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IDEOPOLÍTICOS

5.5 Investigação, responsabilização e repressão ao tráfico de pessoas

O Protocolo de Palermo, no que se refere a esse conjunto de objetivos, destinou um dos seus artigos assim expresso:

Artículo 5. Penalización

1. Cada Estado Parte adoptará las medidas legislativas y de otra índole que sean necesarias para tipificar como delito en su derecho interno las conductas enunciadas en el artículo 3 del presente Protocolo, cuando se cometan intencionalmente.

2. Cada Estado Parte adoptará asimismo las medidas legislativas y de otra índole que sean necesarias para tipificar como delito:

a) Con sujeción a los conceptos básicos de su ordenamiento jurídico, la tentativa de comisión de un delito tipificado con arreglo al párrafo 1 del presente artículo;

b) La participación como cómplice en la comisión de un delito tipificado con arreglo al párrafo 1 del presente artículo; y

c) La organización o dirección de otras personas para la comisión de un delito tipificado con arreglo al párrafo 1 del presente artículo. (UNODC, 2004)

A indicação é a de que os Estados-parte adotem legislações que possam tipificar o tráfico de pessoas em todas as finalidades existentes. Avoca também o referido Protocolo para que os países possam também arrolar os cúmplices, inclusive as organizações que em estejam

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O Plano português, no que se refere a este eixo, denominou-o de “investigar criminalmente e reprimir” e definiu oito medidas, sendo que a maioria se encontra na meta de investigar. Nesta meta, a maioria das ações refere-se à cooperação entre organizações infranacionais e internacionais e agências multilaterais, realizando-se acordos para troca de informações e experiências nos processos investigativos. A implementação das ações fiscalizatórias laborais se constitui em uma segunda linha de atuação que indica os lugares possíveis de tráfico de pessoas: “bares, casas de alterne e diversão nocturna, actividades na área da construção civil, actividades sazonais e serviços domésticos”. Neste quesito fiscalização, indica também que isso ocorrerá de forma coletiva entre diferentes órgãos do governo e visa também organizar os dados visando à prevenção e, por isso, há a necessidade de implementar-se um guia de registro uniformizado para as forças de segurança de Portugal e destinar recursos técnicos e humanos para os serviços que realizam investigação.

No que se refere à repressão, o Plano indica a necessidade de incorporar uma visão holística sobre o tráfico de seres humanos, numa “abordagem compreensiva e relacional”, ou seja, atuar a partir da complexidade que a problemática exige, fazer a revisão do tipo penal, buscando a responsabilidade coletiva sobre as situações40.

O Plano Brasil definiu este eixo como sendo de “repressão ao tráfico de pessoas e responsabilização de seus autores” e tem seis prioridades, ou seja, é o maior volume delas do Plano Nacional. A meta inicial desse eixo refere-se à legislação existente, ainda restritiva à finalidade de exploração sexual, e o Plano propõe, a partir de um grupo de especialistas, criar uma proposta que responda tantos aos projetos de lei41, que estão no Congresso Nacional, quanto avançar na uniformização do conceito e ampliar as finalidades do tráfico, como também a criação de Fundo específico para financiar as ações de enfrentamento ao tráfico de pessoas.

No que se refere às metas a serem operacionalizadas nos âmbitos da segurança e da justiça, o I PNETP traça estratégia de ampliar e aperfeiçoar o conhecimento por meio de cursos, oficinas, produção de material e inserção do tema nos currículos de formação dos processos e serviços de formação já existentes. A outra estratégia é promover o intercâmbio

40 Registre-se que Portugal aprovou a Lei 59/2007, prevendo punição penal para as finalidades de exploração sexual, trabalho, extração de órgãos e adoção. (Portugal, 2007a)

41 O Brasil modificou o Código Penal pela Lei 11.106 de 2005, ampliando o tráfico que antes se restringia a “mulher” para “pessoa” e inseriu o tráfico interno. No entanto, manteve a finalidade prostitucional como única.

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entre os diferentes âmbitos de governos, dos sistemas de justiça e segurança, padronizando e fortalecendo a troca de informações e desenvolver uma ação piloto, visando coibir o tráfico de pessoas por meio da rede mundial de computadores, responsabilizando-se seus autores.

Na prioridade que se refere à criação e aprimoramento de instrumentos para o enfrentamento ao tráfico de pessoas, duas estratégias são as citadas: a elaboração de um guia para facilitar a identificação das vítimas de tráfico para os profissionais envolvidos no enfrentamento e o reforço aos serviços de discagem gratuita, que são o Disque 100 e o Disque 180. Nessa última estratégia, prevê-se a capacitação e a definição de fluxo de encaminhamento das situações, incluindo-se todas as finalidades para as quais se traficam pessoas, bem como a elaboração de um banco de dados a partir desses dois sistemas de disque-denúncia.

Especificamente na Polícia Federal, a estratégia proposta no Plano foi a ampliação e a estruturação tanto no âmbito central quanto nas Superintendências Regionais, das unidades que tratam dos crimes contra os Direitos Humanos e sendo estas a referência para enfrentamento ao tráfico de pessoas.

Finalizando, o Plano Brasil prevê o estabelecimento de cooperação internacional bilateral e multilateral, por meios de oficiais de ligação entre países mais citados nas rotas internacionais, especificamente aqueles de destino de brasileiros. Para isso, previu-se fomentar a utilização de instrumentos internacionais para o desenvolvimento correto de ações penais, como também discutir a implementação da Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de todos Trabalhadores Migrantes e dos Membros de suas Famílias. Sobre as fronteiras, são necessárias articulações conjuntas com o que já está em desenvolvimento e inserir agenda do tráfico de pessoas na agenda das comissões mistas bilaterais antidrogas.

Na observação de ambos os Planos e Leis que regulamentam o enfrentamento ao tráfico de pessoas nos dois países, percebe-se que em Portugal as finalidades da traficância são mais abrangentes que no Brasil, embora os dois países tenham feito mudanças nas legislações anteriormente aos Planos aprovados, ou seja, Portugal mudou a Lei Penal, por meio do seu artigo 160 em 2007, e o Brasil modificou o artigo 230 e inseriu o artigo 231 do Código Penal em 2005. O Brasil ainda manteve a finalidade prostitucional como sendo a única que ocorre o crime de tráfico. No entanto, como bem observa o Plano português, é preciso avançar na legislação, visando considerar-se inserir a responsabilidade coletiva no tráfico de pessoas.