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Aproximação das políticas ambientais e urbanísticas: os avanços da legislação brasileira

2 ANÁLISE E AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS E URBANÍSTICOS:

2.3. Considerações sobre a legislação brasileira: as perspectivas do licenciamento ambiental e

2.3.3 Aproximação das políticas ambientais e urbanísticas: os avanços da legislação brasileira

A presente década observa grandes avanços no que diz respeito à regulamentação urbanística no âmbito da legislação federal. Após a aprovação do Estatuto da Cidade em 2001, vislumbram-se as necessárias adequações dos regulamentos em vigor, bem como da proposição de novos instrumentos que visem à ordenação do uso e à ocupação do espaço das cidades em prol do interesse coletivo.

Os avanços introduzidos na legislação urbanística, a partir do Estatuto da Cidade, impuseram a elaboração e revisão dos planos diretores municipais, considerando os novos instrumentos de gestão e controle do uso do solo, provendo os governos locais de dispositivos inovadores para a condução das políticas de desenvolvimento urbano.

O primeiro aspecto a ser ressaltado é que essa lei aproximou as áreas do planejamento ambiental e urbanístico ao relacionar, já em seu artigo 1.º, que suas normas regulam “o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental” (BRASIL, 2001). O Estatuto define, também, diretrizes da política urbana como: garantia do direito a cidades sustentáveis e planejamento e ordenamento do solo de forma a evitar e corrigir os efeitos negativos sobre o meio ambiente.

Essa aproximação está também expressa em outras diretrizes como, por exemplo, os cuidados para que o parcelamento do solo não ocorra de forma a comprometer as infra-estruturas urbanas e para que a distribuição das atividades no espaço da cidade evite a proximidade de usos incompatíveis, que venham a causar incômodos à vizinhança. Os maiores avanços estão, entretanto, nos instrumentos para a gestão da cidade, dentre os quais

estão o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), já mencionado na seção anterior, e o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV), a ser tratado no capítulo seguinte.

Previamente, pode-se dizer que o EIV consiste em um estudo que deve avaliar, no mínimo, o adensamento populacional proposto em relação aos equipamentos urbanos e comunitários disponíveis e à geração de tráfego e à demanda por transporte público; quanto à preservação da qualidade ambiental, devem ser estudados o uso e a ocupação do solo, a ventilação e a iluminação, a paisagem urbana e os patrimônios natural e cultural; no aspecto econômico, o instrumento alerta, ainda, sobre a valorização imobiliária decorrente da instalação do novo empreendimento (BRASIL, 2001).

Diante dessa abrangência, o EIV pode ser apontado, com o devido suporte do EIA nos casos em que este couber, como uma aplicação do conceito contemporâneo do planejamento e gestão urbano-ambiental, pois busca sintetizar recomendações técnicas específicas das duas áreas em um único documento, podendo, assim, garantir maior confiabilidade aos processos de aprovação de projetos e licenciamento de atividades.

A consolidação de tais estudos como instrumentos indispensáveis ao licenciamento de atividades no meio urbano é também considerada no projeto de lei 3.057, de 2000, que altera a Lei Federal n.º 6.766, de 1979, atual instrumento regulador do parcelamento do solo para fins urbanos no país. O PL pretende que os dois estudos sejam exigidos para a aprovação de condomínios urbanísticos13. Para licenciamento de parcelamentos do solo com área maior que um milhão de metros quadrados, ou considerados de impacto pelas legislações estaduais ou municipais, o PL propõe a exigência de EIA e, para qualquer parcelamento, desde que previsto em lei municipal, deverá ser exigido EIV.

O PL 3.057/00, denominado “Lei de Responsabilidade Territorial Urbana”, pretendeu, inicialmente, uma modificação pontual na Lei Federal n.° 6.766/79 para contemplar a regularização de loteamentos de pequeno valor, implantados até uma data limite, simplificando a documentação para registro e dispensando-os da aprovação por órgãos metropolitanos. Devido à existência de outras proposições em análise, a Câmara dos Deputados optou por apensar ao PL em referência vinte outros projetos14, que tratam da mesma matéria, concebendo um documento que modifica substancialmente a Lei em vigor.

13 O PL define como condomínio urbanístico: “a divisão de imóvel em unidades autônomas destinadas à

edificação, às quais correspondem rações ideais das áreas de uso comum dos condôminos, sendo admitida a abertura de vias de domínio privado e vedada a de logradouros públicos internamente ao perímetro do condomínio” (BRASIL, 2007).

14 Apensos: PL 5.499/01, PL 5.894/01, PL 6.180/02, PL 6.220/02, PL 7.363/02, PL 550/03, PL 754/03, PL

1.001/03, PL 2.454/03, PL 2.699/03, PL 3.403/04, PL 5.760/05, PL 6.020/05, PL 20/07, PL 31/07, PL 289/07, PL 449/07, PL 455/07, PL 846/07 e PL 1.092/07.

O PL 3.057/00 começou a ser discutido em 2002. Atualmente, é analisado sob forma de substitutivo proposto pela “Comissão Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei Nº 3.057, de 2000”, em 12 de dezembro de 200715.

Em 25 de fevereiro do ano de 2008 a proposição foi sujeita ao arquivamento após pareceres pela inconstitucionalidade, injuridicidade e inadequação orçamentária e financeira de algumas proposições apensadas, não tendo sido apresentados recursos até 04 de março de 200816.

O substitutivo avança ao propor a modalidade de licença integrada para parcelamentos do solo, com abrangência ambiental e urbanística, o que poderá conferir progresso significativo aos processos de planejamento e gestão municipal. Esse procedimento é definido como

o ato administrativo vinculado pelo qual a autoridade licenciadora estabelece as exigências de natureza urbanística e ambiental para o empreendedor implantar, alterar, ampliar ou manter parcelamento do solo para fins urbanos e para proceder à regularização fundiária (BRASIL, 2007).

O PL também esclarece a competência do poder executivo municipal nesse processo ao defini-lo como autoridade licenciadora, com a garantia da participação do Estado nos casos previstos em legislação específica. As fases de licenças prévia, de instalação e operação estão também mantidas. Isso pode ser depreendido por ser conservada a fase de expedição de diretrizes básicas para o loteamento, conforme acontece atualmente, antes da elaboração do projeto, e a previsão da “licença final integrada”, correspondente ao ato pelo qual

a autoridade licenciadora declara que o empreendimento foi fisicamente implantado e executado de forma regular, com atendimento das exigências urbanísticas e ambientais estabelecidas pela legislação em vigor ou fixadas na licença urbanística e ambiental integrada (BRASIL, 2007).

De acordo com Sánchez (2006), existe lógica nessa seqüência de licenças, conforme definida pela legislação ambiental, uma vez que

a Licença Prévia é solicitada quando o projeto técnico está em preparação, a localização ainda pode ser alterada e alternativas tecnológicas podem ser estudadas. (...) A Licença de Instalação somente pode ser solicitada depois de concedida a

15 Disponível em: < http://www2.camara.gov.br/internet/comissoes/temporarias53/especial/pl305700/pl3057

substitutivoadotado.pdf >. Acesso em 15 jan. 2008.

licença prévia; o projeto técnico é detalhado, atendendo às condições estipuladas na Licença Prévia. Finalmente, a Licença de Operação é concedida depois que o empreendimento foi construído e está em condições de operar, mas sua concessão é condicionada à constatação de que o projeto foi instalado de pleno acordo com as condições estabelecidas na Licença de Instalação (SÁNCHEZ, 2006, p. 82).

O conteúdo do substitutivo ora exposto reflete a preocupação em se prever que os parcelamentos do solo, grandes modificadores do espaço natural e urbano, sejam disciplinados não apenas por regulamentos e normas, mas também pela análise técnica condizente com a realidade local. Nesse sentido, a licença integrada, juntamente com o EIA e o EIV, pode garantir maior confiabilidade aos responsáveis por condicionar a aprovação desses empreendimentos às necessidades da cidade.

2.4 Relações de aproximação entre metodologias de análise e avaliação de desempenho e

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