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Aprofundando a questão do art 42 do Código de Processo Civil

Consoante disposição do art. 42 do Código de Processo Civil, a alienação da coisa ou direito litigioso, a título particular,115 não altera a legitimidade das partes. O § 1º determina que o adquirente ou cessionário não poderá ingressar em juízo, em substituição ao alienante ou cedente, sem que haja consentimento da parte contrária; mas, o § 2º ressalva seu direito a ingresso como assistente. Já o § 3º afirma que a sentença proferida entre as partes originárias estenderá seus efeitos ao adquirente ou cessionário.

Havendo a concordância da parte contrária,116 ocorrerá a

sucessão processual, porque o adquirente ou cessionário ocupará a posição que

originalmente era do alienante ou cedente. Esta é a diferença essencial, para esse artigo, entre substituição e sucessão processual: a vontade da parte contrária. Esse dispositivo tem aplicação em todos os processos e fases, inclusive no executório (CPC, art. 475- N, I, 567, II).117

Em uma situação como essa, o alienante pode tornar-se assistente do adquirente, na medida em que tem interesse jurídico na higidez da alienação feita. Esse interesse jurídico decorre da necessidade de se demonstrar que a alienação não é considerada fraude à execução (CPC, arts. 592, V, e 593, I).118

114, Sobre o tema, cfr. D

INAMARCO, Instituições de direito processual civil, II, n. 605-A, pp. 416-417.

115. A sucessão causa mortis é regulada no art. 43 do Código de Processo Civil.

116. “Nesta hipótese específica – de alienação do bem litigioso (CPC, art. 219, caput) durante o curso do

processo -, a ‘intervenção’ do adquirente no polo correspondente da relação processual só será possível se houver concordância da parte adversa, nunca por imposição legal”, CÁSSIO SCARPINELLA BUENO, Partes e terceiros no processo civil brasileiro, n. 11, p. 68.

117. C

ÁSSIO SCARPINELLA BUENO, Partes e terceiros no processo civil brasileiro, n. 14, pp. 72-73. Com a ressalva de que a jurisprudência majoritária é no sentido de que, em se tratando de execução, o art. 567, inc. II, dispensa a anuência da parte contrária.

118. Apesar de tratar da hipótese contrária, B

EDAQUE concorda que a defesa contra possível fraude à execução é motivo para configurar o interesse jurídico: “embora admissível, a alienação de coisa litigiosa pode configurar fraude de execução, o que torna ineficaz o ato (arts. 592, V, e 593, I). Daí

Portanto, em que pese o § 2º tratar da hipótese inversa, ou seja, da situação em que a sucessão não é permitida, nada impede sua aplicação para o caso de a sucessão ser aceita e o alienante ou cedente figurar como assistente do adquirente ou cessionário. É até mesmo processualmente saudável que assim o seja, pois se dará maior intensidade ao contraditório.

Já o § 2º do art. 42 disciplina a situação em que a parte contrária nega o ingresso do adquirente ou cessionário na demanda pendente. Nesse caso, o alienante ou cedente atuará como substituto processual.119 Trata-se de caso de substituição processual superveniente (supra, n. 14). Mas será que nessa situação é uma substituição processual pura e simples, ou seja, o alienante ou cedente atuará exclusivamente na defesa de direito alheio? Em um primeiro momento, é possível dizer que sim. Mas uma análise mais profunda pode mudar a resposta. Em que pese o direito em discussão não ser mais da parte, pois será agora de terceiro (adquirente ou cessionário), essa parte tem interesse jurídico na manutenção da eficácia da alienação da coisa. Ele tem interesse em evitar, p.ex., que a alienação torne-se ineficaz e seja declarada ulteriormente como fraude à execução. Nessa situação do § 2º, há pontos de contato entre os institutos da substituição e da sucessão processual. Em casos assim, de substituição processual ulterior, ARAÚJO CINTRA também entende

que o substituto-sucessor age em nome próprio para defender direito alheio, mas com características próprias. Assim, ele conclui que pode haver substituição com sucessão processual.120 Portanto, em que pese a grande maioria da doutrina tratar da hipótese

o manifesto interesse jurídico do adquirente em intervir no processo como assistente”, in Código

de Processo Civil interpretado, p. 112. 119. C

OMOGLIO-FERRI-TARUFFO, Lezioni sul processo civile, n. 62, p. 361. Registre-se ainda que ALLORIO entende que não se trata de substituição processual, in La cosa giudicata rispetto ai terzi, n. 79, pp. 139-140.

120. “Em primeiro lugar, note-se, a substituição processual pode se verificar na própria formação do

processo, não havendo, nestes casos, como se falar que o substituto tenha sucedido ao substituto no processo, porque o substituído nem sequer chegou a participar da relação processual. Quando, entretanto, acontece que a substituição se faça no curso do processo, isto é, quando temos hipótese de substituição sucessiva, ocorre realmente, sucessão no processo; mas uma sucessão em que, em vez de, como geral acontece, o sucessor entrar no processo para atuar em nome próprio por um interesse que lhe é próprio, o sucessor assume a causa, para, em nome próprio, pleitear por um interesse alheio. Desta forma, conclui-se que a substituição no processo; e, quando é com sucessão, apresenta característicos próprios”, in “Estudo sobre a substituição processual no direito brasileiro”, Revista dos Tribunais, n 809, p. 743.

desse parágrafo como sendo caso de substituição processual,121 trata-se de uma substituição processual na qual há interesse jurídico na higidez da alienação da coisa. Para fins de comparação, o texto do novo Código de Processo Civil português afirma que a parte contrária só pode se opor à substituição das pessoas se ela foi requerida apenas para tornar sua posição no processo mais difícil [art. 263 (2)]. Trata-se de uma disposição legal de bom tom, na medida em que, no caso de aquisição de bem litigioso, faz todo sentido que o adquirente ocupe o lugar que era do alienante.

Ainda nessa situação do § 2º, o adquirente ou cessionário, cujo ingresso na demanda foi vetado, poderá atuar como assistente litisconsorcial do substituto processual. Será litisconsorcial a assistência, porque há relação de

prejudicialidade entre sua situação jurídica e o direito em discussão na demanda.122

Ao julgar contra os interesses do agora substituto, o juiz julgará contra também os interesses do substituído e está configurado seu interesse jurídico para ingressar na demanda. Como o alienante (que passou de legitimado ordinário para extraordinário) perde algumas faculdades ligadas a atos de disposição de direito (infra, n. 20), a atuação do assistente torna-se mais importante.

13. Substituição processual e interesse jurídico; demais condições da ação e