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Aproveitamento do Baixo Sabor.

xxiv Lista de símbolos

A 12 de Maio de 1972, entrou em serviço o aproveitamento hidroeléctrico de Vilarinho das Furnas, que recebeu o nome da aldeia comunitária que se encontra, actualmente,

3. Actualidade da hidroelectricidade

3.2. Aproveitamentos em implementação.

3.2.2. Aproveitamento do Baixo Sabor.

Será analisado mais à frente e com bastante detalhe, o facto de a bacia do Douro nacional dispor de uma muito pequena capacidade de armazenamento (396 hm³), quando comparada quer com as dimensões da mesma, quer com a sua produtividade. Será também analisado o facto de que uma reserva estratégica de água deverá localizar-se tão a montante quanto possível, de modo a que os caudais libertados possam beneficiar o maior trecho possível do Douro nacional. Assim, de acordo com o Programa Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNBEPH), podem encarar-se duas alternativas para criação de albufeiras com capacidade de armazenamento estratégico: na bacia do Côa ou na bacia do Sabor [29].

Foi já provado, pelo Excelentíssimo Senhor Engenheiro Carlos Madureira no artigo “Uma

visão sobre o Douro” que, o funcionamento conjunto destes dois aproveitamentos a

implementar nos dois afluentes do rio Douro, formaria a opção ideal e, sem sombra de dúvida, a opção mais interessante do ponto de vista da reguralização / armazenamento tão urgentes na bacia do Douro. No entanto, no PNBEPH são analisadas as duas alternativas (Côa e Sabor) separadamente, da forma que seguidamente se descreve.

A bacia do Côa apresenta a vantagem de se localizar mais a montante, dominando um trecho de rio mais longo (mais cerca de 15 km). Tem no entanto dois inconvenientes principais: a capacidade de armazenamento necessária é mais difícil de obter, exigindo a construção de duas barragens, e a capacidade de reenchimento dessa capacidade na sequência de um esvaziamento de emergência é menor, uma vez que as afluências médias disponíveis no Côa são cerca de metade das que poderão ser obtidas no Sabor. Deste modo, na sequência do esvaziamento da capacidade de reserva num ano seco, existe uma probabilidade de reenchimento total da reserva no ano seguinte de apenas 50%. No caso do Sabor, a probabilidade de reenchimento total da reserva num só ano é de 85%, permitindo uma garantia de estabilidade de fornecimento muito superior [29].

É evidente que, para além da constituição de uma capacidade de reserva para situações de emergência, o aproveitamento do Baixo Sabor permitirá a produção de quantidades significativas de energia, bastante superiores às que poderiam ser obtidas no Côa. Idealmente, para compensar o aumento da capacidade eólica prevista, o aproveitamento deverá ser reversível (cenário que será analisado no capítulo “Perspectivas Futuras” deste texto) [29].

Assim, em 2007 foi anunciada a construção do aproveitamento hidroeléctrico do Baixo Sabor e em Junho de 2008 o Governo adjudicou o aproveitamento hidroeléctrico da barragem do Baixo Sabor ao grupo EDP.

A construção deste aproveitamento começou desde logo com aspectos problemáticos e polémicos quando a “Plataforma Sabor Livre” – PSL – (http://www.saborlivre.org) interpôs uma providência cautelar para impedir a sua construção. Para a Plataforma Sabor Livre é “inadmissível” que “se autorize uma obra que irá destruir valores naturais insubstituíveis”, no entanto, a queixa da PSL foi mais tarde arquivada pela Comissão Europeia [75].

A obra vai custar 354 milhões de euros e deverá entrar em funcionamento entre 2012 e 2013. A barragem do Baixo Sabor com uma capacidade instalada de 170 MW, vai produzir em média, por ano, 250 GWh de energia [76].

O aproveitamento compreenderá dois escalões em cascata: na albufeira principal, cerca de 12 Km a montante da foz, será implementada uma barragem abóbada com 123 m de altura

e uma capacidade de armazenamento de 630 hm3, mais do que duplicando assim a actual

capacidade de armazenamento da bacia do Douro.

No segundo escalão (a jusante) vai ser criada uma reserva de emergência (actualmente inexistente), a utilizar em casos de muito baixos caudais no rio Douro, com uma barragem em

betão gravidade com 40 m de altura e capacidade para armazenar 450 hm3, constituindo o

contra-embalse de onde a água turbinada a montante durante as horas de ponta poderá ser de novo bombeada durante as horas de vazio (grupos reversíveis).

A central principal, associada à barragem de montante, estará equipada com grupos reversíveis com potência total de 135 MW sob uma queda de 90 m, podendo turbinar um caudal de 170 m³/s. A produção anual de energia primária será, em média, de 250 GWh/ano. A central de jusante terá uma capacidade de 35 MW sob uma queda de 30 m [29], [76].

Como se pode ver pelas figuras que se seguem, a localização do aproveitamento do Baixo Sabor, faz com que 4 aproveitamentos de fio-de-água a jusante, no leito do rio Douro, possam beneficiar dos caudais regulados, e assim turbinar mais em época de estiagem ou horas de ponta, aproveitando de forma mais eficaz as suas capacidades de produção. O aproveitamento do Baixo Sabor garante assim uma capacidade de prudução de 700 MW nas horas de ponta nas centrais a jusante [76].

Aproveitamentos em implementação 127

Figura 3. 60– Antevisão do projecto do aproveitamento hidroeléctrico do Baixo Sabor [76].

Figura 3. 61 – Localização do aproveitamento do Baixo Sabor e restantes aproveitamentos do rio Douro [50].

O valor encontrado para o total de emissões de CO2 evitadas, atribuíveis ao

aproveitamento do Baixo Sabor, corresponde a uma redução de mais de 5% das emissões do sector [76].

Dadas as caraterísticas do aproveitamento, torna-se por demais evidente que este será um de muitos aproveitamentos urgentemente necessários na bacia do Douro, essenciais para os aspectos de regulação de caudais, controlo de cheias, capacidade de armazenamento, produção de energia a partir de fonte renovável, capacidade de bombagem, contribuição para o

crescimento da energia eólica, redução das emissões do CO2, entre outros.

Relativamente à redução das emissões de dióxido de carbono – CO2 – atribuíveis ao

EMISSÕES EVITADAS (Kt) BASE DE CÁLCULO

Directamente pelo Baixo Sabor 150

• 250 GWh/ano (média dos regimes hidrológicos)

• 600 g/kWh - factor de emissão médio do sistema

Indirectamente, devido ao aumento da produção das hidroeléctricas a

jusante do Douro

37

Capacidade Garantida:

• 750 MW

Pelo crescimento integrado das

energias renováveis, só possível com a construção do Baixo Sabor

850

• 600 MW de crescimento em renováveis com regimes intermitente1

• 2.300 h de factor de carga

Total 1037

Tabela 3. 14 – Emissões de CO2 evitadas pelo Baixo Sabor, em quiloloneladas (kt), dados em [76].

O empreendimento vai afectar uma área integrada na Rede Natura 2000 (política de

Conservação da Natureza da União Europeia) e por isso exige algumas medidas de

minimização dos impactos negativos. De acordo com os planos apresentados pela EDP, essas compensações vão abranger praticamente todo o distrito de Bragança e ainda parte do Parque Natural do Alvão, em Vila Real. A intenção manifestada aponta para a melhoria das condições de espécies protegidas como o lobo ibérico, as águias e até os morcegos. Vai ainda ser constituído um fundo financeiro, para manutenção ao longo de 75 anos, das medidas de carácter ambiental [75]

Para além da construção de novos acessos, há a salientar o facto de a actual ponte do rio Sabor ficar submersa pela albufeira de contra-embalse e, naturalmente terá que se avançar, rapidamente, com a construção de uma nova ponte [75].

Figura 3. 62 – Ponte do Sabor, em 2006 à esquerda e durante a cheia de Novembro 2005, à direita.

1

Baseado na estimativa da REN de que são necessários 450 MW de reserva para backup do crescimento

Aproveitamentos em implementação 129

Uma das ambições da Associação de Municípios de Baixo Sabor, no âmbito da construção deste aproveitamento, é a criação de um parque de lazer idêntico ao da albufeira do Azibo, no concelho de Macedo de Cavaleiros, tendo em vista a dinamização turística da região. Esta medida foi defendida, desde cedo, por Aires Ferreira (presidente da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo), que já defende a criação de um circuito de natureza que ligue o Azibo, Parque Natural do Douro Internacional e Vale do Côa, com proliferação para norte para a área de Montesinho [54].

Figura 3. 63 – Dinamização turística na albufeira do Azibo, Macedo de Cavaleiros.

Entretanto, no dia em que se anunciou a assinatura do contrato de construção da Barragem do Baixo Sabor (30 de Junho de 2008), a Plataforma Sabor Livre (PSL) interpôs uma providência cautelar com o objectivo de parar o processo de construção. Esta providência justificava-se, de acordo com esta organização, pelo facto desta obra ser alegadamente ilegal, uma vez que a Declaração de Impacte Ambiental que a autorizava, tinha caducado a 15 de Junho de 2008 (antes da data em que foi assinado o contrato de construção) [72].

Então, em Dezembro de 2008, o Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa deu razão à providência cautelar interposta pela PSL. Esta, defende que para haver uma nova Declaração de Impacte Ambiental válida, “tem de ser feito um novo estudo de impacte ambiental e uma nova consulta pública, o que não ocorreu” [77].

Iniciadas em meados de meio do ano de 2008, as obras da barragem do Baixo Sabor foram suspensas pela EDP no final do mês de Dezembro de 2008. A EDP suspendeu as obras no Nordeste transmontano devido à acção judicial interposta, retomando-as novamente em meados do final do mês de Janeiro de 2009, uma vez que o Tribunal Administrativo e Fiscal de Mirandela recusou as providências cautelares de suspensão da execução do correspondente contrato de concessão outorgado em Junho de 2008 [78], [79].

Figura 3. 64 – Obras do aproveitamento do Baixo Sabor.

Toda esta agitação e conjunto de obstáculos que se colocam e interpõem no processo, são o melhor exemplo daquilo que espelha a dificuldade que se vive nos nossos dias apenas para implementar um aproveitamento hidroeléctrico, cuja necessidade é por demais evidente e, cujos benefícios estão já provados há largos anos, não apenas a nível energético como também para a tão importante capacidade de armazenamento na bacia do Douro, urgentemente reclamada há várias décadas. Trata-se apenas de um dos muitos aproveitamentos hidroeléctricos inquestionavelmente necessários.

Se um aproveitamento apenas gera tanta polémica e incomoda tanta gente, como será com dez ou vinte aproveitamentos (ainda necessários em Portugal)?