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Avaliação Pré-projeto (APP) e Avaliação Pós-ocupação (APO) como metodologias de

2 ANÁLISE E AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS E URBANÍSTICOS:

2.2 Teorias no campo da análise espacial e ambiental associada a instrumentos urbanísticos

2.2.4 Avaliação Pré-projeto (APP) e Avaliação Pós-ocupação (APO) como metodologias de

De acordo com Falcoski (1997) a avaliação pré-projeto (APP) consiste em um método de avaliação de desempenho do ambiente construído, exercendo com a avaliação pós- ocupação (APO) uma relação de complementaridade. Considerando-se as fases de aplicação de cada metodologia, explicitadas na própria denominação, aponta-se que os resultados da APO podem constituir um banco de informações que dará subsídio à APP, a partir da elaboração de critérios a serem considerados em novos projetos.

Falcoski (1997, p. 217) aponta, também, que a APP “apresenta certas características dos estudos de viabilidade técnica, ou da programação arquitetônica, via de regra desenvolvidos antes da primeira etapa do processo de produção e uso do ambiente objeto de estudo”. Esse tipo de avaliação levanta as necessidades e exigências dos usuários que utilizarão o espaço, a partir de modelos e protótipos capazes de simular, por exemplo, a inserção de um edifício no cenário urbano, verificando, assim, seus impactos sobre a paisagem natural e urbana e sobre o uso e ocupação do solo (FALCOSKI, 1997).

A avaliação pós-ocupação (APO) consiste em

uma série de métodos e técnicas que diagnosticam fatores positivos e negativos do ambiente no decorrer do uso, a partir da análise de fatores sócio-econômicos, de infra-estrutura e superestrutura urbanas dos sistemas construtivos, conforto ambiental, conservação de energia, fatores estéticos, funcionais e comportamentais, levando em consideração o ponto de vista dos próprios avaliadores, projetistas e clientes, e também dos usuários (ROMÉRO; ORNSTEIN, 2003, p. 26).

Para os autores, o sistema APO está diretamente ligado à avaliação qualitativa do ambiente construído, pois enquanto a APP levanta as necessidades do usuário, o processo verifica se determinado espaço satisfaz ou não essas necessidades. Ressalta-se que segundo Ornstein et. al (1995)10, citada por Falcoski (1997), consiste em ambiente construído, tanto para APP quanto para APO, o ambiente erigido, moldado ou adaptado pelo homem como estrutura física. Ornstein e Roméro (1992) incluem como potenciais espaços a serem

avaliados os ambientes ao ar livre e, também, o ambiente urbano.

No cenário internacional, sobretudo na Europa e nos Estados Unidos, a avaliação pós-ocupação, além de verificar o aspecto qualitativo dos edifícios, é utilizada para avaliar “em que medida o desempenho dos ambientes influenciam o comportamento humano e vice versa” (ORNSTEIN; ROMÉRO, 2003, p. 27). Nesses países a APO foi muito utilizada, principalmente a partir dos anos 60, na avaliação dos resultados de projetos voltados para os grandes conjuntos habitacionais, destacando, além do desempenho físico dos edifícios, aspectos como “padrões culturais, privacidade, territorialidade, personalização, apropriação, segurança, apropriação, faixa etária com ênfase no usuário dos ambientes” (ROMÉRO; ORNSTEIN, 2003, p. 27).

No Brasil, destaca-se como referência na área o trabalho do Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (NUTAU/FAUUSP). O grupo de pesquisadores tem como uma das áreas de atuação os estudos utilizando métodos de APO aplicados a edifícios e habitação de interesse social. Sobre esta última, cabe ressaltar a relevância da aplicação da pesquisa tendo em vista as características dos programas habitacionais comumente adotados, tanto pela administração pública quanto pela iniciativa privada: estabelecem um modelo padrão de edificação a ser repetido em diferentes localidades, desconsiderando a heterogeneidade da população. A partir dos resultados das avaliações é possível promover adaptações nos projetos e assim aproximá-los das especificidades de cada local de implantação e também das características comportamentais do público a ser atendido.

Retomando a relação de complementaridade entre APP e APO, destacada por Falcoski (1997), e tomando como exemplo a análise de impactos no meio urbano, podemos estabelecer a aproximação entre esses métodos de avaliação de desempenho de ambientes construídos e os procedimentos habitualmente adotados no licenciamento de atividades com significativo impacto no meio natural e urbano.

Os critérios de pesquisa empregados na APP, ou seja, o levantamento das necessidades dos usuários do futuro espaço, comparam-se aos requisitos de licenciamento prévio de atividades e de definição de diretrizes básicas para a elaboração de projetos, etapa em que são determinadas as condições para o deferimento de uma intervenção. Conforme será visto na aplicação do EIA, instrumento de apoio ao licenciamento ambiental, a etapa preliminar do estudo consiste na caracterização do ambiente a ser modificado. Nessa fase,

além de um diagnóstico do sítio, são elencadas as possíveis conseqüências, positivas e negativas, da instalação do empreendimento. Importante destacar que o estudo vislumbra a possibilidade de locação do edifício/projeto em outro espaço e assim considera a preservação da área. O fim do processo tem o objetivo de apresentar as recomendações para que a alteração do meio se dê de forma a preservar a qualidade ambiental e urbana do local. De maneira semelhante, os métodos relacionados à APP buscam relacionar as diretrizes para a elaboração de um projeto de forma a contemplar os anseios de seus futuros usuários.

Os métodos de APO podem ser aplicados à análise de intervenções já instaladas, que venham a causar incômodo à vizinhança, uma vez que estudam o ambiente durante sua utilização. Assim, assemelham-se aos procedimentos de licenças corretivas, fase em que são definidas as medidas compensatórias para a minimização dos impactos negativos da atividade sobre o meio. Em relação ao procedimento de licença corretiva, para essa fase é também importante que se conheça o ambiente antes da intervenção. Assim, a caracterização do meio tem papel importante para a definição de medidas mitigadoras, que propiciem a aproximação do ambiente pós-intervenção com aquele encontrado antes da mesma. De forma semelhante à APO, é possível que as informações obtidas nesse processo sirvam como referencial para outros projetos semelhantes, tentando-se, dessa forma, evitar os mesmos impactos negativos.

Apesar dos estudos nas áreas de APP e APO estarem mais desenvolvidos no campo da avaliação de edifícios, nota-se a potencialidade de aplicação dessas metodologias na análise de desempenho do meio urbano, principalmente considerando a relação entre esses métodos e as fases de concepção e utilização do ambiente.

Uma das técnicas utilizadas para APO de espaços livres de uso público, ambientes que mais se relacionam à dinâmica da cidade, consiste na elaboração do mapa comportamental. Este método traça o perfil de utilização do ambiente pelos diversos usuários, considerando as características de acesso e de vivência do espaço. É possível, por exemplo, verificar as rotas utilizadas para se chegar ao lugar e, com isso, verificar as condições de trânsito que os potenciais usuários encontrarão, assim como, a utilização dos equipamentos inicialmente propostos, a qualidade ambiental do espaço e a relação dos indivíduos com o lugar, orientando a proposição de outras intervenções urbanísticas semelhantes.

É importante destacar que os resultados das pesquisas em APO relacionam os pontos a serem repetidos ou abandonados em novos projetos. Possibilitam, também, proceder a eventuais correções, definindo diretrizes para as intervenções futuras. Nesse método o fluxo de avaliação é contínuo: tem início no planejamento, passa pelo projeto, construção/execução,

uso e manutenção chegando à avaliação propriamente dita, produzindo, como resultado final, diagnósticos e recomendações (ROMÉRO; ORNSTEIN, 2003).

Buscando estabelecer relação entre a metodologia da APO e as especificidades que envolvem a análise de impactos no meio urbano, os resultados da utilização dessa metodologia podem, além disso, orientar a elaboração de projetos e termos de referência aplicados ao licenciamento urbanístico e ambiental, sobretudo na definição de medidas corretivas e compensatórias para os empreendimentos que durante a operação possam causar incômodos à vizinhança.

Por fim, a partir do estudo da metodologia da APO, podem ser pontuadas as proximidades desse modelo aos preceitos do EIV listados no artigo n.º 37 do Estatuto da Cidade, ressalvadas as especificidades temporais de cada um, EIV anterior e APO posterior à ocupação, conforme Quadro 3 abaixo.

Estudo de Impacto de Vizinhança Avaliação Pós-ocupação Adensamento populacional Caracterização socioeconômica (conjunto e bairro) Equipamentos urbanos e

comunitários; uso e ocupação do solo; valorização imobiliária; geração de tráfego e demanda por transporte público; paisagem urbana; patrimônio natural e cultural

Funcionalidade e inserção no contexto urbano

Ventilação e iluminação Conforto ambiental

Quadro 3 – Proximidades entre EIV e APO. Adaptado de Roméro & Ornstein (2003).

2.3. Considerações sobre a legislação brasileira: as perspectivas do licenciamento

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