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Apropriação e participação dos habitantes

No documento SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DA HABITAÇÃO (páginas 95-99)

3. Dos recursos ambientais aos princípios de sustentabilidade

3.3 Princípios para a habitação sustentável

3.3.8 Apropriação e participação dos habitantes

3.3.8

3.3.8

3.3.8 ApropriaçãApropriaçãApropriaçãApropriação e participação dos habitanteso e participação dos habitanteso e participação dos habitanteso e participação dos habitantes

Um dos principais parâmetros da satisfação residencial é o da apropriação pelos habitantes da área

residencial e do edificado que habitam. Esta apropriação é favorecida pela identificação dos

moradores com a habitação, mas também pela possibilidade de participação. A participação dos

133

habitantes na construção, manutenção e gestão do empreendimento habitacional constitui, por isso,

uma via para conseguir maior satisfação residencial

134

.

Apropriação

Apropriação

Apropriação

Apropriação

As exigências de segurança, conforto e de adequação aos modos de vida decorrem das

necessidades físicas dos utentes, mas é de necessidades de estima e de identificação que resultam

as exigências de apropriação.

A apropriação consiste na capacidade dos espaços motivarem o uso, promovendo a identificação

individual e colectiva e permitindo a realização de intervenções que satisfaçam os modos de uso e os

desejos de afirmação dos moradores

135

.

A apropriação é favorecida pela adaptabilidade, que consiste na capacidade de os espaços

suportarem diversos modos de uso ou permitirem a alteração das suas características, com vista a

responderem à alteração das necessidades dos utentes decorrentes da sua evolução ou substituição.

A apropriação está ainda fortemente relacionada com exigências estéticas, isto é, exigências que

visam assegurar que todos os elementos dos espaços habitacionais contribuam para uma imagem de

conjunto que seja culturalmente enriquecedora. Nesse sentido, a atractividade e a domesticidade

contribuem para uma imagem habitacional a que os utentes aderem naturalmente, favorecendo a

apropriação. Contudo, perante as funções emergentes da habitação, a apropriação já não está apenas

relacionada com questões estéticas, mas também com questões funcionais e de equipamento.

Participação

Participação

Participação

Participação

A participação pode conduzir a um maior sucesso dos conjuntos habitacionais e a um maior controlo

dos seus impactes, pois o envolvimento dos moradores e outros actores permite prever

comportamentos e promover a responsabilização e capacitação dos moradores

136

. O recurso a

processos de participação de habitantes nas decisões ao longo da concepção da habitação e da área

residencial favorece a apropriação e é uma via para conseguir uma maior sustentabilidade social nos

bairros de habitação de renda controlada, bem como na reabilitação dos bairros de génese ilegal.

Em Portugal, desde há mais de trinta anos que a participação dos futuros moradores é uma prática

corrente nos empreendimentos de habitação cooperativa. Na Alemanha existem vários exemplos de

134

Freitas – Habitação e cidadania, 2000.

A satisfação residencial é um parâmetro difícil de prever pois depende não só da natureza e qualidades intrínsecas

dos espaços residenciais, mas também das características dos indivíduos e da relação entre os edifícios e os seus

contextos residenciais.

135

Coelho – Qualidade arquitectónica residencial. Rumos e factores de análise, 2000.

Pedro – Definição e avaliação da qualidade arquitectónica habitacional, 2000.

136

Entre 1974 e 1976 o SAAL desenvolveu projectos habitacionais onde a participação organizada do cidadão foi motor

fundamental do processo de edificação. Estes bairros deram resposta a uma muito pequena parte das necessidades

de habitação de então mas constituem um exemplo histórico de um sistema dinâmico de envolvimento da população,

onde utentes e arquitectos discutiam nas ruas o futuro dos bairros.

empreendimentos sustentáveis, alguns dos quais baseados em Agendas 21 Locais, que incentivaram

a participação activa dos cidadãos durante a concepção

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(Figura 38).

No Brasil, a experiência do orçamento participativo de Porto Alegre foi marcante como exemplo do

sucesso da participação dos habitantes na decisão e no planeamento orçamental da urbanização e na

distribuição colectiva dos seus custos e benefícios

138

.

Figura 38 – Espaços públicos definidos com a

participação dos residentes.

Bairro Vauban (Freiburg).

Boa

Boa

Boa

Boa governânciagovernânciagovernância governância

A boa governância é um conceito abrangente que alia hipóteses de participação de utentes à

responsabilidade dos projectistas, técnicos e governantes. Dito de forma muito simples, a governância

é a ciência da tomada de decisão. O conceito de governância refere-se a um conjunto complexo de

valores, normas, processos e instituições através dos quais a sociedade gere o seu desenvolvimento e

resolve conflitos (Tabela 4).

A governância urbana envolve o Estado mas também a sociedade civil ao nível local, regional, nacional

e global. A boa governância implica um elevado nível de eficiência organizacional visando o

desenvolvimento, a estabilidade e o bem-estar da população. A boa governância aceita a participação

como um instrumento fundamental, podendo contribuir para áreas residenciais mais próximas da

identidade dos seus moradores.

A governância tornou-se num mecanismo útil, não só para aumentar o potencial criativo das políticas e

flexibilizar as regras do jogo, inspirando esforços para mover a sociedade na direcção de novos modos

de organização mais produtivos, como também para alcançar a legitimação das políticas pelo domínio

público, especialmente desejada no domínio da habitação.

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Sustelo – A participação do cidadão na Reabilitação dos centros históricos: Estudo comparativo Alemanha-Portugal,

2003.

Stuttgart 21 e Freiburg- Vauban são os exemplos mais citados, intervenções urbanas que foram avaliadas e discutidas

por vários grupos de cerca de 50 habitantes cada.

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Sousa Santos – Democracia e participação: O caso do orçamento participativo de Porto Alegre, 2002.

O orçamento participativo começou em 1997 e foi institucionalizado em 2002.

Tabela 4 – Principais objectivos e instrumentos da boa governância.

(adaptado de www.urbangovernace.com)

Objectivos Instrumentos

Maior envolvimento e participação

local

Promoção da identidade urbana e do sentido de cidadania

Planeamento e orçamento participativos

Envolvimento de grupos marginalizados

Gestão urbana eficiente

Investimento eficiente em infra-estruturas

Formação adequada dos técnicos locais

Utilização das tecnologias da informação

Planeamento ambiental desenvolvido em cooperação com os cidadãos

Responsabilidade e Transparência

Monitorização das actividades governamentais por organizações exteriores

Linhas de orientação claras para líderes e técnicos

Sistemas abertos de procura e contratação

Transparência financeira

Processos de reclamação acessíveis e independentes

Acessibilidade

Consulta regular dos representantes de todos os sectores da sociedade

Inclusão de indivíduos no processo de decisão

Protecção dos direitos de todos os grupos

Abordagem

Abordagem

Abordagem

Abordagem de baixo para cima e envolvimentode baixo para cima e envolvimentode baixo para cima e envolvimento dos utentesde baixo para cima e envolvimentodos utentesdos utentesdos utentes

O processo de decisão de baixo para cima (bottom up) desafia a hierarquia convencional da gestão do

ambiente urbano, aplica ideais de boa governância e de participação, e permite aproximar utentes do

processo de produção da sua futura habitação. No processo convencional de gestão de cima para

baixo(top down) o ambiente urbano é determinado por uma infra-estruturação e um espaço público

que os cidadãos não podem adquirir nem alterar. Mas no processo inverso, de baixo para cima, é

possível para os futuros habitantes, ou seus representantes directos, planear as vias e os espaços

públicos, a partir dos seus próprios objectivos e necessidades.

Este processo beneficia particularmente da generalização do uso da simulação informática, pois esta

permite visualizar os resultados das opções individuais dos vários participantes

139

. A simulação

informática pode ter um papel decisivo nos processos de participação activa sustentável pois permite

relacionar, com auxílio da programação multi-critério, aspectos individuais com compromissos

colectivos, nomeadamente ambientais.

139

Lawrence – Housing, dwellings and homes: Design theory, research and practice, 1987.

Os obstáculos de comunicação que conduziram na década de 80 ao investimento em modelos à escala 1:1 e ao

desenvolvimento de "jogos de simulação" hoje ultrapassados pela modelação e animação e simulação 3D.

No documento SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DA HABITAÇÃO (páginas 95-99)