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A inteligência musical e o lúdico

No documento Raimundo Nonato Brilhante de Alencar (páginas 51-55)

1. UM PRELÚDIO SOBRE AS CRIANÇAS DA PRÉ-ESCOLA

1.5 UM MINUETO ENTRE A MÚSICA E A APRENDIZAGEM

1.5.4 A inteligência musical e o lúdico

É fato que os elementos lúdicos são de fundamental importância na vida da criança. O ato de brincar configura-se como algo de profundo significado em sua vida, brincar para as crianças pode ser considerado como a atividade mais importante durante o seu dia. A prática das brincadeiras não pode ser retirada do cotidiano das crianças,

O brincar ou a brincadeira - considerados com o mesmo significado neste texto - é atividade principal da criança. Sua importância reside no fato de ser uma ação livre, iniciada e conduzida pela criança com a finalidade de tomar decisões, expressar

sentimentos e valores, conhecer a si mesma, os outros e o mundo em que vive. Brincar é repetir e recriar ações prazerosas, expressar situações imaginárias, criativas, compartilhar brincadeiras com outras pessoas, expressar sua individualidade e sua identidade, explorar a natureza, os objetos, comunicar-se, e participar da cultura lúdica para compreender seu universo. Ainda que o brincar possa ser considerado um ato inerente à criança, exige um conhecimento, um repertório que ela precisa aprender (KISHIMOTO; FRYBERGER, 2012, p.11)

É lamentável quando encontramos pais e educadores que tentam isolar esta prática tão importante na vida das crianças. É brincando que as crianças expressam seus pensamentos e suas emoções advindas dos sons e da música.

Quando a música é inserida no cotidiano das crianças, seja através dos jogos musicais ou brincadeiras como as cantigas de roda, seja através de um momento de audição na escola, o professor de educação infantil estará oportunizando momentos de interação com os elementos sonoros existentes na música.

Farias (2011 p. 23), ao tratar em sua dissertação sobre o uso da música no processo ensino-aprendizagem, menciona a música como uma linguagem capaz de manifestar todos os sentidos do homem “e de maneira geral pode despertar a vontade de cantar, dançar e compor. Mas, também pode mexer com seus sentimentos, seja de felicidade ou de tristeza quando a letra de uma música o faz lembrar-se de algo”.

Esses estímulos são muito bem vindos quando acontecem em espaços educativos os quais o professor de educação infantil, ao perceber o contexto sonoro, usa-o para associar ao assunto estudado com as crianças. Apresentar ao pequeno estudante elementos sonoros existentes no contexto escolar como os sons dos pássaros pela manhã, o barulho das cadeiras, a voz de meninos e meninas, assim como atividades de confecção de chocalhos pode ser excelente estímulo perceptível que a criança poderá receber.

Ferramentas como CD’s com sons de animais como papagaio, cachorro, araras, gatos entre tantos, podem ser elementos instigantes nas aulas de educação infantil, “os professores devem levar em consideração que [...] inserir sons provocados por animais, poderá despertar nos alunos a curiosidade em distinguir a onomatopeia4 produzida na natureza, assim como o entendimento do comportamento dos animais”. (FARIAS; FACHÍN-TERÁN, 2011, p. 53)

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Os elementos da cultura podem ser aprendidos e utilizados como um recurso de grande expressividade pelas crianças, onde a escola exerceria a função de desenvolver e dar vida às expressividades da criança. Na comunicação, no canto, na expressão é necessário que a criança receba devida atenção por parte dos professores, suas habilidades perceptivas devem ser incentivadas na sociedade. Ao tratar sobre os sons do cotidiano das crianças em seu texto Práticas Musicais na Educação Infantil, Maffioletti (2001, p. 127) revela que:

As crianças aprendem a utilizar os recursos expressivos de sua cultura. Falam alto quando querem chamar a atenção, falam baixo para contar um segredo e usam adequadamente o tom de voz para mostrar seriedade ou brincadeira... As crianças são muito receptivas a esses sons, decifrando e criando significados. Seria uma lástima que perdessem essas habilidades por ocasião de sua entrada na escola.

A autora levanta uma discussão afirmando que as crianças trazem consigo certo repertório musical aprendido, muitas vezes, com os pais ou com a mídia televisiva por meio de programas e desenhos animados infantis. É sabido que esse repertório, por vezes, não se trata somente de verbalizações e músicas infantis, mas daquilo que a criança percebeu e aprendeu no seu contexto cultural familiar.

A música faz parte do incentivo para as crianças desenvolverem relações e inteligências múltiplas. Para Gardner (1994) a inteligência pode ser definida como uma competência intelectual, junto a um conjunto de habilidades que capacita o indivíduo a resolver problemas do seu cotidiano. Logo, para ele, uma inteligência é a capacidade de resolver problemas ou criar produtos que sejam valorizados dentro de um ou mais cenários culturais.

Ao tratar sobre a inteligência musical, Gardner (1994, p. 79) afirma que:

De todos os talentos em que os indivíduos podem ser dotados, nenhum surge mais cedo do que o talento musical. Embora a especulação em torno desta questão tenha sido abundante, permanece incerto exatamente porque o talento musical surge tão cedo e qual poderia ser a natureza desde dom. Um estudo da inteligência musical nos pode ajudar a entender o saber especial da música e ao mesmo tempo esclarecer sua relação com outras formas do intelecto humano.

Este autor, em sua teoria sobre as inteligências múltiplas, explica que a inteligência musical, dá acesso ao indivíduo organizar sons de maneira criativa, a partir da discriminação de elementos como tons, timbres e temas, sendo desnecessário o aprendizado formal para exercê-la. Ele apresenta que, nas facetas evolutivas e neurológicas da música, há evidências de instrumentos musicais datados da Idade da Pedra, assim como há presença da música na

organização de grupos de trabalho, festas de caças e ritos religiosos. Em seus estudos sobre a ontogênese da música existe uma curiosa afirmação em suas observações sobre a linguagem humana e outras formas de comunicação animal, que parecem ser limitadas e controvérsias, mas segundo ele “há pelo menos um caso no reino animal cujos paralelos com a música humana são difíceis de ignorar: O canto dos pássaros” (GARNER, 1994, p. 90).

Em algumas espécies de pássaros, segundo o autor, existe um número significativo de registros de padrões sonoros, restritos a um único canto aprendido por todos os pássaros, até aqueles que são surdos. Já outras espécies apresentam uma gama de cantos e dialetos, porém, a dependência de estímulos ambientais é evidente.

Gardner (1994) expõe que o aspecto mais intrigante do canto dos pássaros, de um ponto de vista da inteligência humana, é sua representação no sistema nervoso, sendo o canto das aves, um dos poucos exemplos de habilidade regularmente lateralizada no reino animal. Esse estudioso da inteligência musical realizou experiências, junto a sua equipe, ao investigar o cérebro de algumas espécies e constatou que na parte esquerda do sistema nervoso dos pássaros está contido o canto, uma vez que sofra algum tipo de lesão, fará com que fique impossibilitado de cantar novamente.

Mesmo os pássaros estando de maneira tão distanciados dos seres humanos, o autor relata que “os primatas não apresentam nada semelhante ao canto dos pássaros, porém há indivíduos em muitas espécies que emitem sons expressivos que podem ser entendidos por muitos congêneres” (IDEM, p. 91).

A prática da música na educação infantil contextualiza o que o autor explica em sua teoria sobre a inteligência musical como a capacidade de produzir e apreciar ritmo, tom e timbre e como apreciação das formas de expressividade musical, permitindo a organização de sons de maneira criativa a partir da discriminação dos elementos musicais.

A inteligência musical se manifesta através do desenvolvimento de habilidades presentes na prática da musicalização infantil. A música na educação infantil poderá também ser levada para fora da escola, nas aulas-passeio e em espaços educativos de modo a ensinar sobre as diversidades da fauna e da flora, contribuindo para a formação do conhecimento de mundo das crianças.

No documento Raimundo Nonato Brilhante de Alencar (páginas 51-55)