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Aproximação linear do pêndulo

No documento Física 1. Dinâmica (páginas 169-175)

9. Sistemas não lineares

9.4. Aproximação linear do pêndulo

9.4. Aproximação linear do pêndulo

Os pontos de equilíbrio do pêndulo são todos os pontos onde os lados direitos das equações9.9 e 9.10 sejam nulos; consequentemente, existem pontos de equilíbrio em θ = 0, ±π , ±2π , . . ., com ω = 0.

Os pontos em θ = 0, ±2π, ±4π, . . ., são realmente o mesmo ponto físico, na posição mais baixa do pêndulo, correspondentes à passagem do pêndulo por essa posição, após um número qualquer de voltas. Os pontos em θ = ±π, ±3π, . . . são também um mesmo ponto física, na parte mais alta do pêndulo.

A matriz jacobiana do sistema é: " 0 1 −g l0 cos θ 0 # (9.11) No ponto de equilíbrio em θ = 0, a matriz é:

" 0 1 −g l0 0 # (9.12)

com valores próprios iguais a ± ipg/l0. Consequentemente, o ponto de equilíbrio é um

centro (equilíbrio estável). De fato, a matriz9.11é semelhante à matriz de um oscilador harmónico simples, com g/l0em vez e k/m.

Assim, nos pontos próximos de θ = 0, ±2 π, ±4 π, . . ., o sistema é parecido a um oscilador harmónico simples, com órbitas elípticas no espaço de fase, que correspondem a oscilações harmónicas com frequência angular:

2 π f =r g

l0 (9.13)

Perto do ponto de equilíbrio em θ = π, a matriz jacobiana é igual a: " 0 1 g l0 0 # (9.14)

com dois valores próprios reais ±pg/l0e de sinais opostos. Trata-se de um ponto de sela

(equilíbrio instável).

Para esboçar o campo de direções usando o programa plotdf, consideremos um pêndulo com l0igual 50 cm. Assim, no sistema internacional de unidades, as equações do pêndulo

são:

˙

θ = ω ω = −19.6 sin θ˙ (9.15)

Vamos representar o intervalo −10 < θ < 10 onde aparecerão 3 centros (−2π, 0 e 2π) e 4 pontos de sela (−3π, −π, π e 3π):

-10 -5 0 5 10 -20 -10 0 10 20 omega teta A B

Figura 9.4.: Retrato de fase do pêndulo.

(%i20) plotdf([omega, -19.6*sin(teta)], [teta, omega],

[teta, -10, 10], [omega, -20, 20])$

A figura9.4mostra o retrato de fase do pêndulo. No eixo horizontal está representado o ângulo θ e no eixo vertical a velocidade angular ω.

As curvas identificadas com as letras A e B na figura9.4, que começam desde um ponto de sela e terminam noutro, fazem parte de uma órbita heteroclínica.

Uma órbita heteroclínica é uma curva no espaço de fase formada por vários segmentos, cada um começando num ponto de sela e terminando em outro ponto de sela diferente. O último segmento termina no mesmo ponto de sela onde começou o primeiro.

0 θ

ω

0

9.4 Aproximação linear do pêndulo 159 As órbitas heteroclínicas do pêndulo correspondem ao caso em que a energia mecânica do pêndulo é exatamente igual à energia potencial gravítica no ponto de altura máxima. Usando como referência U = 0 no ponto mais baixo do pêndulo, a energia potencial no ponto mais alto é U = 2 m g l0.

Essas órbitas heteroclínicas também são separatrizes, porque delimitam a região onde existe movimento oscilatório: região sombreada na figura9.5. Se o estado inicial estiver dentro dessa região, o pêndulo oscila; caso contrário, o pêndulo descreve movimento circular não uniforme.

A figura9.6mostra a evolução em função do tempo de dois ciclos à volta do ponto de equilíbrio estável. No primeiro caso, o pêndulo foi largado, do repouso, com um ângulo inicial de 0.5 radianos (aproximadamente 29◦); isto é, no menu Config do plotdf usou- se “0.5 0” no campo Trajectory at. No retrato de fase, essa solução é bastante aproximada a uma elipse. Como vimos no capítulo anterior, uma elipse no retrato de fase corresponde à solução de um oscilador harmónico simples. O pêndulo oscila de forma harmónica e o seu período de oscilação é aproximadamente 1.44 s.

-1 0 1 -8 -4 0 4 8 t θ,ω θ(t) ω(t) -1 0 1 -8 -4 0 4 8 t θ,ω θ(t) ω(t)

Figura 9.6.: Oscilações do pêndulo, com amplitude angular de 29◦ (esquerda) e 115◦ (direita).

O gráfico no lado direito da figura9.6) corresponde ao lançamento do pêndulo, desde o repouso, com um ângulo inicial de 2 radianos (aproximadamente 115◦). O movimento pode parecer harmónico, mas a solução no espaço de fase não é uma elipse perfeita, e as funções θ (t) e ω(t) não são realmente funções harmónicas; isso é mais evidente para ω(t) que é demasiado reta entre máximos e mínimos. O período de oscilação, neste caso, é aproximadamente 1.88 s.

Usando a aproximação do pêndulo como oscilador harmónico simples, é possível calcular o seu período de oscilação (equação9.13). No caso que consideramos (l = 0.5 m) o período do pêndulo seria aproximadamente 1.42 s. Os valores mais realistas, que obtivemos

de forma numérica, são um pouco superiores. Quanto menor for o ângulo máximo de oscilação, mais perto estará o período do valor obtido com a aproximação linear.

Perguntas

1. O valor ideal do período de um pêndulo com comprimento l é 2πpl/g, onde g é a aceleração da gravidade. Na prática, o período só se aproxima do seu valor ideal em algumas situações. Qual das condi- ções seguintes garante que o período de oscilação seja aproximadamente igual ao valor ideal?

A. valor máximo da velocidade angular pequeno.

B. aceleração da gravidade pequena. C. comprimento l pequeno.

D. valor máximo do ângulo pequeno. E. atrito com o ar desprezável.

2. Se Fx= 4 x (x − v2x) representa a força re-

sultante que atua sobre uma partícula, no eixo dos x, e vx é a componente veloci-

dade, quantos pontos de equilíbrio tem o sistema? A. 1 B. 2 C. 3 D. 4 E. 0

3. No retrato de fase na figura, que tipo de ponto de equilíbrio é o ponto (1,0)?

1 0 -1 1 -1 A. nó atrativo B. foco repulsivo C. ponto de sela D. foco atrativo E. nó repulsivo

4. Qual é a matriz jacobiana do sistema ˙ x= y2, ˙y= x y? A.  y 2 1 1 x y  B.  0 2 y 1 1  C.  0 2y y x  D.  y x 0 2 y  E.  1 1 0 2 y 

5. As equações de evolução de um sistema dinâmico, no espaço de fase (x, y), são

˙

x= x y, ˙y= y + 1. Qual dos seguintes vetores poderão representar a direção e sentido da velocidade de fase no ponto (1, 2)? A. 4~ex+ 2~ey B. 2~ex+ 4~ey C. 6~ex+ 4~ey D. 4~ex+ 6~ey E. −2~ex− 3~ey

9.4 Aproximação linear do pêndulo 161

Problemas

1. Uma partícula com massa m, desloca-se ao longo do eixo dos x sob a ação de uma força resultante Fxque depende da posição x e da componente da velocidade vx. Para

cada um dos casos seguintes encontre os pontos de equilíbrio, diga que tipo de ponto equilíbrio é cada um (estável ou instável; centro, foco, nó ou ponto de sela) e desenhe o retrato de fase mostrando as órbitas mais importantes:

(a) Fx= −m x (1 + vx)

(b) Fx= −m x (x2+ vx− 1)

2. O diagrama mostra o retrato de fase de um sistema com 3 pontos de equilíbrio, no caso idealizado em que não existisse atrito. Faça (a mão) um esboço da energia potencial e de como seria o retrato de fase do sistema real, considerando as forças de atrito.

3. Se a base do pêndulo da figura 6.1 estiver a rodar no plano horizontal, com velocidade angular constante ωb, sobre o disco atuará também uma força centrífuga Fc= m R ωb2,

onde R é a distância desde o centro do disco até à vertical que passa pelo eixo do pêndulo. R l mg F Fc θ tangente

(a) Se o raio do disco for muito pequeno, a força no eixo de rotação tem unicamente componente normal. Demonstre que a força tangencial sobre o disco é:

Ft= m sin θ l ωb2cos θ − g

(b) Faça um gráfico de Ft em função de θ , entre −π e π, com os valores seguintes:

dois gráficos diga, em cada caso quais são os pontos de equilíbrio estável e instável. (c) Demonstre que em geral, quando ωb<pg/l, existe um único ponto de equilíbrio estável em θ = 0, e um único ponto de equilíbrio instável em θ = ±π. (d) Para ωb>

p

g/l, demostre que os pontos θ = 0 e θ = ±π são ambos pontos de equilíbrio instável, e aparecem dois pontos de equilíbrio estável em ±θ0, com 0 < θ0< π/2.

4. A amplitude de oscilação de um pêndulo decresce, devido à força de resistência do ar e ao atrito no eixo. Admita um pêndulo em que o atrito no eixo é desprezável e a resistência do ar é dada pela expressão −γω, onde γ é uma constante, e ω a velocidade angular. Usando os valores numéricos m = 300 g, l = 50 cm, g = 9.81 m/s2, γ = 0.05 N·s, desenhe o campo de direções do sistema. Desenhe as soluções para os casos seguintes:

(a) O pêndulo parte do repouso com um ângulo inicial θ = 120◦.

(b) O pêndulo é lançado desde θ = 60◦, com uma velocidade angular inicial ω = −9 s−1. Explique o significado físico das duas soluções esboçadas.

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