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6. INFORMAÇÕES DESCARTADAS 114

6.1. Giro 114

Conforme visto, diante de inúmeras informações que chegam até ele todos os dias, o jornalista precisa escolher o que merece visibilidade, ou seja, o que é notícia. Uma das justificativas mais utilizadas por Jarbas Rodrigues Jr. para o descarte das informações recebidas foi a ausência de “interesse jornalístico”. O colunista diz isso baseado em seu news

judgement. Conforme Tuchman (1999, p. 83), news judgment é a “capacidade de escolher, ‘objetivamente’ (grifo da autora), entre ‘factos’ concorrentes para decidir quais os ‘factos’ que são mais ‘importantes’ ou ‘interessantes’ ”. Ao estruturar a notícia, o jornalista utiliza suas próprias noções de conteúdo “importante” ou “interessante”, daí as escolhas estarem permeadas de subjetividade.

No 1o dia de pesquisa em O Popular, 5 de julho de 2010, Jarbas Rodrigues Jr. telefonou a um assessor de oposição e recebeu a informação de que o candidato ao governo do Estado Iris Rezende (PMDB) faria uma reunião com a coordenação de campanha e seguiria para o Tribunal Regional Eleitoral para registrar sua candidatura. Jarbas descartou a informação por não considerá-la “digna de nota”. Jarbas também recebeu uma ligação de autoridade do governo com a seguinte declaração: “Acredito na força do quadro do partido para aumentar nosso quociente eleitoral”. O colunista considerou-a “discurso vazio”.

O colunista também considerou “discurso vazio”, “sem valor jornalístico”, a seguinte informação, fornecida por um assessor de oposição no 5o dia de pesquisa, 6 de agosto de 2010: “Marconi Perillo (PSDB) foi muito aplaudido na Faeg quando vestiu camisa de protesto do movimento a favor da moralização nos concursos”. Outra informação rotulada como “sem relevância editorial” foi a ida do governador Alcides Rodrigues (PP) a Brasília para a

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inauguração do comitê da candidata a presidência da República, Dilma Rousseff (PT). No mesmo dia, uma autoridade de oposição deu a seguinte declaração: “Marconi só tomou um empréstimo de R$130 milhões de dólares (do BIRD) em seus dois governos; Alcides quer pegar R$ 4 bilhões”. Jarbas considerou que a informação “não tinha relevância jornalística”.

O colunista também descartou informações de “plantadores de notícias”, que, segundo ele, tentavam emplacar “factóides”, a exemplo do 2o dia de pesquisa, 13 de julho de 2010, quando Jarbas recebeu a seguinte informação de uma autoridade do governo: “Vanderlan (candidato do PP ao governo do Estado) tem canal mais aberto com a candidata à presidência Dilma Roussef (PT) do que Iris Rezende (candidato do PMDB).

No 3o dia de pesquisa, 21 de julho de 2010, Jarbas recebeu a seguinte informação de uma assessora de candidato da oposição: “Adib Elias (candidato ao Senado pelo PMDB) encontra presidente do Tribunal de Justiça de Goiás”. Jarbas considerou que a informação era “apenas uma tentativa de promoção do candidato”. Para publicar a notícia, o jornalista precisa de um “gancho”, como denominou Ilimar. Os assessores de imprensa são mais bem-sucedidos quando passam a informação para o jornalista com um “gancho” definido, de preferência, em sintonia com os valores-notícias reconhecidos por ele.

No 4o dia de pesquisa, 29 de julho de 2010, Um assessor de oposição entrou em contato para passar a seguinte informação: “Governador Alcides Rodrigues cancelou R$ 1 bilhão em empenhos em 2006 para assumir o governo em 2007”. Jarbas considerou a declaração uma tentativa de “plantar notícia”, já que o informante não tinha provas. Outra informação descartada pelo mesmo motivo foi “Deputado estadual Wagner Guimarães (PMDB) pode desistir de candidatura”, repassada por um assessor de oposição. Jarbas também argumentou que não consegue dar espaço a todos os candidatos a deputado e que privilegia os candidatos a governador, motivo pelo qual também deixou de fora a declaração de uma autoridade de oposição que detalhou suas estratégias para a reeleição.

Em outra ligação do colunista para a assessora de um candidato do governo, Jarbas obteve a seguinte informação: “Mais dois partidos podem se juntar à coligação do candidato Vanderlan (PP)”. A informação seria exclusiva, mas a assessora não retornou a ligação até o final do expediente e Jarbas conseguiu preencher a coluna com outras notas que considerou importantes. No mesmo dia, um candidato a deputado estadual ligou para o colunista com a

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informação de que lançaria uma plataforma digital para a campanha dele. Jarbas interessou-se pelo assunto, mas resolveu guardá-lo para outro momento, já que a nota foi considerada “não perecível”. O valor-notícia da atualidade, o conteúdo factual, mais uma vez, mostra ser a preferência do colunista.

Jarbas Rodrigues mencionou a “falta de espaço” para justificar o descarte da informação sobre um relatório recente que apontava para o aumento da discriminação contra goianos no exterior, fornecido por uma autoridade governista. O colunista guardou a informação para publicá-la no fim de semana. Outras informações que ficaram de fora por falta de espaço foram a cassação da deputada estadual Flávia Morais (PDT) por infidelidade partidária, repassada por uma autoridade de oposição; a visita do candidato José Serra a Goiás (PSDB), que Jarbas guardou para divulgar na edição seguinte e a queda de Iris Rezende nas pesquisas de intenção de voto.

No mesmo dia, Jarbas descartou uma informação por não ter conseguido confrontá-la com outra fonte. Ele havia procurado um assessor de oposição que afirmou: “Deputado federal Sandes Júnior (PP) vai fazer denúncia contra Marconi Perillo (PSDB)”. A informação foi descartada porque Jarbas não conseguiu falar com o deputado Sandes Jr. A informação “deputada federal Íris Araújo (PMDB) e filha foram responsáveis por garantir o novo marqueteiro na campanha de Iris Rezende” ficou de fora da edição por ter sido considerada “perecível”, mas foi para o Twitter do colunista.

O colunista também se esqueceu de informações fornecidas no início do expediente, como no 4o dia de pesquisa, 29 de julho de 2010, em que ele recebeu a ligação de uma assessora de governo prometendo o cronograma de contratação dos concursados. Ao final do dia, a assessora não havia enviado o arquivo e o colunista esqueceu-se da informação. Também há casos em que ele não publica a informação por já ter dado “muito espaço à fonte” ao longo da semana, como aconteceu no 5o dia de pesquisa, 6 de agosto de 2010, em que o colunista descartou a informação de uma autoridade de oposição que criticava o endividamento da Celg. É uma tentativa de equilibrar o acesso das fontes à coluna, como argumentado por ele.

O jornalista também recebeu a ligação de uma autoridade de oposição afirmando que votará favoravelmente ao empréstimo da Celg. A afirmação foi considerada “inconsistente”,

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já que o projeto de parcelamento da dívida ainda não havia sido apresentado. O colunista ficou mais de meia hora ao telefone com uma autoridade de oposição para checar uma informação a respeito de uma suplência no Senado mas, ao final da conversa, a fonte pediu para a informação não ser publicada. Jarbas ficou decepcionado, mas declarou que a fonte era “muito boa” e que o off “precisava ser respeitado”.