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Apresentação da vocalização do "Peixe-boi da Amazônia"

No documento Raimundo Nonato Brilhante de Alencar (páginas 142-147)

CAPÍTULO III: RESULTADOS E DISCUSSÃO

3. UMA SINFONIA NECESSÁRIA ENTRE OS ESPAÇOS EDUCATIVOS PARA PRÉ-

3.2 A MÚSICA NA APRENDIZAGEM DAS CRIANÇAS

3.2.3 Apresentação da vocalização do "Peixe-boi da Amazônia"

No dia 09 de Julho de 2014 foi a data programada para a realização da primeira aula- passeio ao Bosque da Ciência pela manhã e uma semana após com a turma da tarde.

O deslocamento para este espaço foi bastante agradável em ambas às turmas, as crianças foram acompanhadas pelo pesquisador e a equipe de educadores, o ônibus era refrigerado e possuía sonorização, sendo assim, separamos um CD com músicas que trabalhamos nesse primeiro momento e fizemos da viagem um tempo educativo.

No percurso algumas situações nos chamou a atenção, pois as crianças ficaram impressionadas ao ver tantos cenários durante a viagem. Ao passarmos próximo ao Aeroclube de Manaus, uma aeronave sobrevoou bem próximo ao ônibus e ouvimos uma agitação: “Olha o avião”! Mais a frente, outro grito de chamado pela Estudante: “Olha o Parquinho... minha mãe disse que vai me levar ai” (E-Lívia), em outro momento no caminho, as crianças ainda eufóricas, viram a estátua de uma Arara vermelha (Ara macao), símbolo de uma rede de supermercados e prontamente dispararam: “Olha a Arara... Professor, olha a Arara vermelha” (E-Caio).

Quando chegamos ao Bosque da Ciência realizamos inicialmente uma roda de conversas (Figura 18) para esclarecermos o que se denomina na Educação Infantil de “combinados”, isso é, os acordos que fora realizados antes da aula-passeio.

Informamos as crianças quais seriam as trilhas que iríamos percorrer até chegarmos a dois pontos principais discutidos nesse momento: O Tanque do Peixe-boi abriga cerca de 50 exemplares da espécie, ele é um local onde os animais passam por reabilitação, alguns retornando para o meio ambiente e outros que continuarão fazendo daquele lugar sua nova casa. Nesse momento também informamos sobre outro lugar que iríamos visitar, seria o berçário do peixe-boi, explicamos as crianças que todo ano, esse local recebe cerca de pelo menos dez filhotes que foram separados de seus pais e recuperados por instituições. Esses filhotes consomem cerca de quatro litros de leite por dia, segundo os colaboradores da AMPA o leite é reproduzido artificialmente nos laboratórios da AMPA e foi criado a partir do leite materno de uma das fêmeas mais antigas da espécie a Boo, que chegou em 1974 e tem cerca de 40 anos.

Figura 18 – Roda de conversas – Bosque da Ciência (Fonte: ALENCAR, 2014)

Para Oliveira, Oliveira e Fachín-Terán (2013, p. 221) em sua obra "O bosque da ciência mediando o diálogo na prática educativa ambiental" afirmam que,

O espaço do Bosque mostra-se utilitário para a associação e configurações mais autônomas entre os diversos tipos de frequentadores. Embora se configure como um espaço que dá liberdade de ir e vir para quem o visita, não deixa de ser favorável para a construção do conhecimento científico ou escolar, sobrepujando qualquer expectativa de quem se propõe a usá-lo como espaço de aprendizagem.

Após os combinados fomos ao tanque do peixe-boi da Amazônia onde as crianças puderam visualizar pela primeira vez esse mamífero aquático, a curiosidade das crianças foi evidente ao apresentarmos esse mamífero. Ao chegarmos ao tanque registramos a fala de quatro desses estudantes:

Olhaaa... talí um monte de peixe-boi. (E-Lara) Professor: Ele morde, hein? Ele morde? (E-Caio) Ele não morde, ele come capim e não gente! (E-Marta) Ele é preto e não tem mão!! (E-Jackson)

Ele é preto, mas tem uma mancha branca na barriga, né professor? (E-Viviam)

Por meio desses comentários fica evidente as diferentes formulações de questões quanto ao contato direto com esse elemento da fauna amazônica, combinando com o que Almeida e Fachín-Terán (2011), afirmam que estes espaços educativos oferecem condições e possibilidades de observações singulares que por muitas vezes, torna-se improvável no ambiente escolar, ou mesmo dentro de uma sala de aula.

As Atividades em um ambiente natural oportunizam as crianças experiências com a natureza Amazônica, instigando-as a conhecer novos elementos existentes na natureza, desenvolver sentimentos de ajuda e cooperação e respeito ao meio-ambiente (BRASIL, DCNEI, 2010).

Outro momento singular ocorreu quanto os estudantes foram conduzidos pelo pesquisador e sua equipe para o berçário do Peixe-boi. Antes de entrar naquele espaço, informamos às crianças que ali estavam os animais que perderam seus pais e que o silêncio seria necessário.

Fomos recebidos por uma das pesquisadoras do Curso de Mestrado em Biologia de Água Doce e Pesca Interior - INPA que nos conduziu até a área restrita para cuidadores e pesquisadores, a caminho desse local as crianças foram ouvindo a melodia suave de uma cantiga de ninar, enquanto todos estavam em silêncio registramos:

Silêncio... aqui são só os bebes!! (E-Cibele) Quem matou a mãe deles? (E-Iam)

Não sei acho que foi a galera... Ele fala? Ele faz mooooonnnn... (E-Adam) Não... ele não fala, senão ele se afoga! (E-Anthony)

A curiosidade mais uma vez esteve presente nesta vivência, reconhecer que naquele espaço só havia filhotes que precisavam de silêncio haja vista que as crianças da pré-escola são ricamente sonoras, foi um momento também de respeito que as crianças expressaram sobre os animais que acabavam de conhecer.

A curiosidade presente na imitação e na comparação do peixe-boi com o Boi levou ao estudante (E-Adam) formular uma solução para a dúvida presente, imaginar a vocalização “moonnn” pertence ao Boi, sugere que o peixe-boi poderia se afogar se assumisse o papel de um Boi. Pensar no mundo onde as crianças vivem nos remete a concluir que este ambiente é formado por um conjunto de fenômenos naturais e sociais indissociáveis diante do qual elas se mostram curiosas e investigativas (BRASIL, RCNEI 1988).

As crianças desde muito pequenas, por meio da interação com o meio natural e social no qual vivem, aprendem sobre o mundo, vivenciam experiências e interagem num contexto de conceitos, valores e ideias a respeito de seu cotidiano.

Figura 19 – Audição da vocalização do peixe-boi no Bosque da Ciência (Fonte: ALENCAR, 2014)

No berçário do peixe-boi, explicamos para as crianças que os filhotes, assim como eles, emitem muito mais sons do que os adultos. Isso acontece porque em muitos rios Amazônicos, as águas não são transparentes e a visão em águas desse tipo dificulta muito, por isso, os sinais que os filhotes emitem são sinais de comunicação com suas mães.

As crianças foram organizadas e passamos a realizar a audição dos animais buscando captar não só os elementos sonoros, mas a impressão que as crianças estavam tendo naquele momento.

Perguntamos para as crianças com o que se parecia o som do peixe-boi? (Figura 18)

Olha... eu tô ouvindo, parece um passarinho que tem lá no quintal de casa. (E-Lara); Não ouvindo nada... agora eu ouvi, foi um grito rapidinho. (E-Iris); O som dele parece um rato pequeno. (E- Sophia); Parece um pombo... uuu... uuu... (E-Caio)

As experiências sonoras a partir de elementos ativos mostraram a presença das brincadeiras e uso da imaginação no momento da pesquisa, a comparação sonora com elementos que as crianças já conheciam foi fundamental no processo de aprendizagem. Quando lembraram o passarinho lá do seu quintal, o "pombo doméstico" (Columba livia) ou mesmo do "ratinho" (Mus musculus) foi possível encontrar em suas memórias os conhecimentos reais apontados por Vygotsky, além de inserir novos elementos sonoros no mundo das crianças elencando-os ao conhecimento potencial por meio das ações mediadas pela experiência.

3.2.4 Imitação da vocalização do "Peixe-boi da Amazônia" por meio de instrumentos

No documento Raimundo Nonato Brilhante de Alencar (páginas 142-147)