4. Energia e materiais na habitação sustentável
4.3 Materiais
4.3.3 Materiais artificiais e sintéticos
4.3.3
4.3.3
4.3.3 Materiais Materiais Materiais Materiais aaartificiaisartificiaisrtificiaisrtificiais e sintéticose sintéticose sintéticose sintéticos
Os materiais artificiais requerem processos industriais que geram impactes ambientais e são na sua
grande maioria constituídos por materiais não renováveis, sendo em geral menos ecológicos do que
os materiais naturais. Estes materiais, porém, utilizam-se em larga escala na construção devido à sua
adequabilidade a determinadas funções, não sendo em alguns casos substituíveis por matérias
naturais (ex., não há substituição natural para o vidro com a mesma eficiência no desempenho da sua
função de iluminação e protecção).
Cimento e betão
Cimento e betão
Cimento e betão
Cimento e betão
O processo de produção de cimento, necessário para a construção de betão, requer elevadas
temperaturas, é energeticamente intensivo e origina emissões prejudiciais à saúde e ao ambiente. De
entre estas emissões destaca-se o pó alcalino que quando libertado na água ou no ar representa um
perigo para o ambiente, pois a água alcalina é tóxica para os peixes e o ar alcalino é corrosivo. Em
virtude destes problemas ambientais não existe classificação ambiental para o cimento, sendo
recomendável minimizar ou eliminar o seu consumo na construção de edifícios sustentáveis.
O desempenho ambiental do betão é variável mas de forma geral caracteriza-se pelos seguintes
aspectos:
na produção de betão 85% das emissões de CO
2são provenientes do cimento;
o betão armado incorpora quase a mesma quantidade de energia que o aço;
o betão armado, ao contrário do aço, não é reciclável;
o betão para ser reutilizado é degradado e destinado a pavimentos ou enchimentos;
o betão origina cerca de metade de todo os resíduos de construção e demolição.
O betão leve tem menor impacte ambiental que o betão comum, pois apresenta uma relação mais
favorável entre a resistência mecânica e o peso, o que quer dizer que para um determinado
desempenho é necessária uma menor massa de material.
O actual desenvolvimento da tecnologia dos geopolímeros oferece perspectivas para um betão mais
amigo do ambiente, porque a sua produção requer temperaturas mais baixas do que o cimento
tradicional, consumindo até oito vezes menos energia
213.
Mas para além do cimento, a utilização de agregados pétreos no betão tem também impactes
ambientais indirectos. A areia dos rios é extraída em larga escala para satisfazer as necessidades
crescentes do mercado da construção. Esta extracção de areias, ou de britas, quando efectuada sem
controlo pode alterar os ciclos de erosão e reposição de sedimentos entre os leitos dos rios e a costa
marítima. Este impacte pode ser minimizado com a regulamentação e fiscalização das actividades de
extracção de inertes e pode vir a condicionar a utilização de betão na construção de edifícios.
As principais vantagens da utilização do betão na construção são:
elevada resistência à compressão;
constituído por matéria natural disponível em larga escala;
possibilidade de pré-fabricação;
possibilidade de reutilização em pré-fabricados de betão;
possibilidades de combinação da produção de cimento com a eliminação de resíduos.
Os inconvenientes da aplicação deste material na construção são:
produção do cimento energeticamente muito exigente e poluente;
extracção de inertes (areias e britas) com potencial impacte ambiental;
213
difícil reutilização de elementos da construção de betão moldado em obra;
difícil reciclagem (só possível com perda de características);
impossibilidade de degradação e de deposição natural.
Vidro
Vidro
Vidro
Vidro
O vidro é um material cujos impactes ambientais são compensados pelas economias de energia que
permite em iluminação natural e aquecimento. O impacte mais significativo do vidro decorre da grande
quantidade de energia necessária para atingir as altas temperaturas, exigidas pelo processamento das
matérias-primas, e das consequentes emissões de CO
2. O vidro pode ser reciclado com grande
eficiência, mas actualmente o vidro na construção é reciclado apenas em pequenas quantidades, pois
para o fazer são necessários processos de demolição selectiva ainda pouco correntes.
As principais vantagens da utilização do vidro na construção são:
constituído por matéria natural disponível em grande quantidade e em muitos locais;
fácil reciclagem;
potencia a iluminação natural e os ganhos solares;
tem aptidão para aplicações "inteligentes".
Os inconvenientes da aplicação deste material na construção são:
elevada energia incorporada;
elevadas emissões de CO
2incorporadas (duas vezes as da produção de cimento);
a fusão liberta SO
2e outras emissões nefastas.
O vidro é um material que tem conhecido muitos progressos e que hoje permite uma elevada
versatilidade de aplicações (ex., vãos, guardas, pavimentos, coberturas) e funções (ex., iluminação,
aquecimento passivo e activo, sombreamento e estrutura). O desempenho ambiental do vidro durante
o período de ocupação dos edifícios que o aplicam decorre essencialmente do seu contributo para o
conforto e controlo ambiental, que tem sido potenciado pela generalização do vidro duplo.
Com a aplicação da nano tecnologia à indústria do vidro, surgiram inovações que permitiram dotar
este material da capacidade de responder às alterações do estado do tempo e de integrar a geração
de energia fotovoltaica. As células fotovoltaicas já são integradas em superfícies de vidro e poderão vir
a fornecer energia para o processo electroquímico que obscurece os vidros, evitando o
sobreaquecimento de fachadas expostas a intensa radiação solar, com consumo de energia nulo.
Actualmente existem vidros que possibilitam diferentes níveis de transmissão de luz e de calor
permitindo potenciar a iluminação natural sem originar problemas térmicos
214. Existe também o vidro
hidrófilo auto-lavante, para aplicação em zonas de difícil acesso para limpeza
215.
214
O vidro Suncool permite seis níveis diferentes de transmissão de luz e de calor e apresenta valores U que vão desde
1,3 W/m²K a 1,0 W/m²K ), o vidro de baixa emissividade térmica Planar tem o valor U de 0.8 W/m²K (ambos em URL:
http://www.pilkington.com) e o vidro translúcido de baixa emissividade SoleraSpace permite usufruir ao máximo da
iluminação natural em zonas onde não é necessário contacto visual com o exterior.
Com o desenvolvimento das envolventes de vidro a sedução da transparência tem exercido um grande
poder sobre o imaginário arquitectónico, sendo já possível utilizar o vidro não só como elemento de
preenchimento de vãos, mas também como elemento estrutural em edifícios (Figura 97).
Figura 97 – Vidro estrutural no Museu do vidro em Kingswinford.
Concepção de AltennaTM.
Note-se que o vidro horizontal que assenta sobre as vigas, também de vidro,
integra filtros para protecção solar.
(fonte: John Linden, in Eco-Tech – Sustainable architecture and High
Technology)
Aço e
Aço e
Aço e
Aço e outrasoutrasoutrasoutras ligas metálicasligas metálicasligas metálicas ligas metálicas
Apesar das ligas metálicas como o aço (liga de ferro e carbono) e as ligas de alumínio (ligas de
alumínio com cobre, zinco ou outros metais) terem um elevado impacte ecológico incorporado são
materiais relevantes por melhorem o desempenho ambiental dos edifícios ao longo do seu ciclo de
vida, ao permitirem a reciclagem, a reutilização e a adaptabilidade de componentes da construção.
O aço merece especial atenção por ser aplicado em grande escala na construção, sendo geralmente
tratado por electro-zincagem (galvanização) ou combinado com níquel e crómio (aço inoxidável) para
garantir a sua durabilidade e resistência em ambientes corrosivos.
As principais vantagens ambientais da utilização do aço na construção são:
predisposição para a reutilização, embora o tratamento superficial impeça reutilizações directas;
comparando com outros metais, a energia incorporada em cada quilo de material obtido é baixa;
possibilidades de pré-fabricação.
Os inconvenientes da aplicação deste material na construção são:
matérias-primas não renováveis (ferro e carvão mineral);
extracção poluente das matérias-primas;
tratamento com metais pesados;
processo de produção energeticamente intensivo.
Em alguns países europeus a opção pela estrutura de aço na construção tem aumentado na produção
de habitação. Tal como a estrutura de madeira, a estrutura de aço favorece a pré-fabricação e permite
uma maior velocidade de construção. A precisão da construção de aço, como as suas vantagens
215
estéticas e técnicas e a sua fácil reciclagem, são argumentos a favor deste material. O aço estrutural
pode ser reciclado e reutilizado directamente como elemento estrutural enquanto o betão é geralmente
reutilizado em agregados sem função estrutural ou para betão armado.
As ligas de alumínio são facilmente recicláveis mas a sua produção é energeticamente muito intensiva
e o seu tratamento superficial liberta substâncias perigosas. O alumínio é reciclado em larga escala,
não porque seja escasso na natureza pois é um material muito abundante, mas por este processo ser
mais económico do que a produção a partir da matéria-prima.
Materiais sintéticos
Materiais sintéticos
Materiais sintéticos
Materiais sintéticos
Na construção de edifícios os materiais sintéticos, tais como os plásticos, as tintas e os adesivos,
devem ser sujeitos a uma selecção ecológica restrita, dado tratar-se de materiais derivados do
petróleo. Os plásticos reciclados ou biodegradáveis e as tintas que não incluem produtos tóxicos, ou
que aliam compostos sintéticos a compostos naturais, devem ser privilegiados na construção.
Os plásticos são usualmente subprodutos orgânicos de matérias não renováveis e a sua produção é
energeticamente exigente. É também possível produzir plásticos a partir de fontes renováveis,
tratando-se neste caso de materiais recicláveis ou biodegradáveis (bioplásticos, biossintéticos).
Infelizmente, as propriedades dos plásticos reciclados vão-se degradando à medida que se vão
processando sucessivas reciclagens.
Grande parte dos plásticos é produzida por via de processos químicos que implicam emissões tóxicas
e elevado consumo de energia. A deposição dos plásticos não biodegradáveis representa um
problema ambiental pois a sua queima é tóxica e a sua deposição em aterro consome grandes
quantidades de espaço. Para além disso, muitos plásticos emitem produtos tóxicos durante o uso,
com diversos níveis de perigosidade para a saúde. Deste modo, nos vãos, o PVC tem sido substituído
pela madeira, pelo polietileno e pelo polipropileno. Perante esta situação, a indústria do PVC está
agora a tentar inovar na produção procurando reduzir as emissões e desperdícios, e eliminar e
substituir alguns aditivos e estabilizantes à base de cádmio e chumbo que são nocivos para a saúde e
para o ambiente
216.
As tintas são materiais de acabamento, protecção e manutenção de elementos construtivos que, na
sua maioria, são tóxicos. Embora sejam empregues em pequenas quantidades, estes produtos podem
ter um impacte significativo na saúde e no ambiente.
Materiais inteligentes
Materiais inteligentes
Materiais inteligentes
Materiais inteligentes
Os materiais inteligentes podem ser activados por sinais emitidos pelos utentes ou por estímulos
exteriores como o Sol e as vibrações da Terra. Estes materiais têm a capacidade de alterar as suas
características, inclusive de forma e de estado, de acordo com os estímulos a que são sujeitos. Os
materiais inteligentes poderão ser úteis para a construção de edifícios, em particular para a construção
216
anti-sísmica. Os SMAS (shape memory alloys) depois da deformação por aquecimento ou por
vibração, regressam à sua forma inicial. Existem também fluidos inteligentes, que passam rapidamente
do estado líquido para o sólido, ou vice-versa, tendo sobretudo o potencial de substituir uma série de
dispositivos mecânicos como amortecedores em veículos para absorver a vibração
217.
No documento
SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DA HABITAÇÃO
(páginas 169-174)