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Parâmetros e procedimentos técnicos para definição de compensação e mitigação

4 DIAGNÓSTICO E ANÁLISE DE EXPERIÊNCIAS MUNICIPAIS DE

4.1 Estudo de Impacto de Viabilidade Urbanística: a experiência de Araraquara

4.1.7 Parâmetros e procedimentos técnicos para definição de compensação e mitigação

A análise conjunta dos formulários referentes ao EIVU/RIVU é o procedimento norteador para a definição das medidas mitigadoras e compensatórias. O GAPROARA se baseia nos Mapas Estratégicos e no atendimento às diretrizes do Projeto Urbano Sustentável para subsidiar a tomada de decisão. Dessa forma, verifica-se a relação do empreendimento com o conteúdo do PDPUA e com os instrumentos urbanísticos constantes dos MAPEs 14 A e 14 B, que mapeiam as áreas de incidência de Zonas de Especial Interesse Social (ZEIS) e Parcelamento, Edificação ou Utilização Compulsórios, respectivamente. Caso seja verificada a sobreposição da área de intervenção com a ocorrência de alguma proposta do PDPUA ou instrumento urbanístico, a compensação ou mitigação é direcionada para o atendimento dessas demandas.

Além da análise subsidiada pelo PDPUA, a participação dos membros das diversas secretarias e coordenadorias orienta a proposição de medidas para a mitigação do impacto nas respectivas áreas, sobretudo com base nos planos setoriais, cuja elaboração é também prevista pelo Plano Diretor.

O Sistema de Indicadores de Desempenho Ambiental e Espacial de Araraquara (SIDADE), item que compõe o Sistema de Informações Municipais de Araraquara (SIMARA), consiste em ferramenta indispensável para dar agilidade ao processo e garantir confiabilidade à tomada de decisões. O SIDADE começou a ser idealizado com base em um conjunto de indicadores de desempenho, elaborados a partir da tese de doutorado intitulada “Dimensões morfológicas de desempenho: instrumentos urbanísticos de planejamento e desenho urbano”, de autoria do Arquiteto Luiz Antônio Nigro Falcoski, que ocupou o cargo de Secretário Municipal de Desenvolvimento Urbano de Araraquara no período de 2003 a

2006. O sistema é composto por indicadores agrupados em itens que contemplam a análise dos projetos e, assim, pode promover a verificação do atendimento aos parâmetros recomendados pelo artigo n.º 37 do Estatuto da Cidade, bem como à estrutura do Projeto Urbano Sustentável.

Tomando como exemplo o caso do parcelamento do solo, que envolve a delimitação de áreas privadas – residenciais, comerciais ou industriais –, de sistema viário, verdes e institucionais, verifica-se que a análise desses projetos deve averiguar, não só o cumprimento a essas exigências, mas aos parâmetros que atestem sobre a qualidade ambiental e urbanística do empreendimento. Tendo em vista os percentuais de áreas públicas e privadas previstas em projeto, os indicadores aplicados a esse objeto específico estarão, portanto, baseados na garantia da qualidade de vida do futuro morador, assim: proporção entre áreas públicas e privadas, percentual de áreas verdes por habitante, percentual de área impermeabilizada, áreas destinadas à circulação de pedestres, áreas destinadas a equipamentos públicos – saúde, educação, lazer, etc. –, número de veículos previstos. Esses indicadores seguem as diretrizes do Projeto Urbano Sustentável, apresentado no Quadro 5.

Os resultados dessa análise poderão apontar, portanto, as deficiências e potencialidades do projeto, orientando o GAPROARA na delimitação das medidas mitigadoras e compensatórias a serem exigidas do empreendedor. Apesar da potencial aplicabilidade do SIDADE nos processos de licenciamento ambiental e urbanístico, o sistema não se encontra implantado em decorrência da alternância entre os Secretários de Desenvolvimento Urbano. Após a delimitação dos indicadores que alimentam o SIDADE, a etapa seguinte deveria ser a informatização do sistema, inclusive com o georreferenciamento das informações, o que proporcionaria ao grupo de análise uma visão espacial para subsidiar o deferimento, indeferimento e as condicionantes de um projeto.

4.1.8 Potencialidades e problemas para a aplicação do EIVU/RIVU no licenciamento urbanístico e ambiental integrado

O processo de implementação do EIVU/RIVU teve início poucos meses após a aprovação do PDPUA. Enquanto o Plano Diretor foi aprovado em dezembro de 2005, o Ato Normativo que criou o GAPROARA e delimitou procedimentos para o licenciamento municipal começou a vigorar em abril de 2006. Tal fato destaca o interesse do município em normatizar as políticas inovadoras introduzidas pelo PDPUA, evitando, assim, que as mesmas caíssem em descrédito perante a sociedade e os técnicos envolvidos nos trabalhos de

aprovação de projetos.

Sob essa ótica, a regulamentação do Estudo de Impacto de Viabilidade Urbanística mostra-se coerente com os objetivos traçados pelo Plano Diretor e, dessa forma, busca contemplar os campos do planejamento urbano e ambiental de maneira integrada, propondo, inicialmente, estruturar o licenciamento municipal integrado. Ou seja, o EIVU já nasce com a finalidade de subsidiar as políticas de planejamento e gestão da cidade, sobretudo no que tange ao disciplinamento do uso e ocupação do solo, mostrando potencialidades e problemas para assumir esse papel.

Quanto às potencialidades de utilização do EIVU nos procedimentos de licenciamento urbanístico e ambiental integrado, destacam-se, primeiramente, a abrangência do conteúdo previsto nos formulários para apresentação do estudo e a possibilidade de agilizar o processo de análise. Os campos previstos nos formulários constantes do Ato Normativo n.º 2, de 2006, contemplam o conteúdo mínimo estabelecido pelo artigo 37 do Estatuto da Cidade e induzem o requerente a estabelecer a relação do empreendimento com o PDPUA. As informações são apresentadas de maneira clara, já que o preenchimento dos quesitos não permite ao usuário discorrer sobre assuntos desnecessários à avaliação do projeto. Além disso, essa sistemática de apresentação permite uma primeira análise, simples e expedita, que irá direcionar o processo à apreciação dos órgãos competentes da administração municipal, bem como certificar sobre a necessidade ou não de apresentação do EIA/RIMA.

A estrutura do GAPROARA também abrange as áreas de conhecimento requeridas pela análise do EIVU e tem representantes relacionados a cada assunto tratado nos formulários. Assim, as informações apresentadas são diretas e os responsáveis pela análise estão no grupo, o que garante celeridade ao processo de verificação dos dados.

Outro aspecto a se destacar é que o próprio PDPUA consiste em uma potencialidade para a consolidação das políticas urbanas e ambientais integradas. O plano introduz outros instrumentos inovadores, que dão suporte ao EIVU, tais como os MAPEs e o SIDADE. Conforme explanado anteriormente, essas ferramentas são fundamentais para garantir a confiabilidade no processo de tomada de decisões referentes às medidas mitigadoras e compensatórias dos impactos advindos de um empreendimento.

Por fim, uma potencialidade para o convencimento político da implementação do EIVU baseia-se na possibilidade de aumento da arrecadação municipal. O que se verifica nos processos de regulamentação dos instrumentos urbanísticos é que aqueles que refletem diretamente na receita têm maior aceitação por parte dos governos locais, que buscam reduzir os laços de dependência financeira dos estados e da União. A adoção do EIVU como um

instrumento facilitador da implantação do licenciamento urbanístico e ambiental integrado, em nível local, pode refletir positivamente nos lucros advindos do recolhimento das respectivas taxas.

Dentre os problemas verificados na implementação do EIVU, destaca-se a carência de capacitação técnica. Além da falta de políticas de capacitação, o processo de implementação do EIVU foi conduzido, a princípio, com número reduzido de profissionais. Segundo informações da SEDUR, no decorrer da ação, viu-se a necessidade de contratação de profissionais habilitados para a análise e aprovação de projetos. Estruturar a equipe operacional é fator determinante para a consolidação de um processo de modernização administrativa, pois a aplicação de novos instrumentos precisa ser subsidiada por recursos humanos capazes de propagar e sustentar novos conceitos.

Nesse mesmo contexto, a sociedade, sobretudo os profissionais que conduzem a aprovação de projetos na iniciativa privada, precisa, também, de informação necessária para que a introdução de novos instrumentos não seja interpretada como mais um passo burocrático. No processo de implementação do EIVU, faltaram divulgação e orientação específica sobre os objetivos do instrumento, o preenchimento dos formulários e os fluxos de análise do pedido de licença, levando à indisposição das partes envolvidas, que passaram a ansiar pela simplificação excessiva dos procedimentos. Atualmente, o formulário aplicado à solicitação de licença atesta apenas sobre a concordância ou não dos vizinhos/confrontantes quanto à intervenção proposta.

A subjetividade para a definição das medidas mitigadoras e compensatórias foi um desafio apontado pelo próprio GAPROARA. A falta de parâmetros norteadores para subsidiar as análises, levou o grupo a negociar com os empreendedores as condições para a concessão de licenças. Novamente, destaca-se a relação do SIDADE com o EIVU. Conforme foi visto, a utilização do SIDADE pode garantir maior agilidade e confiabilidade ao processo de implementação do EIVU. Entretanto, esse sistema não está em uso devido à paralisação no processo de elaboração em virtude da alternância na condução da Secretaria de Desenvolvimento Urbano.

Qualquer processo de implementação de novos instrumentos ou rotinas de trabalho deve ter aceitação técnica e política para que as práticas se consolidem dentro dos trâmites administrativos. Nesse sentido, a concordância do técnico tem maior peso em relação à aceitação política, já que a última está sujeita às alternâncias de poder, enquanto a primeira tem maiores chances de continuidade. Além disso, o fortalecimento da base operacional da administração tende a evitar um problema comum a todos os processos de planejamento: as

pressões políticas e econômicas sofridas por técnicos e políticos ao disciplinar o uso e a ocupação do território.

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