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2.6. Fontes e jornalistas: “um casamento de conveniência” 33

2.6.2. Armadilhas do off 40

A informação off the record é uma das mais importantes conseqüências da relação de confiança entre fonte e jornalista. Essencial para que o profissional da mídia consiga seus melhores furos, o off também merece ressalvas. O Manual de Redação e Estilo do jornal O

Globo (1992) caracteriza a informação off the record como “um caso especial de declaração, em que a fonte não é identificada” (p. 31). Segundo o manual, esse tipo de declaração deve ser evitado “tanto quanto possível”: o jornalista deve se certificar de que o desejo do anonimato é legítimo e de que não há outra forma de obter a notícia.

A publicação também orienta o jornalista a situar, “de forma tão aproximada quanto possível”, a área ou o setor de origem da informação. O profissional de imprensa também é lembrado de que a informação publicada sem fonte identificada passa a ser de total responsabilidade do jornal. O manual de O Globo chega a listar os casos em que, em princípio, o off não é aceito:

1) opiniões pessoais, principalmente as de políticos e ocupantes de cargos públicos em geral. Admite dois tipos de exceção. Uma, quando se registra, sob o rótulo de tendência, a média de opiniões, colhidas em off, de determinado grupo. Para isto, é indispensável ouvir um número substancial de integrantes do grupo. Outra: fontes que o jornal reconheça como especialistas, além de isentas e idôneas, podem, no campo de suas especialidades, fazer declarações que representem análise ou dedução. 2) Acusação ou denúncia sem provas concretas (a informação, nesse caso, é usada como ponto de partida para a apuração, mas não constitui, em si, uma notícia. 3) Notícia que revela transparente desejo de promoção pessoal do informante (1992, p. 31).

O Manual da Redação da Folha de S. Paulo (2010) também define o off como “informação de fonte que se mantém anônima”, em oposição à informação em on, em que a fonte é identificada. A Folha classifica o off em simples, checado e total. O off simples é o “obtido pelo jornalista e não cruzado com outras fontes independentes” (p. 47). De acordo com o jornal, ele pode ser publicado em colunas de bastidores, se tiver relevância jornalística,

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“desde que com indicação explícita que se trata de informação não confirmada” (idem). O off checado deve ser cruzado com o outro lado ou com pelo menos duas fontes independentes e o

off total é a informação que não deve ser publicada, mesmo sem identificação da fonte.

Em geral, no Brasil, as informações em off são publicadas, mas pesquisadores como José Luis Martínez Albertos e Mar Fontcuberta (apud Marcet; Vizuete, 2003) argumentam que o off sempre é uma informação confidencial, que jamais deve ser publicada, e que só serve para contextualização do jornalista.

Muitas vezes as fontes recorrem ao anonimato para divulgar informações de seu interesse simplesmente para não se responsabilizar por elas. Tereza Cruvinel (2006) alerta:

[...] cabe ao jornalista observar se a fonte não está se escondendo atrás de um off para veicular informação falsa ou orientada por interesses secundários. Nessas horas, o que se deve perguntar é: a informação é de interesse público? (Cruvinel, 2006, p. 222).

Partilhando a definição de off the record como a informação publicada sem a fonte, Eliane Cantanhêde (2006) ressalta que, ao utilizar esse artifício, o jornalista deve ter em mente as perguntas fundamentais: quem (é a fonte), como (conta a história ou passa o documento), onde (no Executivo contra o Legislativo, por exemplo?) e por quê (com que interesse?). Além do mais, segundo a jornalista, é preciso “sempre, em qualquer momento, checar a informação”.

Cantanhêde lista três grandes “armadilhas” do off: 1) a fonte se aproxima do jornalista afirmando que tem notícias quentes e acaba mentindo, apenas para se mostrar importante e ser ouvida; 2) o político se aproveita da proximidade com o jornalista para divulgar notícias desfavoráveis a adversários; 3) o “vazamento combinado”, quando o governo, por exemplo, acerta internamente vender uma versão errada para a imprensa.

É essencial que o jornalista conheça o passado de sua fonte e seus potenciais interesses na informação que deseja divulgar. Para Cantanhêde, manter uma boa relação com a fonte não é fazer acordos ou alianças: isso é fazer política. O bom senso parece ser a medida: evitar o envolvimento pessoal com grupos ou pessoas, sem se deixar levar pela idéia de que se é aliado, compadre ou, do lado oposto, inimigo ou adversário da fonte. Tereza Cruvinel defende que o jornalista não deve estar “junto” das fontes, mas deve ter acesso a elas:

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Para obter informações, sejam elas destinadas a sustentar uma reportagem da cobertura regular ou à produção de análises e interpretações o jornalisa precisa ter acesso a seus detentores, os que têm poder e influência política, estando no Governo ou na oposição. O acesso será sempre um atributo do jornalista em qualquer setor. Assim como um repórter policial precisa ter acesso ao delegado, jornalistas políticos precisam se relacionar com os poderosos. Acesso não é desvio, embora possa resultar nisso. Almoços, jantares e cafés-da-manhã com fontes são convencionais em Brasília, e decorrem da necessidade de se encontrar na agenda das autoridades um espaço em que possam nos atender. Quando isso acontece, é dever do jornalista que solicita o encontro pagar a conta e encaminhá-la a seu empregador. Trata-se de buscar acesso à informação, não intimidade (Cruvinel, 2006, p. 221-222)

Leandro Fortes (2008) também estabelece os limites do relacionamento fonte- jornalista.

Repórter que freqüenta festinhas e se aninha na vida pessoal das fontes, e vice-versa, comete um pecado profissional de conseqüências quase sempre desastrosas. É possível e desejável que jornalistas saibam diferenciar essas circunstâncias para evitar, no fim das contas, relacionamentos incestuosos como os que ocorrem, por exemplo, na cobertura política tradicional de Brasília. O único resultado possível dessa relação é um noticiário viciado e sem credibilidade, para não falar do habitual vexame público de chamar autoridades por apelidos carinhosos e assim, forçar uma intimidade tão tola quanto inexistente (Fortes, 2008, p. 31)

Marcet e Vizuete (2003) listam oito normais gerais que devem conduzir o contato entre fontes e jornalistas: 1) confiança (cumprir os acordos estabelecidos caso haja revelações sob condições); 2) correção (que deve conduzir qualquer relação social); 3) respeito; 4) habilidade (para lidar com a fonte, adquirida com a experiência); 5) independência (o jornalista deve ter o controle da relação, para não se tornar refém da fonte); 6) distância (para não haver comprometimento); 7) privacidade (não trair os pactos de silêncio); 8) manutenção do contato (não procurar a fonte somente quando necessita de informação).