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Reforço das centrais de Picote e Bemposta, no rio Douro.

xxiv Lista de símbolos

A 12 de Maio de 1972, entrou em serviço o aproveitamento hidroeléctrico de Vilarinho das Furnas, que recebeu o nome da aldeia comunitária que se encontra, actualmente,

3. Actualidade da hidroelectricidade

3.2. Aproveitamentos em implementação.

3.2.1. Reforço das centrais de Picote e Bemposta, no rio Douro.

Como foi referido na “Restrospectiva Histórica”, os aproveitamentos do Douro internacional (Miranda, Picote e Bemposta), foram implementados no final dos anos 50, princípios de 60. Nesta época, a componente hidroeléctrica da produção energética nacional atingiu um máximo de 95%, representando a quase totalidade do consumo nacional e ocupava a base do diagrama de cargas. Assim, as centrais hidroeléctricas tinham naturalmente o compromisso de operar todos os dias, durante o Inverno e Verão. Os aproveitamentos a fio-de-água (como é o caso das do Douro) tinham então, uma redução significativa de produção durante os meses

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de estiagem, a qual era compensada pelo aumento de produção dos aproveitamentos de albufeira (Cávado e Zêzere). No entanto, a hidroelectricidade apenas disponível em períodos húmidos tinha pouco valor e só a energia mais ou menos garantida era explorada. Por este motivo as centrais do Douro internacional foram equipadas com caudais turbináveis relativamente baixos, tendo em conta que o caudal médio observado no leito internacional do Douro ronda os 340 m³/s: 350 m³/s em Miranda, 345 m³/s em Picote e 420 m³/s em Bemposta [29].

Assim, considerando a evolução dos consumos e a deslocação da produção hidroeléctrica da base para a ponta do diagrama de cargas, torna-se evidente que o caudal original de equipamento destes aproveitamentos é extremamente baixo. Além disso, uma vez que o aproveitamento de Castro, em Espanha, localizado imediatamente a montante de Miranda, tem uma capacidade de turbinamento de 590 m³/s, sempre que a sua central opera a plena carga, os aproveitamentos nacionais, sem capacidade de regularização efectiva, são forçados a descarregar boa parte do caudal excedentário, sem qualquer hipótese de produção de energia, desperdiçando assim boas oportunidades de produção energética [29].

Figura 3. 57 – Localização dos centros de produção no Douro Internacional[69].

O reforço de potência do escalão de Picote visa evitar, de forma económica e utilizando estruturas já existentes, o desperdício de energia ligada aos descarregamentos impostos pelas circunstâncias focadas. Adicionalmente, permite diminuir a dependência que a exploração de Castro e Miranda colocam à exploração do escalão de Picote, face à sua localização a jusante e ao pequeno volume útil da sua albufeira [70].

A importância do projecto é facilmente compreendida, se for tido em conta que a REN, entidade que gere SEP em Portugal, passará a dispor, nas centrais de Picote, de uma potência de cerca de 420 MW (cerca de 10% da potência hidroeléctrica instalada em Portugal), a qual pode ser fornecida à rede de alta tensão num curtíssimo período de tempo. Esta capacidade de resposta muito rápida, característica dos aproveitamentos hidroeléctricos, é muito importante para a gestão do SEP, no dia a dia, uma vez que facilita fazer coincidir a energia que está a ser produzida com a energia que está a ser consumida. Por outro lado, o reforço de

potência em Picote constituirá ainda uma reserva de segurança, pronta a intervir rapidamente, em caso de ocorrência de incidentes graves noutras centrais ou até na própria rede de alta tensão [71].

Concluído o aumento da capacidade da central de Miranda em 1995 (194 MW, 220 GWh/ano), 12 anos depois (em 2007) a EDP assinou o contrato para construção do reforço de potência do aproveitamento de Picote. Meio século depois da entrada em funcionamento da central de Picote, a unidade aumentará agora em cerca de 130 por cento a potência da central existente. Os trabalhos arrancaram em 2007 e prevê-se a sua conclusão no segundo semestre de 2011.

De acordo com a EDP, a unidade será constituída por uma central subterrânea em caverna, a cerca de 150 m de profundidade, um circuito hidráulico em túnel e diversos poços e túneis auxiliares e de acesso. A central de produção de electricidade, designada Picote II, vai estar equipada com uma das maiores turbinas de electricidade da Europa, com uma potência nominal de 246 MW, produzindo 240GW/ano [72], [73].

Isto será possível, através da conversão de cerca de 1200 hm3 de caudais que deixarão

de ser descarregados, o que equivale a cerca de 2/3 de redução desses mesmos caudais descarregados, quando comparados com o verificado numa série hidrológica de 40 anos [70].

Figura 3. 58 – Obras na central de Picote.

Em termos de potência emitida para a rede, pode observar- se no gráfico 3.1 (potência colocada em função da percentagem do tempo), para o ano de 2015 e para condições médias de hidraulicidade, o efeito da concentração nas horas de ponta, permitida pelo reforço de potência de Picote, e da correspondente redução nas horas de vazio, resultantes de um estudo de simulação com o modelo Valoragua [70].

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Gráfico 3. 1 – Potências colocadas pela central de Picote no ano 2015 [70].

É importante salientar o facto de a construção do reforço de potência consistir essencialmente num conjunto de obras subterrâneas que, apesar da sua apreciável dimensão, terão ao nível da superfície uma expressão mínima restringida às zonas de estaleiro, instalações socais e escombreiras, durante a construção, e à criação de um ou outro elemento de pequena dimensão para a exploração do aproveitamento [71].

Em 2008, a EDP assinou o contrato para a construção do reforço de potência do aproveitamento de Bemposta. Tendo entrado em serviço em 1964 com uma potência instalada de 240 MW, a central verá a sua potência aumentada em cerca de 80% [72].

Os motivos que levam, a este “upgrade”, são os mesmo que foram apresentados para o reforço de Picote e, insere-se trambém na estratégia de promoção e exploração de centros electroprodutores que utilizam fontes renováveis, nomeadamente, no domínio hídrico, tendo em vista os objectivos nacionais de produção de energia eléctrica por via renovável [49].

À semelhança do aproveitamento de Picote, o aproveitamento da Bemposta existente, construído no troço Internacional do rio Douro, não apresenta capacidade para transformar em energia uma quantidade apreciável de água, proveniente dos aproveitamentos a montante, sendo descarregada sem qualquer aproveitamento do ponto de vista energético. Coloca-se, assim, a necessidade de um reforço de potência que corresponde a construir uma central em poço, adicional, e as respectivas condutas de alimentação e de restituição da água ao rio, para optimizar, em termos energéticos, a utilização das águas do Douro, possibilitando assim uma melhor gestão do aproveitamento e, consequentemente, o aproveitamento integral do recurso hidroeléctrico existente em Bemposta [74].

Figura 3. 59 – Localização dos principais elementos do reforço de potência do aproveitamento hidroeléctrico do Douro Internacional – Bemposta (a vermelho) [74].

Este reforço será constituído por uma central subterrânea em poço, a cerca de 60 m de profundidade, um circuito hidráulico em túnel e diversos poços e túneis auxiliares e de acesso. A central será equipada com um grupo gerador constituído por uma turbina tipo Francis e por um alternador com potência nominal de 191 MW /212 MVA. O objectivo é que a nova central Bemposta II entre em serviço industrial no 2º semestre de 2011 [72].

O conjunto de estes dois reforços nos aproveitamentos do Douro internacional, traduz-se num aumento de cerca de 440 MW na potência instalada nacional [72].

Finalmente salienta-se que com a entrada em exploração dos reforços de potência de Picote e de Bemposta, ambos previstos para final de 2011, conforme já referido, conclui-se

Tomada de água

Canal de Aproximação Galeria de Adução

Interligação com a central existente Galerias de ataque Subestação Restituição Canal a jusante Central

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assim o projecto de reforço das centrais portuguesas do Douro Internacional, que tinha sido iniciado com o reforço da central de Miranda, em serviço desde final de 1995 [70].

Além da utilização para produção de energia eléctrica, existem outros usos para a água das albufeiras de Picote e Bemposta, embora nem todos com a mesma importância. Destaca-se o abastecimento público domiciliário, tendo origem nestas albufeiras dois importantes sistemas de abastecimento de água, um no concelho de Miranda do Douro (sistema da Barragem de Picote) e outro no concelho de Mogadouro (sistema de Bemposta) [71].