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3. CONTEXTUALIZAÇÃO 52

3.1. Os jornais 52

3.1.1. Jornal O Popular 52

O jornal O Popular foi fundado em 3 de abril de 1938, em Goiânia - Goiás, pelos irmãos Jaime Câmara (1909-1989), Joaquim Câmara Filho (1899-1955) e Vicente Rebouças Câmara (1898-1973), por meio da empresa J. Câmara e Irmãos, constituída inicialmente por uma tipografia e uma papelaria, na cidade de Goiás. Os três irmãos eram originários de Jardim de Angico, hoje município de João Câmara, no Rio Grande do Norte, e chegaram à cidade de Goiás em 1930, mudando-se para Goiânia em 1937.

De acordo com as professoras Rosana Maria Ribeiro Borges e Angelita Pereira de Lima, da Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia da Universidade Federal de Goiás (Facomb/UFG), O Popular surgiu no chamado “quarto período da imprensa goiana” (1936 a 1945), marcado pela transferência da capital do Estado da cidade de Goiás para Goiânia (em 1937) e por profundas mudanças no jornalismo goiano (2008, p. 78).

Principalmente pelo discurso desenvolvimentista em que se baseou a transferência, houve o fechamento de espaço para o jornalismo político e opinativo e, simultaneamente, a abertura dos caminhos ao jornalismo empresarial (...). Dados históricos registram que, em 1939, cerca de 40 periódicos impressos circulavam em Goiás, sendo 6 jornais e 2 revistas em Goiânia, 5 jornais em Anápolis e 27 jornais em outras cidades do interior do Estado. Entretanto, a maioria desses jornais teve uma vida curta, tendo em vista que diversos fatores, que carecem de um estudo mais

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aprofundado, impediram o desenvolvimento democrático da imprensa em Goiás. Um desses fatores pode ser explicado pela análise dos mecanismos de controle e censura empregados em grande escala de 1936 até a abertura política do país, no início da década de 1980 (idem).

As pesquisadoras demarcam os anos de 1945 a 1964 como o “quinto período da imprensa goiana” (idem, p. 81). A época refletiu a ascensão do modelo comercial de imprensa em Goiás, que desenvolveu-se em meio “a práticas de censura, inclusive prévia”. A resistência à censura em Goiás foi representada, principalmente, pelo jornal Cinco de Março, criado em 1959, famoso por publicar denúncias de corrupção, má prestação de serviços e abusos dos poderes Executivo e Legislativo no Estado. Apesar de empastelado20 em 1964, o jornal continuou a funcionar por mais 23 anos.

Em geral, a imprensa goiana assistiu calada à repressão. Enquanto grandes veículos nacionais publicavam receitas culinárias ou deixavam espaços em branco para sinalizar a censura de suas matérias, as publicações goianas substituíam seus textos por outros, de tom mais ameno, ou previamente aprovados pelos censores, praticando também a auto-censura (Borges; Lima, 2008, p. 82). O regime militar aparenta ter deixado uma marca definitiva na imprensa goiana:

Anos após o final do regime militar, a imprensa goiana ainda sofre com o medo de questionar e publicar, até mesmo pelas diversas formas e manifestações da censura que ocorre via financiamento privado e governamental, ou até mesmo censura dos empresários do ramo e dos próprios jornalistas. Além disso, a imprensa goiana é marcada ainda pelo encolhimento da circulação dos jornais diários e pela baixa qualidade apresentada por estes a partir do momento em que adotaram um modelo comercial de jornalismo, pouco adepto do compromisso público que a atividade requer (idem).

O regime militar também fomentou o fortalecimento de alguns veículos e conglomerados de comunicação dentro da política desenvolvimentista de difusão da comunicação no país. A pequena empresa que fundou o jornal O Popular, a J. Câmara e Irmãos, transformou-se na Organização Jaime Câmara (OJC), hoje o maior complexo de comunicação do Centro-Oeste (idem). São 26 veículos, com alcance principalmente em Goiás

20 O empastelamento consistia na ação da Polícia de misturar as caixas que continham os linotipos para a

impressão dos jornais. Geralmente, os policiais derrubavam milhares de tipos (letras metálicas de diversas fontes e tamanhos), misturando-os. Só a mistura dos tipos inviabilizava o funcionamento dos jornais por meses, apesar de as ações policiais incluírem também depredação do patrimônio físico dos veículos.

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e Tocantins, abrangendo as mídias TV, jornal, rádio e internet. A OJC possui 11 emissoras de televisão afiliadas à Rede Globo, 3 jornais e 9 emissoras de rádio, além de estar presente na internet por meio das páginas eletrônicas de seus veículos.

Segundo estatísticas do IVC publicadas no site da Associação Nacional de Jornais (ANJ), O Popular ocupa a 34a posição no ranking dos 50 maiores jornais de circulação paga no país. De acordo com o site da OJC, O Popular atinge diariamente os Estados de Goiás e Tocantins, principalmente os públicos das classes A e B. Dados de 2008 da Pesquisa Marplan apontam O Popular como líder em seu segmento, com 382 mil leitores. A mesma pesquisa retrata que a maioria dos leitores de O Popular são mulheres (54%), das classes A e B (64%), de 20 a 49 anos (66%) e que lêem exclusivamente o jornal (44%). As editorias mais lidas são Classificados (60%), Primeiro Caderno (55%) e Magazine (49%).

Nos dias úteis, o preço unitário do jornal na sede (Goiânia) é R$ 1,50, passando a R$ 2,50 aos domingos. O valor da assinatura varia entre R$ 34,83 (mensal), R$ 104 (trimestral), R$ 218 (semestral) e R$ 418 (anual). As assinaturas responderam pela maior circulação média de exemplares (23.224, de segunda a domingo), enquanto as vendas avulsas representaram 9.100 exemplares no mesmo período.

Dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC) referentes a julho de 2011 mostram que a circulação líquida mensal de segunda a domingo foi, em média, de 32.926 exemplares (edições impressa e digital). A circulação média de exemplares impressos neste período foi de 32.324, sendo que apenas o Estado de Goiás respondeu por 32.077 desses exemplares. No Distrito Federal, a circulação média de O Popular foi de apenas 87 exemplares impressos, de segunda a domingo, enquanto circularam 77 exemplares no interior de Mato Grosso e 53 no interior do Tocantins. Houve ainda exemplares esparsos em Minas Gerais (3) e São Paulo capital (26).

Os dois únicos jornais de Goiás filiados ao Instituto Verificador de Circulação (IVC) são o Daqui21 e o O Popular, ambos pertencentes à OJC. O jornal goianiense Diário da

Manhã (DM), do jornalista Batista Custódio, posiciona-se como concorrente direto de O

21 O Daqui é um jornal criado em 2007, no formato tablóide, destinado ao público das classes C e D. A

publicação ocupa a 13a posição entre os jornais de maior circulação paga do Brasil, com média de 90.342

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Popular, mas, na prática, não representa ameaça à liderança do veículo da OJC22. Há outras publicações jornalísticas conhecidas voltadas para a política goiana, como os jornais Tribuna

do Planalto e Opção, mas elas não concorrem diretamente com o DM ou com O Popular por terem periodicidade semanal, o que torna o conteúdo mais analítico e essencialmente diverso daquele encontrado nos diários.