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2. O CIRCO COMO SABER NA EDUCAÇÃO FÍSICA: A FORMAÇÃO INICIAL EM

2.3 Circo na formação inicial em Educação Física

Quando passamos a enfocar as expressões dos saberes circenses no campo de atuação do profissional de Educação Física, percebemos que o reflexo

destas questões relacionadas às perspectivas de formação profissional está presente na forma como esse saber vem sendo desenvolvido na área. Visando a compreender essas expressões, optamos por apresentar alguns termos que auxiliarão a leitura desse cenário e a compreensão dos objetivos de diferentes formas de apropriação da linguagem circense na Educação Física.

Bortoleto (2014) sugere o verbete atividades circenses para designar aquelas propostas pedagógicas inspiradas no Circo, e que se destinam a apresentar esses saberes na Educação Física. Em suas palavras:

Para este território, a expressão atividades circenses, considerando “atividades” no sentido dado pelo Coletivo de Autores (1992), parece abarcar melhor os objetivos e as possibilidades próprias da Educação Física, estabelecendo, ainda, um espaço de diálogo e respeito para com o circo e seus sujeitos históricos, sem almejar mesclar-se a eles. [...] Nesse sentido, é preciso discernir o ensino do circo, entendido como um ato cuja responsabilidade recai sobre escolas especializadas ou profissionalizantes, frequentadas por pessoas que desejam formar- se como artistas, das intervenções pedagógicas propostas pelos professores de Educação Física. (BORTOLETO, 2014, p.62)

Esse verbete busca estimular um diálogo respeitoso com o sujeito histórico circense e o âmbito artístico do Circo, categorizando um tipo específico de abordagem aos saberes circenses na Educação Física e pondo em evidência, como o próprio autor indica, as limitações das “aventuras pedagógicas” do profissional em Educação Física com esse saber:

Contudo, esta aproximação [da Educação Física com o Circo] se produziu de modo demasiadamente rápido, sem o devido cuidado pedagógico e rigor teórico (em todas as dimensões sugeridas por COMES et al, 2000, p. 9). Nestes relatos de experiência, observamos escassos avanços conceituais ou mesmo procedimentais, que certamente irão depor contra nossos objetivos pedagógicos num futuro próximo. (BORTOLETO, 2011, p. 44)

De fato, identificamos que as “atividades circenses” são muito evidentes no campo de atuação em Educação Física, pois muitas iniciativas adaptam pedagogicamente determinadas técnicas circenses, dedicando-se também a aproximações pontuais com aparelhos tradicionais, como exercícios de fortalecimento em trapézio ou tecido acrobático, ou jogos que abordam suas representações culturais (ex.: vivências com os personagens clássicos do Circo). Nesse ponto, destacamos que a problemática não está em adaptar os saberes circenses e, até mesmo,

promover “atividades” que sigam a lógica técnico-instrumental para objetivos específicos da pedagogia da Educação Física, pois reconhecemos que essa abordagem faz parte da atuação na área e auxilia a adaptar a prática corporal ao público em questão. O problema está em limitar as produções sobre Circo na Educação Física a propostas que deixam à sua margem o processo criativo e expressivo fundante dessa linguagem artística, algo que aponta para as fragilidades da formação inicial em abordar a arte como parte de sua metodologia e pedagogia.

De certa maneira, em busca de uma aproximação com o universo do Circo e respeitando a historicidade de seus sujeitos, o termo atividades circenses visa definir com maior precisão um tipo de abordagem a esse saber na Educação Física. Essa proposta se insere no contexto de disputa por reserva de mercado de trabalho, como indicado anteriormente, mas também reflete as disputas por legitimidade da produção em Circo existentes dentro do âmbito das produções artísticas profissionais de Circo que atualmente se dividem entre o estilo “Novo” e o estilo “Tradicional”, duas classificações que se iniciam principalmente em movimentos artísticos e sociais na França, sustentados em políticas culturais desse país, como analisam Reynaud (2001) e Guy (2001). A criação de uma nomenclatura específica para esses estilos de espetáculo está vinculada à busca por ruptura e renovação dessa linguagem artística, com maior representatividade na cena circense europeia, mas que influenciam os debates no território brasileiro e estão amplamente relacionadas ao advento das escolas profissionalizantes de Circo, como analisam Duprat (2014) e Salamero (2009). De modo geral, a questão da legitimidade das produções em Circo está relacionada à abertura mais franca do acesso aos saberes circenses para sujeitos que não estão vinculados às formas “tradicionais” de transmissão desse conhecimento realizadas pelas famílias circenses e sistematizadas de forma oral e de geração para geração. O embate ocorre quando os sujeitos “tradicionais” buscam ser reconhecidos como os legítimos detentores do legado circense e desvalorizam as produções que se iniciam fora desse âmbito, enquanto que os sujeitos com formação artística nas “novas” escolas de Circo ou que desenvolveram seus saberes de modos alternativos ao âmbito “tradicional”, qualificam essas produções como ultrapassadas e demandam uma ruptura com esse sistema (SILVA, 2011). As produções dos profissionais de Educação Física se enquadrariam como “novas”, mas com o agravante de que muitas vezes nem sequer se reconhece o cenário artístico circense, apesar de produzirem

iniciativas valiosas do ponto de vista pedagógico e de difusão dessa linguagem na sociedade.

O problema está em militar em busca de uma legitimidade de atuação e produção que vise estabelecer um jeito “certo” e um jeito “errado” de “fazer Circo”, ao invés de reconhecer a polissemia e a legitimidade das produções que fazem parte desse universo, sem incorrer em disputas de qual tem maior validade, pois, desde que a abordagem seja coerente em reconhecer a multiplicidade da linguagem circense, cada proposta é importante em um determinado segmento, alavancando a popularização da “polifonia” dessa linguagem artística. Nesse sentido, um avanço que temos a partir do verbete “atividades circenses” é justamente elucidar ao profissional de Educação Física a amplitude histórica e cultural do saber circense, situando que muitas vezes as propostas pedagógicas da área dão conta de uma pequena parcela desse universo, ao mesmo tempo em que se revela um caminho de exploração e aprofundamento. Ainda assim, a criação de nomenclaturas para trazer maior precisão para às abordagens didático-pedagógicas ou aos objetivos da atuação profissional deve ser cautelosa para evitar a segmentação da compreensão do que é Circo, incorrendo no risco de se distanciar excessivamente do todo dessa linguagem artística.

Acreditamos que independentemente da origem da produção na linguagem circense, o Circo é um patrimônio cultural imaterial da humanidade (internacionalmente reconhecido dessa forma pela Unesco, 2015) e, assim, as iniciativas, sejam no âmbito “novo” ou “tradicional”, são apenas tentativas de hierarquização do sujeito que as produz, sendo essa também um possível desdobramento do verbete “atividades circenses”, já que este se dedica às produções na área da Educação Física. Ou seja, sendo um patrimônio da humanidade, todas as possibilidades e formas de abordar essa arte possuem igual valor, desde que se reconheça e se valorize os demais sujeitos e produções existentes na área e, seja em perspectiva histórica, cultural ou social, fundamente-se a proposta com referências ao todo dessa linguagem artística.

Para muitas pessoas, especialmente as minorias étnicas e os povos indígenas, o patrimônio imaterial é uma fonte de identidade e carrega a sua própria história. A filosofia, os valores e formas de pensar refletidos nas línguas, tradições orais e diversas manifestações culturais constituem o fundamento da vida comunitária. Num mundo de crescentes interações globais, a revitalização de culturas

tradicionais e populares assegura a sobrevivência da diversidade de culturas dentro de cada comunidade, contribuindo para o alcance de um mundo plural. (UNESCO, 2015, s/p.)

Compreendemos a partir desse panorama que quando analisamos as possibilidades do Circo na formação inicial em Educação Física, a ênfase deve ser na qualificação da abordagem a esse saber, apresentando de modo consistente e com adequado aprofundamento conceitual o cenário artístico com o qual essas iniciativas devem dialogar, tendo em vista que a sua função pedagógica será também de enriquecer a formação artística do sujeito. Assim, a criação de novos verbetes ou termos específicos para tentar definir a atuação podem se tornar dispensáveis, ou ainda meros recursos descritivos, ao invés de classificações generalistas para as produções de um campo de atuação profissional, pois se parte de uma compreensão unificada da linguagem circense em direção às adaptações específicas do campo de atuação.

Um exemplo desse processo, que não se enquadra em “atividades circenses”, são as diversas iniciativas com o Circo na Educação Física que caracterizam uma iniciação artística, como o exemplo de projetos socioeducativos da área (VENDRUSCOLO, RAMOS, 2009). Muitos desses projetos têm como objetivo central o resgate social, a educação e a formação humana cidadã, em que o Circo é um saber que compõe os recursos pedagógicos para cumprir essa tarefa. Ao observarmos o desenrolar dessas atividades, vemos que o processo de formação do sujeito é uma expressão legítima da produção artística em Circo, em suas referências estéticas e simbólicas, técnicas e criativas, sociais e culturais a esse universo artístico. Assim, o principal elemento a se destacar nesse tipo de iniciativa é a forma pela qual o participante se apropria da linguagem circense, ao ponto de ser capaz de realizar com competência a criação e a expressão de si, ou seja, uma forma evidente de produção de conhecimento em Circo.

O que nos chama atenção é justamente essa diversidade de possibilidades de trabalho com o Circo como saber na Educação Física, ou seja, como o universo circense pode e já vem sendo explorado como prática corporal e/ou linguagem artística nessa área profissional. Indagamos: se esse é um saber ainda emergente na formação inicial, o que leva o docente do ensino superior a assumir o risco de inovar em sua atuação, desenvolvendo um tema que possui poucas propostas de

organização pedagógica específicas para a área? Acreditamos que isso está relacionado a uma série de fragilidades e lacunas presentes na formação profissional, bem como novas conformações sociais às quais o campo da Educação Física vem se adaptando, e que estão, aparentemente, conduzindo a inovações em seus saberes.

Sobre isso, Moreno et al. (2008) estudaram a composição dos conhecimentos técnico-instrumentais presentes nas matrizes curriculares de diferentes cursos superiores de Educação Física em países ibero-americanos (Argentina, Chile, Costa Rica, Cuba, Equador, Espanha, México, Paraguai, Peru e Venezuela), à luz da praxiologia motriz de Pierre Parlebas, constructo que busca a compreensão e classificação das práticas corporais com base na interpretação de sua lógica interna6. Os autores verificaram a presença e a expressão das categorias praxiológicas das práticas corporais – esporte; jogo motor; expressão corporal; introjeção motriz (atividades voltadas para o cuidado de si), e adaptação ambiental (ex.: atividades de aventura na natureza) – e concluíram que 60% da carga horária curricular é dedicada ao esporte, em detrimento dos demais tipos de práticas.

Seguindo o ponto de vista de Moreno et al. (idem), acreditamos que isso reflete a falta de aplicação de fundamentos teóricos e epistemológicos na construção dos projetos pedagógicos da formação inicial em Educação Física. A ênfase excessiva em um grupo específico de saberes acaba por limitar a capacidade do profissional em organizar suas propostas com base em práticas corporais que abordem diferentes princípios do movimento humano, aspecto essencial para a formação plena do conhecimento corporal do sujeito. Uma evidência disso está na carência de opções para abordar as distintas linguagens artísticas na Educação Física, em especial aquelas que sintetizam as suas expressões na prática corporal, tendo esta como eixo central de sua criação, algo que vemos impulsionar as iniciativas com os saberes circenses, pois a principal – e muitas vezes a única – modalidade artística contemplada no currículo da formação inicial é a dança. No entanto, como veremos adiante, a questão não é apenas adicionar uma maior quantidade de disciplinas temáticas no currículo da formação inicial, mas organizar propostas que conduzam o estudante a compreender os fundamentos da arte e da expressividade na pedagogia

6 Lógica interna: “El sistema de rasgos pertinentes de una situación motriz y de las consecuencias que entraña para la realización de la acción motriz correspondiente” (PARLEBAS, 2001, p. 302, apud MATEU, TORRENTS, 2012, p. 49).

e metodologia da Educação Física, tornando-os autônomos para explorar as distintas manifestações desses saberes.

Esse cenário nos conduz a um questionamento que inspira investigações subsequentes à nossa pesquisa: de que maneira a formação inicial em Educação Física organiza as diferentes e singulares áreas da cultura corporal em interface com o desenvolvimento de um sujeito reflexivo sobre o papel da prática corporal em sua vida? Ou ainda: qual seria o potencial de impacto da atuação profissional na sociedade se as diferentes áreas da cultura corporal e da Educação Física fossem equilibradas de forma harmônica?

Acreditamos que a formação inicial não é somente responsável por abordar os saberes tradicionalmente populares e hegemônicos no campo de atuação, mas deve se ocupar também em promover a compreensão de como cada área da cultura corporal (compreendendo esse termo segundo DAOLIO, 2004) desenvolve de forma particular um conjunto de saberes essenciais para a produção do conhecimento corporal do praticante. Com base nessa perspectiva, a nossa pesquisa se direciona ao Circo, mas está fundamentada no papel das práticas artísticas e expressivas na formação inicial em Educação Física, pois ao dedicarmos o espaço do currículo da formação inicial competente às práticas artísticas e expressivas a uma única modalidade, deixamos de lado outras formas de expressão e criação, restringindo o aprendizado de diferentes lógicas expressivas, ou melhor, reduzindo o número de recursos para a formação da linguagem corporal por meio da arte (GOMES-DA- SILVA, SANT’AGOSTINO, BETTI, 2005).

Se a essência do teatro se define pela dramaturgia e a da dança pela coreografia, a do circo é muito mais incerta para ser resumida a uma única palavra. Não que a identidade do circo seja indefinida. Mas à diferença de outras formas artísticas, o circo não se funda sobre nenhum critério acadêmico. Quem diz academismo diz regras e princípios, o que significa ao mesmo tempo um quadro de produção ou de oposição que favorece a criação e uma linguagem especifica, permitindo definir e identificar a prática da arte em questão com seus constituintes. (Hodak-Druel, 2009, p. 111)

Refletindo sobre o papel do Circo na formação inicial em Educação Física, uma questão derivada de nossa pesquisa é situá-lo em meio aos saberes que constituem a área: será que o Circo deveria ser uma disciplina específica no curso, ou parte do saber de uma disciplina mais abrangente que se dedicaria às práticas

artísticas e expressivas? Esse é um questionamento que fundamenta uma abordagem mais profunda a uma modalidade artística que cativa a nossa atenção, e assim, antes de uma tentativa de respondê-lo, precisamos saber: de que forma os docentes do ensino superior que já abordam o Circo na formação inicial em Educação Física enquadram esses saberes no seu contexto de atuação?

Continuando nossa análise sobre esse processo de aproximação entre Circo e Educação Física na atualidade, vemos que apesar da indústria cultural possuir um papel crucial na popularização de novas expressões da linguagem circense e, consequentemente, auxiliar a despertar o interesse de profissionais da área para essas práticas corporais, notamos que a pluralidade de saberes sobre corpo e movimento presentes no Circo é um elemento que conduz muitos desses profissionais a ir além de uma mera tendência social ou modismo. Um fator que também favorece o interesse do profissional em Educação Física é a falta de articulação da área circense em absorver e gerir a popularização midiática dessa arte, o que vem gerando uma demanda da sociedade por opções de acesso a esse bem cultural, algo que traz destaque às iniciativas da Educação Física.

Por outro lado, o desenvolvimento do Circo na Educação Física promove rupturas com paradigmas da efetividade e utilidade da “atividade física” herdadas, até certo ponto, de sua relação com a ginástica científica do séc. XIX (SOARES, 2001), algo coibido formalmente, mas que não foi suficiente para impedir o intercâmbio de conhecimento entre essas expressões do movimento humano (BORTOLETO, 2010). Atualmente, notamos como a metodologia da Educação Física se opõe ao que Amorós (1848) enunciava naquele século:

Quant à la quatrième division, la gimnastique scénique ou

funambulique, nous ne pouvons nous en occupper, puisque notre méthode s’arrête où le funambulisme commence, et celui-ci

commence où l’utilité d’un exercice cesse, où le noble but de la gymnastique, qui est de faire du bien, est sacrifié au frivole plaisir d’amuser et de faire des tours de force. (AMORÓS, 1848, p. VIII).7

Essas propostas buscavam a legitimação de um sistema de exercícios físicos de certa forma inovador à época, a ginástica, que se diferenciasse do jogo

7 Quanto à quarta divisão [categoria], a ginástica cênica ou funambulesca, nós não podemos nos ocupar, pois nosso método para onde o funambulismo começa, e este começa onde a utilidade de um exercício cessa, onde o nobre objetivo da ginástica, que é fazer o bem, é sacrificado ao frívolo prazer de divertir e de realizar façanhas. (Tradução nossa)

artístico com o corpo e com o movimento exposto no espetáculo circense, construindo regimes de verdades a partir de “comprovações científicas”, desvalorizando e quase que eliminando a validade dos saberes artísticos e expressivos presentes no Circo e em outras formas de arte, jogo, e brincadeira. Hauffe e Góis Junior (2014) apresentaram um interessante debate sobre as motivações que afastaram o Circo e o circense do âmbito higiênico e eugênico da ginástica:

Os motivos residiam também no porque dos circenses ignorarem os limites dos corpos “controlados”, harmônicos, equilibrados, que desafiavam a ciência, a moral e os bons costumes. Além disso, possuíam uma forma própria de viver que era estranha ao restante da sociedade. Certamente estas questões contribuíram para um processo de desvalorização e criação de preconceitos e estigmas da sociedade por estes artistas, separando a Educação Física do Circo. (HAUFFE, GOIS JUNIOR, 2014, p.555)

Similarmente, no Brasil, o deputado Jorge de Moraes comenta a participação de profissionais circenses em aulas de Educação Física, no ano de 1927:

Ensinam ginástica entre nós, indivíduos completamente,

exclusivamente, técnicos, que jamais indagaram o “porquê” de um exercício; entre tais professores, figura um bom número de egressos dos circos equestres e acrobáticos; constituem, assim, forte motivo para desmoralização de cousa tão séria como é a educação física. (CONGRESSO NACIONAL, 1927, apud SILVA, DE ABREU, 2009, p.101)

Nesse discurso fica evidente que o “‘porquê’ de um exercício” ao qual o sujeito se refere é a funcionalidade gímnica da prática corporal. Na atualidade, quando revisamos os registros históricos dessas tensões, notamos um movimento inverso da pedagogia da Educação Física, que busca um melhor equilíbrio entre o técnico- instrumental e o criativo e expressivo. Apoiando-nos em nossa análise da formação inicial em Educação Física apresentada até aqui, vemos que é necessário ir além desses paradigmas, assumindo a complexidade da pedagogia da Educação Física e o papel singular que as práticas artísticas e expressivas ocupam nessa tarefa, assim como as outras diversas práticas que compõem a cultura corporal também devem ser valorizadas em suas especificidades. O papel do Circo como saber nesse contexto é uma legítima proposta de ruptura e superação desse modelo de educação do corpo (DA NÓBREGA, 2001; SOARES, MADUREIRA, 2005; MIRANDA, 2014).

As aproximações entre Circo e Educação Física ganham atratividade e profundidade na medida em que reconhecemos os valores por eles compartilhados. Em um ponto de vista pedagógico, podemos exemplificar essa questão com base no conjunto de práticas corporais circenses voltadas para realização de proezas – como as acrobacias coletivas, os equilíbrios, o malabarismo, as acrobacias aéreas em tecido ou trapézio, sendo essas as mais populares na Educação Física – que são modalidades articuladas entre o domínio de habilidades corporais e a expressão criativa na estética circense. Nesse exemplo, observamos que a atratividade dessas práticas na Educação Física está no desenvolvimento de aspectos corporais, como o condicionamento físico, coordenação motora e outros elementos motrizes, assim como a expressão corporal e a criação coreográfica, além dos valores sociais e culturais intrínsecos à prática do Circo, dentre outras numerosas possibilidades pedagógicas expostas por Coasne-Vitoux (2013).

3. INOVAÇÕES DOCENTES NA FORMAÇÃO INICIAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA: