• Nenhum resultado encontrado

O processo de elaboração do Plano Diretor Participativo

4 DIAGNÓSTICO E ANÁLISE DE EXPERIÊNCIAS MUNICIPAIS DE

4.2 O Estudo de Impacto de Vizinhança de Santo André

4.2.2 O processo de elaboração do Plano Diretor Participativo

28 FONTE: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2007. Disponível em:

Conforme exposto na subseção anterior, a crise econômica da década de 1980 provocou a transferência de várias indústrias de Santo André para o interior do estado de São Paulo. Dessa forma, além dos impactos na arrecadação municipal, os terrenos e galpões abandonados contribuíram para a degradação do centro comercial da cidade. Esse quadro demandou a promoção de ações para a recuperação das áreas centrais do município, não só revitalizando os imóveis desocupados, mas, também, incentivando a instalação de atividades alternativas à indústria para a retomada do desenvolvimento econômico.

Em 1999, deu-se início a um processo de planejamento estratégico, com ações de médio e longo prazo, a partir da reestruturação do “Projeto Santo André Cidade Futuro – Agenda do Milênio”. Inicialmente lançado em 1997, com a proposta inicial de revitalização urbana do eixo do rio Tamanduateí, a nova versão do projeto teve um objetivo mais abrangente: garantir ampla participação da sociedade no debate sobre o futuro da cidade, traçando metas e um plano de ações para um horizonte de vinte anos. Nesse sentido, o projeto Cidade Futuro contempla o conteúdo de uma Agenda 21 local para o município, pois prevê a elaboração de um documento baseado em ações que visam ao desenvolvimento sustentável, a partir da idealização de um cenário desejável que seja construído através da parceria entre governo e sociedade, garantindo a participação nas decisões29.

Além dos problemas gerados pela degradação do centro urbano, Santo André convivia, ainda, com uma legislação urbanística ultrapassada. O Plano Diretor de 1995 baseava-se em um modelo que apenas enumerava instrumentos urbanísticos, sem implementá- los efetivamente. As iniciativas de alteração da legislação conceberam leis de desenvolvimento industrial e comercial, que buscavam incentivar o desenvolvimento econômico e, para isso, isentavam os empreendedores do cumprimento de parâmetros de uso e ocupação do solo, como a instalação em locais não permitidos, sem, no entanto, prever as medidas de controle cabíveis (SOUZA, 2007). Vale lembrar que a Lei de Uso e Ocupação do Solo da cidade, datada de 1976, não foi revogada com o Plano Diretor de 1995, o que resultou em conflitos entre os dois regulamentos.

O processo de elaboração do Plano Diretor Participativo de Santo André teve início, oficialmente, em 2002. Santo André beneficiou-se da recente aprovação do Estatuto da Cidade em outubro de 2001 e, assim, pode incorporar preceitos inovadores de planejamento e gestão urbana. A primeira etapa consistiu na definição do modelo de lei a ser adotado pela

cidade. Essa iniciativa buscou modernizar os conceitos, já que, até então, a idéia de que os planos diretores deveriam dispor apenas sobre o território era a que prevalecia em grande parte do país. Era preciso definir, também, as formas e critérios de participação da sociedade na elaboração da lei, procedimento ainda recente na política urbana, apesar da cidade já ter experiência em curso, como é o caso do projeto Cidade Futuro. Pretendeu-se, com isso, delinear a concepção do plano e planejar as ações para sua elaboração.

Em um segundo momento, procurou-se envolver os segmentos atuantes na política urbana municipal, não apenas os personagens habituais, como engenheiros, arquitetos e empresários do ramo imobiliário, mas, também, a sociedade civil, os movimentos populares, os segmentos do comércio, indústria e serviços. A estratégia utilizada foi a apresentação da cidade aos expectadores, as suas fragilidades e potencialidades, para que os participantes pudessem sugerir e compreender de que forma o Plano Diretor a ser proposto poderia ser aplicado para fazer cumprir os anseios da população. Outra estratégia foi apresentar os avanços introduzidos pelo Estatuto da Cidade, como forma de sensibilizar a população para a garantia da função social da propriedade e demais conceitos e instrumentos lançados pela Lei Federal (SOUZA, 2007).

Em 2003 a proposta preliminar da lei foi apresentada à sociedade e encaminhada para a discussão do texto base, denominado “Estrutura e Conteúdos Básicos do Plano Diretor”. Após isso, foram definidos prazos para debate e aprovação da proposta pela população, antes do envio ao legislativo. Houve a necessidade de acertos entre o setor empresarial, que solicitava maior prazo, e os movimentos sociais que pediam agilidade no processo. Além desse conflito, surgiram outros, mais relacionados com a perda de potencial construtivo, devido à redução dos coeficientes de aproveitamento dos terrenos e possíveis penalidades à prática da retenção de imóveis vazios, a partir da aplicação de instrumentos como a edificação compulsória e o IPTU progressivo no tempo.

O Plano Diretor Participativo de Santo André foi aprovado em 2004 através da Lei Municipal n.º 8.696. Devido à localização do município, na Região Metropolitana de São Paulo e no ABC paulista, o enfoque dado a questões como mobilidade, desenvolvimento econômico e habitação consideram os impactos sofridos pela cidade em virtude de receber as demandas de outros municípios e, também, pela necessidade de ligação com a capital do Estado.

O ordenamento do território é proposto a partir da divisão do município em duas macro regiões: a Zona Urbana e a Zona de Proteção Ambiental, que foram subdivididas segundo o interesse de ocupação ou de manutenção de densidades populacionais baixas,

dando ênfase à preservação. Essa subdivisão contempla desde áreas predominantemente destinadas à conservação ambiental até aquelas de uso exclusivamente industrial. O uso residencial é mesclado com outros menos impactantes, definindo um uso misto. A Zona Urbana prevê a delimitação entre reestruturação, qualificação, recuperação urbana e o uso exclusivamente industrial ora citado. O detalhamento das normas para parcelamento, uso e ocupação do solo foi delegado à lei específica.

Documentos relacionados