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Estrutura da obra

1. Jornalismo e ciberespaço: o blog

1.5. O blog jornalístico

Um dos desdobramentos da difusão do blog no ciberespaço foi sua utilização para fins jornalísticos. Contudo, conforme já observamos, tal aplicação tem gerado muita polêmica entre profissionais da área. De um lado, há instituições e indivíduos que criaram blogs e os qualificam como uma forma de jornalismo; de outro, há quem resista à idéia.

Parte da celeuma em torno do assunto deve-se à polissemia tanto do termo “jornalismo” quanto do termo weblog. Afinal, do que está se falando quando

se discute o weblog como uma forma de imprensa? Qual é, propriamente, o foco do debate? A qual referente de jornalismo estamos usando quando discutimos a questão? O mesmo vale para o blog. Em que sentido empregamos a palavra? A uma família de programas de edição de hipertexto? Ou a páginas criadas nos domínios das empresas que oferecem espaço para a criação de blogs? São os diários on-line ou as home pages pessoais? São as coleções de links com comentários? Ou é a hibridização desses conceitos no ciberespaço?

Os críticos do uso jornalístico de weblogs salientam a informalidade e a pouca seletividade do formato, apontando-o como uma forma de expressão pessoal que não guarda nenhuma relação com jornalismo. Os jornalistas António Granado e Elisabete Barbosa (2004, p. 51), por exemplo, descartam a possibilidade de a atividade de publicação de blogs ser jornalística. Para eles, o conceito não se enquadra porque seus usuários não utilizam muitas fontes, costumam não editar seus textos e não adotam a imparcialidade. Nota-se, pela construção argumentativa do livro, que esses autores se referem a blogs como coleção de links e comentários, diários e home page pessoais e que, por extensão, associam a palavra a projetos amadorísticos, cuja finalidade não é apurar notícias, mas sim servir de diário público e/ou de caderno de anotações.

Um ponto de vista semelhante ao de António Granado e Elisabete Barbosa é defendido pesquisadora Rebecca Blood (2001b, p. 19):

“While I consider weblogs a vital component of a healthy media diet, in the end, weblogs and journalism are simply different things. What

weblogs do is impossible for traditional journalism to reproduce, and what journalism does is impractical to do with a weblog. To my mind, news reporting consists of interviewing eyewitnesses and experts, checking facts, writing an original representation of the subject, and editorial review: The reporter researches and writes a story, and his editor ensures that it meets her requirements. Each step is designed to produce a consistent product that is informed by the news agency's standards. Weblogs do none of these things.

Weblogs have no gatekeepers. They are generally produced in the maintainer's spare time. Webloggers do not employ fact checkers, and they answer to no one but themselves. Neither do webloggers generally produce their own articles about the events in their community, at least not the kind of articles that newspapers and magazines produce”35.

A autora, portanto, associa o conceito de blog a um empreendimento amadorístico, ou, pelo menos, não-jornalístico.

Entretanto, ciberjornais têm produzido páginas nesse formato em seus domínios na Internet. O fato de um weblog ser feito profissionalmente em uma empresa jornalística torna-o outra coisa distinta do termo? Seria então o não-profissionalismo uma sexta característica implícita da palavra, e, ao contrário das demais – que algumas vezes não são identificadas no objeto –,

35 “Apesar de considerar os weblogs como um componente vital de uma rica dieta de mídia, no fim

das contas, weblogs e jornalismo são simplesmente coisas diferentes. O que os weblogs fazem é impossível para o jornalismo tradicional de reproduzir, e o que o jornalismo faz é impraticável de ser feito em um weblog. Para mim, reportar notícias consiste em entrevistar testemunhas e especialistas, checar fatos, escrever uma perspectiva original sobre um assunto, e supervisão editorial: o repórter pesquisa e escreve a história, e seu editor assegura-se de que ela está de acordo com suas expectativas. Cada passo é desenvolvido para se alcançar um produto consistente que é divulgado de acordo com os padrões da agência de notícias. Weblogs não fazem nada disso.

Weblogs não têm supervisores [gatekeepers], eles são geralmente produzidos nas horas vagas

dos seus donos. Blogueiros não adotam a checagem de fatos, e eles não têm de responder a ninguém, exceto a si mesmos. Nem mesmo os blogueiros produzem seus próprios artigos a respeito dos eventos em sua comunidade, ao menos não o tipo de artigos que os jornais e revistas produzem”. [Tradução do autor].

um referente essencial para atribuir-lhe o nome? Ou ainda, inversamente, seriam não-jornalísticos – porque nem tudo que existe em um jornal é propriamente jornalístico, como a propaganda, por exemplo – os blogs produzidos nos ciberjornais?

Na opinião do jornalista norte-americano Dan Gillmor, o blog deve ser visto como um espaço de discussão com os leitores (BOWMAN e WILLIS, 2004). Na edição on-line do jornal The San Jose Mercury News, ele mantém uma seção intitulada Dan Gillmor’s eJournal36, composta por uma página no formato gerado por um software de edição do tipo blog, na qual o jornalista discute com internautas questões referentes aos temas que cobre, aproveitando profissionalmente as críticas, observações e sugestões de seus leitores, que acessam o autor por e-mail ou pela inserção de comentários na página. Portanto, neste caso, o blog seria meio pelo qual o jornalista pode aperfeiçoar suas habilidades (Id., Ibid.):

“Writing about technology in Silicon Valley, I used the blog to generate even more feedback from my audience. That audience, never shy to let me know when I get something wrong, made me realize something: My readers know more than I do. This has become almost a mantra in my work. It is by definition the reality for every journalist, no matter what his or her beat. And it’s a great opportunity, not a threat, because when we ask our readers for their help and knowledge, they are willing to share it – and we can all benefit”37.

36 Disponível em [http://weblog.siliconvalley.com/column/dangillmor/].

37 “Escrevendo sobre tecnologia no Vale do Silício, usei o blog para gerar ainda mais retorno do

meu público. Este público nunca se intimida em avisar-me quando nota um erro e faz-me entender algo: meus leitores sabem mais do que eu. Isso se tornou quase um mantra em meu trabalho. Esta é, por definição, a realidade para todos os jornalistas, não importa o que cubram, e é uma grande oportunidade, não uma ameaça, porque quando pedimos ajuda a nossos leitores ou buscamos conhecimento, eles se mostram dispostos a compartilhá-lo e todos nós podemos nos beneficiar.” [Tradução do autor].

Para Gillmor, por extensão, o propósito do blog é o de estreitar a relação com o público e, desse modo, contemplar a proposta grothiana de interesse geral, a qual o autor de Die Zeitung considerava tanto prioritária quanto difícil de se alcançar (GROTH, 1928, p. 45):

“Kein Leser hat für alles, was die zeitung gibt, Teilnahme, und sein Leben lang ringt der Journalist tagtäglich, auch bei der kleinsten Notiz, bewußt oder unbewußt, mit der Aufgabe, gerade das festzuhalten, was in der Fülle der Erscheinungen seine Leser am meisten zu fesseln vermag. Die Lösung dieser Aufgabe wird immer unvollkommen sein, das Ideal einer allgemein Interessierenden Zeitung ist unerreichbar. Daher sucht der Journalist wenigstens jedem Leser etwas zu bringen, wählt er das für sein Blatt, von dem er nach Erfahrung und Kenntnis seines Publikums annimmt, daß es den grössten Kreis interessiert.

Heute ist es dem Journalisten viel schwieriger geworden, das allgemeine Interesse zu erforschen, als in früherer Zeit. Die ungeheure Steigerung der Publizität hat auch die Beziehungsmöglichkeiten zwischen Zeitung und Abnehmer gelockert und verringert”.38

Aproveitando a discussão a respeito do caráter jornalístico do blog, seria possível considerar jornalística a seção Dan Gillmor’s eJournal do The San

Jose Mercury News, ou seria um produto não-jornalístico inserido no jornal?

38 “Nenhum leitor participa de tudo que o jornal fornece, e, durante toda a sua vida, o jornalista

esforça-se diariamente, inclusive com as ínfimas notas, consciente ou inconscientemente, na tarefa de manter firme aquilo que, na plenitude das manifestações, consegue cativar mais seus leitores. A solução para essa tarefa sempre será imperfeita, o ideal do jornal de interesse geral é inatingível. Portanto, o jornalista procura trazer a cada leitor ao menos alguma coisa; ele escolhe para o seu jornal aquilo que ele, pela experiência e pelo conhecimento de seu público, considera que possa interessar o maior número de pessoas.

Hoje em dia tornou-se para o jornalista mais difícil investigar o interesse geral do que antigamente. O tremendo incremento da publicidade [observação: a palavra ‘publicidade’, no contexto do enunciado, remete ao sentido de ‘espaço público’, e não à acepção mais corriqueira, de propaganda] fez perder e reduzir também as possíveis relações entre o jornal e o consumidor”. [Tradução do autor, sob a supervisão de Elisabeta Santoro].

A resposta é complexa. Trata-se de um conteúdo que contempla os seguintes requisitos estabelecidos aqui nesta dissertação: é produzido no modo de verdade, modalizado no propósito de “fazer-saber”, é produzido intensivamente, o que definimos como uma alternativa à periodicidade, contempla o requisito da aparição pública, está calcado na atualidade e é produzido profissionalmente. Duas propriedades distintivas, porém, ficam a desejar, que é a diversidade de conteúdo – trata-se de uma seção especializada – e o princípio do interesse geral. Sobre essa última, inclusive, o autor de Die Zeitung considerava-a um traço essencial do jornal. Por isso, para ele, revistas especializadas não podem ser incluídas no conceito de jornal por suas próprias características editoriais (GROTH, 1928, p. 49):

“Die Universalität und die Allgemeinheit des Interesses unterscheiden die Zeitung von der grossen Gruppe jener Zeitschriften, deren Inhalt, wenn sie auch einmal oder öfter in der Woche, ja täglicht erscheinen, genau begrenzt ist durch ein bestimmtes fachliches, berufliches, behördliches, kirchliches oder örtliches Interesse - Fachzeitschriften im weitesten Sinn des Wortes”.39

O teórico alemão pensava o jornal como totalidade. E, nesse sentido, o The

San Jose Mercury News é um produto jornalístico. A peculiaridade da

especialização é, no contexto, um esforço da publicação de atender à demanda da diversidade de conteúdo. Pode-se, portanto, concluir que a proposta é jornalística, mas ela só faz sentido como jornalística se encarada

39 “Universalidade e interesse público diferenciam o jornal do grande grupo de revistas cujo

conteúdo, mesmo que apareça com mais freqüência que semanalmente, ou até diariamente, é limitado por uma determinada especialização técnica, ocupacional, doutrinal, clerical ou de interesse setorial – falamos de revistas especializadas, no sentido mais amplo da palavra”. [Tradução do autor, sob a supervisão de Elisabeta Santoro].

como parte de um conjunto de ofertas de conteúdo ao público, mais especificamente como coluna jornalística.

Dan Gillmor também compreende o blog como uma espécie de jornalismo amador. Nesse caso, ele associa o conceito ao puro e simples ato de “fazer- saber”, e aí a dissertação, por adotar os pressupostos grothianos, diverge da idéia. Esse efeito de sentido no discurso de Gillmor pode ser observado quando o autor apresenta o blogueiro como um novo tipo de panfletista (BLOOD, 2002a, p. 175):

“No question, this is another kind of journalism. Technology has been leading us toward new ways of looking at things, and the idea of talented amateurs becoming part of the conversation is just the next logical step. It’s the model of the pamphleteer journalist. Will the pamphleteer journalist become Gannett40? No, but I don’t think the pamphleteer wants to be Gannett”41.

O jornalismo panfletário a que Gillmor se refere, contudo, não implica necessariamente uma iniciativa amadorística, pode ser também uma atividade profissional, fruto de um empreendimento econômico, como ressalta Otto Groth (1928, p. 79):

“Gegen die Aufnahme der 'wirtschaftlichen Unternehmung' (oder 'gewerbsmäßigen Herstellung') unter die Begriffsmerkmale der Zeitung ist eingewandt worden, daß dieses Merkmal fehle bei jenen

40 Frank Ernest Gannett (1876-1957) foi um dos maiores proprietários de jornais dos EUA. Criou

uma rede de comunicação em cidades norte-americanas. Ao morrer, tinha 22 jornais e sete estações de rádio.

41 “Sem dúvida, [o blog] é um novo tipo de jornalismo. A tecnologia tem nos levado para novas

formas de olhar as coisas, e a idéia de talentosos amadores tornarem-se parte da conversa é somente o próximo passo lógico. É o modelo do jornalista panfletário. Será que um jornalista panfletário vai se tornar Gannett? Não, mas eu não acho que o panfletário queira ser Gannett.” [Tradução do autor].

Zeitungen, die von politischen Parteien zur Beeinflussung von Wählern oder von einzelnen Privaten zur Vertretung politischer, wirtschaftlicher, künstlerischer oder anderer Interessen oder von Regierungen zu offiziellen und offiziösen Verlautbarungen oder zur Leitung der öffentlichen Meinung gegründet worden seien. Diese zeitungen mögen zwar nicht in erster Linie des Gewinnes wegen arbeiten, aber gewerblich-wirtschaftlich arbeiten auch sie, und auch sie wollen die höchstmöglichen Einnahmen erzielen, die bei Verfolgung und Wahrung ihrer sonstigen Zwecke zu gewinnen sind. Darin gibt es unter den Zeitungen keinen begrifflichen Gegensatz”42. Ainda sobre a proposta jornalística de criar um espaço de discussão na forma de weblog, pode-se citar o Slashdot43, que é apontado como um exemplo de um novo tipo de jornalismo, esse nomeado de open source44. Cada notícia é comentada por vários internautas, que inserem comentários na mensagem (MOURA, 2002):

“O seu funcionamento, embora se assemelhe ao do fórum normal, apresenta algumas peculiaridades que estabelecem a diferença. O utilizador envia, através de uma ‘submissions bin’, a informação que deseja pôr online e que pode assumir os mais diversos formatos: um

42 “Contra o reconhecimento do ‘empreendimento econômico’ (ou ‘produção profissional’) entre as

características conceituais do jornal, argumenta-se que tal traço se perderia naquelas publicações que são concebidas por partidos políticos para influenciar eleitores, ou por particulares para defender interesses políticos, econômicos, artísticos, ou ainda pelos governos para anúncios oficiais ou oficiosos, ou para dirigir a opinião pública. Essas publicações podem não buscar primeiramente o lucro, mas também funcionam sob uma lógica econômico-comercial, e elas também visam obter o mais elevado rendimento possível, que será conquistado perseguindo e mantendo seus propósitos. Neste ponto não há, entre os jornais, contraste conceitual”. [Tradução do autor, sob a supervisão de Elisabeta Santoro].

43 Disponível em [http://slashdot.org/].

44 Open source significa “fonte aberta”, e refere-se originalmente a um grupo de software cujo

código-fonte, ou seja, a linguagem de programação, pode ser acessada livremente. A maioria dos códigos-fontes comerciais, como os programas da Microsoft, por exemplo, são fechados, ou seja, eles são protegidos por sistemas de criptografia e o conteúdo encontra-se garantido pela lei dos direitos autorais. A locução open source adquiriu, por extensão, o sentido de produtos desenvolvidos com base na cooperação espontânea de especialistas e não-especialistas. O jornalismo open source seria um jornalismo produzido dessa maneira.

texto, um link, um fragmento de uma página Web, (...) [sic]. Se o assunto for considerado relevante, actual ou apelativo, será escolhido e publicado por um dos editores do Slashdot que, diariamente, seleccionam entre os artigos submetidos aqueles que preencherão o site, escolhendo os melhores ou mais actuais para a primeira página e dividindo os restantes pelas diversas secções listadas à esquerda da página. Sob cada secção listada surge a data do último artigo ali colocado e o número de artigos publicados no próprio dia. Aos artigos é atribuído um ícone, que imediatamente elucida o leitor sobre o assunto (‘topic’) a que se refere. O artigo publicado é, muitas vezes, apenas o início de uma longa lista de comentários que, como em qualquer fórum, acabam por ser não só reacções ao artigo inicial mas também reacções a reacções. Como muitos dos utilizadores do Slashdot são especialistas, ler os comentários pode muitas vezes ser mais produtivo que ler o próprio artigo”.

O Slashdot seria, contudo um produto jornalístico ou algum tipo novo de jornalismo? Trata-se de um discurso que se apresenta no modo de verdade e cujo propósito é “fazer-saber”. Não se caracteriza pela periodicidade, contudo, mantém uma atualização constante das páginas, contempla o princípio da aparição pública, tem um discurso fundamentado na atualidade e caracteriza-se por ser um empreendimento comercial, fruto de uma atividade profissional. O site, porém, apresenta um conteúdo especializado e, por extensão, pouco diversificado, o que o distancia do constructo de jornal aplicado aqui nesta investigação.

Já o jornal O Globo mantém, na seção Blogs45, páginas de hipertexto de 14 jornalistas da empresa nesse formato. Nelas, os autores publicam notícias, dialogam com os usuários, comentam aspectos do noticiário e discutem questões profissionais e pessoais. A acepção do conceito de blog aparece na

forma do produto um de software de edição de hipertexto com espaço para comentários. A personalização do espaço, a delegação de uma área do jornal

on-line para esses profissionais, evoca igualmente o conceito de coluna do

jornalismo impresso. Seria esse projeto jornalístico? Se o pensarmos do mesmo modo que a coluna de Dan Gillmor, sim, pois ele integra um conjunto de ofertas de conteúdo ao público.

Figura 5: Página de blogs de O Globo on-line46

46 Disponível em [http://oglobo.globo.com/online/blogs/Default.asp], acessado em 29 de agosto de

Outro exemplo de aplicação do blog em produtos jornalísticos é o do site

Christian Science Monitor47, que qualifica de weblog uma página com chamadas para notícias da própria publicação na Internet (BLOOD, 2002a, p. 21). A proximidade do conceito, nesse caso, decorre da idéia de blog como página com comentários e links e também do fato de ser uma página com textos dispostos em ordem cronológica. Jornalisticamente, a proposta também se encaixa no constructo, pois se expressa no modo de verdade, trata-se de um discurso cuja proposta é “fazer-saber”, mantém uma atualização pública, está acessível a todos, oferece diversidade de conteúdo, visa ao interesse geral, está calcado na atualidade e trata-se de uma produção profissional.

47

Trata-se da seção Latest News in Brief. Disponível em [http://www.csmonitor.com/newsinbrief/brieflies.html]. Acessada em 8 de março de 2003.

Figura 6: A seção Latest News in Brief, do Christian Science Monitor48

A discussão sobre o potencial jornalístico do blog é também objeto da análise de Fernando Zamith (2004), pesquisador da Universidade do Porto. O autor vê no conceito um suporte para a produção de hipertextos. Para ele, a potencialidade do weblog como recurso jornalístico está nas características do software de publicação, que oferece espaço para título e

48 Disponível em [http://www.csmonitor.com/newsinbrief/brieflies.html]. Acessado em 6 de fevereiro

um lugar para o texto – em que a notícia é inserida–, permite atualização rápida e hierarquiza o conteúdo cronologicamente. O referido autor, portanto, encara o blog como um molde de página, que pode ser utilizado jornalisticamente. Tal perspectiva converge com a visão grothiana, que considerava a forma pela qual se apresenta o discurso jornalístico pouco relevante (GROTH, 1928, p. 28):

“Es ist möglich, daß Publikationen, die alle Merkmale der Zeitung besitzen, nicht auf dem Wege des Druckes vervielfältigt werden, und dafür haben wir Beispiele in der Vergangenheit und Gegenwart, wie auch in der Zukunft noch unbekannte Möglichkeiten der Vervielfältigungsverfahren liegen”.49

O próprio caso do site Blue Bus, apontado como um dos pioneiros do formato na Internet brasileira nesta dissertação poderia ser considerado jornalístico? Entendemos que sim, isso porque ele contempla as características citadas nessa dissertação de um discurso produzido no modo de verdade com o intuito de “fazer-saber” e de atender às características definidas por Groth de aparição pública, diversidade de conteúdo, de produzir notícias de interesse geral (apesar de o foco principal ser o de informações da área de mídia50), estar calcada na contemporaneidade e caracterizar-se pela produção profissional.

49 “É possível que publicações que tenham todas as características do jornal sejam reproduzidas

por meios outros que a impressão. Temos exemplos disso no passado e no presente, assim como também no futuro, onde residem possibilidades de reprodução ainda desconhecidas”. [Tradução do autor, sob a supervisão de Elisabeta Santoro].