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Gestão do ciclo hidrológico

No documento SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DA HABITAÇÃO (páginas 83-87)

3. Dos recursos ambientais aos princípios de sustentabilidade

3.3 Princípios para a habitação sustentável

3.3.4 Gestão do ciclo hidrológico

o isolamento térmico deve ser conciliado com a inércia térmica, como forma complementar de

garantir condições confortáveis no interior dos edifícios.

Tecnologias renováveis

Embora as estratégias solares passivas contribuam para a melhoria do conforto térmico, na maior

parte dos edifícios é necessário prever aquecimento e arrefecimento adicionais aos obtidos

passivamente, e é natural que a iluminação diurna não consiga satisfazer todas as necessidades

lumínicas de uma habitação. Nestes casos, os sistemas adicionais devem ser de baixo consumo e

máxima eficiência, e consumir energia renovável (Figura 29).

Figura 29 – Central de produção de energia renovável

fotovoltáica.

Fórum 2004 (Barcelona).

3.3.4

3.3.4

3.3.4

3.3.4 Gestão do ciclo hidrológicoGestão do ciclo hidrológicoGestão do ciclo hidrológicoGestão do ciclo hidrológico

A gestão do ciclo da água e a protecção dos recursos hídricos em zonas residenciais dependem em

grande parte da infra-estruturação urbana. No entanto, não deve ser negligenciada a importância dos

edifícios para a prossecução destes objectivos.

Uma correcta definição das características do edificado habitacional e das áreas residenciais permite

melhorar o equilíbrio hidrológico local e reduzir significativamente as perdas e os consumos de água

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domésticos, bem como potenciar o aproveitamento de águas residuais e pluviais. Note-se que, em

média, na totalidade das actividades quotidianas são consumidos 168 kg de água por habitante por

dia

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(Figura 30).

Figura 30 – Água necessária na habitação de uma

família ocidental média.

Fórum 2004 (Barcelona).

Equilíbrio hidrológico

Equilíbrio hidrológico

Equilíbrio hidrológico

Equilíbrio hidrológico

Nos edifícios habitacionais a boa gestão da água, em geral, implica as seguintes medidas:

protecção das reservas superficiais e subterrâneas (cursos de água e aquíferos) locais;

recolha e aproveitamento das águas pluviais;

minimização do volume, reutilização e tratamento biológico das águas residuais;

controlo e limitação da contaminação;

integração de verde no edificado para retenção natural;

permeabilização de superfícies para infiltração natural, repondo o lençol freático;

salvaguarda dos leitos de cheia, reduzindo os riscos de inundação;

redução do consumo doméstico de água e do desperdício de água potável.

O aproveitamento das águas pluviais constitui a estratégia de maior impacte arquitectónico, estando

integrada em muitas das arquitecturas tradicionais no mundo, em particular nas regiões secas. As

águas pluviais podem ser infiltradas directamente no solo em faixas e bacias de retenção, ou podem

ser recolhidas para reutilização (Figura 31). A instalação de um depósito de recolha ou de um

inpluvium (espaço onde a água penetra para o interior da habitação) pode contribuir para a eficiência

energética através do arrefecimento passivo e da amenização do microclima interior.

No que diz respeito à eficiência do tratamento de águas residuais de sabão (águas cinzentas) e

esgotos (águas negras), estas devem ser separadas ao nível das infra-estruturas de drenagem. As

águas cinzentas podem ser tratadas em leitos de junco (Bio-lagunagem) onde os resíduos orgânicos

são degradados pela acção de plantas aquáticas (Figura 32). As águas negras podem ser tratadas em

centrais de compostagem de biometano que podem fornecer gás para uso doméstico.

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As águas negras podem mesmo ser eliminadas das áreas residenciais, se se utilizarem sistemas

secos que recolhem os esgotos sanitários por sucção em vácuo e permitem o saneamento sem

consumir água. Estes sistemas, no que respeita à conservação de água, são os mais eficientes,

apresentando ainda a vantagem de poderem contribuir para a compostagem de resíduos orgânicos;

contudo são ainda pouco utilizados

116

.

Muito embora os níveis de água consumida na habitação sejam determinados por sistemas que não

são concebidos pelo arquitecto, há diversas opções que este poderá fazer no sentido de poupar o

consumo de água, reduzindo também o volume da água a tratar. Contudo, a água é um tema ainda

pouco discutido pelos arquitectos. Coloca-se quando se pretende assegurar o abastecimento a

edifícios afastados dos lugares habitados e, de um modo geral, é tratado por especialistas que pouco

contacto têm com a construção de edifícios. Só recentemente os arquitectos e os paisagistas

começaram a dedicar-se à exploração desta temática e à produção de bibliografia prática sobre tema

no contexto da arquitectura e do urbanismo.

Figura 31 – Piscina biológica para tratamento de águas

pluviais.

Edifício unifamiliar de habitação no Sul de Portugal.

(fonte: www.biopiscinas.pt)

Figura 32 – Bio-lagunagem para tratamento de águas

pluviais.

Kronsberg (Hanôver).

(fonte: www.sibart.org)

Bio

Bio

Bio

Bio----lagunagemlagunagemlagunagem lagunagem

Embora pouco conhecido, o tratamento de águas residuais com sistemas vegetais constitui um

sistema para o futuro, cuja aplicação é favorecida pela sua elevada qualidade estética. Em Portugal, a

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A utilização dos sistemas de vácuo é ainda pouco económica. A compostagem destes resíduos orgânicos não está

ainda testada a nível das implicações para a saúde e permanece ainda o perigo de os medicamentos que tomamos

contaminarem o produto fertilizante resultante da compostagem.

própria legislação não favorece este tipo de tratamento das águas, e nos espaços públicos não

totalmente vedados é proibido o tratamento de águas cinzentas por bio-lagunagem (pois os utentes,

sobretudo as crianças, podem entrar inadvertidamente em contacto com as águas por tratar)

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.

A capacidade auto-depuradora da natureza não é uma descoberta recente, mas hoje existem sistemas

já testados, de baixo custo, que exigem reduzida superfície e manutenção, que não produzem odores

desagradáveis e que podem também ter efeitos muito benéficos na descontaminação de cursos de

água. Tais sistemas podem ser implantados em diversas situações, desde cidades médias até

instalações pontuais, como aeroportos, parques de campismo, locais de lazer, aglomerados

habitacionais, etc.

Para além de uma solução técnica, o tratamento das águas residuais pode também constituir uma

mais-valia para a afirmação de uma identidade local. Em alguns projectos de reconversão de zonas

urbanas degradadas em pólos de atracção turística, as depuradoras naturais assumem um papel

central na renovação do lugar, contribuindo para a requalificação do espaço público

118

.

Neste processo de tratamento de águas residuais as fontes de contaminação da água a tratar são

muitas (metais pesados, bactérias, vírus, agentes químicos) e as próprias águas pluviais podem ser

uma fonte de contaminação significativa, pois a atmosfera contém muitos poluentes que se integram

na chuva durante a sua queda. A água utilizada na habitação contém principalmente matéria orgânica

que as bactérias conseguem transformar na presença de oxigénio, libertando nitrogénio, fósforo e

potássio (NPK), substâncias que devem ainda ser eliminadas para que a água complete o seu

tratamento. Para se alcançar uma maior qualidade da água, esta pode ainda receber tratamento por

raios ultravioletas, recorrendo à energia solar.

Os processos de tratamento biológico de águas residuais, tal como os processos convencionais,

produzem lodos e lamas; contudo na bio-lagunagem estes resíduos são produzidos em quantidades

menores do que nos sistemas convencionais.

Lagoas de macrófitas

Lagoas de macrófitas

Lagoas de macrófitas

Lagoas de macrófitas

Nas lagoas de macrófitas, plantadas com espécies flutuantes ou enraizadas, a vegetação tem o papel

de diminuir a corrente, favorecer a sedimentação das matérias em suspensão e manter o leito

oxigenado. Os caules desta vegetação servem de suporte para o cultivo das bactérias. Esta

lagunagem em zonas residenciais necessita de uma área de 10 m² por habitante

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, mas geralmente a

sua integração na paisagem não representa qualquer problema. A sua manutenção é simples e os

lodos só têm de ser removidos de 10 em 10 anos.

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Veja-se o recente exemplo em Cascais de uma pequena fito-etar, projectada pelo Arquitecto Jorge Cancela para o

Centro de Interpretação Ambiental de forma isolada do contacto com o público.

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Todd (et al.) – Compreensive water and nutrient planning for sustainable design, 2007.

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Leitos de macrófitas

Leitos de macrófitas

Leitos de macrófitas

Leitos de macrófitas

Nos leitos de macrófitas, para além da vegetação que proporciona sombra, infiltração e oxigenação à

água, o substrato granular tem um papel essencial na fixação de bactérias para o tratamento das

águas. Nestes sistemas a superfície necessária é menor, variando entre 2 e 5 m² por habitante e as

águas residuais nunca aparecem à superfície, sendo este o sistema mais indicado para leitos perto

das habitações. Neste tipo de sistemas não há produção de lodos, o que elimina o problema da sua

recolha e deposição. Os leitos de macrófitas podem funcionar por circulação horizontal (Figura 33) ou

vertical (Figura 34), sendo a segunda hipótese a que, em geral, produz melhores resultados.

Figura 33 – Leitos de macrófitas de

circulação horizontal para

tratamento de águas residuais

domésticas.

(fonte: Water Scapes)

Figura 34 – Leito de macrófitas de

circulação vertical para tratamento

de águas residuais domésticas.

(fonte: Water Scapes)

No documento SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DA HABITAÇÃO (páginas 83-87)