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O Plano Diretor de Desenvolvimento e Política Urbana e Ambiental de Araraquara

4 DIAGNÓSTICO E ANÁLISE DE EXPERIÊNCIAS MUNICIPAIS DE

4.1 Estudo de Impacto de Viabilidade Urbanística: a experiência de Araraquara

4.1.2 O Plano Diretor de Desenvolvimento e Política Urbana e Ambiental de Araraquara

O processo de elaboração do Plano Diretor de Desenvolvimento e Política Urbana e Ambiental de Araraquara (PDPUA) teve início em maço de 2001, a partir da criação da Comissão Executora Intersetorial e da Comissão Técnica do Plano Diretor, através da Portaria n.º 11.905. Essas comissões foram formadas por técnicos da administração municipal, com assessoria da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Em um primeiro momento, foram definidas a estrutura, os princípios, os objetivos e as estratégias do novo Plano Diretor, através de reuniões técnicas, realizadas no âmbito do poder executivo municipal. Esses trabalhos resultaram na realização do I Fórum da Cidade, em fevereiro de 2002 (FALCOSKI, 2007, p. 134).

Após essa etapa, e com as propostas norteadoras para a formulação do plano diretor já consolidadas, foi criado o Conselho Municipal de Política Urbana e Ambiental de Araraquara (CMPUA), através da Lei Municipal n.º 5.831, de 2002, que pode ser considerado um marco na política urbana da cidade, por garantir uma formação representativa, com membros do poder público e da sociedade civil.

Para conduzir as discussões pelo CMPUA, foram criadas comissões temáticas nas áreas de Desenvolvimento Urbano-Ambiental, Econômico, Social e Institucional. Essas comissões discutiram as propostas encaminhas pelo poder público e pela sociedade civil e garantiram a participação da população no processo de elaboração do PDPUA, na medida em que promoveram a divulgação dos trabalhos.

O Projeto de Lei Complementar n.º 45 foi encaminhado à Câmara Legislativa em março de 2004, ano em que ficou em debates e discussões. No ano de 2005, o PL foi novamente encaminhado, sob o n.º 001, em 24 de janeiro. A Lei Complementar n.º 350 foi aprovada em 27 de dezembro de 2005 e instituiu o Plano Diretor de Desenvolvimento e Política Urbana e Ambiental de Araraquara (PDPUA).

O PDPUA demonstra o avanço obtido pelo município no trato da política urbana, principalmente por incorporar a dimensão ambiental nos princípios de planejamento. O título I da Lei, Da Política Urbana Ambiental, trata especificamente do assunto e inclui a temática ambiental nas definições da função social da cidade e da propriedade urbana. Esse aspecto está expresso em um dos princípios específicos enumerados pelo plano em seu artigo 5º: “desenvolvimento urbano e produção de um município e cidade sustentável com justiça social, ambiental e qualidade de vida urbana, visando o bem-estar dos seus habitantes” (ARARAQUARA, 2005).

Outro avanço a destacar no PDPUA é a definição dos modelos espaciais, baseados no desenvolvimento urbano sustentável, assunto tratado pelo Título II da Lei, seguindo quatro estratégias de gestão de planejamento:

a) desenvolvimento social, incluindo os temas de educação, saúde, inclusão social e cidadania, cultura, esporte, lazer e recreação, defesa civil e segurança pública;

b) desenvolvimento econômico, científico e tecnológico, contemplando as questões referentes a trabalho, emprego e renda, abastecimento e segurança alimentar, agricultura, indústria, comércio e prestação de serviços, turismo, ciência e tecnologia; c) desenvolvimento urbano-ambiental, contendo as áreas de meio ambiente e recursos

hídricos, saneamento ambiental e serviços urbanos, habitação, transporte, sistema viário e mobilidade urbana, equipamentos urbanos, infra-estrutura e serviços de utilidade pública, energia e iluminação pública, rede de comunicações e telemática, paisagem urbana, áreas públicas e patrimônio ambiental;

d) desenvolvimento institucional, que tem como princípio estabelecer um sistema de

planejamento e gestão democrática da cidade, incentivando processos de gestão local e, ainda, introduzir os instrumentos urbanísticos delimitados pelo Estatuto da Cidade (ARARAQUARA, 2005).

Ainda no Título II do PDPUA, e também no Título III, o qual trata da estrutura urbana, do modelo espacial e do uso do solo, são introduzidos quatorze Mapas Estratégicos (MAPEs) que “têm por objetivo proporcionar a apresentação e representação das propostas e diretrizes por meio do plano mais desenhado e interpretativo” (FALCOSKI, 2007, p. 137). Esses MAPEs, conforme listados a seguir, constituem o Anexo I do PDPUA:

1. Mapa Estratégico de Qualidade de Vida Urbana (Desenvolvimento Social). 2. Mapa Estratégico de Produção da Cidade (Desenvolvimento Econômico – MGA24)

3. Mapa Estratégico de Produção da Cidade (Desenvolvimento Econômico – MGU25).

4. Mapa Estratégico de Qualificação e Zoneamento Ambiental. 5. Mapa Estratégico de Produção e Capacidade de Infra-estrutura. 6. Mapa Estratégico de Produção da Cidade e Habitabilidade. 7. Mapa Estratégico de Centralidades, Mobilidade e Acessibilidade. 8. Mapa Estratégico de Qualificação da Paisagem e Zoneamento Cultural.

9. Mapa Estratégico de Gestão do Planejamento – Regiões de Planejamento Ambiental.

10a. Mapa Estratégico de Gestão do Planejamento – Regiões de Orçamento e Planejamento Participativo por Região de Planejamento Ambiental.

10b. Mapa Estratégico de Gestão do Planejamento – Regiões de Orçamento e Planejamento Participativo.

11. Mapa Estratégico de Gestão do Planejamento – Regiões de Planejamento de Bairros.

12. Mapa Estratégico de Macrozoneamento.

13. Mapa Estratégico do Modelo Espacial e Zoneamento Urbano. 14a. Mapa Estratégico de Instrumentos Urbanísticos – ZEIS26.

14b. Mapa Estratégico de Instrumentos Urbanísticos – Parcelamento, Edificação ou Utilização Compulsórios (ARARAQUARA, 2005).

Os Mapas Estratégicos consistem em outra inovação introduzida pelo PDPUA, sobretudo se comparados aos usuais mapas e listagens das leis municipais, planos diretores e leis de zoneamento. Os mapas estratégicos vão além da delimitação estática das zonas de ocupação. Apresentam, inclusive, uma possibilidade de construção de cenários desejáveis para a cidade, a partir, por exemplo, do cruzamento das informações relativas à qualidade de vida urbana, qualificação e zoneamento ambiental e capacidade de infra-estrutura (MAPEs 1 e 4). Os MAPEs possibilitam a análise de viabilidade de instalação de uma atividade no ambiente, pois, além de apresentarem um diagnóstico da situação atual, ilustram a distribuição de programas e projetos de interesse público e, ainda, a incidência dos instrumentos

24 Macrozoneamento de Gestão Ambiental. 25 Macrozoneamento de Gestão Urbana. 26 Zona de Especial Interesse Social.

urbanísticos introduzidos pelo Estatuto da Cidade.

Os títulos seguintes, IV e V, do Sistema de Planejamento e Gestão Democrática e dos Planos Diretores Reguladores Setoriais Específicos, respectivamente, baseiam-se na definição do modelo de gestão da cidade e na implementação e monitoramento do PDPUA. Eles enfatizam mecanismos da gestão participativa e instrumentos urbanísticos e apresentam propostas para o zoneamento, uso e ocupação do território e demais regulamentos pertinentes à utilização do solo.

Destaca-se a incorporação dos parâmetros para o parcelamento, uso e ocupação do solo como outra inovação do PDPUA. No anexo X, Parcelamento do Solo, estão os índices de áreas públicas, complementares ao que estabelece a Lei Federal n.º 6.766, de 1979, acrescentando requisitos técnicos para o sistema viário e a infra-estrutura mínima exigida para cada caso específico. Além desses parâmetros, o anexo X contém os índices a serem respeitados para aprovação de edificações, tais como: afastamentos frontais e laterais e vagas de estacionamento.

Apesar do conteúdo abrangente contemplado pelo PDPUA, pode-se dizer que a Lei procura simplificar a apresentação de conceitos pertinentes ao planejamento e gestão contemporânea a partir da consolidação de um regulamento único, com diretrizes específicas concebidas sob a ótica da integração das políticas urbana e ambiental. O próprio plano, em suas marcas e princípios, busca contemplar uma cidade moderna. Dessa forma, o desenho da Lei, baseado nos pilares da sustentabilidade, quais sejam, o desenvolvimento social, econômico e urbanístico-ambiental, mostra-se avançado se comparado à legislação tradicional que tem dado suporte à execução das políticas públicas em outros municípios. A introdução dos MAPEs confirma essa diferenciação na medida em que sintetiza as restrições, diretrizes e potencialidades para o desenvolvimento da cidade.

Como outro aspecto inovador, destaca-se o Projeto Urbano Sustentável tratado no artigo 240, que impõe ao empreendedor a necessidade de elaboração do projeto contemplando diretrizes especificas para sete itens (Quadro 5). Conforme será visto, tanto os MAPEs quanto as diretrizes para o Projeto Urbano Sustentável foram incorporados aos formulários de elaboração do EIVU/RIVU.

Quadro 5 – Estrutura do Projeto Urbano Sustentável (Artigo n.º 240 do PDPUA).

4.1.3 A constitucionalidade do Estudo de Impacto de Viabilidade Urbanística:

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