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Os discursos sobre a necessidade de enfrentamento ao tráfico de pessoas nos documentos oficiais

Artigo 1: Cada um dos Estados Partes da presente convenção adoptará todas as medidas, legislativas ou de

4.3 Os discursos sobre a necessidade de enfrentamento ao tráfico de pessoas nos documentos oficiais

Ao buscar os documentos que balizam o enfrentamento ao tráfico de pessoas em Portugal e no Brasil, foram encontrados discursos introdutórios com diferentes objetivos, ou seja, visando apresentar os Planos, justificar suas aprovações ou mesmo apresentar a realidade do tráfico de seres humanos com vistas a fazer encaminhamentos para outros Poderes, como o Legislativo. Esses discursos contêm a intencionalidade dos gestores públicos e, por isso, passaram a constituírem-se em fontes importantes para compreender o contexto do enfrentamento ao tráfico de pessoas.

Nesta tese, foram analisados cinco (5) documentos que apresentam discursos iniciais, sendo que alguns deles possuem mais de um discurso, como se apresenta a seguir:

1. Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado e seus Protocolos (UNODC, 2004). Esste documento possui dois discursos: Prefácio da Convenção, que denominamos de ONU A; Preâmbulo do Protocolo de Palermo, que denominamos de ONU B.

2. Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Brasil (Brasil, 2006). Esse documento possui três discursos: Apresentação, que denominamos BR A; Introdução, que denominamos BR B e Exposição de Motivos para o envio à Presidência da República, que denominamos de BR C.

3. Resolução do Conselho de Ministros 81∕2007 de Portugal (Portugal, 2007b). Introdução, que denominamos de PT A e Sumário Executivo com Introdução do I Plano Nacional, que denominamos de PT B.

4. I Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Brasil (Brasil, 2008). Esse documento possui dois discursos: Apresentação que denominamos de BR D e Explicação sobre o Plano, que denominamos de BR E.

5. Resolución aprobada por la Asamblea General 64/293, que apresenta o “Plan de Acción Mundial de las Naciones Unidas para combatir la trata de personas” (ONU, 2010). Esse documento possui dois discursos: Apresentação da Resolução, que denominamos de ONU C e Apresentação do Plano ONU D.

A partir da leitura exaustiva dos discursos, encontramos cinco eixos que pautam o tráfico nos documentos oficiais dos dois países.

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4.3.1 O tráfico de pessoas como questão mundial, transnacional e da globalização

O “Prefácio” do Protocolo de Palermo (ONU A) anuncia que “la comunidad internacional demostró la voluntad política de abordar un problema mundial con una reacción mundial. Si la delincuencia atraviesa las fronteras, lo mismo ha de hacer la acción de la ley”. Esse chamamento geral aos Estados-parte da ONU explicita o pensamento à época da aprovação do Protocolo de Palermo, cuja tônica era o tráfico dos países do Sul para a Europa e Estados Unidos como também a ênfase no fato de se transpor fronteiras para caracterizar-se a ocorrência do tráfico de pessoas. Importante ressaltar que, ao afirmar-se que há uma vontade política da comunidade internacional, está se iniciando uma nova acordação mundial, um novo tempo histórico para a temática referente ao entendimento da questão do tráfico de pessoas. Não é a afirmação de um trabalho contínuo a partir das tratativas anteriores, mas um posicionamento diverso dos diferentes documentos anteriores que tratavam de temáticas como o trabalho escravo e os direitos das mulheres e das crianças.

Ao ser constatado o tráfico com um problema mundial, parece, ao primeiro olhar, que se considera que, ocorrendo em todos os países e entre eles, todos os Estados-nação devem comprometer-se com seu enfrentamento: “el imperio de la ley se ve socavado no sólo en un país, sino en muchos países, quienes lo defienden no se pueden limitar a emplear únicamente medios y arbitrios nacionales” (ONU A). A compreensão que está evidenciada é que o tráfico ocorrido internamente nos países também é problema mundial, remetendo à ideia da solidariedade mundial preconizada nos primórdios da defesa de Direitos Humanos concertados entre os países. A possibilidade de pessoas serem traficadas torna-se problema mundial e independe do número, distâncias ou travessia de fronteiras. No âmbito mundial, também há necessidade de posicionar-se, uma vez que o tráfico, mesmo ocorrendo na esfera particular dos territórios, é um aviltamento aos direitos das pessoas, na sua singularidade, como também ao direito de todas as pessoas na perspectiva da coletividade ameaçada e, portanto, exige enfrentamento mundial.

Um aspecto importante trazido por este discurso é a ideia de que o tráfico pode ocorrer tanto internamente como entre os países. Aponta ainda para as múltiplas formas de rotas de traficância, não exigindo a transposição de fronteiras geográficas para a sua caracterização. Como afirma o documento português para enfrentar o tráfico, tanto no âmbito nacional como internacional, há que aprovisionar medidas “na área da protecção, acolhimento e repatriamento e no estabelecimento de unidades especiais no combate ao tráfico, quer nos

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países de origem quer nos de destino”. (PT B). No caso brasileiro, o documento BR C registra que o país mudou a sua legislação para incluir um tipo penal para o tráfico que ocorre internamente, ou seja, até 2005 só eram consideradas como tráfico as situações de transnacionalidade.

Os países passam a ser interlocutores privilegiados na ação mundializada, necessitando de instrumentos que intervenham no enfrentamento ao tráfico de pessoas no cotidiano dos territórios de saída, trânsito e chegada de migrantes com diferentes níveis de autonomia na busca de melhores condições de vida.

Com a apresentação de “uma acentuada vertente transnacional em constante mutação” (PT B), afirma-se que essa característica é a pauta da necessidade de enfrentamento internacional, com medidas entre países para além dos acordos mundiais, sendo necessária uma aproximação sucessiva da realidade. Na concepção de tráfico transnacional, parte-se da consideração de que há territórios não garantidores de direitos e aqueles que se apresentam com possibilidades de saída para uma realidade de mais direitos. A “constante mutação”, ou seja, as finalidades e a operacionalização da traficância vão ser modificadas a partir também da organização internacional da extensividade e intensividade do capital nos territórios, com sua divisão intra e internacional do trabalho.

A transnacionalidade do tráfico é uma concepção presente em diferentes documentos, dando a impressão inicial do que significa o tráfico de pessoas entre os países num desenho binário de saída e chegada a partir de rotas da traficância que implicam poder de grandes organizações, como o que aparece neste discurso: “son poderosos y representan interesses arraigados y el peso de una empresa mundial de miles de millones de dólares” (ONU A). A transnacionalização pode significar que as levas migratórias estão em permanente processo de busca de trabalho e, assim, não ser somente uma relação entre dois países próximos ou distantes fisicamente, mas um movimento permanente entre territórios, que vão se constituindo em um continuum de não direitos e, portanto, vulnerabilizantes do viver migratório. Como demonstrado no capítulo 1, o tráfico ocorre com mais incidência intrarregionalmente e apresenta diferentes complexidades de organização das redes de traficância.

A importância da transnacionalidade do tráfico de pessoas varia entre reconhecer que é uma vertente ou um “forte componente transnacional desta problemática”. Daí que se vai desenhar um modelo de atuação internacional baseado de forma mais consistente na articulação entre organizações ligadas à criminalidade, como também “impõe não só a

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necessidade de aprofundar a cooperação com instituições internacionais, como a Europol e a Interpol, no combate ao crime organizado, bem como a canalização de meios humanos e recursos financeiros para a enfrentar”(PT B). Também no documento brasileiro se explicita que o enfrentamento tem como meta “aumentar o número de acordos de cooperação em matéria penal para dar maior celeridade às investigações de crimes transnacionais, como é o caso do tráfico de pessoas, tem sido uma das diretrizes centrais da política criminal brasileira” (BR A). Nestes discursos, percebe-se que há um forte componente policial no enfrentamento à criminalidade. Isso significa não se analisar criticamente as articulações do lucro dos negócios criminosos do tráfico com a vil exploração da força de trabalho dos traficados. Como afirma o discurso brasileiro, a cooperação está centrada na visão do tráfico enquanto matéria penal.

No documento português (PT A), ao se designarem funções ao coordenador do Plano Nacional, há o enfoque na discussão da esfera penal, mas se abre também para “promover e participar do desenvolvimento de estruturas e redes de informação a nível nacional e internacional”, considerando que esse documento amplia a função da articulação internacional. Esta função que, inclusive, pode se situar nos âmbitos da prevenção e da garantia de direitos, sobretudo, no desenvolvimento de conhecimento sobre a realidade.

A discussão entre ser o tráfico de pessoas uma demanda mundial no sistema ONU e ter também a característica de transnacionalidade, além do tráfico interno nos países, confere ao processo de traficância a característica de mundialização. Acontecendo, portanto, em todos os lugares. Acentua-se com a mundialização do capital, na medida em que esse concentra renda e esgarça territórios em nome da inclusão ao des-envolvimento econômico. Tal processo de acentuação das desigualdades impõe que a análise registre que o tráfico não é somente realizado a partir das situações de pobreza, sobretudo pela ocorrência da quebra econômica que incide nos territórios a partir da transnacionalização do capital e da pequenez da iniciativa de garantia de direitos locais, particulares, globais.

O debate sobre tráfico de pessoas frequentemente vem acompanhado da discussão sobre a globalização. O texto brasileiro BR A afirma que tanto o tráfico quanto suas vítimas têm que ser compreendidos no contexto de globalização. No entanto, ao explicitar exatamente a que se refere, há uma valoração contraditória sobre o contexto migratório: “A livre circulação de pessoas, característica desse processo, ainda é um assunto mal-resolvido, muito embora os países de destino necessitem da mão-de-obra estrangeira”. (BR A). A afirmação de um lado fala da má resolução do trânsito de pessoas e, de outro lado, fala da necessidade de

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mão de obra. O trabalho dos migrantes passa a ser importante na medida em que compensa a falta de mão-de-obra de alguns países e, por outro lado, as restrições migratórias passam a ser um problema tanto para os migrantes quanto para os países de saída. No entanto, a maior contradição que se estabelece refere-se aos fundamentos da questão social: enquanto o trabalho é necessário ao funcionamento da produção, os direitos dos trabalhadores são negados em nome do próprio lucro, necessário ao capital, gerado por esta produção.

Portugal (PT B) registra que a visão da relação entre migração e tráfico tem se modificado. As medidas que tinham caráter meramente repressivo eram focadas no controle migratório, tendo sido “políticas meramente punitivas em relação à problemática e à visão acessória exclusivamente centrada na relevância jurídico processual das vítimas de tráfico enquanto testemunhas”, passaram a apresentar uma abordagem mais holística do problema.

No documento brasileiro BR A, ao posicionar-se sobre os desafios visando garantir os direitos dos migrantes, deslocou-se o discurso da responsabilidade da política pública, impingindo às pessoas individualmente a problemática da não garantia de direitos: “teremos de vencer muitas barreiras. A maior delas está dentro de cada um de nós, no preconceito que geralmente dirigimos àqueles que decidem migrar, deixar seu país de origem e tentar a vida fora” (BR A). Localizando a origem do preconceito nas pessoas, ou seja, como se não fossem também seres que constituem e são constituídos em processos sócio-históricos preconceituosos e discriminatórios. Nesta forma de compreensão, significa entender a política pública focalizada no indivíduo, em detrimento da garantia de direitos na perspectiva da universalidade e na busca dos fundamentos das discriminações e preconceitos. Por outro lado, confere o desejo de migrar como uma ação individual sem que se busque articulá-la com as desigualdades sociais presentes na realidade dos territórios de origem.

O deslocamento da análise sobre a garantia de direitos, saindo da esfera pública e ancorando-se na esfera das relações pessoais, ou seja, conferindo ao trabalhador da política social o dever de garantia, implica desconsiderar as realidades contraditórias do próprio Estado na concretização ou não desses serviços. Faleiros (2006: 63-64) afirma que a política social, ao mesmo tempo em que “estigmatiza e controla” os destinatários e seus direitos impõe “um discurso humanizante para falar de uma realidade desumanizadora”. Desta forma, desresponsabiliza o Estado na organização da prestação dos serviços e culpabiliza os trabalhadores desta mesma política pelo seu não alcance.

A mundialização do tráfico de pessoas na contemporaneidade tem como base a globalização concentradora de capitais e renda e as políticas neoliberais que estão vicejando

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nos Estados-nação com direitos sociais regressivos. O tráfico de pessoas, enquanto negação do direito à liberdade e dignidade, articula-se com o processo de expansão e manutenção da exploração capitalista. Para Ianni (2013), a internacionalização, ocorrida desde o princípio do capitalismo, revela que o processo de acumulação necessita da ultrapassagem de fronteiras geográficas, históricas, culturais e sociais. Os impeditivos ou meros dificultadores da expansão dessas fronteiras impelem o próprio capitalismo à remodelagem para sua manutenção, extensão e aprofundamento. Para que estes três fundamentos ocorram, há o imperativo de reorganização de todas as formas de organização do trabalho, mas não somente desta, sobretudo da vida social, visando colocá-la em função da acumulação progressiva.

A compressão espaço e tempo como um elemento central da globalização, embora possa parecer um novo processo, é o movimento do capitalismo que inicialmente se desenvolveu na Europa e foi alastrado para as demais regiões do planeta, intensificado pelo desenvolvimento tecnológico comunicacional. As diferentes fases da internacionalização - que ocorreram por atuações bilaterais, multinacionais e transnacionais entre os Estados- nação-, tiveram como fundamento em todas as épocas o mercantilismo, o colonialismo e o imperialismo.

A manutenção da acumulação capitalista por meio do incentivo ao consumo e, tendo neste o fetiche da inserção globalizada, esconde o processo de desigualdade de classe, como também entre os países. No documento BR A, temos que “o incentivo ao consumo e a padrões cada vez mais elevados dele também fazem parte desse quebra-cabeça [motivações migratórias]”. Afinal, a inserção dos países e das pessoas na globalização é hierarquizada de acordo com esses mesmos padrões, reproduzindo e reforçando desigualdades de gênero e de raça (BR A).

Não é, pois, a globalização capitalista um novo modo de relacionamento entre as nações, mas o aprofundamento das formas de dominação já ocorridas. O que mudou, de fato, foi o poder do capital, no modo transnacional sobre os Estados-nação e sobre os próprios organismos criados por estes mesmos Estados (Ianni, 2013; Ziegler, 2013).

Mesmo-se reconhecendo a supremacia do aspecto econômico na globalização, ela não conseguiria sua manutenção se não houvesse o aporte cultural à sua permanência e aprofundamento. Um dos fatores que mais influenciou, na mundialização da dominação cultural, foi o desenvolvimento tecnológico, posto que aproximou e criou novas territorialidades em espaços fisicamente distantes, criando sociabilidades, sobretudo intencionalidades e possibilidades de coesão sobre a acumulação do capital. Como afirma o

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próprio documento “los grupos delictivos no han perdido el tiempo en sacar partido de la economía mundializada actual y de la tecnología sofisticada que la acompaña” (ONU A). As contradições econômicas e sociais dos benefícios da globalização servem tanto ao propósito de concentração de renda e poder, quanto às redes de exploração dos migrantes e do crime organizado.

O desenvolvimento tecnológico foi substantivo na aceleração da globalização e não é possível considerá-lo como espontâneo, pois a intensidade da compressão espaço-temporal traduz decisões políticas de grupos que detêm posições dominantes na acumulação do capital. Por isso, há que se considerar que a atuação cultural no sentido de criar coesões diante da aceleração da globalização capitalista também tem sua intencionalidade.

O reducionismo em pensar globalização somente em seu sentido econômico interessa também a quem não quer que sejam desvelados os diferentes aspectos que mantêm essa dominação. A cultura não é somente modeladora e sustentadora da atual globalização capitalista, como também apoia e interage com os territórios particulares de forma a criar coesão visando à inserção de novas localidades ao sistema de produção, com a intensificação no interior desses. Essa inserção (extensão da produção capitalista) e intensificação (maximização da acumulação) significam que os territórios vão ganhar significados de participação no mundo, concorrendo, de forma assimétrica, com a ideia de estar fora do mundo. Por isso, a centralidade econômica é importante, mas não está sozinha. “O economismo é um traço central da globalização, assim como também o é o crescente poder dos economistas em base mundial” (Robertson, 1999: 13).

A complexificação do que pode ser o enfrentamento ao tráfico de pessoas, em dissonância com o sentido majoritário apresentado pela ONU, tem, na visão de Kempadoo (2005), que o tráfico de pessoas precisa ser pautado a partir do Sul32, dos impactos que a mundialização do capital impõe aos países. Conforme a autora, por afetar especialmente as mulheres, emerge não somente pelas relações patriarcais, mas também de poder estatal, capitalista, imperialista e racial. Além desses enfrentamentos, há a necessidade de se observar a onda moralizante da temática e as políticas que, sob a justificativa de combater o tráfico de pessoas, investem na culpabilização e proibição da migração e, portanto, na regulação de direitos sobre os migrantes.

Ao buscar-se a desvinculação dos direitos migratórios do enfrentamento ao tráfico de

32 Esta referência é trabalhada pela autora como sendo fundamental para discutir o tráfico de pessoas

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pessoas, abstrai-se a problemática dos seus fundamentos, focalizando-se a ação. A não garantia de direitos aos migrantes é, em si, causa vulnerabilizante do tráfico de pessoas, como afirma Carneiro (2005: 9), ao citar “a indocumentação, clandestinidade e permanência irregular de imigrantes no nosso espaço territorial”. Por outro lado, além dessas condições, podem também os migrantes ser explorados tanto no momento de saída de seus territórios, por onde passam e também nas localidades de destino.

No documento BR A há o alerta aos países de destino sobre “uma política dura de contenção da migração”, que muitos operam e que aumentam as chances de os migrantes serem atraídos para a rede de traficância, posto que “à medida que os Estados restringem cada vez mais as possibilidades de entrada regular em seu território, amplia-se o leque de “negócios e serviços” passíveis de serem ofertados pelas redes criminosas”. A necessidade de buscar um caminho de garantia de direitos dos trabalhadores migrantes passa necessariamente pela compreensão da migração como direito humano e que significa não uma fragilidade deste grupo populacional, mas uma fortaleza no sentido em que se colocam a caminho de melhora de condições de vida.

O discurso sobre o que leva as pessoas a migrarem, no documento BR A, pendula entre a busca de acesso ao consumo incentivado e a possibilidade de ascensão social indo ao chamado “Primeiro Mundo”. Embora haja a tentativa de contextualizar, ou seja, no processo de globalização é que ocorrem essas duas buscas que novamente destinam às pessoas o processo de ser no mundo, sem considerar exatamente a organização capitalista deste mesmo mundo. Ao afirmar que a migração ao primeiro mundo significa ascensão social mesmo que seja para ser explorado, mesmo assim é “subir na vida”. Logo em seguida explicita que é “devido à baixíssima mobilidade social de vários segmentos populacionais”, percebendo-se um discurso que busca sair da culpabilização dos migrantes, mas que não consegue eliminá- la. Neste mesmo documento está registrado que “a inserção das pessoas na globalização é hierarquizada [...], reproduzindo e reforçando desigualdades”.

Na busca de encontrar os liames entre os processos exploração globalizada do trabalho e a atuação dos Estados-nação, Ziegler (2013) afirma que é a transnacionalidade da acumulação do capital que faz emergir a própria visibilidade das problemáticas transnacionais. A atuação das empresas transnacionais, no processo de concentração de capital, ocorre não somente pela sua própria produção, uma vez que está organizada na divisão mundial do trabalho e na ação colonizadora que se expressa também nas escalas intraestatais. Sobretudo, as transnacionais agem sobre os Estados-nação na perspectiva de que