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Apresentação, descrição e interpretação da seção

Estrutura da obra

3. No Mínimo Weblog: “a verdade está na Internet”

3.1. Apresentação, descrição e interpretação da seção

O site No Mínimo é um ciberjornal de acordo com os pressupostos teóricos grothianos, pois contempla as características citadas propostas nessa dissertação99. O registro desse domínio, segundo dados disponíveis no site

Registro.br100, data de 27 de maio de 2002 e pertenceu inicialmente à empresa Hipermídia Produções e Comunicação Ltda., sediada no Rio de Janeiro e que tinha como responsáveis pelo conteúdo Organização Não- Governamental Viva Rio e uma pessoa identificada Carla Rodrigues. Desde 12 de março de 2004, o domínio pertence à empresa Nominimo Comunicacoes, também sediada na capital fluminense e, na ocasião da

99 C.f. p. 29-33.

consulta, efetuada em 5 de novembro de 2005, tinha como responsáveis Anita Carnavale e Elisangela de Moraes Prado.

O site No Mínimo valoriza reportagens investigativas e caracteriza-se por ser exclusivamente um jornal de Internet, pois não apresenta versão impressa, televisiva ou radiofônica. A coluna de Pedro Doria101, intitulada No

Mínimo Weblog, acompanha notícias sobre temas variados, que podem

variar da Guerra do Golfo a curiosidades sobre sites e funciona geralmente como um digesto.

No Mínimo Weblog teve início em março de 2001, quando o site se

chamava No. Originalmente a coluna, atribuída a Pedro Doria, com a colaboração de Thaís Aguiar, era intitulada O que há. A página, nos seus primórdios, compunha-se de pequenos textos e não denotava hierarquização cronológica. A seção continha links comentados pelos autores. Em abril de 2002, o No. teve suas atividades interrompidas por problemas econômicos.

O projeto editorial do No. foi recriado em junho de 2002, com o título de No

Mínimo. Em agosto de 2002, surgiu a seção No Mínimo Weblog, assinada

por Pedro Doria, que se apresentava como uma retomada da proposta editorial de O que há. Nessa segunda fase, o blog assumiu as características de página organizada cronologicamente. A página de

101 O jornalista Pedro Doria é autor de três livros sobre o ciberespaço: Manual para a Internet (Rio

de Janeiro : Revan, 1995, 126 p.); Utopia eletrônica (Rio de Janeiro : Mauad, 1996, 140 p.) e, com Francisco Antonio Doria, o livro Comunicação: dos fundamentos à Internet (Rio de Janeiro : Revan, 1999, 312 p.).

hipertexto ressurgiu com o espaço para mensagens de leitores, o que reforçou o vínculo semântico da proposta com o conceito de weblog, um efeito obviamente já sublinhado no próprio título da página.

Esta análise vai abordar o discurso da seção a partir do momento em que ressurgiu, em agosto de 2002, com o nome de No Mínimo Weblog.

Além dessas características formais, vale observar que a coluna também abre discussão para notícias sobre jornalismo e sobre a rede. Geralmente, os títulos das notícias têm poucas palavras – muitas vezes apenas uma –, e, na maioria dos casos, não há verbo. Um fac-símile da coluna pode ser visto a seguir:

Figura 7: A coluna No Mínimo Weblog

Como podemos ver, no topo da página do No Mínimo Weblog, há uma barra de links para serviços oferecidos pelo provedor iBest, que abriga o site. Imediatamente abaixo, há um banner102 e, logo após, a data escrita em

102 Banner: Pequena mensagem publicitária inserida em uma página da web, com link para a

cinza, seguida da logomarca da seção: no mínimo (em caracteres minúsculos, escritos em cinza; o acento da palavra é marcado em vermelho e está perpendicular em relação à letra “i”, em vez de inclinado). Em vermelho, vê-se a palavra Weblog, com o “w” em maiúscula no mesmo tipo e corpo da expressão “no mínimo”. Imediatamente à direita, há dois textos com links com as mensagens “enviar” e “imprimir”. Por fim, em cinza, à esquerda, há a expressão (assinatura) “por Pedro Doria”.

Os textos são inseridos na parte central. A notícia é constituída de um título, seguido de uma marca gráfica que indica o dia da publicação e precede o texto. Os enunciados terminam, em alguns casos, com uma remissão, por meio de link, a um determinado site. Nessas situações, o discurso utiliza a expressão “via” e o nome do site. No corpo de cada enunciado, as citações são colocadas em itálico e as remissões de links aparecem em vermelho e sublinhadas.

A coluna estabelece convergência entre quatro aplicações do blog na imprensa:

1. A página apresenta-se em ordem cronológica reversa – o sinal mais facilmente identificável do conceito –;

2. A seção busca, na ferramenta de comentários, a criação de um espaço de discussão;

3. A coluna, igualmente, usa em quase todas as notícias recurso de

4. A fato de o discurso ser personalizado, pela atribuição da autoria a Pedro Doria, também estabelece um vínculo com o conceito de coluna jornalística e remete à idéia de home page pessoal.

A página é balizada por duas colunas. À esquerda há uma relação de autores e seções do jornal on-line No Mínimo, que termina com links de busca (“Busca avançada”) e uma apresentação institucional (“Quem somos”).

A coluna direita é encimada por um dispositivo de busca. A seguir, há uma relação de links para publicações jornalísticas nacionais e internacionais e de blogs, classificados sob os títulos “Mundo”, “Mídia”, “Ciência”, “Tecnologia”, “Sexo”, “Humor” e “Blogs”.

A coluna esquerda, inserida na página a partir de 24 de junho de 2003, é marcada pela exposição de links para o próprio jornal on-line; já a coluna da direita caracteriza-se como parte do ethos103 da seção Weblog, o que pode ser observado também no vínculo entre o vermelho do título e o vermelho dos links.

Nesses links, predomina o noticiário internacional, principalmente o anglófono. O enunciado é repleto de expressões em outros idiomas. O preponderância é do inglês, mas há também um caso de espanhol. Há, portanto, um “tom”, um ethos – no sentido que Maingueneau aplica ao

103 O conceito de ethos será aplicado nesta pesquisa do modo que Maingueneau o definiu: um

“tom”, que seria o modo como a cenografia construída na enunciação evoca uma forma de dizer (MAINGUENEAU, 1999).

termo –, atópico no discurso, que evoca a recomendação de Aristóteles no livro III, capítulo II, de sua Retórica: “On which account you should give a foreign air; for men, are admires of things out of the way, and what is an object of admiration is pleasant”104 (ARISTOTLE, 1994, p. 207-208).

Ainda em relação à coluna direita, entre os links de “Mundo”, há remissão para três publicações norte-americanas, o The New York Times, o

ArabianNews – apesar do nome e do foco nos países árabes, o site é

sediado em Ohio (EUA) e escrito em inglês – e o Eurasianet – apesar do nome e do foco na Ásia Central e no Cáucaso, o site é sediado em Nova Iorque e escrito em inglês –; duas britânicas, The Guardian e The

Economist; uma publicação espanhola, o El Pais; uma israelense, Ha’aretz

– cuja remissão é para a edição em inglês do jornal –; uma chinesa, Far

Eastern Economic Review – também redigida em inglês. De todas as nove

remissões, apenas uma é escrita em um idioma que não o inglês El Pais.

Em “Mídia”, há três indicações: o site noticioso brasileiro Blue Bus, o blog português Ponto Media e o blog norte-americano Media News.

Em “Ciência”, mais dois links para sites em inglês: Archaeologica News – que agrega notícias publicadas na imprensa anglófona sobre o tema – e a publicação britânica New Scientist.

Em “Tecnologia”, mais duas publicações anglófonas: Wired e Economist

Technology Quarterly.

104 “À audiência, deve-se dar um ar estrangeiro, porque os homens admiram as coisas que vêm de

Em “Sexo”, dois links anglófonos: Daze Reader e Eros Blog – que abordam o tema com humor.

Em “Humor”, um blog brasileiro, Eu Hein!, e um norte-americano, The

Onion.

Por fim, sob o título “Blogs”, há sete links. Destes, cinco são em inglês,

Metafilter, Guardian (o jornal é citado tanto na seção “Mundo” quanto na

seção “Blogs”), A&L Daily, Boing-Boing e Scripting News, e dois em português, InternetETC. e Filtro.

Vemos, portanto, 21 links para sites noticiosos ou blogs em inglês, um para um site em espanhol e cinco para sites ou blogs em português. Nesse arranjo, predomina o noticiário internacional, focado nas grandes manchetes (como em “Mundo”), na mídia, na ciência, na tecnologia, no fait divers105 (tanto na seção “Blogs” como na seção “Sexo”) e no humor, o que pressupõe, no caso dos dois últimos itens, uma disposição carnavalizadora no discurso106. A tematização do noticiário de No Mínimo Weblog reproduz o foco da seção de links e prioriza a pauta internacional, em detrimento da nacional.

Em relação à credibilidade, o discurso situa-se em um site jornalístico e desse status busca estabelecer a relação de confiança com o público. A

105 Fait divers deve ser compreendido neste contexto como notícia que desperta interesse do leitor

por implicar rompimento insólito ou extraordinário no curso dos acontecimentos.

106 O conceito de carnavalização aqui empregado remete-se à conceituação de Bakhtin (1999), ou

página, do mesmo modo, faz da propriedade remissiva do link um recurso de verossimilhança que evoca um efeito de real.

Podemos deduzir, nesse contexto, uma dêixis espacial articulada em um hic disfórico107, o Brasil, pois o foco de atenção, tanto do enunciador quanto dos co-enunciadores está no noticiário internacional. Essa percepção se acentua quando pesquisamos mais atentamente os enunciados. Observemos como o sujeito da enunciação projeta o ethos jornalístico. É o que veremos na análise de excertos da seção.

Oh, Calcutá! 108

04.Jan.2003 | "Descobri que ela tinha recebido dinheiro de ditadores ricos como a gangue Duvalier no Haiti, tinha sido amiga da pobreza e não dos pobres, nunca prestou conta alguma das enormes quantias de dinheiro que recebeu em doação, fez campanha contra o controle de natalidade na cidade mais populosa do planeta e serviu de porta- voz para os dogmas mais extremos do fundamentalismo religioso." O jornalista Cristopher Hitchens, colunista da revista Vanity Fair, está em campanha contra a transformação de Madre Teresa em santa. Para ele, a freira estimulou a miséria, desviou dinheiro e lutou contra todas as vitórias femininas do último século.

Hitchens depôs no Vaticano por conta do processo da madre – segundo ele, feito nas coxas. Antes, a igreja esperava dois milagres e sete anos para beatificar; à madre, bastaram quatro anos e um milagre. Sempre é convocado um "advogado do diabo" – o jargão é litúrgico – especialista neste tipo de processo. Desta vez, chamaram ele [sic] como que para minar a oposição. []

via Guardian Weblog

http://www.guardian.co.uk/weblog/

Why Mother Teresa should not be a saint http://www.mirror.co.uk/.../full&siteid=50143

O tema da notícia é o processo de canonização de Madre Teresa de Calcutá (1910-1997). Trata-se de um personagem, acrescente-se, preeminente, pois recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1979. O segundo antropônimo é o jornalista Cristopher Hitchens, figurativizado como “colunista da revista Vanity Fair”, uma destacada publicação nova-iorquina. O estatuto dos actantes reforça a tese de Gans (2004, p. 15) de que a posição social, econômica e cultural dos personagens do noticiário109 é um fator decisivo para a noticiabilidade:

108 O enunciado tem 1.164 caracteres, 179 palavras e 3 parágrafos.

109 A preeminência do actante Cristopher Hitchens decorre da associação ao título da publicação

“The Unknowns who appear in the news are, by most criteria, an unrepresentative lot; and most ordinary people never come into the news, except as statistics. How ordinary people work, what they do outside working hours, in their families, churches, clubs, and other organizations, an how they relate to government and public agencies hardly ever make the news.

The point is obvious, for it is built into the definition of news. Perhaps the place of ordinary people in the news is most dramatically illustrated by the day in 1974 when Congress approved a change in the pension law that affected millions of workers, and all news media, daily and weekly, gave far more space or time, as well as headlines, to the appointment of Nelson Rockefeller to the second-highest office in the land”.110

As fontes do noticiário, nas quais o texto se fundamenta e com as quais estabelece uma relação de interdiscursividade são duas: o blog em inglês do jornal britânico The Guardian e uma notícia publicada no jornal The

Mirror, do Reino Unido, o que torna o discurso uma paráfrase e situa-o

como digesto. Trata-se de uma narrativa que ser qualificada como “de encaixe”, como Todorov (1969, p. 126) a definiu:

“O encaixe é uma explicitação da propriedade mais profunda de toda a narrativa. Pois a narrativa encaixante é a narrativa de uma narrativa (...) ser a narrativa de uma narrativa é o destino de toda narrativa que se realiza através de encaixe”.

110 “Os desconhecidos que aparecem nas notícias são, pela maior parte dos critérios, um punhado

não-representativo; e muitas pessoas comuns nunca aparecem no noticiário, exceto como estatística. Como as pessoas comuns comem, o que eles fazem depois do trabalho, em família, nas igrejas, clubes e outras organizações, e como eles se relacionam com o governo e as agências públicas raramente se tornam notícia.

O ponto é óbvio, para ser levado em conta na definição de notícia. Talvez o lugar das pessoas comuns nas notícias tenha sido mais dramaticamente ilustrado pelo dia, em 1974, quando o Congresso aprovou uma mudança na lei de pensão que afetou milhões de trabalhadores, e todos os órgãos jornalísticos, diários e semanais, deram mais espaço ou tempo, assim como as manchetes, à indicação de Nelson Rockefeller para o segundo maior cargo na terra”. [Tradução do autor]. Gans se refere no texto à indicação, em agosto de 1974, de Rockefeller para o cargo de vice-presidente dos EUA pelo então presidente norte-americano Gerald Ford.

O potencial remissivo dos links existentes, inclusive, reforça esse efeito “encaixante” do discurso. A citação, por sua vez, também conota um esforço de outorgar autoridade ao que é dito, como Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005, p. 201) ressaltam.

O enunciado, portanto, funda-se em duas narrativas anteriores, ambas em inglês. As fontes, acrescente-se, são notícias: o jornalista foi informado por meio da imprensa e não por meio de fontes, por exemplo, do Vaticano ou mediante entrevista com o segundo protagonista da narrativa, Cristopher Hitchens, o que seria mais usual segundo a práxis.

A notícia apresenta um título que evoca um duplo sentido. Remete tanto à peça teatral “Oh Calcutá”, que remonta à década de 1960 e que ficou famosa por colocar no palco atores nus, quanto ao topônimo que compõe o epíteto da líder religiosa macedônia, cujo nome real era Agnes Gonxha Bojaxhiu. O efeito irônico surge do contraste da associação entre a lubricidade que a lembrança da peça teatral evoca e a imagem de castidade associada à freira.

O título, acrescente-se, dirige-se a um enunciatário culto, cuja competência lingüística não só inclui o domínio do idioma inglês – o que o habilita a conferir, pelos links as informações –, como também está informado a respeito da história do teatro e, desse modo, do segundo sentido implícito na palavra. O uso da exclamação, que conota grito no discurso, cria um efeito de sentido de escândalo, que remete a um tipo de imoralidade não mais dirigido à questão do comportamento sexual – que seria o sentido da

troça com a peça –, mas sim de conduta venal e repressora, porque expõe um comportamento simultaneamente mesquinho, apegado a bens materiais, e opressivo, pois o antropônimo, no contexto do enunciado, “serviu de porta-voz para os dogmas mais extremos do fundamentalismo religioso” e “lutou contra todas as vitórias femininas do último século”.

O enunciado elabora uma etopéia111 do antropônimo da religiosa, que é introduzida no enunciado por meio de uma catáfora – o pronome pessoal na terceira pessoa do singular “ela”. A primeira frase do texto, que é também o primeiro parágrafo, é composta de uma oração principal –“Descobri” – e cinco orações subordinadas adjetivas cuja função (CUNHA, 1975, p. 559) é servir de adjuntos adnominais do actante Madre Teresa de Calcutá. Essas cinco orações, igualmente, funcionam como perífrases cujo propósito é caracterizar o antropônimo negativamente, o que é enfatizado na paronomásia “tinha sido amiga da pobreza e não dos pobres”.

Já as catáforas, que se observam tanto na oração principal – pois há um “eu” no discurso demarcado pelas aspas– quanto nas subordinadas – o “ela” –, criam uma tensão no enunciado que visa prender a atenção do internauta por meio da expectativa de revelação, de onomastização, dos actantes da narrativa.

O segundo antropônimo do enunciado, Cristopher Hitchens, caracterizado como “jornalista” e “colunista da revista Vanity Fair”, é também objeto de uma etopéia no discurso. Ele é apresentado como alguém comprometido

com a verdade, pois “descobre” as ações da religiosa e as revela, apesar de sua denúncia não surtir efeito, pois o julgamento teria sido realizado de modo inapropriado ou, como o enunciado apresenta disforicamente e disfemisticamente, “nas coxas”, conotando tanto descuido quanto também uma espacialização na qual o baixo é associado à desaprovação. Tal atitude cria um efeito de sentido irônico também, pois subverte a conotação de superioridade da entidade religiosa, associando a atitude das autoridades eclesiásticas à baixeza.

Como ilustração da precariedade do processo, o enunciado expõe que “chamaram ele como que para minar a oposição”, no sentido que a testemunha Cristopher Hitchens, por ser laica e criticar os dogmas católicos, serviria para desqualificar as críticas contra a religiosa no processo canônico. Ou seja, se fosse escolhido por exemplo um depoente que fizesse parte do clero ou tivesse ligações amistosas com o Vaticano, as críticas teriam peso maior. Ao escolher um leigo que esgrime argumentos contrários à doutrina oficial, os pontos negativos foram minimizados e valorizaram-se os argumentos a favor dela.

O discurso, implicitamente, rejeita o princípio da imparcialidade na ação jornalística, pois Cristopher Hitchens coloca-se contra a religiosa e se propõe a depor contra ela no processo canônico. O enunciado estabelece, nesse contexto, uma antinomia entre verdade e inverdade.

O discurso, acrescente-se, sanciona cognitivamente a ação do jornalista, e, ao onomastizá-lo, emprega-o como exemplo de atitude na profissão. Com

isso, portanto, defende a tarefa de investigar, descobrir e denunciar mazelas relativas a autoridades.

No enunciado a seguir, a situação se inverte, e o colunista repreende o encobrimento de informações:

Quando jornalistas não contam o que sabem112

27.02.2003 | Repórter de ciência do diário novaiorquino (sic) Newsday, premiada com o conceituado Prêmio Pulitzer, Laurie Garrett foi para Davos cobrir o Fórum Econômico Mundial. Leitores freqüentes deste Weblog conhecem a história. Da Suíça, disparou um longo email para os amigos contando o que viu e o que ouviu: uma carta pessoal rica em informação e observações. Entre outras coisas, ouviu dos chefes das polícias federais da Alemanha e da Arábia Saudita que quem tinha know-how de terror na Al Qaeda estava morto ou preso.

Aí a Internet fez sua mágica. Um dos amigos considerou o relato interessante e repassou-o para outros. O vírus espalhou-se, foi dar numa lista de mensagens cujos arquivos estão na web. Das caixas de email, virou página, de página link, caiu nos blogs. A trupe do Metafilter - os melhores caçadores e desbravadores de informação no mundo blogueiro - levantaram se a história era verídica ou não. Encontraram Laurie. Ela ficou danada da vida: sim, tinha mandado o email. Aquilo, reclamou, era uma invasão de privacidade.

Põe-se na conta dos causos da grande rede, levanta duas questões: primeiro, é uma invasão de privacidade? E, segundo, por que as informações não foram publicadas no jornal?

Quem é esperto sabe que, lá no Conselho de Segurança da ONU, rola um grande teatro. Os líderes do mundo sabem muito mais do que contam e o que contam é hipócrita. Uns conhecem as razões dos outros e elas não são trazidas a público. Das várias coisas que a repórter Laurie Garrett ouviu em Davos, esta do desmantelamento da Al Qaeda pesa qual chumbo na discussão que corre a respeito do Iraque. Mas ela ou seus editores julgaram que não cabia às páginas

impressas. Mais grave: ela ouviu numa pequena reunião a informação ao mesmo tempo em que outros jornalistas a ouviram. Eles, e seus editores, também julgaram que não cabia à publicação.

Um email pessoal, por uma questão de cortesia do remetente, não deve ser tornado público. É uma norma de etiqueta que vale desde os