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Bacia hidrográfica do Lima

xxiv Lista de símbolos

A 12 de Maio de 1972, entrou em serviço o aproveitamento hidroeléctrico de Vilarinho das Furnas, que recebeu o nome da aldeia comunitária que se encontra, actualmente,

3. Actualidade da hidroelectricidade

3.1. Bacias hidrográficas e respectivos aproveitamentos hidroeléctricos

3.1.8. Bacia hidrográfica do Lima

A bacia hidrográfica do rio Lima – BH Lima – tem uma superfície de aproximadamente 2450 km2, dos quais cerca de 1140 km2 (46,5%) em território português. A sua bacia é limitada a norte pela bacia hidrográfica do rio Minho, a leste pela do rio Douro e a sul pelas bacias dos rios Cávado e Âncora [57],[58].

O rio Lima nasce em Espanha, na serra de São Mamede a cerca de 950 m de altitude, percorrendo 41 km até entrar em território português no vale criado pela serra da Peneda e do Gerês. Tem cerca de 108 km de extensão, dos quais 67 km em território português e desagua em Viana do Castelo. O principal afluente em Portugal é o rio Vez, situado na sua margem

direita, com um comprimento de 39 km e drenando uma área de 263 Km2, que corresponde a

11% da área total da bacia [57], [58].

A altitude média da bacia do rio Lima é de 447 m, variando entre os 0 e os 1416 m, considerando a parte portuguesa. Os sectores mais elevados da bacia são, a norte, a Serra da Peneda, com 1 416 m, e, a sul, à Serra Amarela com 1 361 m. Desde a fronteira com Portugal até à foz em Viana do Castelo, o rio Lima tem cerca de 67 km de comprimento. O seu perfil longitudinal apresenta três sectores distintos [57]:

O sector de montante, de declive suave, talhado na superfície planáltica à entrada de

Portugal, que ronda 800 m de altitude;

O sector intermédio, declivoso, com declive médio da ordem de 1,5%, que

corresponde ao percurso de montanha entre a barragem do Alto Lindoso e um pouco a montante de Ponte da Barca, onde o vale é muito encaixado com vertentes íngremes;

O sector de jusante, com cerca de 35 km de extensão, entre Ponte da Barca e Viana

do Castelo, com declive médio da ordem de 0,1%, onde o vale se apresenta largo, de vertentes suaves, particularmente a jusante de Ponte de Lima.

As disponibilidades hídricas na bacia hidrográfica do rio Lima, em regime natural, estão essencialmente dependentes da forma como a precipitação se distribui espacial e temporalmente e dos valores atingidos [57].

O escoamento anual médio desta BH é da ordem dos 3600 hm3. Quanto à avaliação do

escoamento gerado em Espanha os estudos realizados conduzem a um valor de 1.600 hm3,

sendo o escoamento gerado na parte portuguesa da bacia do Lima de cerca de 1.500 hm3.

Actualmente o volume útil total de armazenamento na parte portuguesa da bacia do Lima é

de aproximadamente 400 hm3. Em Espanha a capacidade de armazenamento útil total é de

aproximadamente 170 hm3, distribuídos por duas albufeiras, Las Conchas (80 hm3) no rio Lima

e Las Salas (87 hm3) no rio Salas, destinadas essencialmente à produção de energia [58].

Na área abrangida pela Bacia Hidrográfica do Lima encontram-se actualmente em exploração 3 grandes aproveitamentos hidroeléctricos (definidos como os que têm potência instalada superior a 10 MW), cujas principais características se encontram resumidas nas seguintes tabelas (ver detalhes no Anexo VIII).

Bacias hidrográficas e respectivos aproveitamentos hidroeléctricos 97

CARACTERÍSTICAS ALTO LINDOSO TOUVEDO LINDOSO

Ano de entrada ao serviço 1992 1993 1922

Tipo de Aproveitamento Albufeira Albufeira Fio de Água

Potência Máxima (MW) 630 22 42

Energia Produzida (GWh) 948 67 6.0

Tabela 3. 10 – Aproveitamentos hidroeléctricos de grande dimensão (P > 10mw) da BH Lima .

CENTRAIS CARACTERÍSTICAS BACIA DO LIMA TOTAL

POTÊNCIA > 10 MW

Número 3 38

Potência Total 696,1 MW 4600 MW Produtibilidade 1020 GWh/ano 11000 GWh/ano Tabela 3. 11 – Aproveitamentos hidroeléctricos na BH Lima e em Portugal Continental, dados da DGEG.

O Aproveitamento de Lindoso, em funcionamento desde 1922, com uma potência instalada de 7 MW, foi objecto de diversas alterações na potência instalada, nomeadamente em 1923 (+ 7 MW), em 1932 (+ 14 MW) e 1945 (+14 MW). As afluências actualmente turbináveis resultam das captações feitas para o extenso canal de adução, que se desenvolve na encosta da margem esquerda do rio Lima ao longo de 6,8 km, com alguns troços a céu aberto e outros em túnel. Nos períodos de estiagem, o sistema constituído pelo canal e pelas derivações existentes, possibilita ainda o fornecimento de caudais de rega para as parcelas agrícolas da zona [57].

Figura 3. 39 – Barragem do Alto Lindoso.

O aproveitamento de Alto Lindoso, situado no curso principal do rio Lima a escassas centenas de metros da fronteira com Espanha, é o centro produtor hídrico português com

maior potência instalada. Foi construído no local do antigo açude do Lindoso entre 1982 e 1992, com base no Convénio Luso-Espanhol de 1960, para os grandes rios limítrofes entre Portugal e Espanha. Para além da importante função energética, este aproveitamento condicionou mudanças favoráveis, em termos sociais, permitindo a ligação entre Arcos de Valdevez e Soajo e constitui uma forma de regulação do caudal do rio Lima, juntamente com a Barragem de Touvedo [59].

A inexistência de acessos ao local onde foi construído o aproveitamento exigiu a construção de obras acessórias, nomeadamente 67 km de estradas, quatro pontes em Portugal e sete em Espanha. Assim, os 10 anos de construção do aproveitamento do Alto Lindoso incluíram o empreendimento propriamente dito e também estas infra-estruturas acessórias [59]. Os números ditam a grandiosidade da obra, nomeadamente a execução de cerca de 1

200 000 m3 em escavações, detonagem na ordem dos 600 000 m3, utilização de 300 000 m3 de

betão, 10 000 toneladas de aço. Esta obra magnânime custou, aproximadamente, 800 milhões de euros, no entanto, supõe-se que o valor que foi dispendido, até 2002 já teria sido igualado em lucros obtidos. Este projecto de Engenharia Portuguesa ganhou, em 1994, o Prémio Internacional Puente de Alcântara [59].

A potência instalada está distribuída por dois grupos de turbinas tipo Francis com 315 MW cada um, o que corresponde a uma potência total instalada de 630 MW. Esta característica singular de uma elevada potência instalada deveria constituir um exemplo para as prévias e subsequentes construções de aproveitamentos hidroeléctricos, que infelizmente não se verificou. Gastaram-se milhares de contos e mesmo assim não se optou pela alternativa que seria mais rentável e, consequentemente, traria mais lucros.

Para além da sua elevada potência instalada, outra característica distintiva é a prontidão de entrada de serviço, que é de cerca de 90 segundos [59].

O aproveitamento do Alto Lindoso é constituído por [59]:

Barragem, em betão, de abóbada em dupla curvatura (arcos parabólicos), com 110 m de altura, 21 m de espessura máxima e cerca de 300 m de desenvolvimento de coroamento;

Descarregadores de cheias em túnel, com 238 m e 268 m de extensão situados na margem direita do rio;

Central hidroeléctrica subterrânea a 340 m de profundidade, acedida ao exteior através de um galeria principal com 1780 m de extensão ou por um poço circular de 6,8 m de diâmetro e 350 m de altura, dotado de um elevador e situado no edifício de comando.

Circuito hidráulico, por sua vez, é formado por:

a) Duas galerias e poços de carga independentes com 455 m e 502 m de comprimento;

Bacias hidrográficas e respectivos aproveitamentos hidroeléctricos 99

b) Canal de restituição com 5070 m de comprimento e 8,6 m de diâmetro que devolve a água ao rio Lima perto da antiga Central do Lindoso;

Conjunto de galerias que permite o acesso à central e às câmaras de válvulas esféricas e borboleta.

Figura 3. 40 – Esquematização dos constituintes do aproveitamento do Alto Lindoso.

A capacidade de armazenamento é de, aproximadamente, 370 hm3 de água, sendo o 5º

aproveitamento com maior capacidade de armazenamento de água a nível nacional [59]. A água que chega à albufeira é retida pela barragem, posteriormente é introduzida nas condutas de carga, onde a jusante se encontram umas válvulas de segurança, as chamadas válvulas esféricas que, na altura da construção foram as maiores do mundo, tendo sido fundidas no Japão, na Mitsubichi. Seguem-se as turbinas Francis que turbinam a água que,

depois, é restituída ao rio Lima por um túnel de fuga ou de restituição e debita 250 m3/s.

A chaminé de equilíbrio, constituída por um cilindro de 80 m de altura e 21 m de largura, é muito importante quando há um corte súbito de água, impedindo que haja um rebentamento dos circuitos hidrálicos.

A sua produtibilidade média anual é de 948 GWh, equivalente a 236 000 consumidores nacionais em baixa tensão (tendo com referência os nºs da ERSE relativos a 2007) .

Figura 3. 41 – Barragem e Central de Touvedo.

O escalão de Touvedo, situado 17 km a jusante do Alto Lindoso, constitui um complemento indispensável do aproveitamento anterior, com a importante missão de regular os elevados caudais turbinados, restituindo-os ao rio com valores adequados. Desta forma, evita variações bruscas e de grande amplitude do rio, preservando a estabilidade das suas margens, o ecossistema envolvente e salvaguardando a utilização das praias fluviais. O aproveitamento hidroeléctrico está equipado por um grupo Kaplan de 22 MW, com uma capacidade de produção energética de 66 GWh [59].

Este aproveitamento e o anteriormente referido são explorados pela EDP e integram-se no Centro de Produção Cávado-Lima, cuja condução é feita a partir do Centro de Telecomando da Caniçada [57].