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O potencial pedagógico dos Espaços Não Formais para Educação Infantil

No documento Raimundo Nonato Brilhante de Alencar (páginas 57-60)

1. UM PRELÚDIO SOBRE AS CRIANÇAS DA PRÉ-ESCOLA

1.6 A EDUCAÇÃO E AS NOTAS MUSICAIS DOS ESPAÇOS EDUCATIVOS

1.6.2 O potencial pedagógico dos Espaços Não Formais para Educação Infantil

Os Espaços Não Formais têm sido estudados de modo aplicado por vários pesquisadores como: Jacobucci (2008), Marandino (2009), Vieira (2005), Alcântara e Fachín-Terán (2010), Rocha e Fachín-Terán (2010, 2014), Gohn (2010), Cascais e Fachin-Terán (2011), Seiffert- Santos e Fachin-Terán (2013; 2014), Brito (2013), Gonzaga (2012), Almeida (2013), Maciel (2014), uma vez que esses locais apresentam grande potencial para uma educação científica na pré-escola contribuindo para novas experiências na educação das crianças.

Para Rocha e Fachín-Terán (2014) os Espaços Não Formais Institucionalizados têm assumido como um dos seus objetivos a promoção da educação não formal em Ciências. Esses autores listam que os museus de ciência, centros de ciência, museu de história natural, planetários, zoológicos, jardins botânicos, parques ecológicos são considerados espaços institucionalizados, mas há também aqueles espaços não institucionalizados ou espaços de convivência que podem estar bem próximos às Escolas de Educação Infantil, como as feiras, os campos de futebol ou a própria rua da escola.

A pesquisa pelo assunto tem despertado a reflexão da importância de uma prática bastante necessária na educação infantil denominada de "Aula-passeio" ou Aula das Descobertas. Celestin Freinet (1896-1966) afirmava que “a educação que a escola proporciona às crianças deveria extrapolar os limites da sala de aula e integrar-se às experiências por elas vividas em seu meio social” (OLIVEIRA, 2005, p. 77).

A proposta de ensino dessa pedagogia era baseada em investigações a respeito da maneira de pensar das crianças e como elas construíam seus conhecimentos. Tinha o objetivo de realizar a integração das crianças com o meio ambiente, visto que em suas aulas, Celestin Freinet observava como os estudantes ficavam inquietos e desatentos, sendo assim, uma de suas técnicas pedagógicas era colocada em prática através da aula-passeio, ele saía com seus alunos para o campo a observar cada detalhe dos lugares visitados.

Nestas saídas ocorriam também visitas aos ateliês da aldeia onde ficava a escola, e assim, as crianças aprendiam sobre algumas profissões. No retorno à sala de aula, as crianças, entusiasmadas, contavam suas observações e experiências. “Estas observações, inicialmente, eram escritas na lousa por Freinet e o treinamento da leitura tinha como textos estas próprias

palavras ditadas pelas crianças a partir da elaboração de suas experiências” (TREVISAN; ANGOTTI, 2002, p. 2).

A aula-passeio na educação infantil demonstra a importância de não permanecer apenas dentro da sala com as crianças, mas explorar todo o ambiente externo da escola, suas vivências sociais, conhecer a natureza, a comunidade e trabalhar em grupo as riquezas existentes na região. Por meio de práticas educativas para o Ensino das Ciências nos Espaços Não Formais é possível ampliar, incentivar e direcionar o interesse das crianças pelos elementos fora da sala de aula como animais, plantas, águas dos rios e Igarapés, florestas, natureza, a rua, a praça, as igrejas, os parques.

Sair do espaço escolar para realizar atividades que venham contribuir para o processo ensino-aprendizagem pode ser uma das características deste tipo de aula.

Os Espaços Não Formais de aprendizagem receberam uma definição por Jacobucci (2008, p. 56-57) como:

Locais que são Instituições e locais que não são Instituições. Na categoria Instituições, podem ser incluídos os espaços que são regulamentados e que possuem equipe técnica responsável pelas atividades executadas, sendo o caso dos Museus, Centros de Ciências, Parques Ecológicos, Parques Zoobotânicos, Jardins Botânicos, Planetários, Aquários, Zoológicos, dentre outros. Já os ambientes naturais ou urbanos que não dispõem de estruturação institucional, mas onde é possível adotar práticas educativas, englobam a categoria Não-Instituições. Nessa categoria podem ser incluído teatro, parque, casa, rua, praça, terreno, cinema, praia, caverna, rio, lagoa, campo de futebol, dentre outros inúmeros espaços.

Entendidos como qualquer local que possa ser utilizado para a aplicação e o desenvolvimento de práticas educativas, o uso desses espaços educativos (Figura 2) como complemento ao ensino decorrente da educação formal vem ampliando-se gradativamente e seu crescimento vem assumindo a responsabilidade de educar junto à escola (MARANDINO, 2005).

A escola possui funções e papéis muito particulares no processo de construção do conhecimento da criança, porém torna-se difícil a realização de todo o processo educativo de forma isolada e em um único espaço. Sendo assim, é relevante o uso de outros espaços como museus, laboratórios abertos, planetários, parques especializados, exposições, feiras e clubes de ciências, que ajudem a instituição escolar no processo de Alfabetização Científica (LORENZETTI; DELIZEICOV, 2001).

Todavia, nem o uso da música, dos elementos sonoros ou dos Espaços Não Formais podem ser vistos como a solução para os problemas relacionados à motivação ensino- aprendizagem, mas ambos precisam de um elemento principal, que é a inclusão das crianças neste contexto educacional.

Figura 2 – Os Espaços Formal e Não Formal (Fonte: JACOBUCCI, 2008)

Desenvolver o ensino das Ciências dentro dos Espaços Não Formais abre possibilidades para que as crianças possam vivenciar ricas experiências educacionais em um ambiente fora dos muros da escola. Gonzaga e Fachín-Terán (2013, p. 47) trabalham esse tema em sua obra “As contribuições dos Espaços Não Formais para a educação científica em educação infantil”.

Os Espaços Não Formais de aprendizagem apresentam-se como uma oportunidade de aproximação da criança com a natureza, como caminho para um aprendizado em ciências significativo, uma vez que eles oportunizam a observação, instigam a investigação, possibilitam o desenvolvimento da curiosidade, tanto de alunos quanto de professores. (GONZAGA; FACHIN-TERÁN, 2013 p. 47)

Inserir no cotidiano das crianças elementos lúdicos como música e os elementos sonoros existentes nos Espaços Não Formais, traduz-se em um exercício de desenvolver não só os sentidos auditivos, mas as possibilidades da criatividade, levando-as a experimentar a relação com o meio ambiente, a tomar decisões, expressar sentimentos e valores, conhecer a si, aos outros e o mundo, exercendo sua individualidade e identidade por meio de diferentes linguagens,

usando o corpo, os sentidos, os movimentos e, acima de tudo, a liberdade existente nesses espaços.

Sendo assim, ao vivenciar práticas educacionais em um ambiente educativo, a criança experimenta o poder de explorar o mundo dos objetos existentes neste lugar, a troca de experiências com outros estudantes e professores, conhecendo, de maneira presencial, os elementos existentes na natureza e a cultura do lugar visitado.

Se na escola o contato maior da criança ao estudar sobre ciências acontece muitas vezes através do livro didático, dos vídeos ou cartazes é relevante que a prática educativa aos Espaços Não Formais seja inserida no cotidiano da criança. Kishimoto (2002, p. 149) ressalta que “a falta de materiais típicos da fauna e flora brasileiras, como folhas, galhos, pedras, conchas, frutos, flores e penas, assim como a produção de objetos não reflete a riqueza do mundo cultural e natural, mesmo o uso da sucata industrial fica empobrecido com a falta de tratamento que ofereça identidade cultural a tais objetos”.

O ensino de ciências com crianças da educação infantil deve ultrapassar as abordagens mecânicas como a fixação de termos científicos, o decorar e o monólogo, por parte do professor, e em vista a escola deve buscar ferramentas que possam promover o encantamento do ensino ao estudante, privilegiando situações de aprendizagem significativas. O ensino realizado na escola poderá ser consolidado ao deparar com um ambiente diferente e natural, pois “esses espaços de Ciência e Cultura serão aliados da escola e da mídia na formação da cultura científica brasileira” (JACOBUCCI, 2008, p. 64).

A escola não pode ficar alheia às possibilidades da educação acontecer nesses ambientes de aprendizagem. Ela deve inserir, desde a educação infantil, um ensino que sensibilize o estudante aos cuidados com a preservação do ambiente.

No documento Raimundo Nonato Brilhante de Alencar (páginas 57-60)