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O sucesso escolar nas representações sociais de estudantes de escola pública vinculados a cursos de alta seletividade na UFPE

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

WILLIANY FÊNIX DE SOUZA SILVA

O SUCESSO ESCOLAR NAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ESTUDANTES DE ESCOLA PÚBLICA VINCULADOS A CURSOS DE ALTA

SELETIVIDADE NA UFPE

RECIFE 2016

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WILLIANY FÊNIX DE SOUZA SILVA

O SUCESSO ESCOLAR NAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ESTUDANTES DE ESCOLA PÚBLICA VINCULADOS A CURSOS DE ALTA

SELETIVIDADE NA UFPE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação.

Linha de pesquisa: Formação de Professores e Prática Pedagógica

Orientadora: Profª Drª Laêda Bezerra Machado

.

RECIFE 2016

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WILLIANY FÊNIX DE SOUZA SILVA

O SUCESSO ESCOLAR NAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ESTUDANTES DE ESCOLA PÚBLICA VINCULADOS A CURSOS DE ALTA SELETIVIDADE

NA UFPE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação.

Aprovada em: 30/09/2016.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Laêda Bezerra Machado (Orientadora)

Universidade Federal de Pernambuco

Prof.ª Dr.ª Sandra Patrícia Ataíde Ferreira (Examinadora Externa) Universidade Federal de Pernambuco

Profª. Drª. Maria Eliete Santiago (Examinadora Interna) Universidade Federal de Pernambuco

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A meus pais, Wellington e Tânia, que sempre me ladeando, mostraram como não ceder diante das adversidades.

A meu parceiro nessa vida, Pedrinho, responsável pelas flores no meu caminho.

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AGRADECIMENTOS

Porque Dele e por Ele, e para Ele, são todas as coisas; glória, pois, a Ele eternamente. Amém.

Romanos 11: 36

A Deus, autor da vida e criador de todas as coisas, que me deu a possibilidade de iniciar e concluir essa etapa de minha formação acadêmica. A Ele que me sustentou e me deu coragem para enfrentar os desafios desse processo e condições para superá-los.

Aos meus pais, Wellington e Tânia, pelo zelo com a minha vida desde o início. Pelo investimento em minha educação, pela paciência e pela confiança depositada, pelas conversas ao redor da mesa, pelos cafés das manhãs mais divertidos, pelos almoços deliciosos. À minha mãe, por durante esse processo tão árduo cuidar do que é meu para que eu pudesse me dedicar exclusivamente a esta pesquisa. Ao meu pai, por ser tão parceiro e incentivar voos mais altos.

A Pedrinho, minha dupla nessa vida, meu amigo, meu amor, meu esposo, por ter segurando com firmeza e carinho em minhas mãos, por ter sido o ouvido atento, o ombro que conforta, o abraço que protege e a voz que anima. Por acreditar em mim quando nem eu mesma acreditava e por sonhar esse sonho como seu apenas por que eu sonhei. Por ser um comigo, muito obrigada!

A meus irmãos André e Tiago, por serem exemplos de superação e por serem os amigos mais fieis. De modo especial a André, por ter me presenteado com a chegada de Ravi, meu sobrinho amado, a criança mais feliz que eu conheço, que a cada encontro me contagia com um sorriso largo.

A Ravi, meu milagre real. Que me fez tia, me mostrando que todos os não podem ser contrariados e resultar num final mais que feliz. Com você aprendi uma forma diferente de encarar a vida. Te amo!

Aos meus avós, José e Aldeci, por fazerem me sentir capaz, por serem o início da minha história, por serem referência de perseverança.

A minhas tias, Wedja, Roseane, Tânia, Niedja, Rosângela e Solange. Por vibrarem comigo a cada conquista, por terem se mostrado tão interessadas em colaborar com este estudo. Por sempre terem demonstrado, através de suas

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atuações enquanto profissionais, confiança e esperança na transformação social via educação. De modo especial a Tia Rosângela e Niedja, que me fizeram conhecer a realidade da escola pública e diante de suas posturas como educadoras, ainda querer ser professora. Vocês são meu maior exemplo de mestre.

Aos meus tios Ivison e Joseli, pelas orações, pelas visitas, pelos abraços apertados e pela preocupação com minhas realizações.

Aos meus sogros José e Eliane, pelas orações e apoio. Por fazer do seu lar um lugar de acolhimento e alegria, tornando meus domingos um refúgio. De igual modo a Dona Judite, por seus conselhos e confiança incondicional.

À minha orientadora, professora Laêda Bezerra Machado, pelo investimento em minha formação, por ter me permitido caminhar ao seu lado durante minha vida acadêmica. Pela orientação cuidadosa, por compreender minhas limitações e me instigar a superá-las. Por ser tão ética e me surpreender positivamente com sua postura humana e profissional. Meu respeito, admiração e amizade. Obrigada por tudo!

À professora Eliete Santiago, por me ensinar a olhar de forma mais humana a Escola Pública durante as aulas de Pesquisa e Prática Pedagógica no curso de Graduação em Pedagogia da UFPE. Por marcar minha formação com o exemplo de compromisso e ética. Pelas preciosas contribuições durante o exame de qualificação que me fizeram refletir sobre o contexto da Universidade pública para estudantes das classes populares.

À professora Sandra Ataíde, pelo olhar cuidadoso e criterioso, pela leitura atenta, pela preocupação em contribuir com esta pesquisa. Pela seriedade, franqueza e disponibilidade durante o exame de qualificação, que me permitiu tomar caminhos mais acertados durante a pesquisa.

À professora Lia Albuquerque, pelo olhar cuidadoso e generoso com essa pesquisa, pelas contribuições dadas e pelo afeto a cada encontro.

Ao professor Artur Moraes, por contribuir de forma tão característica para minha formação como pesquisadora desde a graduação em Pedagogia na UFPE e de modo especial, pelas contribuições dadas a este estudo durante a disciplina de Metodologia da Pesquisa Educacional.

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Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Educação, especialmente aos do Núcleo de Formação de Professores e Prática Pedagógica, pelas reflexões provocadas e pelo compromisso com a formação docente.

Aos colegas da turma 32, pelas aprendizagens e laços construídos. De modo especial à Mariana Monteiro, Juliana Beltrão e Suelen Freire, pela amizade e partilha das angustias e sucesso. Vocês tornaram esse processo menos solitário.

Ao grupo de pesquisa em Teoria das Representações Sociais, Andreza, Camilla, Danielle, Ednéa, Enivalda, Gisele, Idélia, Luciana, Lucivânia, Márcia, Marcella, Michelle, Mirella, Mônica, Patrícia, Rosângela, Rosemere, Suelen, Taynah, Thamyres, Thaís e Viviane, por repartir momentos de construção do conhecimento e por permitir uma vivência afetuosa.

À Idélia Manassés, pela amizade sincera e carinhosa, pelas orações, pelo incentivo, pelos conselhos valiosos e pelo repartir de nossas vivências. Pelas conversas durante as caronas onde aprendemos a nos querer tão bem. Obrigada, minha amiga amada!

À Taynah Barra Nova, amiga querida, pelo compartilhamento do estudo e de experiências, pelo estímulo, pela persistência em me fazer acreditar que seria possível.

À Adilene Mendes pela parceria, pelo amor, pela dedicação, pelas orações. Seus ouvidos atentos e obro amigo me ajudaram a avançar nessa caminhada.

À Juliana Siqueira, pela parceria de vida.

As minhas amigas, Fernanda Nery, Cintia Alves, Natália Amorim e Raquel Fernandes, pela torcida, solidariedade e amizade. Obrigada!

Aos coordenadores dos cursos de Direito, Medicina, Engenharia Civil e Engenharia de Controle e Automação, por proporcionar o desenvolvimento da pesquisa nos referidos cursos.

Aos técnicos e bolsistas dos referidos cursos, pelas tentativas de colaboração e mediação na coleta dos dados.

Aos quatro estudantes que participaram da pesquisa, pelo interesse e disponibilidade em colaborar e pelo compartilhamento de suas histórias. Por me fazer realizar esse sonho me fazer acreditar que o sucesso é possível mesmo em meio à adversidade.

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Ao colega Marcelo Costa pela ajuda com o abstract. À FACEPE pelo financiamento da pesquisa.

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RESUMO

Nesta pesquisa, tivemos como objetivo identificar as representações sociais de sucesso escolar de estudantes provenientes de escolas públicas, matriculados em cursos de alta seletividade da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e as implicações dessas representações para o acesso a tais cursos. Adotamos a Teoria das Representações Sociais (TRS), proposta por Serge Moscovici (1978) como referencial teórico-metodológico. Representações sociais são conhecimentos construídos no cotidiano, que orientam as práticas e as condutas dos sujeitos. Admitimos que o sucesso escolar de alunos de baixa renda, que ingressaram em cursos de alta seletividade na UFPE, os mobiliza, de alguma forma, por conseguinte, é plausível tomá-lo como objeto de representação social. Autores como Lahire (1997), Charlot (2000), Portes (1993), Zago (2000) e Nogueira (2003), também, subsidiaram nosso estudo. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, pois envolve a dimensão simbólica de um objeto. Tomamos como campo empírico os cursos de Medicina, Direito, Engenharia Civil e Engenharia de Controle e Automação, situados no Centro de Ciências da Saúde, Centro de Ciências Jurídicas e Centro de Tecnologia e Geociências da UFPE, onde localizamos os sujeitos desta pesquisa. De cada curso, escolhemos um estudante, portanto, chegamos a um total de quatro participantes. Na coleta de dados, utilizamos questionário estruturado, que nos forneceu o perfil socioeconômico do grupo e uma entrevista narrativa, através da qual obtivemos informações relativas à trajetória escolar dos investigados. Organizamos e analisamos os dados através da técnica de Análise de Conteúdo de Bardin (1997), tendo como fundamento a teoria moscoviciana. Os resultados indicam que as representações sociais de sucesso escolar, construídas pelos participantes desta pesquisa, estão centradas no mérito e no esforço próprio, associadas a oportunidades, conhecimentos e habilidades adquiridas na escola pública. Conforme as narrativas analisadas, a escola pública tornou-se um dos principais e mais decisivos contextos para a construção das representações sociais de sucesso escolar dos estudantes matriculados nos cursos, acima citados. Tal representação está objetivada nos bons resultados escolares, ou seja, materializada no produto. Os estudantes concretizam o sucesso escolar nos resultados positivos, que são alcançados via notas boas, prêmios, reconhecimento e destaque. Em paralelo, os estudantes ancoram o sucesso escolar na perspectiva de melhoria de vida e de ascensão social. Identificamos, portanto, uma representação social de sucesso escolar construída com base no mérito próprio, intermediada pela escola pública e sua conjuntura, isto é, o sucesso escolar não se reduz a resultados, mas se articula ao contexto e/ou às condições que o propiciam. Mesmo tendo admitido o potencial das políticas de democratização do acesso à educação superior, neste estudo, reconhecemos que tais políticas não têm sido devidamente incisivas no combate à reprodução e à seletividade social de alguns cursos de nível superior. Apesar do discurso do poder público em favor da democratização da universidade, determinados cursos superiores, como os examinados nesta pesquisa, permanecem quase inacessíveis aos estudantes de camadas populares.

Palavras-chave: Sucesso Escolar. Representações Sociais. Cursos de Alta Seletividade.

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ABSTRACT

In this research, the aim was to identify the social representations of school success among students from public schools, registered in highly selective courses from Federal University of Pernambuco (UFPE) and the implications of these representations to the access to such courses. The Theory of Social Representations (TSR) proposed by Serge Moscovici (1978) was chosen as the theoretical framework. Social representations are considered knowledge constructed in everyday life that guides the practices and behavior of the individuals. The school success of low income students that joined in highly selective courses at UFPE is considered a mobiliser, in some ways, and by this reason it is likely to take it as a social representation object. Authors such as Lahire (1997), Charlot (2000), Portes (1993), Zago (2000) and Nogueira (2003) were also some references considered in this research. It is a qualitative research as it involves the symbolic dimension of an object. The Medicine, Law, Civil Engineering and Control and Automation Engineering courses located in the Center of Health Sciences, Center of Law Sciences and Center of Technology and Geo Sciences were the empirical fields in which this research was conducted. A student from each course was selected, so four students participated in total. As for the data collection, a structured questionnaire provided the social and economic profile of the group, and a narrative interview was used to obtain information related to their school history. The data was organized and analyzed through the technique of Content Analysis created by Bardin (1997) and by considering the fundamentals of the Moscovician theory. The results indicate that the social representations of school success constructed by the participants of this research are centered in their own effort and merit, associated with the opportunities, knowledge and abilities acquired during the time spent on the public school. According to the analyzed narratives, the public school became one of the main and most decisive contexts to the construction of social representations of school success of the students registered on the aforementioned courses. Such representation is recognized on the good school results, that is, it is materialized in the product. The students accomplish their school success in positive results which are reached through good grades, prizes, recognition and highlights. In parallel, the students anchor their school success in the perspective of improvement in their lives and social ascension. So, a school success social representation is identified as one constructed with its basis on own merit, intermediated by the public school and its conjecture, that is, the school success does not reduce itself as results, but articulates to the context and/or to the conditions that favor it. Even by admitting the potential of democratization policies to higher education access, in this study, it is recognized that such policies have not been incisive enough in the fight against the reproduction and social selectivity of some higher education courses. Despite the public power discourse in favor of the university democratization, some higher education courses, such as the ones examined in this research, remain inaccessible to students of popular classes.

Keywords: School Success. Social Representations. Highly Selective Courses. Public

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 13

1.1 Objetivos ... 17

1.1.1 Objetivo Geral ... 17

1.1.2 Objetivos Específicos... 17

2 FUNDAMENTOS CIENTÍFICOS:TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E CONCEITUAÇÃO DE SUCESSO ESCOLAR ... 20

2.1 Teoria das Representações Sociais (TRS) ... 20

2.1.1 Origem do Conceito ... 20

2.1.2 Representações Sociais: Em busca de uma definição ... 21

2.1.3 Emergência das Representações Sociais ... 23

2.2 Sucesso escolar dos alunos oriundos das classes populares ... 27

2.2.1 Sucesso escolar e necessidade de contextualização ... 27

2.2.2 Abrangência do conceito de sucesso escolar ... 27

2.2.3 Sucesso Escolar na Produção Científica ... 30

2.2.4 Identificação dos Caminhos Teóricos e Metodológicos que Fundamentam as Dissertações e as Teses Enfocadas ... 36

2.2.5 Teses mais próximas do nosso objeto de estudo ... 38

2.2.6 Um extrato da produção cientifica enfocada: Uma visão sintética ... 40

3 METODOLOGIA ... 43

3.1 O Campo empírico ... 44

3.2 Os participantes da pesquisa ... 46

3.3 Procedimentos de coleta de dados ... 47

3.4 Procedimento de análise dos dados ... 48

4 MEANDROS DA BUSCA E APRESENTAÇÃO DOS ESTUDANTES PARTICIPANTES ... 50

4.1 Os primeiros contatos com o campo: Aguardando os retornos ... 50

4.2 De volta à coordenação dos cursos... 52

4.3 Em contato com os alunos dos cursos de alta seletividade ... 53

4.4 Criando um atalho para encontrar os sujeitos ... 56

4.5 Encontrando os participantes da pesquisa: Aplicação do questionário...57

4.6 Insistindo na busca de mais sujeitos ... 59

4.7 Concluindo a busca e investindo nos quatro sujeitos localizados ... 59

4.8 Perfil dos participantes: Quem fala e de onde fala ... 60

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4.10 Apresentando – JOSÉ ... 64

4.11 Apresentando – PEDRO ... 67

4.12 Apresentando – LUCAS ... 69

5 RESULTADOS – EM BUSCA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE SUCESSO ESCOLAR DOS ESTUDANTES ... 73

5.1 O Sucesso Escolar: Uma construção pessoal e coletiva ... 75

5.1.1 Práticas escolares que favoreceram o sucesso dos participantes ... 75

5.1.2 O Destaque e a busca por superação ... 94

5.2 A escola pública, suas práticas e o ingresso no ensino superior...102

5.2.1 O contexto escolar e sua influência...102

5.2.2 A formação na escola pública...112

5.2.3 Os limites da escola pública na preparação do aluno para o ensino superior...120

5.2.4 A escola pública e a escolha do curso superior...127

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...135

REFERÊNCIAS... 139

APÊNDICES ... 144

APENDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .... 144

APENDICE B - QUESTIONÁRIO INDIVIDUAL ... 146

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1 INTRODUÇÃO

Na literatura educacional que trata sobre o processo de ensino e aprendizagem, tem sido comum a discussão sobre o fracasso escolar de alunos provenientes de áreas mais pauperizadas da sociedade. Esses estudos em seus resultados confirmam o fardo do fracasso dos alunos das escolas públicas, especialmente os moradores das periferias, que raramente conseguem matricular-se em cursos superiores de alta seletividade, especialmente em uma Universidade Pública. Nessa pesquisa, entretanto, pretendemos enfatizar o sucesso escolar de sujeitos oriundos desse meio, fazendo, portanto, o caminho inverso, uma vez que ele tem sido pouco e apenas recentemente estudado.

Sobre isso, cumpre-nos dizer que, na última década, vem ocorrendo um sutil deslocamento dos estudos de fracasso escolar para se investigar o sucesso escolar nos meios sociais, tradicionalmente marcados por trajetórias escolares fracassadas ou de curta duração. Nesse conjunto de estudos aparece de maneira pouco expressiva a realidade de estudantes das classes populares que têm acesso ao ensino superior, considerados casos bem-sucedidos.

É notório, como já sinalizado acima, que as pesquisas sobre o sucesso escolar não são comuns à literatura e, em nosso país, concentram sua produção nas regiões Sul e Sudeste, como observamos com os trabalhos de Carvalho (2010), Costa (2013), Trad (2009), dentre outros. Além disso, percebemos ainda que, na maioria dessa literatura, há uma ausência de estudos sobre os estímulos e contribuições que a escola pública tem dado aos seus alunos para que estes alcancem o sucesso escolar e cheguem ao ensino superior. Os estudos, de modo geral, consistem em descrever e analisar a influência das práticas sociais e estratégias familiares que concorrem para que o aluno de meio social desfavorecido seja bem sucedido na escola com vistas à aprovação em um curso superior e, diante disso, o papel da escola parece estar apenas em conferir o título de passagem aos níveis superiores de ensino.

Em face ao exposto, constrói-se o pressuposto de que a escola pública pode não estar reconhecendo a possibilidade de sucesso dos seus alunos e por isso as práticas sociais e estratégias familiares tem se sobressaído nas pesquisas.

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Consideramos que os achados da literatura contribuem para reforçar a relevância de uma pesquisa que estude o sucesso escolar de estudantes de camadas populares na Região Nordeste, uma investigação que se debruce com maior atenção sobre como a instituição escolar pública tem influenciado o sucesso de seus alunos.

Lembramos que, de acordo com Charlot (2000), estudar o sucesso escolar não constitui uma mera questão pedagógica, mas significa estudar um problema social e econômico, isto porque, segundo o autor: “tanto do ponto de vista da produção e do trabalho como no que tange ao consumo e à vida cotidiana, melhorar o nível de educação e formação da população como um todo se tornou um imperativo econômico, social e cultural” (CHARLOT, 2000, p. 4).

De acordo com Zago (2007), no Brasil, acumulou-se uma produção de pesquisas, cujos resultados confirmam a relação inerente entre origem social e destinos escolares e que de modo surpreendente veem nos últimos tempos contribuindo para a desnaturalização das diferenças de desempenho escolar entre grupos sociais, pois, como demonstram algumas pesquisas, ocorreram avanços entre os indicadores de bem-estar e condições de vida nos meios menos abastados através da escolarização bem sucedida. Porém, os casos de êxito escolar nos meios populares ainda são considerados atípicos, ou seja, uma exceção quando a regra é o fracasso.

Compete dizer que nossa preocupação com o sucesso escolar nos meios populares - os sentidos e significados que se criam em torno dele - não surge de maneira aleatória, mas nasce do contato com as pesquisas realizadas no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) 1, quando tivemos a oportunidade de desenvolver estudos sobre a Teoria das Representações Sociais e sucesso escolar na perspectiva dos alunos bem-sucedidos na escola pública.

Nesse estudo, constatamos que as crianças representam a escola de uma forma positiva e otimista, como garantia de acesso ao mercado de trabalho, fonte de reconhecimento social e, consequentemente, de mudança de vida. A

1

Titulo da Pesquisa: Representações sociais e práticas de sucesso nos ciclos de aprendizagem. Agencia Financiadora: CNPq período: 2011-2012

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educação superior e a universidade foram citadas pela maioria dos alunos entrevistados como essa possibilidade.

Ao longo do desenvolvimento dessas pesquisas, percebemos que a maioria dos alunos de sucesso da educação básica da rede pública de ensino, tinha como referência algum parente, vizinho ou conhecido, mesmo que distante, que chegou à universidade. Para as crianças, esses eram casos de pessoas bem sucedidas, exemplos que deveriam ser seguidos para quem busca melhorar suas condições de vida e ascender socialmente.

Resultados que chegam à conclusão semelhante ao de nossos estudos são encontrados no trabalho de Costa (2013). Os achados de sua pesquisa revelaram a importância do acesso ao curso superior para alunos de escolas públicas pertencentes às camadas pauperizadas da sociedade e reforçaram o já constatado em pesquisas anteriores desenvolvidas por Zago (2006) e Charlot (2000) que mostram que a escolarização vem sendo tomada, de modo especial pelos alunos das camadas populares, como uma via de ascensão social. Na visão desses autores, essa representação tem modificado as práticas desses jovens e suas famílias em busca do acesso ao ensino superior.

Outro fator que nos mobilizou para o desenvolvimento deste trabalho foi o contato com discurso circulante na sociedade, na própria universidade e nas escolas da Rede Municipal de Ensino do Recife (através das disciplinas de Pesquisa e Prática Pedagógica) durante o curso de graduação em Pedagogia da UFPE sobre o fracasso escolar das pessoas mais pobres. Nessas experiências, era recorrente o discurso de que os alunos de meios populares fracassam na escola e os de classe economicamente mais favorecida nela logram sucesso. Reforçamos, como já dito antes, que esse discurso ainda é confirmado nas pesquisas que estudaram o fracasso escolar.

As experiências descritas levaram a uma maior aproximação com a representação de sucesso escolar elaborada pelos sujeitos que participam do processo educacional desses alunos referenciados, e sendo assim, no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) investigamos o sucesso escolar nas representações sociais dos familiares de alunos das camadas populares que conseguem lograr sucesso acadêmico. O resultado desse trabalho reforçou a necessidade de um maior aprofundamento das representações formadas pelos

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próprios alunos. Foi preponderante nas falas das famílias que o apoio e estímulo externo são importantes, mas o mérito individual ganha relevo maior.

Na referida pesquisa, como exemplos da importância do mérito e esforço individual os pais citam histórias de pessoas que tiveram apoio familiar e fracassaram na escola e na vida e, em contrapartida, de pessoas que eram desprovidas de apoio e conseguiram galgar êxito escolar e garantir a melhoria de vida, ou seja, reiteram que o esforço individual é determinante para o sucesso escolar e de vida desses alunos.

Outro motivo que nos impulsiona para estudar as representações sociais de sucesso escolar de alunos provenientes de meios populares é reforçado pelo fato de que, assim como diz Zago (2000), no seu estudo sobre o prolongamento do ensino das camadas menos abastadas, nos últimos anos essa questão tem ocupado lugar de destaque na mídia que vem publicando matérias e reportagens sobre o êxito de estudantes originários da rede pública de ensino e de família de baixa renda2.

Esses casos têm grande repercussão nas mídias televisivas e impressas locais e nacionais. Convém dizer que esse fator - mídia - torna-se importante em estudos que utilizam a TRS, pois uma das motivações de Moscovici na realização do estudo inaugural foi se aproximar da forma como vários grupos da sociedade representavam a Psicanálise, em um momento em que esta ciência estava tendo grande espaço na mídia impressa da época. Em seu estudo, Moscovici mostrou que as informações que determinadas mídias disseminavam atingiam seu público alvo e influenciavam na forma como eles representavam a Psicanálise.

Portanto, segundo Moscovici (1978), a mídia exerce um importante papel na construção das representações sociais. No tocante a isso, pressupomos que a repercussão midiática dos casos de alunos bem-sucedidos, provenientes de camadas populares, pode estar transformando a representação desse sucesso e, assim, é possível que esteja orientando práticas diferentes.

Dessa forma, entendemos que identificar as representações sociais de sucesso escolar, elaboradas por alunos egressos de escola básica pública, que

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Um exemplo emblemático de superação que provocou a surpresa de muitos, foi o de um jovem, oriundo de uma família de classe popular, cuja mãe era coletora de materiais recicláveis, ter sido aprovado em primeiro lugar no vestibular da UFPE, para o curso de Biomedicina.

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ingressaram no ensino superior em cursos tradicionalmente destinados a elite, torna-se importante por acessar os sentidos que se formam em torno desse objeto; conhecer também as práticas desse sujeito em prol do acesso ao curso superior, influenciadas e orientadas por essa representação ajuda a estabelecer uma aproximação maior das perspectivas desses alunos o que pode permitir uma possível adequação do sistema educacional público e suas ações, assim como dos agentes educacionais, no que se refere às necessidades desses alunos, para que se desenvolva uma prática que tente superar ou minimizar as adversidades do ensino para essa parte da população, diminuindo assim as desigualdades educacionais e, consequentemente, sociais já naturalizadas na sociedade.

Em face do que expomos, a presente pesquisa procura responder aos seguintes questionamentos: a) Quais são as representações sociais de sucesso escolar construída por alunos egressos de escola básica pública que conseguiram ingressar em cursos superiores de alta seletividade na UFPE? b) Como essas representações de sucesso estão influenciando e orientando as práticas escolares desses alunos no interior desses cursos?

A partir das questões formulamos os seguintes objetivos:

1.1 Objetivo geral:

 Identificar as representações sociais de sucesso escolar de estudantes provenientes de escolas públicas, matriculados em cursos considerados de alta seletividade da UFPE e implicações dessas representações para o acesso nesses cursos.

1.2 Objetivos específicos:

 Caracterizar quem são os alunos matriculados em cursos superiores de alta seletividade da UFPE, egressos de educação básica pública;

 Identificar como as práticas escolares em instituição pública incentivaram e contribuíram para o sucesso escolar desses estudantes;

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 Evidenciar as estratégias utilizadas por esses alunos para ingressar em um curso superior de alta seletividade frente a um contexto de adversidades.

Para o desenvolvimento da pesquisa utilizamos como aporte teórico-metodológico a Teoria das Representações Sociais (TRS). As representações sociais são uma forma de saber socialmente elaborado e partilhado, com um objetivo prático, ou seja, capaz de orientar as práticas e condutas do sujeito (JODELET, 2001). Por valorizar os conhecimentos construídos no cotidiano e considerar que esses conhecimentos influenciam e direcionam as práticas dos sujeitos, a TRS se faz pertinente, uma vez que queremos conhecer a representação social de sucesso escolar de estudantes de meios populares e como essas representações influenciaram e influenciam as práticas concorrentes para alçar sucesso acadêmico. Entendemos como práticas neste estudo as estratégias utilizadas pelos próprios alunos para lograrem êxito escolar em meio a um contexto adverso à aprendizagem.

Esta pesquisa, de natureza qualitativa, foi desenvolvida em diferentes centros acadêmicos da UFPE - Campus Recife e envolveu quatro estudantes matriculados nos cursos de Direito, Engenharia Civil, Medicina e Engenharia de Controle e Automação. Para desenvolver o estudo, primeiramente, foi aplicado um questionário para traçar um perfil do grupo pesquisado e, em seguida, utilizamos entrevistas narrativas para identificar as representações sociais de sucesso escolar construídas por alunos egressos de Escola Básica Pública, que conseguiram ingressar nesses cursos de alta seletividade.

O presente texto dissertativo contém cinco capítulos, seguidos das considerações finais, e apêndices.

A introdução apresenta os interesses de pesquisa, questionamentos que orientam o estudo, objetivos e escolhas teóricas e metodológicas para o caminhar da investigação.

O Capítulo 2 contém os fundamentos teóricos das representações sociais com enfoques nos seguintes aspectos: conceito básico, processos de construção das RS e aplicações à educação. Aborda tambémo conceito de sucesso escolar, produção científica sobre o tema e suas vinculações com o estudo proposto.

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No Capítulo 3, explicitamos a metodologia adotada, tendo sido dada ênfase na conceituação de pesquisa qualitativa aos procedimentos de coleta e análise utilizados para desenvolver o estudo.

No Capítulo 4, expomos a primeira parte dos resultados detalhando sobre os meandros da busca e apresentação dos estudantes de escola pública matriculados em cursos de alta seletividade na UFPE.

Os depoimentos recolhidos com as narrativas sobre sucesso escolar dos sujeitos são tratados no capítulo 5. Neste capítulo, enfocamos as representações sociais de sucesso escolar e seus contextos de construção.

Nas considerações finais, retomamos o objeto estudado, apresentamos uma síntese das respostas às questões propostas para o estudo, avaliamos o percurso e indicamos limites e perspectivas gerados pela investigação realizada.

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2 FUNDAMENTOS CIENTÍFICOS: TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E CONCEITUAÇÃO DE SUCESSO ESCOLAR

Neste capítulo, apresentamos nosso aporte teórico, que está constituído de dois enfoques: representações sociais e sucesso escolar das camadas populares. Inicialmente, enfocamos a Teoria das Representações Sociais: origem, aspectos conceituais e aderência da teoria ao objeto investigado. E, em um segundo momento, explicitamos o conceito de sucesso escolar com ênfase nos seus aspectos processuais.

2.1 Teoria das Representações Sociais (TRS)

2.1.1 Origem do Conceito

A Teoria das Representações Sociais, elaborada por Serge Moscovici (1928-2014), tem como matriz os estudos desenvolvidos por Emile Dürkheim (1858–1917), no final do século XIX.3

, precisamente o seu conceito de representações coletivas. Na obra de Dürkheim, o termo representações diz respeito à especificidade do pensamento coletivo em detrimento ao pensamento individual. As representações coletivas são categorias muito gerais de pensamento, através das quais a sociedade como um todo elabora e expressa sua realidade.

De acordo com Moscovici (1978), o termo - representações coletivas – é apropriado às sociedades menos complexas, e o termo - representações sociais – (devido ao seu caráter móvel e flexível) é mais adequado ao mundo contemporâneo em decorrência das constantes mudanças econômicas, políticas e sociais.

3

As formas elementares da vida religiosa, obra publicada originalmente por Emile Durkheim em 1912, foi o ponto de partida para a teorização de Moscovici. No Brasil, o texto é publicado pela Editora Martins Fontes.

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Segundo Lagache (1976), a intenção de Moscovici ao estudar a disseminação e o impacto da psicanálise entre os diferentes estratos sociais franceses decorreu do fato de que este fenômeno se constituía em um evento cultural característico das sociedades modernas, que ultrapassava o domínio restrito das ciências, literatura e filosofia, apresentando-se, portanto, como sendo “[...] um excelente objeto de estudo para se averiguar em que se converte uma disciplina científica e técnica quando passa ao domínio comum, como o grande público a representa e modela e por que vias se constitui a imagem que dela se faz” (LAGACHE,1976, p.7).

Ao reconfigurar o conceito de representações coletivas, Moscovici (1978) em sua obra clássica A Psicanálise, sua imagem e seu público, afirma que o conhecimento científico e o conhecimento do senso comum são diferentes, mas são complementares. Os saberes do cotidiano são plásticos e adaptáveis, por conseguinte, incorporam e transformam o que a ciência produz.

Machado (2003) afirma que a absorção da ciência pelo senso comum não é, como tradicionalmente se defendia, uma vulgarização do saber científico, pois é um tipo de conhecimento adaptado a outras necessidades, que obedece a critérios e contextos específicos.

Na mesma direção, Jovchelovitch (1996) explica que os saberes construídos no cotidiano não são menos sábios, não há uma hierarquização entre os saberes. Além disso, há um tipo de racionalidade presente no pensamento natural que se expressa nos modos individuais e coletivos de viver. Nessa perspectiva, a restituição do valor epistemológico do saber comum é uma tarefa desempenhada pela TRS.

2.1.2 Representações Sociais: Em busca de uma definição

“A representação social é uma modalidade de conhecimento particular que tem por função a elaboração de comportamentos e a comunicação entre indivíduos” (MOSCOVICI, 1978, p.26). As representações sociais são entidades quase tangíveis, que são difíceis de definir, contudo, são simples de se identificar,

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pois circulam, mesclam e se cristalizam permanentemente por meio de gestos, falas e ações cotidianas entre os sujeitos.

Conceitos como os de imagem, opinião, atitude, crenças, valores e normas sociais são relevantes, mas não conseguem abarcar a noção moscoviciana de representação social. Moscovici (1978) explicita os significados de opinião, imagem, atitude e campo, tentando alinhá-los às novas formas de se pensar o processo de construção do conhecimento na sociedade, conforme o que se segue.

O conceito de RS difere do conceito de opinião, pois abrange os seguintes elementos: contexto de formação; conceitos que lhe subsidiam; e julgamentos emitidos. Diferencia-se de imagem uma vez que não é uma reprodução exata do real; não é uma repetição passiva da realidade e não possui aspecto engessado. Ao contrário, a RS é uma reacomodação ou ressignificação do objeto representado. Além disso, estímulo e resposta se constroem juntos, portanto, a noção de imagem em RS não é um reflexo interno de uma realidade externa. Difere dos dois conceitos (opinião e imagem), pois é um fenômeno contextualizado, singular e dinâmico.

Representar não é um processo simples; envolve, além da imagem, um sentido simbólico. Conforme Jodelet (2001, p. 27), há quatro características fundamentais no ato de representar:

 A RS é sempre representação de alguma coisa (objeto) e de alguém (sujeito);

 A RS tem com seu objeto uma relação de simbolização (substituindo-lhe) e de interpretação (conferindo-lhe significações);

 A RS é uma forma de saber;

 Esse saber é prático, ou seja, vincula-se aos contextos e às condições em que ele é produzido, portanto, a RS possibilita agir sobre o mundo e o outro.

Toda representação social funciona como um sistema de interpretação da realidade que rege as relações dos indivíduos com o seu meio físico e social, por conseguinte, interfere nos comportamentos e práticas individuais e/ou coletivas. Constitui um guia para a ação, que orienta as práticas e as relações sociais. (MOSCOVICI, 1978).

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As representações sociais são consideradas como uma forma de conhecimento do senso comum que é partilhado socialmente. São conhecimentos elaborados por um sujeito ativo em intima interação com um objeto, que é construído pela cultura, portanto, revela as marcas do sujeito e do objeto. As representações dos objetos pelos sujeitos se produzem em uma relação dialética tão estrita entre ambas, que sujeito e objeto se fundem e se transformam.

Sob a mesma ótica, Jodelet (2001) afirma que as representações sociais formuladas pelo sujeito são uma forma de saber socialmente elaborado e partilhado, que têm um objetivo prático capaz de orientar as ações e as condutas do sujeito. Tais representações refletem nos discursos e nas vivências dos grupos, a forma como (os grupos) interpretam, explicam e justificam a realidade, ou seja, determinam as respostas e ações a serem executadas.

2.1.3 Emergência das Representações Sociais

As representações sociais estão vinculadas a um contexto, pois eclodem nas múltiplas relações e interações entre o sujeito concreto e a sociedade. O sujeito aqui considerado como um sujeito social, cuja atividade é cognitiva e simbólica. Esse processo de elaboração simbólica e cognitiva orienta os comportamentos, conforme Madeira (2002, p. 02) afirma:

[...] uma representação social não pode ser captada como um dado estanque e isolado, mas no movimento pelo qual o homem concreto- relacionado e histórico – vai, continuamente, atribuindo sentido aos objetos dos quais se apropria: as representações sociais, tanto caracterizam e distinguem grupos, quanto aproximam, dando condições de inteligibilidade às ações e reações e permitindo que os indivíduos circulem e estabeleçam trocas de diferentes ordens. Desta forma a atribuição de sentido é um processo dinâmico e criativo, no qual o indivíduo se faz e expressa como indivíduo social.

De acordo com Santos (2005), são as três condições peculiares às situações sociais que concorrem para a emergência das representações sociais: dispersão da informação, focalização e pressão à inferência.

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A dispersão da informação diz respeito às diversas versões da informação que circulam sobre o fenômeno em foco e que perpassam na sociedade através de várias fontes. Por serem dispersas e fragmentadas, tais versões impossibilitam apreender todos os elementos do objeto. Isso requer dos sujeitos um certo consenso, o que os leva a pactuar uma nova versão do objeto em foco a partir de seus referentes. Santos (2005) considera que a dispersão não se refere apenas à diversidade de informações, mas às condições objetivas de acesso a elas, tais como: barreiras educativas, obstáculos na transmissão e efeitos de especialização. Tais aspectos contribuem para diferenciar as versões pactuadas. A focalização que o sujeito faz de algum aspecto do objeto em detrimento de outros está orientada pelos interesses diferenciados dos grupos. Tal focalização não se refere, apenas, ao nível de escolaridade, pois é regida também pelo crivo moral, cultural e ideológico dos grupos, de seus hábitos lógicos e linguísticos. Essa atenção variada exercerá influência sobre o modo como os sujeitos apreendem as informações, uma vez que o novo depende de conhecimentos anteriores, conforme Santos, (2005).

A terceira condição, a pressão à inferência refere-se a uma necessidade do sujeito de reagir à dinâmica social, tomar partido, dar uma resposta às incitações do grupo e se posicionar acerca do objeto. É uma forma de responder à pressão social para alcançar um consenso que reduza o desconforto causado pelo não familiar. Resulta num esforço do sujeito em obter certo domínio sobre o objeto, saber falar sobre ele, agir e tomar posição diante de situações semelhantes.

A TRS valoriza o processo pelo qual os indivíduos, seres históricos e relacionais, atribuem sentido aos objetos na sua relação com o mundo. Desse modo, torna-se relevante sua utilização na área educacional, devido às suas atribuições e métodos, que tentam superar as dicotomias e estagnações que possam impedir a aproximação do objeto. As análises da representação da psicanálise dos parisienses despertaram em Moscovici (1978), a compreensão de que a atividade de representar era tornar o não familiar, familiar aos sujeitos. As transformações e os ajustes de objetos e ideias não familiares para que se tornem conhecidos pelos sujeitos exigiu a sistematização do como se processa o ato ou atividade de representar.

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As RS têm sua gênese em dois processos psicossociais: objetivação e ancoragem, através dos quais Moscovici (1978) explica a imbricação e a relação entre atividade cognitiva e as condições sociais em que são elaboradas e funcionam.

Para Jodelet (1984, apud Trindade et al, 2011, p. 112), a objetivação traz à tona “[...] a invenção do social na representação, enquanto a ancoragem diz respeito à representação no social.” A objetivação torna concreto aquilo que é abstrato. Relaciona-se ao fato de se explicar, atribuir significações a algo novo, incorporando ao já construído. Transforma um conceito em imagem de alguma coisa, retirando-o de seu quadro conceitual científico, pois privilegia “[...] certas informações em detrimento de outras, simplificando-as, dissociando-as de seu contexto original de produção e associando-as ao contexto do conhecimento imagético do sujeito ou do grupo” (TRINDADE et al, 2011, p. 109, 110).

Barra Nova e Machado (2014) sintetizam a objetivação na materialização/concretização de algo abstrato. Segundo as autoras, a objetivação constitui uma tentativa de aproximação do desconhecido, tornando real e acessível ao senso comum um esquema que antes se configurava simplesmente como conceitual.

A ancoragem funciona como uma amarração do estranho, ou seja, uma sedimentação do novo ao contexto familiar do indivíduo. Corresponde à incorporação de novos elementos de um objeto em um sistema de categorias familiares aos indivíduos. “A ancoragem permite ao indivíduo integrar o objeto da representação em um sistema de valores que lhe é próprio, denominando-o e classificando-o em função dos laços que este objeto mantém com sua inserção social” (TRINDADE et al, 2011, p. 110).

A ancoragem constitui-se como uma atividade que introduz o estranho e o desconhecido em categorias que já são familiares ao indivíduo. Assim, ancorar é trazer o novo para o familiar. (BARRA NOVA e MACHADO, 2014).

A TRS vem sendo bastante útil no processo de compreensão dos mais diversos objetos. Segundo Sá (1998), a utilização da teoria, particularmente no Brasil, estende-se a diferentes áreas do conhecimento, configurando-se como um tipo de saber interdisciplinar, que colabora com a explicação de problemas relevantes para áreas científicas diversificadas.

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Como tem dialogado com outros referenciais, da TRS surgem vertentes, que aprofundam conceitos e ideias originais de Moscovici e, assim, florescem novos desdobramentos da grande teoria. Sá (1998) destaca três correntes: a original ou cultural, a abordagem estrutural e a societal. A abordagem original trabalha em uma perspectiva mais antropológica, na qual se destaca Denise Jodelet; a segunda, formulada por Willem Doise, aborda as condições de produção e circulação das representações sociais; e a terceira destaca a dimensão cognitiva-estrutural das representações, tendo Jean Claude Abric como seu maior expoente.

Nesta pesquisa, adotamos os pressupostos originais que enfocam o processo da elaboração da representação, que tem como maiores protagonistas o Serge Moscovici e Denise Jodelet, conforme já citamos. Nessa abordagem, as representações sociais funcionam como resultado da interpretação de significados que os indivíduos utilizam para entender o mundo. São construções mentais, elaboradas através da atividade simbólica do sujeito, no processo de comunicação, e estão presentes em todas as áreas do sistema social. Desta maneira, como objeto de estudo da Psicologia Social, a RS permite a articulação do social e do psicológico, tornando-se instrumento de compreensão e de transformação da realidade.

Apoiada em tal perspectiva teórica, neste estudo pretendemos identificar as representações sociais de sucesso escolar, elaboradas pelos alunos de cursos de alta seletividade na UFPE, que são provenientes de escolas públicas e de camadas menos abastadas. Iremos identificar e analisar suas implicações práticas, ou seja, as estratégias utilizadas por esses alunos em prol da aprendizagem e da trajetória escolar bem sucedida. Torna-se indispensável lembrar que, de acordo com Sá (1998), algo para ser objeto de representação social deve mobilizar determinado grupo. O autor afirma que para gerar representações sociais o objeto deveria ter suficiente relevância cultural ou espessura social. Entendemos que este objeto (o sucesso escolar de estudantes de camadas populares) mobiliza os sujeitos, pois é difícil de explicar as situações de êxito escolar quando a realidade social e cultural do aluno é desfavorável à sua escolarização.

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Portanto, admitimos que o sucesso escolar daqueles que ingressaram em cursos de alta seletividade na UFPE, consegue mobilizá-los de alguma forma, o que torna plausível tomá-lo como objeto de representação social.

No próximo item, enfocamos o sucesso escolar, procurando examinar a ocorrência deste fenômeno em contextos socioeconômicos desfavorecidos.

2.2 Sucesso escolar dos alunos oriundos das classes populares

2.2.1 Sucesso escolar e necessidade de contextualização

Na literatura especializada, o tema sucesso escolar é escasso e recente, uma vez que o foco sempre esteve voltado para os problemas relativos ao fracasso escolar.

No Brasil, o tema sucesso escolar em camadas populares começou a ser pesquisado a partir da década de 1990, e tem despertado a atenção de diversos teóricos em relação à sua improbabilidade. Os estudos sobre o sucesso escolar, como os de Portes (1993); Lahire (1997); Viana (1998); Zago (2000); Charlot (2000); Carvalho (2010); e Costa (2013), dentre outros, reconhecem, em linhas gerais, que o sucesso escolar é uma categoria complexa, que exige investigação contextualizada, uma vez que é uma condição na qual o sujeito se encontra e não um fato isolado. Portanto, os estudos que se preocupam com este tema precisam analisar os fatores que levaram o sujeito a alcançar bons resultados escolares.

Como afirma Lahire (1997), em primeiro lugar, torna-se necessário contextualizar os fenômenos que se quer investigar. Pode-se admitir que as interpretações sobre o sucesso escolar se enfraquecem, quando ignoram sua interdependência com a realidade social. Vários fatores, tais como: inteligência, esforço, dificuldade da tarefa, sorte, temperamento, cansaço, influência do professor e de outras pessoas são, geralmente, responsáveis pelas experiências de sucesso e/ou fracasso acadêmico.

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Não há uma unanimidade acerca da definição de sucesso escolar. Para Lahire (1997), a noção de sucesso escolar deve ser entendida a partir de suas variações históricas (inerentes ao mercado de trabalho) e sociais (o resultado brilhante para uns pode ser o mínimo esperado para outros). Ao considerar a inexistência de uma definição única de sucesso escolar, faz-se necessário apreendê-lo a partir de fatores que podem estar relacionados ao sucesso escolar dos alunos, segundo eles próprios, atores protagonistas dessa escolarização. Segundo Charlot (2000), deve-se levar em consideração a história de cada um.

Em geral, o sucesso acadêmico pode ser entendido como resultante da aprendizagem eficaz dos conteúdos escolares e, também, a partir do alto desempenho escolar, que é expresso em boas notas ao longo da escolarização, premiações e pareceres positivos dos professores. Esse bom desempenho se deve a fatores diversos como a origem social, nível de expectativas e investimento dos pais na escolarização dos filhos, contexto escolar, inteligência e motivação, embora não haja consenso acerca de tais interferências. Nesta pesquisa, estamos considerando como sucesso acadêmico ou escolar, o ingresso de alunos das camadas populares, egressos de escolas públicas, nos cursos considerados de alta seletividade acadêmica e social.

De acordo com Perrenoud (2003), o sistema educacional entende o sucesso sobre outra perspectiva. Para as políticas públicas educacionais, tal conceito significa alcance de índices, bons resultados nas avaliações externas em larga escala que, para os educadores, em nada consideram a diversidade do ensino e dos estudantes.

O sucesso escolar pode ser atribuído, ainda, a uma instituição de referência, por exemplo, o trabalho de Cerdeira (2008) analisa a somatória dos êxitos individuais dos alunos. Nesta lógica de mérito, o pertencimento de lugares sociais é reservado a alguns sujeitos, e em decorrência, eles receberão o direito à ocupação de posições sociais, ou seja, permite a alguns a ocupação de lugares sociais privilegiados, enquanto responsabiliza outros por seu insucesso.

Diante disso, entendemos que o sucesso é um conceito complexo, construído socialmente como um atributo da realização humana, embora tenha diversas concepções e expressões nos diferentes tempos históricos. De acordo com Marujo (2002), o sucesso apresenta-se de maneira distinta nos grupos

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sociais, no entanto, é parte das aspirações humanas e, muitas vezes, é central na vida, e está presente nas conversações cotidianas e em projetos formais. O ser humano aprende a desejá-lo em diversos aspectos: na família, com os amigos, na escola, na profissão e no plano financeiro.

Em relação à vida escolar, o sucesso pode se apresentar de forma diferenciada para os diversos segmentos: alunos, pais, escolas, sistema educacional e sociedade, e o seu alcance é influenciado por parâmetros individuais e sociais. Assim, a concepção de sucesso escolar difere de aluno para aluno e de escola para escola, em decorrência dos referenciais condicionados pelo mundo do trabalho e pelos valores culturais. De modo geral, podemos dizer que o investimento no sucesso de uma pessoa envolve uma multiplicidade de fatores individuais, tais como: capacidade intelectual; otimismo; autoestima, preparação acadêmica; motivação, e fatores extrínsecos, como o contexto social, familiar e escolar.

Pais e alunos compartilham crenças e concepções relativas ao tema sucesso escolar e, também, aos atributos pessoais e aos comportamentos requeridos para alcançá-lo. Além disso, privilegiam determinadas estratégias que julgam adequadas para obtê-lo, e as consequências de ser ou não um aluno de sucesso. Essa construção do conceito de sucesso é histórico-social, pois depende das relações que o sujeito tem com o grupo no qual está inserido, das normas e valores vivenciados em determinado tempo histórico.Segundo Faria e Fontaine (1989), as interpretações pessoais do sucesso, ou seja, o que o sujeito pensa acerca dele, o que considera como suas possíveis causas, os comportamentos adequados para seu alcance e as consequências de ser, ter ou não ter sucesso, formam as teorias pessoais do sucesso e tais teorias indicam caminhos e interferem nas escolhas dos indivíduos.

Diante dos múltiplos conceitos de sucesso, consideramos relevante entender o contexto escolar, que é influenciado pela representação de sucesso escolar, elaborado por alunos egressos de escolas públicas, pertencentes a essa camada menos abastada da sociedade, que já fazem parte de um curso superior de alta seletividade acadêmica de uma Universidade Pública.

Temos interesse em saber como o contexto escolar e a instituição pública estimulam a busca pelo sucesso dos alunos que, tradicionalmente, são fadados

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ao fracasso. Conforme afirma Zago (2006), alguns estudos acadêmicos e várias mídias sociais têm registrado exemplos de superação daquelas pessoas que vivenciam contextos adversos e socialmente desfavorecidos. Frente a isso, julgamos relevante desenvolver este estudo à luz de uma teoria, que tem o seguinte pressuposto: a representação de determinado objeto se constrói através do contexto e, sobretudo, tal representação poderá mobilizar práticas sociais diferentes.

2.2.3 Sucesso Escolar na Produção Científica

Com a finalidade de buscar referências para melhor compreender e delimitar nosso objeto de estudo, realizamos uma pesquisa tipo estado da arte. De acordo com Romanowsky e Ens (2006), esse tipo de pesquisa contribui para construção e ampliação do campo teórico de uma determinada área do conhecimento e/ou de um objeto específico dessa área.

Com a realização desse levantamento conseguimos localizar as principais contribuições trazidas pelos estudos desenvolvidos sobre o tema e identificar as lacunas existentes na produção. Procuramos compreender a discussão circulante, em âmbito nacional, relativa ao sucesso escolar de alunos das camadas populares, oriundos de escola pública, que ingressam no ensino superior. Além disso, examinamos o modo de sistematização e organização dessa produção.

Como fonte de dados, usamos a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) e o Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior (Capes). Essas fontes de dados contêm produções completas e agregam a produção científica educacional nacional, em nível de mestrado e doutorado, o que justifica a nosso escolha.

Nesse levantamento, privilegiamos o período de 1990 a 2015, tendo em vista que, no Brasil, o sucesso escolar, especialmente das camadas populares, vem sendo estudado de maneira mais significativa a partir das duas últimas décadas, conforme os clássicos lidos e já citados sobre o tema, tais como:

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Bernard Lahire (1997), Bernard Charlot (2000), Maria Alice Nogueira (2004), Nadir Zago (2006).

Além disso, partindo de uma ordem cronológica da realização de pesquisas em âmbito nacional, identificamos que o primeiro trabalho foi a dissertação de Écio Antônio Portes, Trajetórias e estratégias escolares de universitários das camadas populares, que foi defendida em 1993, no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFMG.

Para o refinamento da nossa busca, utilizamos os descritores: sucesso escolar; sucesso escolar das camadas populares e sucesso escolar das camadas populares no ensino superior. De início, usamos o descritor sucesso escolar com o objetivo de identificar estudos e debates relativos ao tema, áreas do conhecimento e sentidos atribuídos. Em seguida, acrescentamos o termo camada popular ao descritor sucesso escolar com a finalidade de saber o que tem sido considerado sucesso escolar de alunos oriundos dessa camada da sociedade. Também buscamos compreender o que se tem percebido como camadas populares na conjuntura educacional. Com a inclusão do descritor ensino superior, tivemos a intenção de encontrar trabalhos referentes ao contexto desses sujeitos.

Consideramos necessário apresentar ainda algumas informações pertinentes a essa etapa da nossa pesquisa. Adotamos os seguintes critérios: os trabalhos deveriam conter o descritor no título, no resumo e nas palavras chaves e situar-se no período entre 1990 até 2015. Não adotamos filtros de idioma, nem de área do conhecimento. Após a seleção dos trabalhos, lemos os resumos e, em alguns casos, para maior esclarecimento, alguns capítulos lemos na íntegra, os trabalhos mais próximos do nosso objeto de estudo. Nesse levantamento, analisamos também elementos quantitativos e qualitativos dos trabalhos.

Referente aos dados quantitativos que obtivemos a partir do uso do descritor sucesso escolar junto aos dois bancos de dados já citados, ressaltamos os seguintes resultados: total de 27 (vinte e sete) trabalhos, assim distribuídos: 19 (dezenove) na BDTD e (8) oito na CAPES. No entanto, 6 (seis) se repetiram, ou seja, estavam publicados nos dois bancos, portanto, contabilizamos um total de 21 (vinte e um) trabalhos diferentes.

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Desse total, três são teses de doutorado e dezenove são dissertações de mestrado. O trabalho mais antigo foi publicado em 1993 e o mais recente 2014. Após examinar a localização desses trabalhos, chegamos aos seguintes resultados: dos 21 (vinte e um) trabalhos, 13 (treze) são oriundos do Estado de São Paulo; 3 (três) de Goiás; 2 (dois) do Rio de Janeiro; um do Rio Grande do Sul; um de Minas Gerais; e um do Ceará. Tais resultados confirmam a existência de uma concentração dos trabalhos, que versam sobre o sucesso escolar, nas regiões Sul e Sudeste do País.

Todos os trabalhos estão vinculados aos Programas de Pós-graduação em Educação e, a sua maioria, está inserida em linhas de pesquisa de cunho sociológico ou psicológico.

No tocante aos dados qualitativos da pesquisa, procuramos, inicialmente, entender como esse tema tem sido discutido. De início, ressaltamos que o termo sucesso escolar assume um caráter subjetivo e polissêmico, tendo sido utilizado em diferentes sentidos: ora como adjetivo de uma prática específica, ora como condição de um ou mais sujeitos. Muitas vezes, para qualificar instituições, outras vezes para avaliar gestões e políticas e, em alguns casos, para evidenciar os resultados de trajetórias de superação.

Na maioria das pesquisas, a discussão relativa ao sucesso escolar está associada ao fracasso com enfoque em contextos e em resultados negativos, que precisam ser enfrentados até chegar ao sucesso. No entanto, esse sucesso não recebe uma conceituação ou definição, apenas são mostrados os elementos que poderiam modificar a realidade fracassada. Diante desse cenário, agrupamos os trabalhos que tinham semelhanças em seus objetivos e resultados.

Inicialmente, constatamos que parte dos estudos tem dado maior atenção às interações que acontecem no processo de ensino e de aprendizagem, e podem concorrer para o suposto sucesso escolar dos alunos. Por exemplo, os trabalhos de Trisotto (2008), Ferreira (2009) e Pavan (1996) analisam de modo específico, a influência do professor para o sucesso acadêmico dos estudantes.

Tais pesquisas apresentam a problemática da defasagem na aprendizagem dos alunos diante dos dados de avaliações institucionais, que comprovam um percurso de insucesso escolar mesmo diante da implantação de políticas públicas, que têm por objetivo melhorar a qualidade do ensino nas escolas. Diante

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disso, buscam analisar como a formação, crenças e valores dos educadores podem promover o sucesso escolar dos estudantes. Nesse sentido, ganha relevo o perfil dos professores das escolas que alcançam bom desempenho. Os pesquisadores partem da hipótese de que, para além da situação socioeconômica dos alunos e das condições institucionais reais, o corpo docente é um fator que contribui para o sucesso escolar.

A partir da análise de diversos dados, tais como: nível socioeconômico, condições de trabalho, percursos escolares, profissionais e práticas pedagógicas, os pesquisadores traçam as características de professores que garantem trajetórias escolares de sucesso. As pesquisas destacam, com o apoio da literatura nacional e internacional, que as escolas, cujos resultados são positivos nas avaliações institucionais, apresentam as seguintes características: os professores têm boas expectativas em relação ao desempenho dos alunos; articulam os conteúdos entre si; e ministram os conteúdos de ensino, de uma maneira coerente. Dessa forma, garantem a assistência dos alunos.

Estudos dessa natureza evidenciam a necessidade de uma rigorosa revisão das práticas pedagógicas que, às vezes, estão fundamentadas em mitos e/ou em equívocos relativos à construção dos conhecimentos dos alunos. Destacam, também, a urgência de maiores investimentos em formação continuada, que estimule e efetive o exercício de reflexão dos professores sobre suas práticas. Diante disso, tais pesquisadores consideram que é preciso haver uma aproximação maior entre o conhecimento produzido na academia e as práticas educativas.

Ainda no campo das relações que concorrem para o sucesso escolar outro elemento ganha força: a relação da família com os alunos e com as instituições de ensino. Com essa perspectiva, Donencio (2014) afirma que a representação que os pais têm de escola, que é transmitida aos filhos, exerce forte influência nos resultados obtidos durante trajetória escolar. Nessa pesquisa, alguns pais ressaltam a necessidade da educação escolar como um instrumento de acesso a um futuro melhor.

Ainda nesse sentido, determinados trabalhos estudam, especificamente, a concepção de educação como investimento financeiro. Os dados destas pesquisas mostram que o investimento financeiro materializado em mensalidades

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de escolas particulares de elite, cursos de idiomas e de matérias isoladas, dentre outros recursos, estão determinando o sucesso escolar dos alunos. Fica claro que tais pesquisas estão relacionadas a uma classe social privilegiada financeiramente.

Na maioria dos estudos o sucesso escolar é examinado como via de superação, ou seja, de minorias que conseguem lograr êxito acadêmico mesmo diante de algumas improbabilidades. As pesquisas de Cruz (2013), Pires (2008), Vasconcelos (2001), Arantes (2013) e Carvalho (2006) investigam trajetórias e histórias de vida com enfoque em fatores socioeconômicos e culturais, por exemplo: negritude, gênero e inclusão social.

Nesse levantamento da produção acadêmica, identificamos alguns estudos, que relatam trajetórias bem sucedidas de alunas, mais especificamente, da educação básica/Ensino Médio. Tais pesquisas investigam a construção simbólica do sucesso escolar, no universo feminino como inserção no universo social, ou seja, o significado que as jovens alunas dão ao sucesso escolar para se manterem com bom desempenho acadêmico com vistas à colocação profissional e social. Os resultados revelam a necessidade de repensar o sucesso escolar como uma categoria de gênero, que assume sentido em um processo de ressignificação do papel da mulher na sociedade. A inclusão dessas jovens alunas na sociedade está envolvida por elementos de natureza econômica, social e política, que criam novas expectativas e transformam a educação formal em um elemento decisivo no processo de ascensão social e de sucesso profissional. Dessa forma, o sucesso escolar torna-se uma estratégia de inclusão social.

Ainda nesse sentido, encontramos trabalhos que investigam trajetórias de mulheres negras que obtiveram sucesso escolar e social. Os trabalhos identificam os fatores que promovem a longevidade escolar e mobilidade social das jovens negras, que vivenciaram processos de escolarização diferenciados do restante do conjunto da população negra.

A inclusão de pessoas com necessidades especiais também se encontra como um caso de sucesso. Partindo da problemática de que a escola é a instituição responsável pela operacionalização de estratégias de ensino adequadas as singularidades dos alunos, os pesquisadores afirmam que a escola tem exercido o papel de reprodutora de desigualdades, pois expõe as

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