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O jogo foi intitulado de HistGame (Hist = História; Game = jogo) e sua estru- tura segue o padrão de outros aplicativos já lançados pela empresa parceira: perguntas com no máximo 150 caracteres com espaçamento; quatro alter- nativas/respostas com cada uma sem ultrapassar 45 caracteres com espaça- mento, sendo apenas uma correta. Cada pergunta tem um limite de tempo para ser respondida. Ao avançar do jogo, o participante vai pontuando e, ao final, é classificado por um ranking de todos os jogadores. Dentre o conjun- to de questões, há aquelas escolhidas previamente pelas autoras, que são de bonificação, ou seja, caso acerte o valor recebido é maior.

Como caminho para fugir do formato tradicional encontrado nas esco- las e livros didáticos de história estruturados de modo linear de fatos basea- dos principalmente na divisão em quatro grandes períodos (História Antiga, História Medieval, História Moderna e História Contemporânea), optamos em trabalhar a partir de eixos temáticos sem qualquer tipo de inquietação com uma ordenação sequencial e processual de conteúdos: 1. Introdução

à história; 2. Questões sociais; 3. Território e meio; 4. Políticas e poder; 5. Questões econômicas.

A inserção da “história por eixos temáticos” surge de uma conjuntura que exigia mudanças para a disciplina, de modo a corroborar a necessidade de seu ensino para a sociedade. Diferentes propostas foram sendo apresentadas ten- do como objetivo principal a superação do modelo tecnicista dos anos 1970, mas para Bittencourt (2009, p. 16), “as mudanças mais significativas surgem com propostas que ordenam o conhecimento histórico por temas geradores, segundo os pressupostos freireanos, ou pelos eixos temáticos”. Sua utilização permanece minoritária, mas a principal inovação e que propicia reflexão resi- de na impossibilidade de se “estudar toda a história da humanidade”, meio de superar a noção de tempo evolutivo e basicamente na flexibilização curricular para a montagem e organização de conteúdos, destacou Bittencourt (2009).

Contestamos o modelo quadripartite da divisão da história, herança do currículo escolar francês e que ainda se utiliza de parâmetros europeus para di- visão e marcos temporais. As motivações da escolha de uma “história por eixos temáticos” estão bem desenvolvidas por Caimi (2009, p. 4-5), quando explicita as principais características desse tipo de proposta em termos metodológicos:

a) a problematização do conhecimento histórico em articulação com a prática social dos estudantes; b) a utilização de diferentes linguagens de ensino e fontes; historiográficas na aprendizagem histórica; c) a ênfase no estabelecimento de relações entre o passado e o tempo presente, de modo a produzir inteligibilidade sobre as experiências sociais e culturais da atualidade, identificando diferenças/semelhanças, rupturas/continuidades; d) o investimento na apropriação dos conceitos históricos, reconhecendo o domínio dos conteúdos como meios, não como fins da aprendizagem; e) a preocupação de inserir os estudantes nos procedimentos da pesquisa histórica, dinamizando em sala de aula o estudo de documentos em esta- do de arquivo familiar e outros tipos de documento; f) a adoção de uma nova dimensão da temporalidade histórica, rompendo com as noções absolutas de linearidade, progresso e evolução, organizando a abordagem dos conteúdos em temas ou eixos temáticos, dentre outras.

No primeiro eixo, “Introdução à História”, buscamos trabalhar conceitos históricos dentro das questões, entendendo ser fundamental para a iniciação e posterior aprofundamento das discussões. Muitos termos e expressões são utilizados pelos professores sem o devido tratamento prévio que acabam pre- judicando a compreensão das narrativas, como exemplo: processo histórico, patrimônio, fonte histórica, cidadania, identidade, linha do tempo.

No eixo seguinte, criamos questões de ordem social, ou seja, das relações inerentes da sociedade, entre os seres humanas dentro do individual e cole- tivo, as desigualdades e preconceitos. Segundo Bittencourt (2009), somente recentemente a história social entrou nas escolas como objeto de estudos históricos. As atenções da historiografia estiveram voltadas para os grandes feitos de grandes heróis. Para auxiliar a produção das perguntas, elencamos temas norteadores que circundam os conteúdos históricos: vida privada, gê- nero, cultura, etnias, religião.

Nas perguntas, trouxemos a problemática da xenofobia, o “mito das três raças”, a escravidão, movimentos artísticos, terrorismo, militância tanto de ho- mens quanto mulheres, como Nelson Mandela e Malala Yousafzai. Um tema a destacar, bastante em voga atualmente, é a discussão de gênero. Concordamos que é necessário refletir criticamente acerca das práticas corporais, modelos e teorias que elaboram discursos sobre o que é feminino e masculino, e que se tornam verdades inquestionáveis. Observamos os crescentes discursos de ódio, não somente contra as mulheres, mas também pessoas de diferentes orientações sexuais, de origem étnica, raça, nacionalidade e religião.

Em “Território e meio” abordamos conteúdos relacionados à disputa territorial, mudanças nas organizações espaciais, mudanças climáticas, de- sastres ambientais, migrações, tecnologia e a terra. Trazer a discussão da imbricação entre território e meio ambiente é uma urgência, pensando em refletir as consequências ambientais decorrentes da interferência humana e o intenso trabalho no modo de produção capitalista. A partir do final do século XX, tem-se desenvolvido os estudos acerca da História ambiental e avança- do na desconstrução do binarismo entre história humana versus natural. As

mudanças climáticas sentidas pelo mundo e a crescente ocorrência de desas- tres naturais geraram sentimentos de preocupação com o futuro, colocando em evidência a finitude humana.

O quarto eixo foi intitulado de “Políticas e poder” para pensar os forma- tos que o poder adquire e os lugares que habita. Na linha de Michel Foucault, refletir sobre a movimentação do poder, nas instituições, na construção de discurso de verdade, na classificação e nomeação de práticas sociais. De que modo o poder legitima e exclui direito e deveres dos cidadãos, e contribuiu na manutenção dos dominados e dominantes?

Bittencourt (2009) explica que até os anos 1960, a história política esteve centrada nas biografias dos feitos dos chefes políticos de Estados e reis. Não tinham preocupação em desenvolver os diferentes períodos políticos que o Brasil havia passado com suas crises, entraves e tessituras. Nas questões, buscamos temas relacionados a: vida pública, modelos de governo, figuras de liderança, conflitos, contratos e lutas de resistência. A política acaba por residir nesses diferentes meios de ação, tendo o poder como um de seus ele- mentos constitutivos. Abordamos assuntos de guerras, revoluções, feminis- mo, escravidão, dentro outros.

Por último, ficou o eixo “Questões econômicas”, cuja finalidade foi le- vantar temas que de alguma forma versavam sobre economia. Como ex- pressões norteadoras, elencamos os pontos: políticas econômicas, ações de gestão da economia, produtos, conflitos e problemas na economia, proces- sos de produção e mão de obra. Os conteúdos de história desse eixo foram Revolução Industrial, capitalismo, consumo, crise de 1929, expansão ma- rítima, entre outros.

Importante esclarecer que os nomes dos eixos foram um dilema. Reconhecemos o tradicionalismo que eles representam e sentimos realmente a dificuldade de inovação do ensino e adequação para um jogo digital. Outro ponto é que as perguntas não surgem ao jogador na ordem dos eixos apre- sentados e sim, de maneira aleatória.