecem a matemática como ferramenta essencial na eficiência de seus trabalhos.

P6. Qual a importância da matemática no seu cotidiano de trabalho? Marc. Resposta

Luiz

A matemática é vida né, sem ela não teria como fazer nada, é muito importante. Otávio É muito importante, sem ela não conseguiria nem medir uma peça de madeira,

sem ela não da pra fazer nada.

Quadro 6: Importância da matemática no cotidiano de trabalho Fonte: Elaborada pelo autor.

Ambos os marceneiros afirmaram positivamente a importância da matemática em seu dia a dia de trabalho. Ressaltando as falas de Luiz, pode-se observar que este afirma que a matemática é essencial na vida de qualquer ser humano. Não parando por ai dizendo que “A matemática, é e sempre será importante na vida de qualquer pessoa”.

P7. Como você calcula a quantidade de material necessário para fabricar um determinado móvel?

Marc. Resposta

Luiz Quando a construção do objeto é feita somente com madeira olhamos o projeto analisamos. Fazemos a medição. Com as medidas feitas sabemos quantos metros do

material vamos precisar se for MDF9vemos quantos metros quadrados vamos precisar,

se for madeira serrada temos que medir quantos metros cúbicos utilizaremos. Se formos utilizar trilhos e puxadores e roda pés, fazemos a contagem de quantos itens utilizaremos.

Otávio Vejo quantos metros deve ter o projeto, escolho o material, realizo as medidas e corto.

Quadro 7: Como é calculado o material necessário Fonte: Elaborada pelo autor.

O objetivo dessa pergunta era promover e fazer com que o marceneiro descrevesse o projeto como um todo, desde a escolha da matéria prima, perfazendo o processo envolvendo a

9 MDF expressão do termo em inglês Medium Density Fiberboardou que traduzido significa fibra de madeira de

matemática até o confeccionado de determinada peça. Como se percebe na fala do marceneiro Luiz a matéria prima influencia na obtenção das medidas do projeto, as medidas podem ser calculadas em metros quadrados, quando o material desejado é o MDF, pois se calcula apenas a sua área antes de efetuar o corte, em contra partida projetos que serão confeccionados a partir de madeira serão medidos em metro cúbicos.

P8. O senhor calcula a porcentagem de madeira desperdiçada?

Marc. Resposta

Luiz Sim

Otávio Não

Quadro 8: Se calcula ou não a quantidade de madeira desperdiçada Fonte: Elaborada pelo autor.

Luiz por ser o dono da marcenaria, cabe a ele o interesse de saber o quanto de material está sendo desperdiçado, nesta pergunta também se encaixa o material derivado da madeira o MDF. Os cortes devem ser feitos de modo a evitar o máximo de desperdício.

P9. Como o senhor calcula?

Marc. Resposta

Luiz Vou dar um exemplo: Na construção de um guarda roupa, nós temos as folhas

em MDF que ainda não foram cortadas, quando a medimos temos a quantidade de metros utilizados na elaboração, quando as pranchas estão prontas para a montagem é feita novamente a medição, a diferença é a quantidade que não foi aproveitada.

Otávio -

Quadro 9: Como é calculada a quantidade de madeira desperdiçada Fonte: Elaborada pelo autor.

Como é observada no quadro 9, a medição é feita anteriormente antes de fazer qualquer procedimento, é quando o marceneiro se depara de imediato, em primeiro momento com a prancha ele faz a medida inicial, posteriormente é confeccionada as pranchas ideais (“já cortadas, para o fiel encaixamento peça por peça”) depois de posse dessas pranchas ideais o mesmo faz uma nova medição e a diferença entre volume ou a área das peças iniciais e as finais é a representação da madeira desperdiçada.

Marc. Resposta

Luiz Dobra o valor dos materiais gastos para a confecção de um projeto

Otávio -

Quadro 10: Como é calculada a venda dos móveis Fonte: Elaborada pelo autor.

O dono é responsável pela estipulação do preço dos objetos, este dobra o valor do custo dos materiais essenciais para elaborar certo projeto, contudo a energia elétrica, impostos, salário do funcionário não são considerados para o cálculo da venda de seus móveis.

É observado que ele não possui um controle exato para elaborar de maneira economicamente viável o cálculo do seu lucro líquido.

P11. Fez algum curso de marcenaria antes de ser tornar marceneiro?

Marc. Resposta

Luiz Não

Otávio Não

Quadro 11: Se os marceneiros fizeram algum curso relacionado a marcenaria Fonte: Elaborada pelo autor.

Ambos não fizeram nenhum curso para se tornar marceneiro, e aprenderam com os seus genitores. Aos 15 anos de idade (marceneiro Luiz) e 16 anos de idade (marceneiro Otávio) até se tornarem dois profissionais competentes.

P12. Que função exercia antes de se tornar marceneiro?

Marc. Resposta

Luiz Nenhuma, foi a primeira que profissão que aprendi

Otávio Meu primeiro emprego foi como marceneiro

Quadro 12: Se alguma profissão foi exercida antes da marcenaria Fonte: Elaborada pelo autor.

Conforme observado no quadro os dois foram unânimes em afirmar que nunca trabalharam em outras funções além da marcenaria. O objetivo desta pergunta era saber se o trabalho exercido anteriormente poderia influenciar nesta função de marcenaria. A função desempenhada por ambos é fruto da hereditariedade passada pelos pais que de princípio era a única profissão que poderia oferecer para seus descendentes com o intuito de subsistência familiar.

O presente estudo objetivou identificar as propriedades e conceitos matemáticos mais utilizados no cotidiano dos marceneiros entrevistados na cidade de Ouro Preto do Oeste-RO.

Procuramos estabelecer uma identificação das normas formais do conteúdo com a prática que os entrevistados utilizavam. Nas respostas obtidas, parte dos conteúdos desenvolvidos na escola tem pouco significado na cotidianidade do marceneiro. Contudo boa parte do que é desenvolvido com as identificações ou nomes formais não são necessariamente compreendidos. Desta forma eles desenvolvem o trabalho, mas por outro lado não tem a preocupação dos nomes ou conhecimento acadêmicos dos conteúdos vistos na escola tradicional.

De acordo com os resultados e análise dos dados, os marceneiros não demonstram dispor de muitos conhecimentos, formais ensinados na escola, o que ficou evidenciado é que em grande parte do tempo é feita utilização de uma Matemática informal, que por eles é considerada uma Matemática mais simples. Uma Matemática em que seus conhecimentos se aperfeiçoam dia a dia. Pode-se observar que os conteúdos matemáticos trabalhado nas escolas não contempla o suficiente para que o marceneiro possa praticar de forma consciente os nomes e maneiras técnicas da matemática.

Os conhecimentos obtidos no cotidiano poderiam ser mais valorizados e dessa forma reconhecer estes saberes utilizados na pratica, de forma que possam ser ensinados formalmente nas escolas. Espera-se que a pesquisa quando publicada contribua para aqueles que desejam entender a matemática usada nas atividades de grupos sociais. Dessa forma a Matemática apresenta-se com mais significado, pois se propõe como ferramenta relevante na compreensão dos conhecimentos matemáticos envolvidos no mundo.

6. Referências

D’AMBRÓSIO, U. Etnomatemática: Elo entre as tradições e a modernidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

IEZZI, G. Fundamentos da Matemática Elementar: Geometria Plana e Espacial. São Paulo: Atual, 1993.

A EDUCAÇÃO ESTATÍSTICA CRÍTICA ARTICULADA COM O TEMA

No documento XVI SEMANA DE MATEMÁTICA (páginas 128-135)