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3. INOVAÇÕES DOCENTES NA FORMAÇÃO INICIAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA:

3.2 Estudo de campo: inovações docentes na formação inicial

3.3.2 Apresentação dos entrevistados

A tabela 1 apresenta o perfil profissional dos sujeitos selecionados para a entrevista:

Tabela 1. Perfil profissional dos sujeitos qualificados para a entrevista.

Classificação Sujeito Pseudônimo Titulação Tipo de instituição de ensino superior Projeto de pesquisa Projeto de extensão Produção bibliográfica sobre a temática 1° 30 Contorcionista Doutorado Universidade

pública federal Tese 0 8

2° 1 Tecidista Mestrado Faculdade privada Dissertação 1 23

3° 22 Malabarista Doutorado Faculdade privada Laboratório

de pesquisa 2 2

4° 5 Palhaço Mestrado Universidade

pública federal

Tese em

andamento 0 3

5° 4 Trapezista Doutorado Universidade

pública federal Tese 5 -

6° 12 * Mestrado Universidade

pública estadual

Tese em

andamento 3 16

7° 16 ** Mestrado Universidade

pública estadual Dissertação 1 12

* O sujeito 12 participou como estudo piloto da metodologia da pesquisa. ** O sujeito 16 não respondeu aos convites para a entrevista.

Para manter o anonimato dos sujeitos participantes, adotamos pseudônimos “circenses”, ou seja, denominações que aludem a distintas especialidades dos artistas circenses, valorizando as criações e apresentações de “acrobacias científicas” dos sujeitos no picadeiro da formação inicial em Educação Física.

Os seis primeiros sujeitos aceitaram participar da entrevista, realizadas entre agosto de 2014 e abril de 2015. Contudo, o sujeito 5 (7ª colocação) não respondeu aos convites para a entrevista, e o sujeito 12 (6ª colocação) foi entrevistado no estudo piloto visando a aprimorar o instrumento de coleta de dados (roteiro da entrevista) e, portanto, as informações oferecidas por ele não fazem parte da análise final. Como os critérios de classificação de especialistas na temática não indicou outros sujeitos além desses sete selecionados, mantivemos esses parâmetros mesmo com a desistência do sujeito 5. Optamos por realizar o estudo piloto com um dos sujeitos dessa seleção, pois como a pesquisa se dedica ao relato das experiências realizadas pelos docentes, a readequação do roteiro de pesquisa dependia também do conteúdo exposto em seu discurso. Essa opção foi bem-sucedida, pois nos ajudou a qualificar o instrumento e alcançar maior profundidade nas demais entrevistas, desenvolvendo subtópicos relacionados a uma atuação especializada, algo que não

prevíamos na primeira versão do roteiro e que possivelmente não seria identificado em uma entrevista piloto com docentes não especializados na temática. Com exceção da entrevista com o sujeito 30 (Contorcionista), realizada por videoconferência, as demais foram presenciais, atendendo datas e horários indicados pelos sujeitos.

3.3.2.1 A Contorcionista

A Contorcionista (sujeito 30) possui graduação em Educação Física, pós- graduação lato sensu em “Pedagogia do movimento”, e mestrado em Educação Física nessa mesma linha de pesquisa. A docente concluiu seu doutorado em Educação em 2014 e sua tese versa sobre o Circo na formação inicial em Educação Física, explorando as representações e significados do Circo nessa área de atuação. Grande parte de suas produções bibliográficas versam sobre as possibilidades pedagógicas desse saber no ensino fundamental. Em suas respostas às questões 3.2 e 3.3, a Contorcionista demonstrou domínio conceitual sobre o Circo como saber na Educação Física.

A Contorcionista tem 10 anos de atuação na formação inicial em Educação Física, tendo atuado em uma faculdade e em um centro universitário privados, e atualmente é docente em uma universidade federal pública. Ela atua em disciplinas relacionadas a linguagem e expressão corporal – disciplina em que são abordados o Circo, a ginástica e a dança.

A Contorcionista começou a pesquisar o Circo a partir do interesse de seus alunos em orientações de trabalho de conclusão de curso. A partir disso, a docente passou a buscar formas de se capacitar para as discussões sobre a temática por meio de cursos, oficinas, pesquisas bibliográficas e participação em grupos de estudos, algo que posteriormente inspirou sua tese de doutorado.

3.3.2.2 A Tecidista

A Tecidista (sujeito 1) possui graduação em Educação Física; pós- graduação lato sensu em “Educação pela arte”; mestrado em Educação Física, com dissertação sobre o tecido acrobático, em que analisou o efeito de um programa dessa modalidade para o desenvolvimento motor de crianças; e atualmente cursa doutorado

em Educação. Essa docente se destacou entre os participantes pela pluralidade de apresentações de trabalhos em congressos e numerosas produções técnicas (cursos de curta duração) sobre o universo circense. A Tecidista possui seis anos de atuação na formação inicial em Educação Física em quatro instituições de ensino superior diferentes (uma pública e outras três privadas).

Seu interesse pelo Circo surgiu a partir de uma oficina de malabarismo ocorrida em um encontro de estudantes de Educação Física, o que chamou atenção da Tecidista para as possibilidades pedagógicas dessa prática na escola e em outras áreas de atuação. A partir disso, ela abordou a relação histórica entre o Circo e a Educação Física como tema para o Programa de Educação Tutorial (PET) durante a sua formação inicial, projeto de pesquisa que a levou a uma imersão no universo circense e resultou em um estudo sobre o Circo na escola:

Começou toda vez que vinha um Circo para minha cidade, eu ia para esse Circo fazer pesquisa, fazer amizade. O primeiro de todos foi o Orlando Orfei, onde acabei me aprofundando no ambiente, indo todos os dias ao Circo. Arranjei um namorado no Circo, fiz amizades, saía toda noite com eles, pois ficaram muito tempo na minha cidade devido a um problema com a lona. Conheci a artista de tecido acrobático, Amanda Orfei. [...] E foi aí que ela aceitou ensinar um pouquinho dessas técnicas para mim [e minhas amigas]. (Entrevista com a Tecidista – linhas 62-72)

A partir dessas experiências, ela passou a aprofundar os seus estudos sobre Circo e, posteriormente, a promover esse saber em sua atuação na formação inicial em Educação Física. A Tecidista relatou que as duas principais motivações que ela tem para realizar essas iniciativas é a sua experiência pessoal com o Circo, que foi significativa e impactante em sua carreira acadêmica, e a carência da formação inicial em abordar as artes.

3.3.2.3 O Malabarista

O Malabarista (sujeito 22) possui licenciatura plena em Educação Física; pós-graduação lato sensu em “Psicopedagogia” e em “Educação Física escolar”; mestrado em Educação Física, com tema de dissertação sobre cultura corporal e Educação Física escolar; e doutorado em Educação Física, com tese voltada para a formação de professores para atuação em Educação Física escolar. O Malabarista

coordena um laboratório de pesquisa e estudos sobre a arte e a cultura circense, e conduz uma disciplina eletiva sobre Circo na Educação Física. Ele atua há 16 anos na formação inicial, tendo experiência em 12 instituições de ensino superior privadas e coordenação de 3 cursos de graduação em Educação Física.

Sobre a sua formação, o Malabarista afirmou: “o meu foco é educação, eu me autodenomino professor antes de professor de Educação Física, então gosto muito de atuar na licenciatura, na formação de professores” (Entrevista com o Malabarista, linhas 217-219). Dessa forma, suas propostas visam a utilizar o Circo como um recurso pedagógico nesse campo de atuação:

O Circo não é meu fim, é um meio. Então eu usei o Circo durante todo esse tempo como uma possibilidade de pensar as práticas corporais; eu defendia o Circo como patrimônio cultural da humanidade, em que as práticas corporais são muito fortes. E dentro da dinâmica da cultura corporal, o Circo tem tanto lugar quanto o esporte, a luta e assim por diante. [...] então eu me sinto mais tranquilo em navegar no universo do Circo, mas pisando muito solidamente na pedagogia, muito mais do que na arte circense. (Entrevista com o Malabarista, linhas 192- 196)

O Malabarista trabalhou pela primeira vez com o Circo como conteúdo em uma disciplina sobre aprendizagem e desenvolvimento motor, na qual a metodologia de ensino visava o planejamento participativo e um dos alunos sugeriu que fosse abordada essa arte:

Isso me chamou muito a atenção, porque pelo limite de possibilidades das outras opções, o Circo era o que mais dava possibilidades. Então eu tinha, desde os números de acrobacias que alguns poderiam fazer, até o jogo de palhaços. Fechamos. (Entrevista com o Malabarista, linhas 75-78)

Apesar do Malabarista não possuir nenhuma formação específica em Circo, ele conduziu a disciplina estudando as tarefas motoras das práticas circenses, relacionando os seus aspectos artísticos, técnicos e culturais com a prática pedagógica da Educação Física, o que lhe revelou diversas possibilidades de estudo e investigação. Essa primeira experiência com o Circo na formação inicial foi um marco na atuação do Malabarista, passando o Circo a constituir uma de suas áreas de estudo.

3.3.2.4 O Palhaço

O Palhaço (sujeito 5) é graduado em Educação Física e concentra seus estudos nas aproximações possíveis entre o teatro e a Educação Física, tema inclusive debatido em sua dissertação de mestrado:

Então no mestrado fiz uma pesquisa sobre clown com os acadêmicos de Educação Física, de iniciação ao clown. Questionei: como o palhaço pode estar dentro da Educação Física para o trabalho artístico, para um corpo mais artístico, para um corpo mais voltado para isso, partindo de uma perspectiva de que a Educação Física aborda hegemonicamente um corpo forte, saudável, e bonito, enquanto que o clown vai na contramão disso. (Entrevista com o Palhaço, linhas 54-59)

Conforme frisou durante a entrevista, apesar do termo “clown” no inglês ter sua tradução literal em “palhaço” no português, existem diferenças entre ambos. As propostas do sujeito se concentram no “clown teatral”, e essa foi uma experiência que o conduziu a explorar essa possibilidade circense. Atualmente, o sujeito realiza sua pesquisa de doutorado sobre o teatro físico de Jacques Lecoq.

Sua atuação na formação inicial em Educação Física soma 4 anos de experiência na mesma instituição de ensino superior pública estadual em que se formou, onde atua com disciplinas na área sociocultural e na especialidade de ginástica. O Palhaço também atua como docente no curso de Artes Cênicas, no qual ministra as disciplinas “Técnicas Circenses I” e “Técnicas Circenses II”, sendo estas suas primeiras experiências com o Circo no ensino superior.

O Palhaço relatou que uma de suas linhas de pesquisa é “atividades circenses”, e que os primeiros contatos com o Circo foram por meio de sua participação em um grupo de ginástica para todos, projeto de extensão da instituição de ensino superior em que estudou. Esse grupo desenvolveu uma coreografia com o tema Circo, o que o conduziu a experimentar e vivenciar o malabarismo, as acrobacias circenses, e o tecido acrobático. Surge daí a motivação do Palhaço em oferecer esse saber na formação inicial em Educação Física, pois ele percebeu que o Circo combina os elementos artísticos que ele apreciava no teatro com os elementos corporais que ele vivenciava na ginástica para todos.

Vejo o Circo como algo muito completo. Sou suspeito para falar, mas a completude que ele tem, fazendo com que a pessoa tenha uma

formação ampla [...]. Então essa motivação pessoal vem no sentido da pessoa ter possibilidade de se manifestar artisticamente e compreender isso por meio do corpo, sentir isso, o que é muito rico. Quando você coloca alguém para fazer algo que mexe, e parto da perspectiva de que a arte tem o papel de mexer com a gente, seja de forma positiva ou negativa. (Entrevista com o Palhaço, linhas 288-299)

3.3.2.5 O Trapezista

O Trapezista (sujeito 4) possui graduação em Educação Física, mestrado em Educação na linha de pesquisa cognição e aprendizagem escolar e doutorado em Educação Física. Sua tese abordou o Circo na formação inicial em Educação Física, analisando de que forma esses saberes podem ser desenvolvidos em situação real de ensino em uma escola pública (estágio curricular do curso de licenciatura em Educação Física).

O sujeito atua há 17 anos na formação inicial em Educação Física na mesma instituição de ensino superior pública federal. Seu primeiro contato com o Circo ocorreu por meio de um curso de formação continuada ocorrido em um evento de ginástica para todos que abordou o malabarismo e as acrobacias aéreas. A partir dessa experiência, o Trapezista passou a promover projetos de extensão universitária sobre Circo na instituição em que atua. A primeira iniciativa foi a coordenação de um curso de extensão ministrado por um de seus ex-alunos que trabalhava como artista circense. O Trapezista também participou como aluno desse curso e a partir disso passou a difundir a temática no âmbito do ensino, como parte do conteúdo de uma disciplina na área da ginástica. Esse curso de extensão ocorre há 12 anos sem interrupção, com novas edições a cada ano.

[...] então o Circo para mim caiu como algo que faltava na Educação Física, como algo para mexer na Educação Física e para mexer no ser humano, mexer com tudo que a gente já tinha construído e teve que reconstruir com as atividades circenses. O Circo para mim, ele veio como o prazer. (Entrevista com o Trapezista, linhas 559-563)

4. AS POTENCIALIDADES DO CIRCO NA FORMAÇÃO INICIAL EM EDUCAÇÃO