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Aproximação com os dados objetivos dos Planos Nacionais do Brasil e de Portugal

IDEOPOLÍTICOS

5.2 Aproximação com os dados objetivos dos Planos Nacionais do Brasil e de Portugal

Os Planos Nacionais de Portugal e do Brasil foram organizamos no mesmo período nos dois países, ou seja, no ano de 2007. O quadro que se apresenta abaixo se refere a uma aproximação com os dados objetivos dos Planos, com o objetivo de buscar compreender os

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Quadro 1.5: Descritivo das características básicas dos Planos de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas/Seres Humanos em Portugal e no Brasil

Identificação dos dados do 1º. Plano PORTUGAL BRASIL Aprovação da Tratativa Internacional no Legislativo Aprovada a Convenção em Portugal pela Resolução 32/2004 da Assembleia da República em 12 de fevereiro de 2004.

Aprovado o Protocolo adicional – Protocolo de Palermo no Congresso Nacional, por meio do Decreto Legislativo no231, de 29 de maio de 2003.

Ratificação pelo Executivo Federal

Ratificado pelo Decreto do Presidente da República no. 19/2004, de 2 de abril.

Promulgado pelo Decreto 5017 de 12 de março de 2004.

Nome Plano Nacional contra o

Tráfico de Seres Humanos

Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas

Período de Vigência 2007-2010 2008-2010

Instância de aprovação Resolução do Conselho de Ministros no. 81/2007, de 6 de junho de 2007 Decreto 6347, de 8 de janeiro de 2008, da Presidência da República Áreas / eixos de intervenção 1. Conhecer e disseminar informações; 2. Prevenir, sensibilizar e formar; 3. Proteger, apoiar e integrar; 4. Investigar criminalmente e reprimir;

1. Prevenção ao tráfico de pessoas; 2. Atenção às vítimas de tráfico de pessoas;

3. Repressão ao tráfico de pessoas e responsabilização de seus autores;

Nºde medidas / atividades 63 76

Fontes: Resolução do Conselho de Ministros no. 81/2007 (Portugal) e Decreto no. 6347 da Presidência da República (Brasil)

Os dados referentes aos dois países são bastante similares quando se referem ao Protocolo de Palermo, pois a sua ratificação nos países envolveu o Poder Legislativo e o Poder Executivo, dando validades nacionais aos ditames do referido documento a partir de 2004. Os Planos Nacionais também seguiram tramitação bastante parecida, ou seja, ambos foram aprovados pelo Executivo em 2007 e 2008, Portugal e Brasil respectivamente, sendo a vigência de 3 anos para o primeiro e 2 anos para o segundo.

Em relação ao processo de elaboração dos Planos Nacionais, Portugal informa que foi colocado em “Consulta Pública” e que seguiu as “melhores práticas internacionais”, sendo um instrumento “indispensável para a partilha de responsabilidades” entre governo e sociedade civil.

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No caso do Brasil, o Plano Nacional foi precedido pela aprovação da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, aprovada pelo Decreto 5958/2006 (Brasil, 2006), que teve participação do Poder Executivo, Ministério Público Federal e Ministério Público do Trabalho, como também da sociedade civil em eventos com diferentes formas de composição. Colocada em consulta pública, a Política Nacional foi aprovada e, no seu Capítulo II, indicou as ações que deveriam ser executadas pelos entes públicos e que se tornaram a base para a elaboração do I Plano Nacional. Este foi elaborado pelo Grupo de Trabalho constituído por representantes dos Ministérios, tendo sido também convidados os representantes da sociedade civil.

Na estruturação dos eixos/áreas estratégicas, Brasil e Portugal apresentam poucas diferenças e mantêm, praticamente, as indicações do Protocolo de Palermo, como se pode verificar nos gráficos a seguir:

Figura 1.5: Gráfico demonstrativo da porcentagem de atividades previstas no I Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas – Brasil, por eixo estratégico

Distribuição das atividades do I PNETP por eixo estratégico Prevenção ao Tráfico de Pessoas 44% Atenção às vítimas de tráfico 24% Repressão ao tráfico de pessoas e responsabilização de seus autores 32%

Fonte: I PNETP, Decreto no. 6347/2008. Presidência da República

O Brasil seguiu exatamente as três áreas do enfrentamento que estão contidas no Protocolo de Palermo, ou seja, prevenção, repressão e atenção às vítimas. Portugal, além dessas três áreas, inseriu uma nova que denominou de “Conhecer e disseminar informação”, como pode ser observado a seguir:

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Figura 2.5: Gráfico demonstrativo da porcentagem de atividades previstas no I Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Seres Humanos – Portugal, por área estratégica

Distribuição das medidas do I PNETSH por área estratégica Conhecer e disseminar informação 14% Prevenir, sensibilizar e formar 40% Proteger, apoiar e integrar 33% Investigar criminalmente e reprimir 13%

Fonte: I PNETSH. Resolução do Conselho de Ministros, no 81/2007

Os dois gráficos acima, a princípio, parecem ser diferentes. No entanto, ao se verificar as atividades que estão nos eixos/áreas, há similaridade e o conteúdo, “Conhecer e disseminar informação” no Plano português, está contido no Plano brasileiro no eixo da Prevenção.

O eixo da Prevenção toma dianteira em ambos os planos, sendo responsável por 44% das medidas em Portugal e 40% no Brasil. Seguidas a isso, há uma reversão entre os números em ambos os países. Enquanto em Portugal o segundo maior número de medidas, 33%, referem-se a “proteger, apoiar e integrar” as vítimas, o Brasil confere ao segundo lugar em percentagem, 32%, à repressão ao tráfico de pessoas e responsabilização de seus autores.

Ao registrar diferentes áreas na organização dos Planos, pode-se inferir que há uma intencionalidade abrangente no Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, traduzida em metas para as diferentes áreas. Do ponto de vista do comprometimento institucional com a execução dos Planos, tem-se o seguinte quadro:

Quadro 2.5: Organizações executoras dos 1os. Planos Nacionais Portugal e Brasil Organizações executoras do I PNETSH Organizações executoras do I PNETP

ACIDI —Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural.

MDS – Ministério do Desenvolvimento Social MEC – Ministério da Educação

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ACT —Autoridade para as Condições do Trabalho.

ANP — Associação Nacional de Professores. ASAE — Autoridade para a Segurança Alimentar e Económica.

CIG —Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género.

CNPCJR —Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens em Risco.

CONFAP —Confederação Nacional das Associações de Pais.

FCT—Fundação para a Ciência e para a Tecnologia.

GMCS —Gabinete para os Meios de Comunicação Social.

ICS —Instituto da Comunicação Social. INE—Instituto Nacional de Estatística. MAI —Ministério da Administração Interna. MC —Ministério da Cultura.

MCTES — Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.

MDN — Ministério da Defesa Nacional. ME —Ministério da Educação.

MJ —Ministério da Justiça.

MNE — Ministério dos Negócios Estrangeiros. MOPTC — Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações.

MS —Ministério da Saúde.

MTSS — Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social.

OA — Ordem dos Advogados.

ONG —Organização Não Governamental. PCM —Presidência do Conselho de Ministros. PGR — Procuradoria-Geral da República. SET — Secretaria de Estado do Turismo. UMIC — Agência para a Sociedade do Conhecimento, I. P.

MinC - Ministério da Cultura MJ – Ministério da Justiça

MRE – Ministério das Relações Exteriores MS – Ministério da Saúde

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego MTur – Ministério do Turismo

SEDH – Secretaria Especial de Direitos Humanos

SEPPIR – Secretaria Especial de Políticas Públicas para Igualdade Racial

SPM – Secretaria de Políticas para Mulheres

Fontes: I PNETSH. Resolução do Conselho de Ministros de Portugal, no 81/2007 e I PNETP, Decreto no. 6347/2008 da Presidência da República do Brasil.

É visível que há uma maior intersetorialidade no Plano de Portugal que no do Brasil, sendo que há a citação de 28 organizações entre entidades públicas governamentais e não governamentais. No Brasil, as organizações são especificamente os Ministérios do Poder Executivo em número de 11. Outra característica que diferencia o envolvimento das organizações nos Planos é que no I PNETSH, as medidas têm o comprometimento de uma ou várias organizações e, no Brasil, é citada apenas a organização responsável pela execução da referida atividade. Isso pode significar que outras organizações brasileiras poderiam se envolver com o ETP em cada atividade, ou seja, poderiam agregar-se ao Plano

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Há, de forma comum, alguns órgãos que são mais os citados nos Planos e que, num primeiro olhar, parece que estão à frente da responsabilidade na sua execução. Em Portugal, o Ministério da Administração Interna – MAI (32 citações) e o Ministério da Justiça (32 citações) e a Presidência dos Conselhos de Ministros que tem o Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural - ACIDI e a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Gênero - CIG, tornando-se aquele mais citado (49 citações somados os dois). No Brasil, O Ministério da Justiça – MJ é o mais citado (39 vezes), seguidos pela Secretaria Especial de Direitos Humanos (15 vezes), Ministério das Relações Exteriores – MRE (9 vezes) e Secretaria de Políticas para Mulheres – SPM, 8 vezes.

Esses dados objetivos indicam que há em Portugal uma tendência em tratar a discussão do tráfico mais vinculada às discussões migratórias, sendo que, no período em estudo, sabe-se, tanto pela PESTRAF quanto pelos discursos analisados no capítulo 5, que o país era considerado, sobretudo, país de destino de pessoas traficadas, especialmente de mulheres latinoamericanas (dentre elas, brasileiras especificamente) e do leste europeu.

Por outro lado, o Brasil, com sua legislação restritiva e considerado país de saída de mulheres traficadas, focou no seu plano, a centralidade no Ministério da Justiça e Secretaria Especial de Direitos Humanos, cuja temática da exploração sexual está sob sua responsabilidade. Percebe-se, desta forma, que é o contexto da época que forjou o envolvimento das organizações governamentais baseadas nas ideias ainda presentes da PESTRAF.

Evidencia-se, nos dois planos que há pouco envolvimento dos setores da saúde e da educação e, além disso, os setores da economia estão ausentes dos planos. O enfrentamento ao tráfico de pessoas, segundo os dados apresentados acima, tem forte conotação de ser de responsabilidade das políticas sociais, ou seja, está pautado a partir da violação de direitos, em detrimento dos fundamentos da sua existência.

A organização da ação do Estado, inclusive categorizando como sendo uma parte dela a ação de políticas sociais, esconde as próprias contradições que estão colocadas na ‘política’, dividindo-a entre econômica e social. Torna o discurso dessa última, dividida em várias áreas, simpático à sociedade, posto que oferece o olhar humanizado do próprio Estado e invisibiliza e compreensão da correlação de forças existentes no seu interior. Esta destinação de funções para a economia e para o social confere às políticas sociais papel mitigador, compensador ou mesmo atendente às fraturas. Portanto, a política social passa a ter também a função de

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construtora e mantenedora da coesão social e, por que não afirmar, apoiadora da ação econômica esgarçadora de territórios e de direitos e, assim sendo, promotora de traficância.

Nesta busca de aproximação sucessiva com os fundamentos ideopolíticos dos planos, faz-se necessário conhecer especificamente cada eixo/área estratégica para que seus conteúdos possam emergir. Mesmo considerando que há diferença entre o número de eixos entre os Planos português e brasileiro, será feita a análise agrupando o que há de comum entre eles a partir das discussões: a) Conhecimento da realidade, prevenção e formação; b) atenção às pessoas em situação de tráfico e c) Investigação, responsabilização e repressão ao tráfico de pessoas.