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NOMEAÇÃO CONCEPÇÃO , APLICAÇÃO E REVISÃO , CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA TESTADA E TRATAMENTO DE DADOS

5.2. C ONSTRUÇÃO DO TESTE DE NOMEAÇÃO – ESTÍMULOS

O instrumento construído para avaliar o desenvolvimento fonológico na presente investigação foi estruturado com base nas variáveis fonológicas, classe natural,

constituinte silábico, acento de palavra e posição na palavra (Fikkert, 1994; Freitas,

1997, Grunwell, 1997; Bernhardt & Stemberger, 1998; Correia, 2004; Costa et al., 2007, Nogueira, 2007, Afonso, 2008; Alves, Castro & Correia, 2010; Costa, 2010, Bauman-Waengler, 2011; Nogueira & Freitas, 2014, entre outros). A integração destas variáveis linguísticas num teste de avaliação teve como principal objectivo perceber se as mesmas são bons indicadores do desenvolvimento segmental em crianças com historial de OMD. Os resultados obtidos no questionário a TF apresentados no Capítulo 4 foram decisivos para o estudo aprofundado do desenvolvimento fonológico destas crianças, e para a selecção das classes naturais das fricativas e das líquidas.

Optou-se por contemplar apenas as classes das fricativa e das líquidas no PE, pois, para além de terem sido referidas como as classes mais problemáticas em crianças com OMD (Cf. Capítulo 4), constituem as últimas classes naturais a serem adquiridas, sendo também as que podem ocorrer em mais do que um contexto silábico, incluindo as estruturas silábicas ramificadas (Freitas, 1997; Hernandorena, 1999; Lamprecht, 2004). As estratégias de reconstrução que

afectam os segmentos destas classes são as responsáveis pela quase totalidade dos desvios da fala e pela inteligibilidade dos sistemas das crianças com problemas de comunicação (Yavas, Hernandorena & Lamprecht, 2002). Para além disso, a classe das consoantes líquidas, além de ser a que apresenta um domínio mais tardio no processo de aquisição dos sons do PE, é também aquela em que se observa um uso diversificado de estratégias de reconstrução, com especial relevância para a omissão (Freitas, 1997; Mezzomo & Ribas, 2004; Dodd, 2005;; Bauman-Waengler, 2011; Bowen, 2015). Para além disso, e tal como referido anteriormente (Cf. secção 1.9.1. ), estudos realizados com populações semelhantes às do grupo experimental do presente estudo vieram demonstrar que crianças com historial de OMD que apresentem perda auditiva, ainda que de grau leve a moderado, têm maior dificuldade com a classe das fricativas (Petinou, Schwartz, Gravel & Raphael, 2001), apresentando também estratégias de reconstrução e omissão na produção dos segmentos [l] e [ɾ] (Borg et al., 2002).

Após a análise dos instrumentos de avaliação do desenvolvimento fonológico infantil realizada no Capítulo 3, foi possível verificar que, para o PE, não existia à data do início da presente investigação, um instrumento de avaliação controlado do ponto de vista fonológico segundo os critérios fonológicos apresentados. Deste modo, foi construído um instrumento que permitisse a avaliação do comportamento linguístico de crianças em função de diferentes distribuições fonológicas dos segmentos, neste caso, fricativos e líquidos.

5.2.1. Critérios fonológicos

Para a identificação dos estímulos lexicais a incluir no instrumento criado para a recolha de dados, estabeleceu-se um conjunto de variáveis fonológicas envolvendo a distribuição das fricativas e das líquidas, que a seguir se retomam:

i. Diferentes constituintes silábicos (Ataque simples, Ataque ramificado e Coda);

ii. Diferentes contextos acentuais no domínio da sílaba (tónico e átono);

iv. Diferentes classes naturais (fricativas e líquidas).

Atendendo às descrições das propriedades do sistema fonológico no PE e às variáveis em estudo, foram estabelecidos os seguintes critérios fonológicos:

i. Palavras com os segmentos em foco em Ataque simples em posições inicial e medial, tónicas e átonas (excepção do segmento [ ] e [ʎ] que não ocorrem em posição inicial) (Mateus & Andrade, 2000);

ii. Palavras com os segmentos [ɾ] e [l] em C2 do Ataque ramificado, uma

vez que são as únicas consoantes a surgir em posição de C2 no PE,

testados em sílaba inicial e medial, tónicas e átonas (Mateus & Andrade, 2000; Mateus et al., 2006);

iii. Palavras com os segmentos [ɾ], [ɫ], [ ], [ ] em Coda, testados em posições medial e final, tónicas e átonas (Mateus & Andrade, 2000).

No Quadro 23, estão representados os contextos nos quais os segmentos serão testados, tendo como exemplos os segmentos [l/ɫ] e [ɾ]:

Quadro 23 - Combinações previstas no teste de nomeação Estrutura

Silábica

Ataque simples Ataque ramificado Coda

Posição na palavra

Inicial Medial Inicial Medial Medial Final

Exemplo de estímulo para o contexto tónico

[l]ápis Ga[l]inha B[r]uxa --- Ba[ɫ]de Caraco[ɫ] Exemplo de

estímulo para o contexto átono

[l]aranja Ve[l]a --- Tig[r]e Pu[ɫ]seira Túne[ɫ]

A fricativa palatal vozeada [ ] é a menos representada através de estímulos lexicais uma vez que é pouco frequente no sistema-alvo (Frota, Vigário & Martins, 2010) nesta posição silábica e muito pouco frequente no léxico infantil até aos 4;0 anos (Freitas, 1997).

Olhando ainda para a estrutura silábica da Coda, foram analisados dois contextos morfológicos distintos para o segmento [ ], de acordo com os dados apresentados no Capítulo 2 da revisão bibliográfica (Freitas et al., 2001; Nogueira, 2007).

(i) Coda morfológica: quando o segmento constitui o morfema marcador de plural: livros, pés;

(ii) Coda lexical: quando o segmento não constitui o morfema marcador de plural: fantasma e nariz, surgindo no radical.

Para além das variáveis fonológicas principais controladas, foram ainda definidos os seguintes critérios fonológicos, tendo em vista a simplificação dos formatos das palavras seleccionadas:

(i) Selecção de palavras predominantemente dissilábicas e trissilábicas, uma vez que estas constituem as extensões mais frequentes no PE (Vigário et al., 2006) e nos estádios iniciais de aquisição (Freitas, 1997; Vigário et al., 2006; Costa, 2010; Almeida, 2011);

(ii) Selecção de palavras com estruturas silábicas predominantemente de tipo CV, sempre que o alvo da análise não é o Ataque ramificado e/ou a Coda, por se tratar do formato silábico universal, disponível desde o início no sistema fonológico da criança, sendo também o mais frequente no discurso das crianças (Fikkert, 1994; Freitas, 1997; Costa & Freitas, 1999; Lamprecht

et al., 2004; Vigário et al., 2006; Costa, 2010) e no PE (Andrade & Viana,

1994; Vigário & Falé, 1994).

(iii) Selecção de palavras com padrão acentual predominantemente paroxítono, sendo este o mais frequente no PE (Mateus & Andrade, 2000) e no léxico infantil (Correia, 2004);

(iv) Palavras sem a vogal átona / /final ou nas sílabas alvo a serem testadas. Esta vogal é frequentemente suprimida no discurso oral (Mateus & Andrade, 2000; Mateus et al., 2003), o que pode comprometer o processamento do formato fonológico da palavra (Freitas, 2002).

É importante referir que, por razões de natureza lexical, nem sempre foi possível respeitar todos estes critérios aquando da selecção dos estímulos linguísticos a incluir no teste de nomeação.

5.2.2. Critérios linguísticos extra fonológicos

Atendendo à necessidade de se criar uma prova adequada ao público-alvo, foram seleccionadas palavras passíveis de serem apresentadas a crianças em idade pré- escolar sob a forma de estímulo visual não ortográfico, uma vez que o reconhecimento dos mesmos constitui uma etapa essencial para a execução da tarefa proposta. Foram, assim, definidos os seguintes critérios extra fonológicos:

i. Palavras pertencentes exclusivamente à classe gramatical dos nomes, por ser aquela que emerge primeiro no léxico das crianças (Gentner, 1982; Guasti, 2002), sendo também a classe mais frequentemente representada nos enunciados dos adultos (Vigário, Martins & Frota, 2004; Mateus et al., 2006; Cameirão & Vicente, 2010) e a mais fácil de ser elicitada com base em estímulos visuais;

ii. Tanto quanto possível, uso de uma mesma palavra para a avaliação de mais do que um contexto, de modo a minimizar o número de estímulos visuais (Nogueira, 2007);

iii. Palavras que integrem o léxico infantil das crianças portuguesas (Freitas, 1997; Correia, Costa & Freitas, 2007; Santos et al., 2014).

5.2.3. Critérios extralinguísticos

Após a selecção dos alvos lexicais a integrar no instrumento, procedeu-se à elaboração dos estímulos visuais que permitissem a avaliação fonológica dos mesmos através da nomeação.

Foi contactado um designer gráfico com experiência em ilustrações infantis, tendo sido realizadas duas reuniões para definir as características comuns a todas as ilustrações, no sentido de tornar o instrumento homogéneo. Foram usadas como

modelo as ilustrações dos instrumentos apresentados anteriormente no Capítulo 3 (Guimarães & Grilo, 1998, 2014; Falé, Faria & Monteiro, 2001 e em Mendes et al., 2009, 2013). A memória descritiva detalhada resultante do processo de ilustração dos estímulos encontra-se em apêndice (Apêndice E).

Para a elaboração dos estímulos visuais integrados originalmente neste teste, foram estabelecidos alguns critérios (Arnheim, 1998). Destacam-se, agora, alguns aspectos estruturais e funcionais do campo perceptivo como argumentos para as escolhas gráficas feitas nas ilustrações:

(i) Só a figura possui forma, sendo o fundo desprovido dela: foi feita a opção de deixar o fundo a branco, para uma maior identificação da forma;

(ii) As linhas de contorno que delimitam a figura e a separam do fundo pertencem à figura – alguns elementos são realçados do fundo ou destacados do resto da imagem por serem as únicas partes com contorno;

(iii) A figura é a componente privilegiada para a evocação/nomeação, pois é dotada de maior condição de estabilidade.

Apresentam-se, de seguida, três exemplos de imagens do teste de nomeação para os estímulos vela, mochila e lápis.