• Nenhum resultado encontrado

3. CONTEXTUALIZAÇÃO 52

3.4. Rotinas de produção 64

3.4.2. Um dia típico em Panorama Político 67

Em regra, Ilimar Franco chega à redação por volta das 10h. O colunista explica que não tem propriamente uma rotina no jornal: seu único compromisso é enviar a coluna para a matriz no Rio de Janeiro até as 21h do dia anterior à publicação. O que ele faz ao longo do dia

68

varia conforme os acontecimentos vão se configurando. No entanto, é possível distinguir alguns padrões no transcorrer dos dias de análise.

O colunista e sua ajudante, Fernanda Kracovics, ficam numa sala anexa à redação. Ilimar utiliza o desktop do jornal e um notebook particular - deixa os dois ligados ao mesmo tempo. Enquanto mantém o desktop apenas com a caixa de entrada do e-mail aberta, usa o notebook para verificar as notícias nos sites, além de assistir tv e ouvir rádios online – ele argumenta que o servidor de internet do jornal muitas vezes bloqueia esses recursos. Fernanda usa apenas o desktop na redação.

Ilimar costumava checar o e-mail quando chegava à redação, mas mudou o hábito há seis meses, quando ganhou um Iphone da empresa31. Desde então, os e-mails são vistos em casa. É o próprio colunista quem responde os e-mails dos leitores. Quando o tom é exaltado, ele não envia resposta. Ilimar conta que geralmente são pessoas insatisfeitas com a forma com que alguma informação foi colocada na coluna.

O colunista diz que aproveita, no máximo, dez e-mails por dia de um montante que não soube discriminar (vai apagando os desinteressantes à medida que chegam). Ele conta que recebe muitos e-mails de assessores querendo “plantar notas” sem nenhum “gancho” noticioso. Deu um exemplo de um e-mail descartado com o título: “Ministro da Pesca faz balanço de sua gestão”. Em relação à “plantação de notícia”, Ilimar diz que os políticos experientes sabem que os jornalistas mais antigos não costumam cair nesse tipo de armadilha. “Vez ou outra acontece, mas é difícil. A fonte que tenta ludibriar o jornalista experiente geralmente faz papel de boba”, diz.

Ainda em casa, Ilimar lê os jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo (pela internet). Costuma ler o Correio Braziliense (versão impressa) na redação. Como presumível, a primeira parte do jornal que confere é a editoria de Política. Geralmente, já viu as matérias de O Globo no dia anterior, antes do fechamento, mas gosta de ver como ficaram no papel, qual destaque receberam. Ele recebe a pauta diária de todas as editorias por e-mail, a fim de não repetir as informações que serão publicadas nas reportagens, e sempre é informado se há alguma alteração.

31 A conta do telefone é paga pelo jornal. Ilimar precisa apenas discriminar as ligações pessoais - possui até uma

69

O colunista mantém as páginas que mais acessa na internet na aba de favoritos do navegador, separadas por assunto. Como a pesquisa foi realizada em período eleitoral, a maior parte do conteúdo dizia respeito ao pleito: blogs, sites de institutos de pesquisa, associações sindicais, jornais, principais candidatos à presidência da República e aos governos estaduais, entre outros. Alguns dos endereços favoritos: Amigos da Dilma, Amigos do Aécio, Amigos do Serra, Noblat, Reinaldo Azevedo, Mino Carta, site do IG, site do PCdoB, blog do Zé Dirceu, blog do Protógenes, Cortes eleitorais do mundo, blog do (Roberto) Jefferson e do Cesar Maia – os dois últimos são acessados diariamente.

Ilimar conta que as pesquisas divulgadas na internet são muito importantes em época de eleições. Ele costuma lê-las diariamente em sites como do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mesmo que não publique nada a respeito, para confrontar informações com fontes e fazer correlações. Procura sempre as pesquisas registradas de institutos reconhecidos, como Ibope, Vox Populi e Datafolha.

Quando a pesquisadora confrontou o colunista com o fato de que ele não havia acessado o Twitter, a “febre” das eleições de 2010, Ilimar se mostrou um pouco refratário à rede social. Fernanda é quem responde que não mantém um perfil público para a coluna, mas segue a maior parte dos políticos pela rede. Ela conta que o Twitter já rendeu boas notas. Observando uma foto na rede, Fernanda desvendou uma aliança política que estava sendo negociada. As informações “tuitadas” não atendem ao principal critério da coluna, que é a exclusividade. Mas rendem pistas para possíveis furos.

Apesar de reconhecer a importância do computador no dia-a-dia do jornalista, Ilimar não dispensa o bloco de papel, que mantém ao lado da máquina para registrar o que considera “interessante” entre as notícias da internet. À medida que vai fazendo anotações, comenta os achados com Fernanda, pergunta as novidades e eles trocam impressões sobre as notícias da semana. A auxiliar é quem costuma buscar as informações in loco. As idas ao Congresso, por exemplo, ficam a cargo de Fernanda.

Ilimar prefere os contatos telefônicos e os almoços eventuais com autoridades. O telefone fixo e o celular tocam a todo momento, tornando difícil acompanhar o fluxo de contatos. O colunista comenta que, de vez em quando, o jornal financia almoços com fontes importantes – no período analisado, esses encontros aconteceram por três vezes. Geralmente

70

ele vai acompanhado da editora de Política ou de sua auxiliar, Fernanda. Ilimar diz que o jornal evita que os jornalistas vão a encontros bancados por suas fontes.

Na redação, a relação com editores, diretores e jornalistas da editoria de Política é amistosa. Ilimar sempre conversa, recebe informações para a coluna e dá dicas aos colegas. Não parece haver competição entre eles. Segundo o colunista, ele costuma ter informações privilegiadas, que os colegas repórteres não conseguem, graças aos anos de experiência na cobertura política.

O colunista afirma que a seleção das informações para a coluna é baseada no interesse público. Mas confessa que dá algumas notas para manter uma fonte que considera importante. Para ele, a confiança vem com o tempo mas, mesmo assim, “o jornalista quebra a cara algumas vezes”. Ele diz que perder ou não a fonte por causa de uma informação é uma questão de cálculo de “custo-benefício”. “Muitas vezes a informação é boa demais e não dá para segurar”, explica. Ele afirma que já perdeu um senador como fonte porque divulgou uma informação desfavorável a ele. “São riscos que é preciso correr. Algumas vezes, passo a informação para um colega ou para a editora de Política”, comenta.

Em vários momentos, algumas fontes habituais ligam para o colunista apenas para trocar impressões sobre algum fato em destaque na mídia ou saber de alguma novidade que Ilimar possa ter – o colunista chamou essas conversas de “papo furado”: só servem para manter o canal fonte-colunista. Ele admite que, em alguns momentos, também faz uso do mesmo expediente. Costuma ligar para colegas jornalistas para trocar opiniões. Tendo em vista o período eleitoral, muitos assessores de candidatos ligam para discutir o cenário político e mostram interesse em saber a opinião do colunista. Apesar da conversa amistosa, colunista e fonte parecem saber de seus limites.

Ilimar conversou com a pesquisadora a respeito de alguns “mitos do jornalismo”, conforme definiu, e defendeu seus pontos de vista sobre a profissão. Acredita que a discussão sobre a presença ou ausência de posicionamento do jornalista nas matérias “não é muito relevante”. “O jornalista não pode fazer frente aos fatos. Não adianta ele querer impor sua visão de mundo nas matérias se ela vai contra o que mostram as evidências”, explica. Ilimar diz que procura dar espaço a partidos nanicos, do governo e oposição, buscando, como ele nomeou, um “equilíbrio de vozes”. Ele conta que tem suas convicções, que não são

71

apresentadas na coluna. “O jornalismo que mostra opinião é um retrocesso, uma volta ao jornalismo panfletário”, diz.

Normalmente, Ilimar colhe as informações ao longo do dia e faz anotações em seu bloco, mas só começa a redigir as notas no início da noite, por volta das 19h. Isso se deve ao fato de que, a todo momento, a hierarquia das informações sofre mudanças. O colunista também conta com a ajuda de Fernanda, que apura e redige diversas notas – na maioria das vezes, envia-as por e-mail, do local da cobertura. Como já está habituada ao texto de Ilimar, suas notas recebem pouca ou nenhuma correção do colunista. Nos dias analisados, coincidiu de Fernanda não permanecer muito tempo na redação, tendo em vista que estava em viagens pelo país cobrindo as eleições para o jornal.

Na redação das notas, Ilimar precisa adequar o texto ao formato da coluna, pré- estabelecido pelo software do jornal. Ele não digita as informações em um programa de edição de textos antes de passá-lo para o software: a redação é feita no programa definitivo, conectado à matriz de O Globo no Rio de Janeiro. Há um editor na capital carioca que recebe a coluna e faz modificações eventuais, geralmente, por problemas de espaço.

72