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Aproveitamento de Ribeiradio Ermida, no rio Vouga.

xxiv Lista de símbolos

A 12 de Maio de 1972, entrou em serviço o aproveitamento hidroeléctrico de Vilarinho das Furnas, que recebeu o nome da aldeia comunitária que se encontra, actualmente,

3. Actualidade da hidroelectricidade

3.2. Aproveitamentos em implementação.

3.2.3. Aproveitamento de Ribeiradio Ermida, no rio Vouga.

O rio Vouga é o único grande rio nacional que não dispõe actualmente de qualquer capacidade de armazenamento. Por este motivo, os caudais de estiagem são frequentemente muito reduzidos, levantando problemas de abastecimento à população residente na zona baixa da bacia – cerca de 300 000 habitantes servidos pelo sistema do Carvoeiro nos concelhos de Aveiro, Águeda, Estarreja, Albergaria e Ílhavo [29].

Por outro lado, a falta de capacidade de retenção, associada à baixa pendente dos rios no trecho terminal da bacia, conduz a episódios de cheias frequentes que são agravados quando se verifica uma coincidência de pontas de cheia nos principais rios que drenam para a ria de Aveiro – nomeadamente o Vouga e o Águeda [29].

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Depois de um “pré-arranque” de obras em 2001 (analisado em detalhe adiante), em Novembro de 2007, o aproveitamento hidroeléctrico de Ribeiradio-Ermida foi adjudicado ao agrupamento composto pela Eviva Energy (detida pelo grupo Martifer) e pela EDP – Gestão de Produção de Energia, para a concepção, construção e exploração da unidade [80].

O aproveitamento hidroeléctrico de Ribeiradio – Ermida terá como finalidade principal a produção de energia hidroeléctrica, com uma potência total instalada de 78,6 MW. Garantirá ainda os volumes necessários para o abastecimento público, industrial e rega, tanto a jusante do aproveitamento como a partir das albufeiras que serão criadas, resolvendo assim os problemas acima mencionados [80].

Figura 3. 65 – Título da notícia no Jornal de Notícias a 27 de Dezembro de 2008 [81].

O início das obras da barragem está apontado para "Junho de 2009" e a entrada em serviço "prevista para o primeiro semestre de 2013" [60].

O complexo hidroeléctrico de Ribeiradio vai ser construído porque ganhou o estatuto de projecto de Potencial Interesse Nacional (PIN). A decisão foi deliberada a 11 de Fevereiro de 2009 pela Comissão de Avaliação e Acompanhamento dos Projectos PIN, da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal [81].

O projecto será composto por duas barragens e duas centrais hidroeléctricas.

A barragem mais a jusante, no rio Vouga, lugar de Ermida, terá 35 m de altura e uma

albufeira com capacidade de retenção de dois hm3 de água.

A barragem principal será uma estrutura maior: 75 m de altura, em betão com perfil

gravidade e uma albufeira que armazenará cerca de 100 hm3 de água, com nível de pleno

armazenamente à cota de 110, que permitirá assegurar o abastecimento das populações a jusante [81].

Figura 3. 66 – Esquema do aproveitamentohidroeléctrico de Ribeiradio-Ermida [82].

O escalão principal compreenderá ainda, entre outras caraterísticas, um descarregador de cheias com três comportas, um açude galgável em betão a jusante e com 5 m de altura, criando um colchão de água para amortecimento, dissipação de energia do jacto do descarregador de cheias e da descarga de fundo, uma descarga de fundo com 2,5 m de

diâmetro com 100 m3/s de capacidade e tomada de água junto ao encontro esquerdo,

alimentando o circuito hidráulico da central [82].

Figura 3. 67 – Antevisão do aproveitamento de Ribeiradio – Ermida [83].

A central principal será equipada com um grupo de eixo vertical com 72 MW de potência, turbinando 125 m3/s sob a queda nominal de 65 m, a central secundária será equipada com dois grupos iguais de eixo vertical com 3,3 MW cada, prefazendo assim um total de 78,6 MW [82].

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A albufeira de Ribeiradio constituirá ainda uma reserva de segurança que permitirá manter a jusante caudais ambientais adequados, garantindo a qualidade da água na zona lagunar de jusante. Além disso, a operação conveniente da albufeira permitirá desfasar os picos de cheia do Vouga relativamente aos do Águeda, minimizando, ainda que não de forma total, as consequências negativas das cheias [29].

A barragem de Ermida, que integra o aproveitamento, tem como principal objectivo minimizar os impactes causados a jusante pelo processo de turbinagem em Ribeiradio. Para potenciar a exploração hidroeléctrica, considerou‐se então a produção de energia em Ermida, compensando a inviabilização da reversibilidade em Ribeiradio (analisado mais à frente) [82].

O aproveitamento integrado dos recursos hídricos do rio Vouga tem sido analisado ao longo da últimas três décadas, no âmbito de diferentes estudos, tendo começado em 1975 com o Plano Geral do Aproveitamento Hidráulico do Rio Vouga – Direcção Geral dos Serviços Hidráulicos (DGSH) – seguindo-se o Estudo de Caracterização e Perspectivas de Desenvolvimento e de Gestão dos Recursos Hídricos na Região do Vouga – Direcção Geral dos Recursos Naturais (1989/90) e o Plano de Bacia Hidrográfica do Rio Vouga – Direcção Regional do Ambiente e Ordenamento do território Centro ‐ 2002 [82].

Em todos estes estudos foram identificados pontos comuns como a falta de capacidade de armazenamento disponível na bacia, as dificuldades de regularização dos caudais nela gerados, os caudais, que embora geralmente abundantes, se encontram frequentemente mal distribuídos a nível temporal, dando origem a períodos de escassez em períodos de estiagem e a cheias significativas em períodos de fortes precipitações, principalmente nas zonas baixas da bacia [82].

As características da bacia do Vouga, com linhas de água muito encaixadas e inclinações significativas, não são favoráveis à criação de albufeiras com capacidades de armazenamento importantes. Assim, desde os primeiros estudos que o local de Ribeiradio foi identificado como um dos mais favoráveis para a criação de uma albufeira com capacidade de armazenamento significativa. Os estudos de 1975 previam a criação de uma albufeira com NPA à cota 135, com uma capacidade total de armazenamento de 360 hm³, dos quais cerca de 100 hm³ seriam reservados para o controlo de cheias [82].

Contudo, e face às implicações negativas associadas à área a ocupar por uma albufeira com estas dimensões, em 1996 o NPA foi baixado para a cota 110. Esta cota de NPA foi aprovada em 1998, pela comissão de avaliação de impactes ambientais, na sequência do processo então levado a cabo, e ainda agora se mantém [82].

Nos estudos de 1975 considerou‐se o designado “Local de Jusante”, no qual foram executadas campanhas de prospecção geológico‐geotécnica detalhadas (sondagens, abertura

de valas e galerias e perfis sísmicos de refracção) conduzidas pela DGSH, como era corrente na época [82].

Em 1995 foram retomados os estudos, tendo‐se identificado um local alternativo a montante onde o vale aparentava uma morfologia adequada e potencialmente apropriada para a implantação de uma barragem, designado por “Local de Montante”. Na sequência destes estudos e, depois de obtido o parecer da comissão de avaliação de impacte ambiental (1998), deu‐se início aos estudos necessários com vista a sustentar o lançamento de um concurso público respeitante a uma empreitada de concepção‐construção [82].

Em 2001, as obras foram adjudicadas ao consórcio formado pelas empresas ENGIL, MOTA & COMPANHIA e SOMAGUE. Após a adjudicação, iniciaram‐se os estudos relativos ao projecto da barragem, que no entanto vieram a ser interrompidos com a paragem das obras por razões administrativas [82].

Figura 3. 68 – Intervenções Anteriormente Efectuadas no “Local de Montante” [82].

Tendo presente o processo descrito, as intervenções efectuadas no âmbito do anterior projecto (localizado a montante do actual) foram apenas as necessárias para a realização dos trabalhos complementares de prospecção geotécnica, que incluíram sondagens, galerias e ensaios “in situ”. Para tal tiveram que ser melhorados caminhos existentes até sensivelmente à cota do NPA (110); para executar as galerias e prospecção complementar no interior da albufeira houve que proceder, já na área da albufeira, à abertura de acessos; de

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facto, para atingir as galerias e as plataformas para execução das sondagens, foram executados acessos em ambas as margens atingindo alturas de escavação de 3 a 5 m, bem como a uma escavação prévia e implantação do respectivo estaleiro de apoio, para acesso ao qual se procedeu à beneficiação da via existente entre Vilarinho e o estaleiro [82].

Recentemente foi feita uma visita a esse local, tendo‐se constatado já a ocorrência de processos naturais de reabilitação dessa intervenção [82].

Os trabalhos realizados no “Local de Montante” posteriormente a 1999, mostraram condições de fundação francamente piores do que o previsto, levantando reservas à sua continuidade, situação que necessariamente se iria repercutir num aumento dos custos, que se identificaram então da ordem de 15% [82].

Em 2007, prioridades no domínio das energias renováveis, incluindo o aumento das metas a nível nacional (de 39% para 45%), levaram a repensar este aproveitamento, quer para produzir energia, quer para apoiar na solução dos problemas já identificados na bacia do Vouga, analisaram-se alternativas de localização da barragem de Ribeiradio (na anterior e na actual localização) e em ambas as alternativas a cota do plano de água era a mesma, pelo que a área a ser directamente afectada seria muito similar [82].

Após esta avaliação preliminar, adoptou‐se a localização de jusante (a cerca de 700 m do anterior local) devido à melhor qualidade do maciço para acolher uma barragem de betão [82].

Devido à necessidade de regularizar os caudais turbinados a jusante foi avaliada, pela primeira vez, a necessidade de construir a barragem de Ermida, com o objectivo de evitar a excessiva variação de caudais no rio a jusante. Face à existência deste contra‐embalse foi avaliada igualmente a questão da reversibilidade, a qual se veio a evidenciar inviável face à insuficiente capacidade de armazenamento disponível em Ermida [82].

E foram estes os estudos que deram origem ao processo que inicialmente se descreveu e que se vive actualmente, restando agora aguardar pelo início das obras e por um denserolar sem sobressaltos. De salientar que foi feita uma cerimónia de apresentação deste aproveitamento no dia 20 de Fevereiro de 2009 e contou com a presença do actual Primeiro Ministro José Sócrates.

No que diz respeito ao estudo de impacte ambiental deste aproveitamento, há a salientar o efeito barreira para a ictiofauna e a alteração, ainda que pouco significativa, das condições de vida aquática para jusante na fase de exploração. A considerar ainda a afectação de 6 habitações permanentes, 4 praias fluviais, e algumas infraestruturas, as quais serão restabelecidas [82].

Em síntese, e pese embora os impactes significativos identificados, principalmente no que respeita à significância dos impactes nos sistemas ecológicos aquáticos, admite‐se a

viabilidade ambiental do empreendimento, face aos benefícios energéticos e ambientais, e tendo presente as medidas de compensação propostas [82].