• Nenhum resultado encontrado

Gestão de materiais e resíduos

No documento SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DA HABITAÇÃO (páginas 87-91)

3. Dos recursos ambientais aos princípios de sustentabilidade

3.3 Princípios para a habitação sustentável

3.3.5 Gestão de materiais e resíduos

3.3.5

3.3.5

3.3.5 Gestão de materiais e resíduosGestão de materiais e resíduosGestão de materiais e resíduosGestão de materiais e resíduos

Grande parte dos depósitos de resíduos que se acumulam na Terra provém de desperdícios da

construção e da demolição de edifícios. Deste modo, o investimento na gestão de resíduos ainda em

estaleiro, o aumento do uso de materiais reciclados e a conservação e a reutilização de edifícios

antigos podem contribuir para uma significativa redução destes depósitos e o risco ambiental que

representam.

Resíduos

Resíduos

Resíduos

Resíduos domésticos e de manutençãodomésticos e de manutençãodomésticos e de manutenção domésticos e de manutenção

No período entre o fim da construção e o início da demolição, o edificado habitacional gera resíduos

de dois tipos: os que resultam da manutenção do edificado, com taxas de reaproveitamento muito

baixas; e os que resultam dos usos domésticos quotidianos, muito volumosos e com taxas de

reciclagem em crescimento.

Ao realizar operações de manutenção são produzidos resíduos resultantes da substituição de

materiais de construção. A produção destes resíduos é compensada pelo aumento da vida útil do

edifício. Os resíduos de manutenção tendem a diminuir se o edifício for robusto e durável, sendo

desejável que na concepção do edifício sejam previstos sistemas e componentes fáceis de manter e,

em caso de substituição, recicláveis.

A gestão dos resíduos domésticos (Figura 35) e o prolongamento do ciclo de vida dos bens de

consumo pode contribuir para a redução dos aterros e para o aumento da taxa de conversão dos

resíduos em recursos.

As soluções arquitectónicas podem fomentar comportamentos correctos de gestão de resíduos

domésticos em edifícios habitacionais. Por exemplo, a reciclagem de lixo doméstico pode ser

incentivada assegurando possibilidades de compostagem em áreas verdes, disponibilizando condutas

de recolha selectiva e prevendo locais para triagem, armazenamento e recolha de lixo. Os resíduos

domésticos vegetais podem ser transformados, conjuntamente com os resíduos resultantes da

agricultura urbana ou da manutenção da vegetação, em fertilizante e energia, em centrais de biomassa

ou de produção de biogás.

Figura 35 – Resíduos produzidos pelo uso da habitação

por uma família ocidental média.

Fórum 2004 (Barcelona).

Resíduos da construção e demolição

Resíduos da construção e demolição

Resíduos da construção e demolição

Resíduos da construção e demolição

Muitos dos custos ambientais da edificação (considerados externalidades) não se reflectem nos custos

da construção. O cálculo do custo real de um edifício, incluindo o vector ambiental, só será possível

quando nele se internalizarem, por exemplo, taxas sobre os resíduos e emissões produzidas pela sua

construção, exploração e demolição. A generalização desta integração de custos na construção de

habitação permitirá que, à semelhança do que se tem feito com o mercado de emissões de carbono, a

produção de resíduos seja limitada e cobrada quando em excesso. Em Inglaterra, por exemplo, devido

aos custos de deposição de resíduos estarem a crescer visivelmente, a gestão dos resíduos em

estaleiro é uma prioridade e a construção de edifícios com um plano de gestão de resíduos torna-se

mais económica

120

. Também em Inglaterra, existe o conceito de Zero Waste House (a par do mais

120

BRE – Greenwich Millenium Village development exceeds waste reductions, 2004.

O empreendimento habitacional de Greenwich Millennium Village é exemplo desta tendência tendo produzido um guia

de gestão de resíduos em estaleiro, disponível em www.breweb.org.uk/projects.jsp. O objectivo estabelecido foi de

redução do volume de resíduos em 25 m

3

vulgarizado conceito de Zero Energy House), que corresponde à produção de habitação com materiais

reciclados, especificados em guias tendo em conta os custos ambientais da sua aplicação na

construção e manutenção de habitação

121

(Figura 36).

A construção deve ser planeada possibilitando reparações e alterações e de modo a que, em

desmontagem, os materiais possam ser separados e utilizados para outros fins. Até há pouco tempo,

muitos materiais provenientes de edifícios demolidos eram simplesmente reutilizados no loca; no

entanto, os materiais industriais como o betão armado, os agregados compostos e os produtos

adesivos não facilitam esta boa-prática.

É cada vez mais necessário desenhar edifícios que possam ser desmontados, prevendo formas de

agregação reversíveis e escolhendo materiais cuja reciclagem compense, como, por exemplo, os

metais. Quando este procedimento se generalizar, deverá garantir-se a conservação, a longo prazo, da

informação técnica de projecto que possa auxiliar a desmontagem no fim da vida útil do edifício.

Figura 36 – Reutilização de paletes em fachada de

edifício.

Fórum 2004 (Barcelona).

S

S

S

Selecção ecológica dos melecção ecológica dos melecção ecológica dos materiaiselecção ecológica dos materiaisateriais ateriais

As razões para seleccionar e utilizar conscientemente materiais de construção são claras: metade da

totalidade das matérias-primas extraídas da Terra é utilizada para a construção, mais de metade do

lixo que produzimos vem deste sector, e quase 50% da energia usada na Europa está relacionada com

a construção de edifícios

122

.

A selecção de materiais para a construção deve, assim, ser realizada segundo critérios ecológicos,

permitindo evitar riscos ambientais e privilegiando materiais renováveis, recicláveis e com baixo

impacte ambiental ao longo do seu ciclo de vida (fabrico, transporte, aplicação, manutenção e

eliminação). O impacte ambiental de um determinado material de construção depende da conjugação

dos seguintes factores:

impacte directo da produção do material – destruição de habitats e de ecossistemas;

121

BRE – Recycled costing for zero waste house, 2000.

122

natureza dos recursos envolvidos – disponibilidade, esgotabilidade e inacessibilidade;

emissões de CO

2

e energia incorporada durante a produção;

distâncias e modos de transporte;

riscos para a saúde ou para o ambiente local, durante a construção e utilização;

toxicidade do material para os seres humanos e ecossistemas;

tempo de vida útil do material;

destino final do material, depois de esgotado o tempo de vida do edifício;

redução/separação de lixos de construção;

prevenção da produção/deposição de lixos tóxicos;

potencial de reutilização e reciclagem.

Muitos materiais utilizados na construção de edifícios provêm de stocks limitados ou de fontes não

renováveis, o que significa que o seu uso contribui para o empobrecimento e eventual esgotamento

das reservas do Planeta. No caso dos materiais que se encontram disponíveis em maiores

quantidades são os seus processos de extracção e transporte que podem causar degradações

ambientais significativas. Os materiais locais, desde que não prejudiciais para a saúde, são os mais

indicados para a construção sustentável na perspectiva da auto-suficiência, autonomia e durabilidade

do habitat, uma vez que garantem a minimização do transporte e a maximização da possibilidade de

substituição.

As emissões de CO

2

durante a fase de exploração do edifício constituem, por si só, o maior impacte

ambiental incorporado no edifício, relegando para segundo lugar as emissões de CO

2

decorrentes da

aplicação dos materiais de construção. Contudo, face à esperada melhoria da eficiência energética na

fase de exploração do edifício, a energia e emissões incorporadas durante a construção tenderão a ter

um papel cada vez mais relevante.

Alguns materiais de construção têm efeitos prejudiciais para a saúde. Seleccionar materiais de

construção exige que se consulte a respectiva informação técnica detalhada para assegurar, por

exemplo, que os dissolventes utilizados não são à base de produtos tóxicos.

A integração de dados sobre os "ingredientes" dos materiais no projecto de arquitectura exige maior

conhecimento técnico, bem como o acesso à informação. O uso destes dados é facilitado por

processos informatizados de análise do ciclo de vida dos materiais (tomando em conta os efeitos

ambientais da extracção, produção, transporte, uso, demolição e reciclagem ou deposição). Estes

processos podem ser relevantes para a minimização dos impactes ambientais pois evitam erros ou

omissões na selecção dos materiais que poderiam conduzir a substituições e perdas de eficiência

123

.

Note-se ainda que nem todos os impactes ambientais de materiais podem ser contabilizados da

mesma forma, pois alguns são mais importantes do que outros. A sua hierarquização é fundamental

para uma comparação justa do desempenho ambiental de materiais. Esta hierarquização deve ser feita

123

de acordo com a esfera de influência do impacte e a sua duração, o risco para a saúde do Homem ou

do ecossistema, e as possibilidades de reverter ou reparar o impacte.

Conforto ambiental e materiais sustentáveis

Conforto ambiental e materiais sustentáveis

Conforto ambiental e materiais sustentáveis

Conforto ambiental e materiais sustentáveis

Para uma correcta selecção de materiais não é suficiente avaliar o desempenho ambiental pois é

necessário verificar também o seu desempenho construtivo, de acordo com os parâmetros

convencionais de resistência, estética, conforto e durabilidade. O elevado desempenho ambiental dos

materiais deve ser conciliado com o conforto ambiental e satisfação na habitabilidade que

proporcionam.

O conforto ambiental depende de características dos materiais como a textura, a rugosidade, a

temperatura e a cor. As propriedades radiativas dos materiais de acabamento, como a absorção, a

reflectividade, a transmissibilidade e emitividade são geralmente expressas por valores numéricos que

variam, não só com as características da superfície, mas também com o ângulo de incidência da

radiação. A cor do material determina, em grande parte, a capacidade de absorção de radiação da

superfície e tem grande influência no conforto visual. Contudo, a cor nem sempre é o aspecto mais

importante para o conforto global quando comparada, por exemplo, com a transparência e

constituição desse material

124

.

No documento SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DA HABITAÇÃO (páginas 87-91)