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A SUA AQUISIÇÃO

2.1. A SPECTOS SEGMENTAIS

2.1.2.3. Aquisição do Vozeamento

Outro aspecto relevante para a descrição da aquisição segmental diz respeito ao papel da laringe na estabilização do inventário segmental, representado através do traço [±vozeado]. Várias pesquisas têm estudado a representação dos traços referentes à laringe à luz da teoria fonológica (Lombardi, 2001; Wetzels & Mascaró, 2001; Salmons & Iverson, 2007; Van der Feest, 2007; entre outros). Contudo, contrariamente a outros aspectos, poucos dados têm sido descritos quanto ao papel da representação dos traços da laringe no processo de aquisição fonológica (Kager et al., 2007).

Alguns estudos neste domínio vieram demonstrar que, dentro dos traços que caracterizam os sons da fala, podem ser consideradas subcategorias determinadas pelo valor do traço [vozeado]. A tendência para as oclusivas e as fricativas é a de os segmentos não vozeados [p t k ] e [f s ʃ] adquiridos primeiro do que os vozeados [ b d g ] e [v z ] (Oliveira, 2004; Dos Santos, 2007). O contraste [±vozeado] apresenta uma estabilização tardia, tanto nas oclusivas como nas fricativas (Dos Santos, 2007, Rose & Wauquier-Gravelines, 2007; Van der Feest, 2007; Yamaguchi, 2012). No PE, são referidas dificuldades associadas à estabilização do contraste laríngeo [±vozeado], as quais contribuem fortemente para o prolongamento do intervalo de aquisição das obstruintes (Costa, 2010). Resultados semelhantes foram

Velar, uvular [dorsal] Palatal [coronal; -anterior] Bilabial, labiodental, dental, alveolar [labial]; [coronal;+anterior]

encontrados para o holandês, sobretudo na classe oclusiva em posição inicial de palavra (Grijzenhout & Joppen-Hellwig, 2002), com os segmentos não vozeados a apresentarem uma emergência mais precoce. Encontram-se também descritos resultados que demonstram uma tendência inversa, com os segmentos vozeados a surgirem primeiro do que os não-vozeados, em línguas como o inglês (Menn, 1971; Smith 1973) e o alemão (Macken & Barton, 1980). Línguas como o português e o holandês exibem uma aquisição mais tardia do contraste laríngeo [±vozeado], comparativamente a línguas como o alemão e o inglês, que apresentam uma aquisição precoce deste contraste. A saliência acústica que deste contraste em cada uma das línguas é apontada como uma causa importante das diferenças observadas (Kent, 1976; Davis, 1995).

A estabilização tardia do valor marcado para o traço [vozeado] está na base do chamado desvozeamento em contexto clínico, tido como sendo uma das estratégias de reconstrução mais frequentes e de maior dificuldade de intervenção terapêutica em caso de dificuldades no desenvolvimento fonológico (Souza et al., 2013). Esta estratégia resulta da dificuldade em contrastar adequadamente sons vozeados e não-vozeados e é frequentemente utilizada durante o processo de aquisição fonológica típica, em idades muito precoces (Yavas, 1988). Por volta dos cinco anos, esta instabilidade deverá desaparecer (Fronza, 2004), primeiro nas oclusivas e depois nas fricativas (Galea & Wertzner, 2004).

Disponibilizam-se, em seguida, dados normativos obtidos para o PE, através do processo de estandardização de dois testes de avaliação fonético-fonológica. Como é possível observar através do Quadro 6, os resultados obtidos em ambos os estudos (Mendes et al., 2013; Guimarães et al., 2014) vão ao encontro dos resultados observados e descritos ao longo desta investigação (Freitas, 1997; Costa, 2010; Amorim, 2014), que têm por base a explicação da variação linguística de crianças no mesmo intervalo temporal.

Quadro 6 - Ordem de aquisição das consoantes para o PE, de acordo com o MA e o PA Mendes et al. (2013) Guimarães et al. (2014) Oclusivas Todos os segmentos (3;0-3;6) Todos os segmentos (3;0-3;5) Fricativas [f v s ʃ] (3;0-3;6) >>[ʃ] posição final de

sílaba (3;6-3;12) >>[ z] (4;0-4;6) [f v s ʃ z ] (3;0-3;5) >> [ ] (3;6-3;11) feminino [f v ʃ z ] (3;0-3;5) >> [s] (3;6-3;11) masculino Líquidas [Ɍ] (3;0-3;6)>>[l ʎ] (3;6-3;12)>> [ɾ] (4;0-4;6)>> [ɾ] posição final de sílaba

(4;6-4;12) >> [ɬ] posição final de sílaba (5;0-5;6) [l] em grupos consonânticos (4;0-4;6) [ɾ] em grupos consonânticos(4;6-5;6) [l ɾ Ɍ] (3;0-3;5) >> [ʎ] (4;6-4;12) feminino [Ɍ] (3;0-3;5) >> [ l ɾ] (4;0-4;5) >>[ʎ] (5;0- 5;5) masculino 2.2. ASPECTOS SILÁBICOS

A sílaba é uma unidade fonológica que integra o conhecimento fonológico e que contribui para a organização prosódica das línguas, sendo intuitivamente identificada pelos falantes (Freitas, 1997; Veloso, 2003). De acordo com vários estudos em diversas línguas, a sílaba possui um papel determinante no processamento linguístico (Jusczyk, Goodman & Baumann, 1999; Morais, 1999), verificando-se que a estrutura prosódica precede o tratamento de qualquer outra informação linguística (Gerken, Jusczyk & Mandel, 1994).

2.2.1. Organização interna da sílaba

A referência à sílaba enquanto unidade prosódica hierarquicamente organizada em constituintes é praticamente inexistente nos modelos fonológicos anteriores à fonologia não-linear. Foi sobretudo na sequência do advento da fonologia não- linear que a sílaba adquiriu um papel linguisticamente proeminente no tratamento fonológico das línguas do mundo. No presente estudo, recorre-se ao modelo de representação de sílaba designado como de Ataque-Rima por ser o adoptado no PE (Mateus & Andrade, 2000), no qual a sílaba é um constituinte multidimensional, apresentando uma estrutura interna de constituintes organizados hierarquicamente, conforme é possível observar na figura abaixo, através do exemplo da palavra sol (Selkirk, 1982; Blevins, 1995).

σ Nível da sílaba

Ataque Rima Nível da rima Núcleo Coda

X X X Nível do esqueleto

[ s ɬ ] Nível dos segmentos

Figura 9 - Estrutura interna da sílaba

Os constituintes silábicos podem ou não estar preenchidos com material segmental no nível terminal da representação, não podendo ultrapassar por constituinte, duas posições rítmicas no esqueleto. Quando se encontram preenchidos, os constituintes podem apresentar ramificação ou não, ou seja, podem hospedar um ou dois segmentos (Mateus, 1994). Apresenta-se, de seguida, a proposta de classificação de todos os constituintes silábicos com base em trabalhos para o PE (Mateus & Andrade, 2000; Mateus et al., 2003).

Quadro 7 - Estrutura dos constituintes silábicos de acordo com a proposta Ataque-Rima

Ataque

Ataque não ramificado Ataque simples Associado a uma consoante (ex:[p]a; pa.[t]u)

Ataque vazio Associado a uma posição silábica sem preenchimento segmental (ex: [_]á.guia;

to.[_]a.lha)

Ataque ramificado Associado a duas consoantes (ex: [pɾ]a.to; ti.[gɾ]e)

Rima Rima não ramificada Domina apenas um Núcleo (ex: p[ ])

Rima ramificada Domina um Núcleo e uma Coda (ex:

m[ ɬ])

Núcleo Núcleo não ramificado Associado a uma vogal (ex:,M[a]r.te)

Núcleo ramificado Associado a mais do que um segmento

(ex: c[ w])

Coda Coda não ramificada Associada a um segmento (ex: pe[r].to; tam. bo[ɾ])

Coda ramificada Associada duas consoantes (ex:

O Ataque não ramificado simples (Ataque simples) é a estrutura mais frequente (Andrade & Viana, 1994; Fikkert, 1994; Vigário & Falé, 1994; Blevins, 1995; Freitas, 1997), está presente no padrão CV, o mais frequente nas línguas do mundo, denominado como sílaba universal ou não marcada (Mateus & Andrade, 2000). O Ataque Simples pode ocorrer tanto em posição inicial como em posição medial de palavra e ser preenchido por todas as consoantes do PE (em posição medial). Por sua vez, o Ataque não ramificado vazio caracteriza-se pela ausência segmental na posição de Ataque, podendo ocorrer em posição inicial ou medial (Mateus, Falé & Freitas, 2005). O Ataque ramificado é uma estrutura silábica complexa, podendo ser constituído por duas consoantes. As combinações de consoantes mais frequentes no PE são: oclusiva+vibrante e oclusiva+lateral. Embora menos frequentes, é também possível observar as sequências

fricativa+vibrante e fricativa+lateral (Andrade & Viana, 1994; Vigário & Falé, 1994;

Mateus & Andrade, 2000; Mateus et al, 2003).

A Rima é o único constituinte não terminal, que domina os constituintes terminais Núcleo e Coda (Mateus, Falé & Freitas, 2005), podendo apresentar apenas um Núcleo ou ramificar em Núcleo e Coda. O Núcleo é o único constituinte de preenchimento obrigatório, podendo ser ramificado, quando é formado por um ditongo (ex: c[ w]), ou não ramificado, quando associado a uma vogal (ex: s[a]po). A Coda é considerada o constituinte mais sujeito a restrições no PE (Mateus & Andrade, 2000), sendo o que domina a consoante à direita do Núcleo. Este constituinte silábico apresenta um comportamento bastante diferente de língua para língua, verificando-se a ocorrência frequente de Codas ramificadas em sistemas linguísticos com estruturas silábicas mais complexas, como o inglês e o holandês (Fikkert, 1994; Bernhardt & Stemberger, 1998). Embora possa ser observada a presença de Codas ramificadas no PE, elas são muito pouco frequentes, devido às fortes restrições impostas por este constituinte no PE (Freitas, 1998; Mateus & Andrade, 2000). A Coda é associada aos segmentos:

/s/,com os alofones [ʃ, ] (exemplos: pé[ʃ]; ci[ ].ne); /l/, com velarização no nível fonético [ɬ] (exemplo: ca[ɬ]. ças); /ɾ/ (exemplo: po[ɾ].ta).

2.2.2. Desenvolvimento silábico

Tendo em conta que a presente investigação pretende avaliar o desenvolvimento fonológico das crianças na classe das fricativas e das líquidas e que esses segmentos, como vimos anteriormente, podem ocupar o papel de silábico de Ataque (simples ou ramificado) e de Coda, de seguida, dar-se-à conta do desenvolvimento associados a estes três constituintes silábicos.

Através das evidências obtidas pela análise das primeiras produções linguísticas das crianças, e tendo em conta as diferenças observadas entre os formatos fonéticos dessas produções e das produções dos adultos, é possível constatar que essas produções são tendencialmente monossilábicas, seguindo um formato silábico CV (ou V, no caso do PE), que pode sofrer uma reduplicação (Freitas, 1997). Os exemplos seguintes, retirados de Freitas (1997), ilustram esta afirmação:

(i) Papá [´pa] ( J: 0;20,2) (ii) Água [´aba] (J: 0;11,6)

[´a] (J:1;3,11) (iii) Inês [ne´ne] (I: 0;11,14) (iv) Cavalo [´ka] (M: 1;2,0) (v) Beijinho [´bi] (J: 1;3,4)

Deste modo, assume-se que o processo de desenvolvimento fonológico se rege por uma organização silábica inicial simples, sendo a sílaba a primeira unidade linguística com constituência interna a ser utilizada pela criança (Fikkert, 1994; Freitas, 1997). Quando os constituintes silábicos ainda não estão disponíveis, os segmentos a este associados não são produzidos, demonstrando que os constituintes silábicos são cruciais para a aquisição segmental. A título ilustrativo, antes de adquirido o formato CCV, quando o conhecimento fonológico do falante ainda só admite um formato como o CV, os encontros consonânticos são tratados

de forma a simplificar a estrutura (C1C2  C1) porque a C2 não se encontra ainda

prosodicamente legitimada nessa fase de desenvolvimento linguístico do falante,

mesmo que a consoante já exista no inventário segmental da criança. Assim, quando se analisa a aquisição dos segmentos, deve ser sempre considerada a posição que o segmento ocupa na sílaba, uma vez que a emergência e estabilização dos segmentos dependem fortemente dos constituintes silábicos que os dominam (Fikkert, 1994; Freitas, 1997; Bernhardt & Stemberger, 1998, 2000; Freitas et al., 2006; Almeida, 2011).

Os exemplos apresentados abaixo vêm consubstanciar a perspectiva anteriormente referida. Os exemplos foram retirados de Freitas (1997) e pretendem demonstrar que o processo de aquisição segmental (neste caso retratado através do segmento [ɾ]) é realizado em função dos diferentes constituintes silábicos que os segmentos podem ocupar.

(i) Ataque não ramificado

amarelo [m ´ɾ w] (L. 1;9.29) (ii) Coda

barco [baku] (L. 1;9.29) (iii) Ataque ramificado

frente [´fet ] ( L: 1;11.20)

Através dos exemplos acima apresentados, é possível observar que o [ɾ] já se encontra disponível no inventário segmental da criança aos 1;9.29, mas a sua produção só ocorre no constituinte silábico já disponível, o Ataque não ramificado. Fikkert (1994) e Freitas (1997) mostram que as consoantes líquidas se encontram inicialmente estabilizadas em posição de Ataque, ocorrendo a sua estabilização mais tarde e gradualmente nas restantes posições silábicas. Assume-se, assim, a existência de uma relação de dependência entre disponibilização de posições silábicas na aquisição e emergência segmental (Freitas, 1997). Esta relação é crucial para o diagnóstico e a intervenção clínicas (Bernhardt & Stemberger, 2000; Lamprecht, 2004).

2.2.2.1. Ataque

Na sequência da proposta de Fikkert (1994), Freitas (1997) propõe três estádios distintos na aquisição do constituinte Ataque para o PE, que se encontram apresentados no quadro abaixo.

Quadro 8 - Estádios de aquisição do constituinte Ataque em PE Estádios de

desenvolvimento

Tipologia de ataque Exemplos de produções Estádio 1 Ataque não ramificado associado a

oclusivas e a nasais

Ataque vazio

pé [´p ] -> [´p ] (I. 1;0.25) menino [m ninu] -> [´munu] (M: 1;3,8)

ana [´ɐnɐ] -> [´ɐnɐ] (M. 1;2.0) água [´agwɐ] -> [´a] (I. 1;1.30) Estádio 2 Ataque não ramificado associado a

fricativas e líquidas

sopa [´sopɐ] -> [ʃopɐ] (R. 1;11.0) mulher[mu´ʎ ɾ]>[ mu´j ](R. 2;10.8) Estádio 3 Ataque ramificado bruxa [´bɾuʃɐ] -> [´bɾuʃɐ] (L. 2;11.2) cobra [´k bɾɐ] -> [´k b ɾɐ] (P. 3;5.18)

Como é possível observar através do Quadro 8, nos primeiros estádios referentes ao Ataque não ramificado, as crianças portuguesas produzem, desde cedo, segmentos oclusivos e nasais em Ataque simples, só depois emergindo os segmentos fricativos e líquidos (Fikkert, 1994; Freitas, 1997; Bernhardt & Stemberger, 1998; Costa, 2010).

O Ataque ramificado apresenta uma aquisição tardia, sendo das últimas estruturas silábicas a serem adquiridas no português (Freitas, 1997; Lamprecht et al., 2004). Tal como visto anteriormente (Cf. exemplos (i), (ii) e (iii) da página 51), a investigação tem vindo a mostrar que, apesar de um segmento se encontrar disponível no sistema fonológico da criança, esta pode não conseguir produzi-lo nas estruturas silábicas mais complexas, tais como os ataques ramificados, pelo facto de este constituinte não se encontrar disponível no seu sistema (Fikkert, 1997; Freitas, 1997; Bernhardt & Stemberger, 1998). Várias estratégias são usadas pelas crianças quando o Ataque ramificado ainda não está disponível. O Quadro 9 dá conta da aquisição deste constituinte no PE em Freitas (1997, 2003).

Quadro 9 - Estádios de desenvolvimento do Ataque Ramificado Estádio de

desenvolvimento

Tipologia de ataque ramificado Exemplos de produções Estádio 0 Os grupos consonânticos não

surgem como alvos possíveis

--- Estádio 1 O grupo consonântico é reduzido

ao primeiro elemento (oclusiva ou fricativa) ou reduzido a um ataque

vazio (C1C2 ->C1∅);

(C1C2 ->∅∅)

Quatro [´kwatɾu] -> [´kwatu]

(L.1;9.29)

Bruxa /´bɾuʃ /->[´ug ] (J. 2;2.28) Estádio 2 Estádio 2a Estádio 2b Estádio 2c

Os dois elementos do grupo consonântico são produzidos - como estando associados a uma

só posição no esqueleto (C1C2)

Bruxa [´bɾuʃ ] -> [´bɾuʃ ] (L.2;11.2) - com vogal epentética entre as

duas consoantes(C1C2V ->C1VC2V)

Quatro [´kwatɾu] -> [´kwat ɾu]

(L. 2;9.21)

- conforme o alvo (C1C2) Bruxa [´bɾuʃ ] -> [´bɾuʃ ](L. 2;11.2)

Os dados de aquisição do Ataque ramificado no PE apontam para uma emergência precoce dos ataques ramificados associados à lateral /l/, verificando-se a sua aquisição aos 4;0-4;5 anos. Por sua vez, os Ataques ramificados associados à líquida vibrante /ɾ/, quando a C1 se encontra associada uma fricativa (/fɾ/ e /vɾ/),

apontam para uma emergência aos 4;6-4;11 anos, verificando-se o mesmo para os grupos consonânticos com as oclusivas /b/ e /k/ em C1. Os grupos consonânticos

/pɾ/, /tɾ/, /dɾ/ e /gɾ/ são os mais complexos, apresentando uma idade de aquisição situada entre os 5;0-5;5 anos (Mendes et al., 2013).

2.2.2.2. Coda

A Coda, constituinte silábico dominado pela Rima, não é de preenchimento obrigatório no PE (Mateus & Andrade, 2000). Nas línguas naturais, a Coda é um constituinte silábico que pode impor forte restrições à qualidade dos segmentos a si associados (Mateus & Andrade, 2000). Bernhardt e Stemberger (1998) referem que as fricativas, as oclusivas e as nasais são as consoantes que mais precocemente surgem em Coda, ao contrário das líquidas, que apresentam uma aquisição mais tardia, sendo alvo de várias estratégias de reconstrução. Para o PE, Freitas (1997) e Correia (2004) relatam o facto de as Codas fricativas precederem as Codas líquidas durante o processo de emergência e estabilização.

Deste modo, podem ser definidos os principais estádios de desenvolvimento relativamente ao constituinte Rima no PE (Freitas, 1997; Correia, 2004).

Quadro 10 - Estádios de desenvolvimento da Rima Estádio de

desenvolvimento

Tipologia de Rima Exemplos de produções

Estádio I Rima não ramificada, constituída

apenas por Núcleo Água /´ag

w / -> [´ap ] (J. 0;10.2)

Estádio II Rima ramificada em Núcleo + Coda

fricativa Bonecas [bu´n k ʃ] -> [m ´ɲ k ʃ] (I. 1;9.19) Estádio III Rima ramificada em Núcleo + Coda

Líquida Mulher /mu´ʎ ɾ/ -> [mu´ ] (R.2;10.8) Fralda /´fɾaɬd / -> [´ka] (I. 1;5.11) Comprar /kõpɾaɾ/ -> [kupaɾ] (P. 2;3.18)

A aquisição da Coda não ocorre de igual forma nas duas classes naturais que podem ocupar a consoante em final de sílaba, verificando-se que a fricativa emerge e estabiliza antes das consoantes líquidas (Freitas, 1997, 1998; Freitas, Miguel & Faria, 2001; Correia, 2004; Freitas et al., 2006). Quando as consoantes líquidas começam a surgir em Coda, são por vezes sujeitas a estratégias de reconstrução (Freitas, 1997; Correia, 2004), tais como a semivocalização.