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Uma Contextualização Histórica dos Documentos

No documento XVI SEMANA DE MATEMÁTICA (páginas 177-180)

do IX Seminário de Pesquisa em Educação da Região Sul – ANPED SUL Universidade

VESTÍGIOS EM RONDÔNIA

2. Uma Contextualização Histórica dos Documentos

Na história tradicional os documentos sempre tiveram um papel de destaque como única fonte de pesquisa. Podemos ressaltar o seu auge na Escola Positivista que priorizava os documentos de arquivo, especificamente os documentos oficiais. Para os positivistas o historiador ao fazer uma pesquisa, deveria analisar o maior número de documentos possíveis, para se alcançar a totalidade sobre os fatos e não deixar nenhuma margem de dúvida, pois, acreditavam que a verdade estava posta somente nos documentos. Não concebiam outra forma de fazer história.

O positivismo é uma escola filosófica que surgiu na França no século XIX. O estudo da história se restringia a curta duração (se limitava ao estudo de fato específico), nesse contexto o historiador deveria ser neutro e objetivo, a história se reduzia a fatos políticos, (BIRARDI, 2010). Tendo como principal idealizador o filósofo francês Auguste Comte.

Os positivistas viam o documento apenas como um texto, em que o historiador fazia uma leitura, e reproduziria o seu conteúdo o mais próximo possível do que estava posto, em outras palavras, o historiador era tido como um reprodutor de texto. No positivismo,

A leitura dos documentos não serviria, pois, para nada se fosse feita com ideias preconcebidas [...]. A sua única habilidade (do historiador) consiste em tirar dos documentos tudo o que eles contêm e em não lhes acrescentar nada do que eles não contêm. O melhor historiador é aquele que se mantém o mais próximo possível dos textos (LE GOFF, 2013, p. 487).

O historiador só teria que narrar o que estava nos documentos, tal qual eles se apresentavam, e não poderia questionar ou sequer problematizar as informações que ali estavam.

A nova história veio com surgimento da escola dos Annales, nesse novo contexto os documentos passaram a ter um tratamento especial, deixam de ser vistos como “provas”, rompendo o paradigma de que são fontes verdadeiras e inócua. Para os Annales os documentos passam a ter uma visão mais ampla, as diversidades das fontes históricas são infinitas e inesgotáveis (BLOCH, 2001).

A Escola dos Annales é um movimento historiográfico que aconteceu na França nos

anos 1930, intitulado: Annales d’ historie économique et sociale, contraria a dominação

positivista. A corrente inovadora desprezava os grandes acontecimentos e priorizava a longa duração (a história do homem na sua relação com meio) (BOURDÈ; MARTIN, 1987). Essa

nova concepção de ver e escrever a história revolucionou a histografia, e seus fundadores foram Marc Bloch e Lucien Febvre.

Ao fazer a análise dos documentos, o historiador não deve ficar preocupado, se o conteúdo que o documento porta, diz a verdade. Primeiramente, ele deve dialogar com as informações que o documento traz, a fim de compreendê-las. Com esta perspectiva, Bloch (2002, p. 96) nos mostra, qual é o sentido do método crítico:

Sabe que suas testemunhas podem se enganar ou mentir. Mas, antes de tudo, preocupa-se em fazê-las falar, para compreendê-las. É uma das marcas mais belas do método crítico ter sido capaz, sem em nada modificar seus primeiros princípios, de continuar a guiar a pesquisa nessa ampliação.

Quando Bloch se refere a testemunha, podemos identificá-las como personagens que vivenciaram a época a ser investigada, mas também como os documentos, uma vez que sua definição foi alterada, e passou a ter uma visão mais humana a de “testemunho” documental.

Na corrente historiográfica que surge a partir da Escola de Annales os documentos deixam de ser vistos como algo limitado, o seu conteúdo passa a ser amplo e rico, a noção de documento se alarga, “tudo o que o homem diz ou escreve, tudo o que fabrica tudo o que toca pode e deve informar-nos sobre ele” (BLOCH, 2001, p. 79), nesse sentido, o historiador passa a trabalhar com uma grande variedade de documentos que se constituirão como fontes:

Seria uma grande ilusão imaginar que a cada problema histórico corresponde um tipo único de documentos, especializado para esse uso [...]. Que historiador das religiões se contentaria em consultar os tratados de teologia ou as recolhas de hinos? Ele sabe bem que sobre as crenças e as sensibilidades mortas, as imagens pintadas ou esculpidas nas paredes dos santuários, a disposição e o mobiliário das tumbas, têm pelo menos tanto para lhe dizer quanto muitos escritos (LE GOFF, 2013, p. 490).

Diante dessa afirmação, a pesquisa aqui proposta far-se-á, através de triangulação entre diferentes fontes, com a finalidade de consolidar as informações, que serão coletadas durante todo o processo de investigação.

3. Metodologia

O presente estudo está sendo desenvolvido através de pesquisa qualitativa, buscando uma conexão entre o passado e o presente, fazendo uma varredura na criação e no desenvolvimento dos cursos de formação de professores de Matemática leigos na região central do estado de Rondônia.

A pesquisa documental permitirá fazer uma análise mais cuidadosa entre o real (os fatos que ocorreram) e os documentos (registros), tendo em vista que os documentos não passam por tratamentos científicos, isso nos permitirá um olhar cuidadoso e crítico sobre os documentos, buscando identificar a luz destes, as ações que contribuíram para formação desses professores leigos (ALBUQUERQUE, 2016).

A pesquisa não se limitará apenas ao uso de documentos oficias, serão utilizados arquivos pessoais, que forem cedidos pelos professores e alunos que fizeram parte dos cursos como: cadernos de anotações e fotografia também farão parte de análise desse trabalho.

Existem infinitas possibilidades de vestígios, que podem ser explorados:

A história faz-se com documentos escritos, sem dúvida. Quando estes existem. Mas pode fazer-se, deve fazer-se sem documentos escritos, quando não existem. Com o que a habilidade do historiador lhe permiti utilizar para fabricar o seu mel, na falta das flores habituais. [...]. Numa palavra, com tudo o que, pertence ao homem, demonstra a presença, a atividade, os gostos e as maneiras de ser do homem (LE GOFF, 2013, p. 490).

O pesquisador da História da Educação Matemática tem muitas fontes a sua disposição. Ao coletá-las teremos a possibilidade de fazer o diálogo entre elas e confrontar suas informações, para dar sustentação à construção do objeto de pesquisa.

A pesquisa será realizada em alguns dos cursos de Licenciatura em Matemática que foram ministrados através dos Cursos Parcelados que ocorreram na década de 1990, ou pelo PROHACAP que funcionou no estado a partir de 2000 e finalizou por volta de 2009 e que ficaram sobre responsabilidade do polo de Ji-Paraná: Alvorada do Oeste, Ji-Paraná Jaru e Ouro Preto.

A coleta de documentos está sendo realizada via site da UNIR e na Secretaria de Controle Acadêmico (SERCA) de Ji-Paraná. Os dados coletados nos possibilitarão ter acesso aos aspectos estruturantes, jurídicos e pedagógicos desses cursos.

Entrevistas também comporão o rol de fontes para esta pesquisa. Vale ressaltar que as entrevistas que estão e as que serão realizadas junto às testemunhas oculares do curso, estão passando pelo processo de transcrição, e também farão parte da análise documental, tendo em vista que a partir do momento que elas são passadas para forma de texto, passam a ser fonte documental.

No documento XVI SEMANA DE MATEMÁTICA (páginas 177-180)