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O substituído como assistente e a eficácia preclusiva da coisa julgada

Ao participar do processo, não fica o assistente livre de todos os efeitos da sentença, como já visto. Ao intervir como assistente e (conseqüentemente, tornar-se parte), desse momento em diante aquele que fora terceiro expõe-se a ficar prisioneiro da motivação e ao que vier a ser decidido entre as partes, sendo proibido de, em eventual processo futuro, querer discutir a “justiça da decisão”, nos termos do art. 55 do Código de Processo Civil. Uma vez que esse sujeito haja intervindo no processo e, por haver intervindo, tenha podido desfrutar das oportunidades inerentes ao princípio do contraditório, é natural que passe a ser tratado como verdadeira parte e receba do processo e da sentença, ainda que indiretamente (efeitos reflexos) e nos limites dos objetivos de sua intervenção, os benefícios e também os males que ele é capaz de produzir. Seria realmente muito estranho que o terceiro que interveio fosse tratado de modo rigorosamente igual ao modo como é tratado aquele que não interveio.422

O que ficar declarado entre os motivos não será coberto pela coisa julgada nem em relação às partes principais, nem em relação ao assistente (CPC, art. 469) mas tanto quanto ficarão aquelas impedidas de repor em discussão tais

premissas de julgamento em relação ao mesmo litígio, também o assistente estará

impedido de fazê-lo em eventual litígio envolvendo a matéria. Como expôs LUÍS MACHADO GUIMARÃES423, “estas premissas são atingidas pelo efeito preclusivo da

coisa julgada, mas não adquirem, elas próprias, autoridade de coisa julgada”. Refere-se, pois, não à coisa julgada em si, mas, pela força da sua eficácia preclusiva, o assistente prisioneiro da motivação da sentença.

422. Ideias extraídas de D

INAMARCO, Instituições de direito processual civil, II, n. 597, pp. 394-402;

Processo civil empresarial, nn. 223-232-pp. 354-369.

A eficácia preclusiva da coisa julgada está prevista no art. 474 do Código de Processo Civil, ao afirmar que, “passada em julgado a sentença de mérito, reputar-se-ão deduzidas e repelidas todas as alegações e defesas, que a parte poderia opor assim ao acolhimento como à rejeição do pedido”. Segundo DINAMARCO,

“a eficácia preclusiva é a aptidão que a própria coisa julgada material tem de excluir a renovação de questões suscetíveis de neutralizar os efeitos da sentença cobertos por ela”.424

Por isso, para resguardar a intangibilidade da coisa julgada em demanda posterior nem sempre será necessária a identidade entre todos os elementos de ambas as demandas comparadas. Basta que a demanda posterior verse sobre uma situação incompatível com o que restou julgado anteriormente, ainda que tenha pedidos diferentes. Assim é o correto ensinamento de BEDAQUE:“para resguardar a intangibilidade da coisa julgada, demanda posterior, versando situação subjetivamente incompatível, embora objetivamente diversa daquela decidida, não pode ser proposta. Primeiro porque já poderia a parte tê-la pleiteado em defesa ou reconvenção; depois porque sua propositura em separado implica retorno da discussão sobre a atribuição do bem da vida conferido em demanda anterior”.425

No mesmo sentido, corretamente BRUNO LOPES afirma

que a eficácia preclusiva da coisa julgada deve ser concebida como “impedimento à propositura de demandas distintas e incompatíveis com a coisa julgada”.426.

Ainda é importante o ensinamento de BARBOSA MOREIRA sobre a eficácia preclusiva da coisa

julgada: “a rigor, não é mister, para tornar fundada a preliminar, que se esteja diante da mesma ação antes julgada: basta que se esteja diante da mesma lide, do mesmo conflito de interesses a cujo respeito se emitiu precedente sentença”.427

Ao contrário do que ocorre com a oposição, a denunciação da lide, a intervenção litisconsorcial voluntária, o chamamento ao processo e a

424. Instituições de direito processual civil, III, p. 330. 425. Direito e processo, pp. 138 e 139.

426. Limites objetivos e eficácia preclusiva da coisa julgada, p. 112.

427. “A eficácia preclusiva da coisa julgada material no sistema do processo civil brasileiro”, Temas de direito processual, pp. 102-103.

nomeação à autoria,428 na assistência é absoluta a indiferença do objeto do processo ao ingresso do assistente na relação jurídica processual. Eis o que a esse respeito afirma DINAMARCO: “o Streitgegenstand continua tal e qual e em nada se altera pela presença daquele que interveio para auxiliar uma das partes. O que legitima o terceiro a intervir como assistente é a titularidade de uma situação jurídica conexa ou dependente da res in judicium deducta (p. ex., o devedor principal na causa em que figura como réu o seu fiador), mas quando intervém ele não provoca julgamento principaliter sobre qualquer relação jurídica sua. Com ou sem essa intervenção, o juiz julgará somente a pretensão do autor perante o réu”. E, mais adiante: “consequentemente, os efeitos substanciais diretos da sentença serão sempre aqueles que ela teria se o terceiro não tivesse ingressado na relação processual. A coisa julgada que sobre esses efeitos se formar terá a mesma delimitação objetiva que teria sem essa intervenção”.429

Ou seja, a intervenção do assistente é rigorosamente inócua em relação à determinação dos limites objetivos e subjetivos da coisa julgada, que se limita à parte dispositiva da sentença, nos termos do art. 469 do Código de Processo Civil. Como afirma LIEBMAN, os motivos da sentença

serão úteis para se interpretar a sentença.430

Nesse sentido, EDUARDO TALAMINI, de forma acertada, defende que o sócio que entende pertinente a manutenção da deliberação societária pode ingressar no processo de impugnação como assistente litisconsorcial passivo, nos termos do art. 54 do Código de Processo Civil.431

Em uma situação como essa, como já exposto (supra, n. 10), o sócio poderá intervir na qualidade de assistente litisconsorcial, nos termos do art. 54 do Código de Processo Civil.432

428. D

INAMARCO, Intervenção de terceiros, nn. 8-12, pp. 26-34.

429. D

INAMARCO, Intervenção de terceiros, n. 13, pp. 34-35. No mesmo sentido, cfr. VICENTE GRECO FILHO, Da intervenção de terceiros, n. 2, p. 75; CELSO AGRÍCOLA BARBI, Comentários ao Código

de Processo Civil, I, p. 302; ATHOS GUSMÃO CARNEIRO, Intervenção de terceiros, n. 66.1, p. 123.

430. L

IEBMAN, “Limites objetivos da coisa julgada”, in Estudos sobre o processo civil brasileiro, p. 164.

431. Mas o autor ressalva a vedação ao venire contra factum proprium, se o sócio, na assembleia, votou

contra a deliberação, por entendê-la como ilegítima, sendo que depois não está autorizado a defendê-la em juízo, “Legitimidade, interesse, possibilidade jurídica e coisa julgada nas ações de impugnação de deliberações societárias”, in Processo societário, p. 129.

432. C

Na arbitragem, CARMONA também assim entende.433

DINAMARCO, entretanto, entende que essa situação é caso de litisconsórcio ulterior. 434

Em realidade, a modalidade de intervenção dependerá da forma com que o direito material está posto em juízo, a relação que está sendo discutida e o momento da intervenção (supra, n. 10).

O importante é que, se a intervenção se der sob a forma de assistência, não há coisa julgada para o assistente, que ficará sujeito à eficácia preclusiva da coisa julgada e não sujeito à coisa julgada em si.435

Portanto, a intervenção do assistente está no campo da eficácia preclusiva da coisa julgada.

433. Arbitragem e processo, pp. 303-310.

434. A arbitragem na teoria geral do processo, n. 43, p. 126. 435. Registre-se respeitável opinião em sentido contrário de C

ÁSSIO SCARPINELLA BUENO, para o qual, se a intervenção ocorrer sob a forma de assistência qualificada, há formação de coisa julgada, em razão da relação de legitimidade extraordinária que há entre assistente e assistido, in Partes e terceiros no processo civil brasileiro, pp. 187-191.

CAP. V: ENCERRAMENTO