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A relação entre o legitimado ordinário, extraordinário e suas posições dentro do

Classificar só tem sentido quando há uma utilidade prática.98 Em resumo, a classificação sugerida por BARBOSA MOREIRA serve para descrever a relação entre legitimado ordinário e extraordinário dentro de uma demanda pendente. Se a demanda foi proposta pelo legitimado ordinário (ou em face dele) e o legitimado extraordinário intervém ulteriormente, a relação entre eles será de parte principal e parte acessória, ou seja, este será assistente daquele. Assim é o caso do alienante (legitimado extraordinário), em demanda movida contra o adquirente

95. La sostituzione processuale, n. 6, pp. 19-20. 96. Concorda com essa posição E

PHRAIM DE CAMPOS JR., Substituição processual, n. 1.4.3, p. 24.

97. C

ÁSSIO SCARPINELLA BUENO, Partes e terceiros no processo civil brasileiro, n. 6, p. 51.

98. Como afirma J

OSÉ ROBERTO DOS SANTOS BEDAQUE, “as construções teóricas somente têm sentido se apresentarem utilidade prática. No campo do processo esse resultado deve corresponder a algum benefício para a efetividade da tutela jurisdicional. Do contrário é melhor ficarmos com o que temos, sob pena de complicar-se ainda mais aquilo que poucos conseguem entender”, in Efetividade do processo e técnica processual, p. 524.

(legitimado ordinário) por evicção. O bem não mais pertence a quem vendeu. e portanto o alienante não é titular da coisa litigiosa. mas tem interesse em que o negócio jurídico realizado com o adquirente permaneça hígido e por isso tem interesse jurídico na assistência.99

Mas se ab initio quem é parte é o legitimado extraordinário e o ordinário intervém, podem surgir duas situações,100 a depender da relação de direito material. Se a lei dispõe que o legitimado é o extraordinário (então há uma autêntica separação entre o direito material e o objeto litigioso), o ordinário será também assistente. O exemplo dessa situação é trazida por BARBOSA MOREIRA, no caso revogado pelo Código Civil atual da mulher na demanda referente ao bem dotal. Mas se a lei estendeu a eficácia legitimante aos dois legitimados, ordinário e extraordinário, a relação entre eles é de litisconsórcio101 e tornam-se coautores ou corréus. Assim tem de ser porque o local em que a parte está no processo não depende somente do momento em que a intervenção de uma parte ocorreu, mas também da posição em que tinha antes dela, na medida em que não é justo haver um rebaixamento da parte, principalmente porque ele foi diligente em assumir ônus e deveres processuais que o legitimado ordinário não assumiu inicialmente. Esse raciocínio é o mesmo quando há dois legitimados ordinários, mas só um é parte. Se o outro intervém na demanda pendente, sua intervenção será litisconsorcial e não de mera assistência.

Outra situação que pode surgir na prática é a de pluralidade de legitimados extraordinários. Veja-se novamente o exemplo da anulação de assembleia: se um sócio ajuíza a ação após o transcurso do prazo legal para a própria companhia fazê-lo, a intervenção de outro sócio se dará a que título? Nessa situação a intervenção também será em litisconsorte com o primeiro sócio, porque ambos detinham inicialmente a legitimidade ad causam para agirem independentemente do

99. O Superior Tribunal de Justiça concorda com essa tese: 3ª T., REsp 152978/SP, rel. Min. Menezes

Direito, j. 18.2.99.

100. B

ARBOSA MOREIRA, “Apontamentos para um estudo sistemático da legitimação extraordinária”,

Direito processual civil, n. 4, p. 64.

101. “Apontamentos para um estudo sistemático da legitimação extraordinária”, Direito processual civil,

outro. Mas e se a companhia intervém? A intervenção também será de litisconsórcio,102 porque todos possuem a legitimação conferida por lei, ainda que a do sócio tenha surgido somente após decorrido os prazos estabelecidos no § 3º ou 4º do art. 159 da Lei das S.A.. Mas se a demanda tiver sido ajuizada dentro de tal período, o sócio não terá a legitimação extraordinária subsidiária e sua intervenção será de mera assistência.

Em uma situação como essa, a assistência se dará geralmente sob a forma de assistência litisconsorcial, já que há um maior grau de intensidade que os efeitos da decisão terá na esfera de direitos do assistente. Ademais, o art. 54 do Código de Processo Civil é claro ao demonstrar será qualificada a assistência quando a sentença atingir a esfera de direito entre ele o adversário do assistido.103

Justamente por essa profundidade de relações, é que também se pode falar que, a depender do caso, pode haver uma relação de litisconsórcio

ulterior, se a demanda não tiver subjetivamente já estabilizada. Como efeito,

como defende DINAMARCO, nessa situação, o litisconsórcio não é formado no início da

demanda, mas ulteriormente.104 Veja-se que, em uma situação em que há pluralidade de colegitimados, a intervenção poderá ocorrer sob várias formas, a depender da intensidade do direito material: assistência simples, assistência qualificada, ou litisconsórcio.

Há também hipóteses na lei que faz surgir casos em que os legitimados ordinários e extraordinários assumem posições antagônicas dentro do processo e não convergentes, como nos exemplos acima. Sabidamente qualquer um dos cônjuges tem legitimidade ordinária para ajuizar a demanda para anular casamento (CC, arts. 1.548-1.549). Mas se a ação é ajuizada por um dos legitimados extraordinários, os legitimados ordinários (os cônjuges) serão litisconsortes passivos. Veja-se que ambos estão de um lado e o legitimado extraordinário está no outro, em posições naturalmente antagônicas. Assim também é para a hipótese de um acionista

102. B

ARBOSA MOREIRA, “Apontamentos para um estudo sistemático da legitimação extraordinária”,

Direito processual civil, n. 3, pp. 62-63. 103. C

ÁSSIO SCARPINELLA BUENO, Partes e terceiros no processo civil brasileiro, pp. 187-188.

104. D

ajuizar uma ação para anular assembleia. Nessa situação, o sócio é legitimado ordinário autônomo, mas também defende o interesse daqueles sócios que não demandaram. Em grupo de sócios, é natural que haja interesses divergentes, pois em que pese o interesse jurídico da anulação existir, os interesses econômicos e práticos podem ser divergentes. Portanto, um determinado grupo de sócio pode pretender a declaração de validade da assembleia. Nesse caso, também não há comunhão de interesse entre todos os sócios.105

Percebe-se pois que podem surgir diferentes situações que poderão afetar a natureza da intervenção do legitimado ordinário e do extraordinário, podendo eles até mesmo ocupar posições antagônicas dentro de um mesmo processo.