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3 METODOLOGIA

4.12 Apresentando – LUCAS

“Foi na escola que eu comecei a visualizar o meu futuro (Lucas)”

Lucas está com 21 anos, é natural do município de Surubim-PE e cursa o sexto período do Curso de Engenharia de Controle e Automação. É filho de um agricultor e uma auxiliar de enfermagem, ambos com ensino médio completo. Seus avós não concluíram a escolarização básica. Filho mais novo da família, Lucas, tem dois irmãos que já concluíram o ensino superior e que se constituíram como exemplos para que ele chegasse à universidade. Toda sua família reside na zona rural de Surubim-PE. Lucas, atualmente, mora em Recife com amigos de seus pais e se mantém financeiramente com a bolsa de manutenção acadêmica e a ajuda da família.

O estudante, nascido no interior de Surubim-PE, admite ter tido um percurso regular de estudos. Iniciou a escolarização na pré-escola aos quatro anos e até a quarta série estudou em escola próxima a sua residência.

Reconhece que tudo foi facilitado, porque sua mãe conhecia os professores da escola, um desses profissionais era seu primo e sempre houve oferta satisfatória de vagas. A partir da quarta série Lucas passou a se deslocar diariamente para a cidade. Durante sua trajetória de estudante, frequentou três escolas, a primeira, no sítio em que morava e as demais, na sede do município de Surubim.

Rememorando sua trajetória escolar, Lucas fala das diferenças que encontrou na escola da cidade, do seu processo de adaptação, do enfrentamento de outra realidade, do deslocamento diário do campo para a cidade, do novo grupo de convivência, tudo bem diferente da escola anterior onde todos eram amigos e conhecidos. Afirma: “na Cidade, aí eu já senti uma diferença, porque na Cidade eu me senti um pouco inferior. Eu era criança também, mas eu me lembro que eu chorava às vezes, fica meio isolado”

Da quinta série até a conclusão do ensino médio, Lucas estudou em uma escola de referência da rede estadual. Dessa escola, faz referência ao espaço físico, melhores instalações, arborização e as oportunidades que lhe ofereceu. “A escola era grande, bem ventilada, arborizada, iluminada, era bem aberta, não era uma escola fechada. Aí era muito bom, eu gostava de ficar na escola, eu acabei gostando de ficar na escola.”

Especialmente destaca sua participação no clube de ciências, na radio escolar e grupo de música que lhe proporcionaram maior interesse e envolvimento com os estudos. Destaca ainda o papel inclusivo dessa escola, devido ao trabalho que realiza com alunos com deficiência auditiva e outras.

Reconhece que seu ensino médio nessa mesma escola foi diferenciado, pois foi a partir do seu primeiro ano que a escola se firmou como de referência, com atividades em tempo integral e maiores condições para garantir a permanência dos alunos. Houve contratação de professores, porém alguns problemas como a deficiência dos professores das disciplinas de Matemática e Física e Química permaneceram. Este foi um problema que afetou sua performance nesses conteúdos, lacunas que carrega até hoje no Curso de Engenharia de Controle e Automação.

No que tange às condições didáticas oferecidas pela escola, Lucas lamenta que, embora se propagasse a ideia de uma escola integral, poucas eram as condições e oferta de atividades no contraturno. Afirma:

A gente ficava e recebia o almoço, tinham algumas coisas né? A quadra começou a abrir no horário do almoço, porque a gente ficava ocioso... Não tinha o quê fazer. Depois a biblioteca abriu, mas no começo chegaram até materiais novos para abrir laboratório, teve laboratório de matemática. Só que o governo ele dividiu né? Eu me lembro dos professores falando que os materiais iam para todas as escolas. Aí não fica um laboratório bom, completo pra nenhuma, ficava repartido... O que tinha em uma escola não tinha na outra entende?

Lucas assume que sempre foi um aluno estudioso, focado e até introvertido, tinha poucos colegas e permanecia muito tempo recolhido na biblioteca da escola para estudar. Em relação às disciplinas estudadas na escola básica, destaca seu interesse por Matemática e algumas dificuldades com Química. Mesmo tendo um bom desempenho escolar geral, chegou a fazer atividades de recuperação de Química e Inglês.

Revela ter construído boas relações com os seus professores, que reconheciam seu potencial, que sempre o incentivavam e tiravam suas dúvidas. Fala com certa admiração dos professores, no entanto demonstra ficar em desconforto quando era tomado como referência por seus mestres, sobretudo, quando eles diziam para seus colegas: Sejam como ele! Sejam como Lucas, ele fez o trabalho e ele é bem esforçado, estudioso.

As atividades que desenvolvia no laboratório e a participação no Clube de Ciências da escola eram estimulantes para Lucas que afirma: “eu admirava os cientistas e lá eu me sentia um. Eu olhava lá, entrava no laboratório, eu gostava até do cheiro, eu gostava de entrar, de estar lá”. Apesar do interesse, Lucas lamenta algumas dificuldades de funcionamento desse laboratório, das expectativas que criava e das poucas possibilidades de efetivá-las na prática.

Sobre premiações, Lucas afirma que a escola sempre premiou os bons alunos com certificados e ele, tanto no ensino fundamental como no médio, foi contemplado com esses prêmios. Reconhece a importância do incentivo recebido pela escola, mas ao mesmo tempo não se sentia bem sendo destaque perante os outros colegas. Afirma: “Eu não gostava de me sentir melhor do que os outros, eu fazia aquilo, eu me esforçava, mas não era pra isso, pra receber prêmios, era porque era o jeito que eu me sentia bem comigo, eu gostava de estudar”.

Na visão de Lucas, o desejo de ser inventor, os prêmios e o fato de se destacar em Matemática, foram importantes para que ele se encaminhasse para o Curso de Engenharia de Controle e Automação. Como gostava de aviões, chegou a pensar em Engenharia aeronáutica, o fato de ser um curso fora do estado de Pernambuco e as dificuldades financeiras, que o impediam de fazer um curso que complementasse a aprendizagem no ensino médio, fizeram seguir outro caminho.

Lucas não tem dúvidas quanto ao papel exercido pela escola para o seu ingresso em um curso de alta seletividade na UFPE e também para a pessoa que ele é. Declara: “de alguma forma foi a escola que foi construindo, foi lá desde o início né? Foi na escola que eu comecei a visualizar o meu futuro. Aí depois eu fui tendo responsabilidade, aprendendo a ter responsabilidade com as coisas...”

A trajetória contada por Lucas em sua narrativa nos leva a reconhecê-lo como um estudante de sucesso.

Tendo apresentado o nosso percurso em campo para localizar os participantes e traçado o perfil de cada um neste capítulo, no próximo nos deteremos na análise de suas representações sociais de sucesso escolar e seus contextos de construção/elaboração.

5 RESULTADOS – EM BUSCA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE